Hayaldo Copque Fraga de Oliveira.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Hayaldo Copque Fraga de Oliveira.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Hayaldo Copque Fraga de Oliveira.pdf - RI UFBA - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ser composta com a mesma que um quadro, ou seja, que a<br />
preocupação dominante não é mais a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao real, mas a<br />
organização das formas, a relação recíproca das cores, o jogo<br />
das áreas cheias e vazias, das sombras e das luzes, etc.<br />
No artigo <strong>de</strong> 1906, no qual Meyerhold ataca o teatro naturalista – que, para<br />
ele, não permitia ao espectador o usufruto do direito ao sonho, à imaginação – é à<br />
pintura que o encenador irá recorrer como elemento comparativo para <strong>de</strong>ixar clara a<br />
teoria do teatro simbolista. Ele afirma que “no teatro, o espectador é capaz <strong>de</strong><br />
acrescentar com sua imaginação o que permanece alusivo” (MEYERHOLD apud<br />
THAIS, 2009, p. 200), pois, para o encenador russo, o espectador <strong>de</strong> teatro “<strong>de</strong>seja<br />
ar<strong>de</strong>ntemente, ainda que <strong>de</strong> forma inconsciente esse trabalho da fantasia, que, por<br />
vezes, nele se transforma em criação” (ibid., p. 201), como o que acontece, por<br />
exemplo, com esse espectador frente a uma pintura.<br />
E foi justamente por essa transformação, da imaginação à criação, que<br />
passou o espectador Chagall, ao assistir, no ano <strong>de</strong> sua chegada a São<br />
Petersburgo, os espetáculos dirigidos por Meyerhold. Um dos produtos <strong>de</strong>ssas<br />
experiências como espectador foi o quadro Feira na al<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong> 1908 (ver na página<br />
seguinte).<br />
O quadro é inspirado na inovadora encenação <strong>de</strong> A barraca <strong>de</strong> feira, o fruto<br />
mais importante do breve casamento Meyerhold-Komissarjévskaia, e fruto também<br />
<strong>de</strong> outra parceria fundamental, com o dramaturgo e poeta Aleksandr Blok.<br />
Nascido numa família <strong>de</strong> intelectuais, Blok fora um dos escritores favoritos <strong>de</strong><br />
Chagall, a quem o pintor pensara um dia até mesmo em entregar alguns <strong>de</strong> seus<br />
poemas. A admiração <strong>de</strong> Chagall pelo poeta é fácil <strong>de</strong> ser compreendida, afinal era<br />
característica no trabalho <strong>de</strong> Blok a utilização da imagem das cores e sua poesia<br />
simbolista possuía um forte apelo visual. Os doze, <strong>de</strong> 1918, talvez o mais importante<br />
poema <strong>de</strong> Blok, começa com os seguintes versos, trazendo-nos, logo no início, uma<br />
sensação <strong>de</strong> contraste visual: “Noite negra, / Branca Neve. / Vento, vento!” (BLOK,<br />
et al., 1995, p. 15).<br />
27