Vol. 4 - Instituto Politécnico da Guarda
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[Atas do XI Congresso <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Portuguesa de Ciências <strong>da</strong> Educação, <strong>Instituto</strong> <strong>Politécnico</strong> <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong>, 30 de junho a 2 de julho de 2011]<br />
a “possibili<strong>da</strong>de de articulação entre<br />
as disciplinas do departamento e<br />
também dois referem a “possibili<strong>da</strong>de<br />
de contribuir para a promoção de boas<br />
práticas na escola”.<br />
5. Conclusões<br />
Este estudo-piloto permitiu-nos um<br />
primeiro auscultar dos coordenadores<br />
de departamento curricular <strong>da</strong>s escolas<br />
relativamente às suas concepções e<br />
práticas e, simultaneamente, aferir a<br />
quali<strong>da</strong>de do instrumento de recolha de<br />
<strong>da</strong>dos.<br />
Uma análise preliminar dos <strong>da</strong>dos<br />
recolhidos evidencia alguma<br />
discrepância entre o tempo efectivamente<br />
dedicado pelos coordenadores a certas<br />
tarefas, tal como as administrativas/<br />
burocráticas e de desenvolvimento<br />
organizacional, e aquelas que os próprios<br />
coordenadores consideram prioritárias<br />
para a eficácia do seu desempenho, tais<br />
como o desenvolvimento profissional<br />
dos professores e a formação. Por outro<br />
lado, existe coincidência entre a prática<br />
e a percepção <strong>da</strong> importância quanto<br />
às tarefas de coordenação <strong>da</strong> prática<br />
cientifico-pe<strong>da</strong>gógica dos professores.<br />
Assim, e face aos constrangimentos de<br />
tempo e às pressões (internas e externas),<br />
parece ser <strong>da</strong><strong>da</strong> priori<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> sua parte,<br />
às tarefas de organização e coordenação<br />
em detrimento <strong>da</strong>s de supervisão e<br />
liderança pe<strong>da</strong>gógica.<br />
Ressalta também a evidência de que<br />
os coordenadores de departamento<br />
inquiridos não parecem considerar<br />
relevante, nem como conferindo especial<br />
legitimi<strong>da</strong>de ao cargo, o facto de se ser<br />
detentor de formação especializa<strong>da</strong>.<br />
Atribuem antes grande relevância às<br />
características humanas e relacionais<br />
do coordenador, tais como a capaci<strong>da</strong>de<br />
de relacionamento, o sentido ético, o<br />
entusiasmo, a visão e a capaci<strong>da</strong>de de<br />
liderança, bem como à sua capaci<strong>da</strong>de<br />
de trabalho e de organização.<br />
Por outro lado, e embora em abstracto<br />
admitam concordância com as várias<br />
vertentes <strong>da</strong> função supervisiva, à<br />
excepção <strong>da</strong> ADD, quando instados<br />
a referir concordância com aspectos<br />
concretos, a maioria dos inquiridos<br />
rejeita também a observação de aulas dos<br />
professores e a utilização de elementos<br />
recolhidos para reflexão, a análise de<br />
elementos concretos do desempenho de<br />
alunos, a análise individual de instrumentos<br />
de planificação e avaliação com<br />
docentes e a mediação de relações com<br />
encarregados de educação. Em contraponto,<br />
evidenciam total concordância<br />
com os itens: compete ao coordenador<br />
“ser veículo de informação proveniente<br />
<strong>da</strong>s estruturas de coordenação e<br />
direcção” e “propor o envolvimento<br />
em projectos e activi<strong>da</strong>des”, tarefas que<br />
não obrigam a grande exposição ou ao<br />
assumir de alguns riscos, e são tradicionalmente<br />
efectua<strong>da</strong>s pelos coordenadores.<br />
Destaca-se ain<strong>da</strong> uma eleva<strong>da</strong><br />
rejeição à intervenção na avaliação do<br />
desempenho docente, embora se registe<br />
uma considerável concordância relativamente<br />
a formas mais indirectas de<br />
supervisão tais como: “discutir metas<br />
a atingir relativamente a resultados dos<br />
alunos” e “propor medi<strong>da</strong>s e estratégias<br />
a professores cujos alunos apresentem<br />
fracos resultados ou problemas de<br />
comportamento”.<br />
Parece-nos pois ser possível inferir<br />
que os coordenadores de departamento<br />
inquiridos, docentes com maturi<strong>da</strong>de,<br />
eleva<strong>da</strong> experiência de ensino e em<br />
situação de estabili<strong>da</strong>de nas escolas<br />
onde leccionam, não evidenciam grande<br />
receptivi<strong>da</strong>de para assumirem completamente<br />
o papel de supervisão, nas<br />
suas diferentes vertentes. Aparentam<br />
alguma dificul<strong>da</strong>de em percepcionar a<br />
sua função, enquanto coordenadores<br />
de departamento curricular, de forma<br />
bastante mais abrangente do que a tradicionalmente<br />
acometi<strong>da</strong> ao delegado de<br />
disciplina, o que aponta para a forma<br />
como foram socializados na profissão e<br />
nas estruturas <strong>da</strong>s escolas.<br />
Por outro lado, parece-nos ain<strong>da</strong><br />
possível concluir que, de forma<br />
consciente ou inconsciente, estaremos<br />
em presença de tensões e conflito de<br />
papéis: colegiali<strong>da</strong>de versus hierarquia;<br />
elemento de um departamento versus<br />
elemento de órgão com abrangência ao<br />
nível <strong>da</strong> organização; colega/par versus<br />
supervisor; fomentador de autonomia<br />
dos professores versus garante <strong>da</strong><br />
quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s práticas e ain<strong>da</strong>, de<br />
uma forma mais lata, entre noções de<br />
desenvolvimento profissional versus<br />
monitorização/controlo e de avaliação<br />
versus orientação/apoio/escuta.<br />
Os <strong>da</strong>dos obtidos, embora não generalizáveis<br />
ao universo dos coordenadores<br />
de departamento, parecem-nos<br />
poder servir de ponto de parti<strong>da</strong> para<br />
um necessário aprofun<strong>da</strong>mento desta<br />
linha investigativa. Acreditamos que, no<br />
nosso contexto actual e <strong>da</strong>do tratar-se<br />
de uma problemática ain<strong>da</strong> pouco<br />
documenta<strong>da</strong> porque emergente, será<br />
pertinente a realização de estudos mais<br />
extensos e generalizáveis sobre estes<br />
titulares de cargos de liderança intermédia<br />
nas escolas.<br />
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