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Hayaldo Copque Fraga de Oliveira.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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1. INTRODUÇÃO<br />

Artista genial, mestre das cores, um dos gran<strong>de</strong>s nomes das artes no século<br />

XX. Antes <strong>de</strong> qualquer uma <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>signações, entretanto, Marc Chagall era<br />

mesmo um bobo. Tanto assim que, na década <strong>de</strong> 1920, dizia mesmo i<strong>de</strong>ntificar-se<br />

com Charles Chaplin, o artista “que ele consi<strong>de</strong>rava um equivalente do bobo<br />

sagrado do hassidismo” 1 (WULLSCHLAGER, 2009, p. 418).<br />

Ora, só um bobo mesmo para ser, além <strong>de</strong> pintor, poeta. Nem Clarice<br />

Lispector – a notável escritora nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira que,<br />

assim como Chagall, também era judia e nascera num schtetl 2 –, pois nem mesmo<br />

ela o perdoava, afirmando que “bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando<br />

por cima das casas” (LISPECTOR, 2004, p. 168).<br />

Vaca no espaço, bo<strong>de</strong> tocando violino. Alguns dos elementos que compõem o<br />

universo criativo do artista. E quanta bobagem há nesse universo. Mas sendo<br />

Chagall assim, tão bobo, o que se po<strong>de</strong> dizer, então, <strong>de</strong> quem se encanta frente à<br />

sua obra? Lispector (2004, p. 168) continua: “É quase impossível evitar excesso <strong>de</strong><br />

amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> amor. E só o<br />

amor faz o bobo". Sendo assim, quem sou eu para discordar <strong>de</strong> Lispector? Talvez<br />

apenas um outro bobo que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros contatos com a obra <strong>de</strong> Chagall,<br />

<strong>de</strong>ixou-se contaminar por esse inevitável “excesso <strong>de</strong> amor”, <strong>de</strong>scobrindo nela<br />

diversas histórias, diversas narrativas que minha paixão pela dramaturgia me impelia<br />

a contar. Pois é justamente <strong>de</strong>ssa bobagem contagiante que nasce a pesquisa<br />

intitulada Do palco às telas e das telas ao palco.<br />

1 “A origem da palavra vem <strong>de</strong> hassid, que em hebraico significa ‘pio’, <strong>de</strong>voto. O hassidismo foi<br />

fundado na Polônia em meados do século XVIII. Em linhas gerais, pregava maior importância ao<br />

sentimento religioso do que a sua prática. Segundo ele, o ser religioso <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>spojar-se <strong>de</strong> todo<br />

pensamento material e viver pelo espírito e para o espírito; a alegria e o êxtase significavam formas<br />

<strong>de</strong> comunhão com Deus” (MAGALHÃES, 2009, p. 33).<br />

2 “O ‘schtetl’, como se diz em ídiche por ‘cida<strong>de</strong>zinha’, a comunida<strong>de</strong> judaica, pequena e fechada, um<br />

microcosmo completo com o rabino, o cantor litúrgico, o açougueiro ritual e o mestre-escola na frente,<br />

com seus ricaços e seus pobres, seus comerciantes e seus vagabundos, suas mulheres e crianças e<br />

com o cemitério nos confins – mas tudo isso não existe mais, nem sequer os cemitérios” (CARPEAUX<br />

apud ALEIHEM, 1966, p. 5).<br />

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