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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO<br />
RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI<br />
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE PSICOLOGIA<br />
GIOVANA SPANAMBERG DIAS<br />
CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE A HISTERIA FEMININA<br />
IJUIÍ<br />
2013
GIOVANA SPANAMBERG DIAS<br />
CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE A HISTERIA FEMININA<br />
Trabalho de pesquisa supervisionado,<br />
apresentado como requisito parcial para<br />
conclusão do curso de formação de<br />
Psicologia da Universidade Regional do<br />
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul<br />
– UNIJUÍ.<br />
Orientadora: Profª. Ana Maria de Souza Dias<br />
IJUÍ<br />
2013<br />
1
GIOVANA SPANAMBERG DIAS<br />
CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE A HISTERIA FEMININA<br />
TRABALHO DE PESQUISA SUPERVISIONADO<br />
Trabalho de pesquisa supervisionado,<br />
apresentado como requisito para obtenção do<br />
título de Psicologa da Universidade Regional<br />
do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.<br />
Aprovado em ....../...../.......<br />
BANCA EXAMINADORA:<br />
______________________________________<br />
Profª. Ana Maria de Souza Dias<br />
Orientadora<br />
______________________________________<br />
Prof ª. Sonia Aparecida Costa Fengler<br />
2
Dedico este trabalho às pessoas mais importantes<br />
da minha vida: meus pais, Gilvan e Rose Mari, ao<br />
meu irmão Guilherme e a minha avó Zilda,<br />
que confiaram no meu potencial para esta<br />
conquista. Não conquistaria nada se não<br />
estivessem ao meu lado. Obrigada, por estarem<br />
sempre presentes a todos os momentos, me dando<br />
carinho, apoio, incentivo, determinação, fé, e<br />
principalmente pelo Amor de vocês.<br />
3
AGRADECIMENTOS<br />
Acima de tudo a Deus, Pai misericordioso que sempre está ao meu lado e por<br />
me privilegiar de agora poder exercer uma profissão magnífica.<br />
Aos meus Pais, Gilvan e Rose Mari, que me deram toda a estrutura para que<br />
me tornasse a pessoa que sou hoje. Pela confiança e pelo amor que me fortalece<br />
todos os dias. Obrigada por serem a minha referência de tantas maneiras e estarem<br />
sempre presentes na minha vida de uma forma indispensável. Amo vocês para<br />
sempre.<br />
Ao meu irmão Guilherme, por estar sempre presente, na minha vida a cada<br />
dia nos tornamos mais amigos. Não é mano?<br />
Ao meu namorado Fernando, ofereço um agradecimento mais do que<br />
especial, por ter vivenciado comigo passo a passo este trabalho, ter me ajudado<br />
durante o período de realização desse trabalho, por ter me dado todo o apoio que<br />
necessitava nos momentos difíceis, todo carinho, respeito, por ter me aturado nos<br />
momentos de estresse, e por tornar minha vida cada dia mais feliz. Te amo!<br />
As minhas colegas da faculdade Adriane, Ângela e Tassiara, que ao longo<br />
desses anos de faculdade, considero todas vocês como verdadeiras amigas.<br />
Agradeço meus familiares que sempre acreditaram muito no meu trabalho e<br />
me ajudaram no que foi preciso.<br />
Em especial agradeço minha professora Ana Dias, que foi uma orientadora<br />
extraordinária, estando sempre presente, esclarecendo as minhas dúvidas, tendo<br />
muita paciência, competência, confiança, conhecimentos e principalmente a<br />
amizade.<br />
A minha banca, professora Sonia, que aceitou o meu convite e se<br />
disponibilizou em ler e avaliar meu trabalho, fazendo as suas considerações, muito<br />
obrigada.<br />
4
A todos os meus professores, futuros colegas e acima de tudo por terem se<br />
tornado grandes amigos, fizeram com que eu continuasse e chegasse até onde<br />
cheguei.<br />
Agradeço as instituições, a Escola Ruizinho de Ijui, a CDL de Cruz Alta e a<br />
Clinica de Psicologia da <strong>Unijuí</strong>, por terem cedido e confiado o espaço aos estágios<br />
dos quais tive a oportunidade de colocar em prática meu trabalho.<br />
Agradeço a todos os meus amigos e amigas que de alguma maneira<br />
ajudaram para esta realização.<br />
Muito obrigada nunca será suficiente para demonstrar a grandeza do que<br />
recebi de vocês. Peço a Deus que os recompense à altura. Amo vocês!<br />
5
Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma mulher, mas<br />
vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam quarto em hotéizinhos<br />
secretos, surpreendem com presentes, passagens aéreas, convites inusitados. São<br />
inteligentes, charmosos, ousados, corajosos, batalhadores. Disputam nosso amor<br />
como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o que recebem em troca é uma<br />
mulher que não pára de olhar pela janela, suspirando por algo que nem ela sabe<br />
direito o que é.<br />
Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente amada o<br />
suficiente.<br />
6<br />
Martha Medeiros
TÍTULO DO <strong>TCC</strong>: CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE A HISTERIA<br />
FEMININA<br />
NOME DA ALUNA: <strong>Giovana</strong> Spanamberg Dias<br />
NOME DA ORIENTADORA: Profª. Ana Maria de Souza Dias<br />
RESUMO<br />
Este trabalho é realizado através de uma pesquisa bibliográfica a respeito do tema<br />
da histeria feminina. Para abordá-lo, estuda os conceitos de Complexo de Édipo e<br />
de Castração, desde o criador da psicanálise, Sigmund Freud. Ainda menciona<br />
outros autores contemporâneos como Serge André e Joel Dor. Logo a seguir, o<br />
trabalho toma o rumo de analisar a histeria, tanto historicamente, como também<br />
trazendo elementos que possibilitam uma melhor compreensão sobre o assunto.<br />
Assim, discorre sobre a origem da insatisfação na histérica, que busca através de<br />
seus sintomas, tamponar essa insatisfação, ou melhor, essa falta.<br />
Palavras-chave: complexo de Édipo, complexo de castração, histeria, feminino,<br />
falta.<br />
7
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO........................................................................................................ 09<br />
1. MÃE E FILHA, PAI E FILHA NA DISSOLUÇÃO DOS COMPLEXOS DE<br />
ÉDIPO E DE CASTRAÇÃO..................................................................................<br />
2. NOTAS SOBRE A HISTERIA FEMININA.......................................................... 21<br />
CONCLUSÃO......................................................................................................... 30<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...................................................................... 32<br />
11<br />
8
INTRODUÇÃO<br />
O presente trabalho trata de uma pesquisa bibliográfica de cunho teórico,<br />
realizada através de estudos oriundos da psicanálise, que vai abordar o tema da<br />
histeria feminina. A partir da dissolução do complexo de Édipo e de Castração,<br />
analisa esses conceitos, buscando como se dá seu efeito para o psiquismo da<br />
menina, fundamentação teórica que vai sustentar o tema da histeria.<br />
Em toda a pesquisa, o autor mais mencionado é Sigmund Freud, mas<br />
também outros, que são considerados leitores de Lacan, como Serge André e Joel<br />
Dor, foram consultados. Obviamente, as primeiras teses foram escritas por Freud,<br />
tendo este deixado o seu legado para os sucessores que iriam vir e virão a continuar<br />
pesquisando sobre a sexualidade e os enigmas referentes à feminilidade.<br />
A questão inicial que me leva a pesquisar sobre esse tema foi “O que quer<br />
uma mulher?”. Para tentar dar conta desta questão, de início parto do entendimento<br />
freudiano de que não se nasce mulher, torna-se mulher. Então, sendo assim, a<br />
menina precisa passar por um longo processo psíquico para ser concebida como<br />
mulher. Neste sentido, o trabalho aborda os estudos que demonstram que o sexo da<br />
mulher é um buraco, um vazio, o que remete à impossibilidade de simbolizar. A<br />
mulher não possui um traço identificatório em que possa apoiar sua posição feminina<br />
e é, nesse sentido, que a feminilidade surge como uma “máscara”.<br />
Na menina, a castração é assumida por ela mesma, quando a mãe, que tem<br />
desejo do desejo do pai, se converte para ela em uma mulher que sabe encontrar<br />
em seu homem aquilo que ele não possui. A menina somente chega ao amor do pai<br />
pela via do amor da mãe. Essa mudança de objeto de amor ocorre a partir da<br />
percepção da própria castração. Ou seja, a menina fica em falta da mãe, na entrada<br />
de um terceiro na relação, o pai ou aquele que pode ocupar esse lugar. É à medida<br />
que o desejo da mãe se volta para esse outro que a menina percebe que não<br />
completa a mãe, que não é tudo para a mãe. É só quando se dá conta de que sua<br />
mãe não é completa, mas faltante, assim como ela mesma, que então pode<br />
abandonar seu apego primário à mãe e tomar o pai como objeto.<br />
Assim, a presente pesquisa vem abordar, de início, a dissolução do Complexo<br />
de Édipo e do Complexo de Castração. Neste momento, será melhor explicado esse<br />
processo que trabalha com a dissolução e seus efeitos, no lado da menina.<br />
9
E logo, como foco de análise, vem a leitura sobre a histeria. É aqui que vai se<br />
discorrer brevemente a historia de Freud e da histeria, uma vez que este quadro faz<br />
parte do início da criação da psicanálise. Ao entrar nas questões mais específicas<br />
sobre o assunto será o momento de esclarecimento sobre a eterna insatisfação<br />
feminina, o que produzirá sintomas que tentam, de alguma forma, tamponar a falta<br />
que sempre vai ser existir.<br />
10
1. MÃE E FILHA, PAI E FILHA NA DISSOLUÇÃO DOS COMPLEXOS DE ÉDIPO E<br />
DE CASTRAÇÃO<br />
Quando uma criança nasce, ela já é de alguma forma idealizada pelos pais,<br />
mas o que amarra ela é o discurso dos que exercem função materna e paterna 1 ,<br />
sendo estas funções que vão construir um corpo subjetivado na criança. Ou seja, é<br />
somente através da linguagem, e conseqüentemente do desejo no discurso do<br />
Grande Outro Primordial, que se produzem referências significantes, então o bebê<br />
vai começando a entrar na cultura, como sujeito inscrito no social.<br />
A mãe em um primeiro momento é o outro (pequeno outro) e o Outro (grande<br />
Outro) do bebê, ou seja, o pequeno outro da amamentação, e concomitantemente o<br />
primeiro grande Outro da transmissão de valores, de gostos, de apropriação do<br />
corpo, através de quem vai chegar à menina o pai da sua lei.<br />
O amor dos pais, tão comovedor e no fundo tão infantil, nada<br />
mais é senão o narcisismo dos pais renascido, o qual<br />
transformado em amor objetal, inequivocadamente, revela sua<br />
natureza maior. (Freud 1914, p. 98).<br />
O bebê nasce e ali naquele corpo orgânico não há nada, além disso, o sexual<br />
está fora, precisamos do Outro para nos colocar o prazer e o desprazer. Freud<br />
escreve que as zonas erógenas e as bordas pulsionais nos mostram que um Outro<br />
fez função ali (a mãe, ou quem exerce sua função), porquê um corpo imaginário não<br />
vem do orgânico, ele vem do Outro, isto é, depende de como este Outro nos vê.<br />
Este processo que me referi antes se dá com a mãe e seu filho intimamente<br />
ligado em um universo particular dos dois. O corpinho orgânico da criança vai sendo<br />
tocado, olhado, falado, enfim vai sendo vestido/nomeado e assim organizado a partir<br />
do que a mãe coloca nele. Essa ligação e a relação de completude mamãe/bebê é<br />
tão grande que o corpo de um é como se fosse uma extensão do outro. A mãe<br />
implica o filho no seu discurso, no seu desejo e naquilo que ela a partir de si própria<br />
1 A psicanálise tem um olhar próprio para as funções materna e paterna. São funções consideradas<br />
necessárias para a estruturação e desenvolvimento do psiquismo da criança. São funções de ordem<br />
prática que possuem uma série de diferentes atributos de acordo com a fase de desenvolvimento da<br />
criança e são exercidas por adultos tutelares (mãe, pai – biológico ou adotivos). Ser mãe ou ser pai<br />
na ótica psicanalítica não implica a paternidade biológica, mas a demanda e a desejo pelo bebê. As<br />
funções materna e paterna vão além dos papéis de mãe e pai.<br />
11
idealizou no recém-nascido. A criança é nada mais que o objeto do Outro, pois a<br />
mãe imagina no filho o seu falo, por isso que ela lhe coloca excitação e prazer. E é<br />
na condição objetal que o bebê vivencia o primeiro tempo do Édipo.<br />
O Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o<br />
ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da<br />
sexuação. Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar o seu vir-a-<br />
ser, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento<br />
frente à angústia de castração.<br />
Em 1897 (Freud, 1950/1974, p. 350), Freud lança a idéia do Édipo numa carta<br />
a Fliess, mas só tardiamente, após a formulação do conceito de pulsão de morte e a<br />
partir de sua articulação com o conceito de castração, a idéia ganhará uma<br />
dimensão de conceito fundador. Freud dedica apenas um texto específico ao<br />
complexo de Édipo, a saber, “A Dissolução do Complexo de Édipo” (1924). Há textos<br />
ainda em que Freud já expressa a problemática do quarto movimento de teorização,<br />
ou seja, que anunciam a castração como o centro do Édipo. A saber: A Organização<br />
Genital Infantil: Uma Interpolação na Teoria da Sexualidade (1923); A Dissolução do<br />
Complexo de Édipo (1924); Algumas Conseqüências Psíquicas da Distinção<br />
Anatômica entre os Sexos (1925); Sexualidade Feminina (1931) e Feminilidade<br />
(Conferência XXXIII) (1933).<br />
Nos três primeiros, encontramos uma reflexão sobre as conseqüências da<br />
diferença entre o Édipo na menina e no menino, a consideração da angústia de<br />
castração como ponto nodal de sua resolução e a colocação da idéia do falo como o<br />
objeto do desejo. E nos últimos, presenciamos uma maior preocupação com a<br />
constituição da feminilidade a partir das diferenças e peculiaridades do conflito<br />
edípico na menina. O quarto movimento de teorização sobre o Édipo parece centrar<br />
a discussão sobre a figura do outro-abstrato, da Lei da castração. Freud afirma na<br />
Organização Genital que a angústia de castração recai sobre o falo; vejamos,<br />
(...) o significado do complexo de castração só pode ser<br />
correntemente apreciado se sua origem na fase da primazia<br />
fálica for também levada em consideração (Freud, 1923/1974,<br />
p.182).<br />
12
Freud em “A Dissolução do Complexo de Édipo” (1924), pergunta-se: se as<br />
meninas também desenvolvem um complexo de Édipo, um superego e um período<br />
de latência, e se também a elas pode ser atribuída uma organização fálica e um<br />
complexo de castração, como isto poderia ser explicado na ausência de um motivo<br />
para o temor da castração? Assim como o menino, no início a menina consola-se<br />
pensando que seu pênis crescerá. Ela também não generaliza a percepção da<br />
ausência de pênis nas mulheres, acreditando que apenas aquelas que foram<br />
castigadas perderam seu pênis. Imagina que possuiu o pênis e, em alguma época, o<br />
perdeu por castração. A diferença fundamental entre meninos e meninas é segundo<br />
Freud, de que “a menina aceita a castração como fato consumado, enquanto que o<br />
menino teme sua ocorrência”. (p.223).<br />
O ponto central do conceito de complexo de Édipo inicia-se na esperança de<br />
que o bebê tem de possuir proteção e amor total, sendo corroborado pelos cuidados<br />
intensos que o recém nascido recebe por sua condição frágil. Esta proteção é<br />
relacionada, de maneira mais significativa, à figura materna.<br />
Por volta dos três anos de idade, a criança começa a entrar em contato com<br />
algumas situações que vão lhe dando algumas pistas. Estas indiretas são<br />
exemplificadas pelas proibições ou restrições que começam a acontecer nesta<br />
idade. Assim a criança não podendo mais fazer certas coisas pelo fato de já estar<br />
“grande”, não poder mais passar a noite inteira na cama dos pais, andar nua pela<br />
casa ou na rua, é incentivada a se portar de forma correta e também tem que<br />
controlar o esfíncter, além de outras cobranças mais. A partir deste momento, a<br />
criança começa a se dar conta de que não é o centro do mundo, e precisa renunciar<br />
à sua ilusão de proteção e amor total.<br />
O complexo de Édipo é muito importante, pois caracteriza a diferenciação do<br />
sujeito em relação aos pais. A criança vai percebendo que os pais pertencem a uma<br />
realidade cultural, e assim não podendo se dedicar somente a ela pelo fato de<br />
possuírem outros compromissos, como o trabalho, as amizades e outras atividades.<br />
A figura do pai representa a inserção da criança na cultura, é a ordem cultural. De<br />
certa forma a criança vai também começando a perceber que o pai pertence à mãe,<br />
logo por isso de início dirige sentimentos hostis a ele.<br />
Sendo estes sentimentos contraditórios visto que a criança também ama esta<br />
figura que hostiliza. A diferenciação do sujeito é enfrentada pela identificação da<br />
criança com um dos pais. Na identificação positiva, o menino identifica-se com o pai<br />
13
e a menina com a mãe. O menino tem o desejo de ser forte como o pai e ao mesmo<br />
tempo tem “ódio” dele pelo ciúme da mãe. A menina é hostil à mãe, pois esta é<br />
possuidora do pai e ao mesmo tempo, quer se parecer com ela. E tem medo de<br />
perder o amor da mãe, que foi sempre tão protetora.<br />
Em “Algumas Conseqüências Psíquicas da Diferença Anatômica entre os<br />
Sexos” (1925), Freud avança no tema, questionando: o que faz com que a menina<br />
abandone a mãe como objeto de amor, tomando em seu lugar o pai? Ocorre que a<br />
menina não ingressa na fase fálica, como o menino, pela vinculação da masturbação<br />
aos investimentos objetais edípicos, sendo a masturbação a descarga da excitação<br />
por estes produzida. O ingresso da menina na fase fálica ocorre pela descoberta de<br />
que os meninos possuem um órgão que ela identifica com o que possui, o clitóris,<br />
porém grande e visível. Produz-se nela o que Freud denominou “inveja do pênis”: a<br />
mãe é responsabilizada por sua incompletude, e o laço que as ligava enfraquece. A<br />
menina volta-se então para o pai, buscando obter dele o pênis desejado, e depois<br />
um bebê.<br />
Assim na castração o pai estabelece a lei que vai proibir o incesto da criança<br />
com a mãe, permitindo assim que a criança ingresse em outras possibilidades não<br />
ficando vinculada somente ao desejo materno.<br />
A diferença entre o desenvolvimento sexual dos indivíduos dos<br />
sexos feminino e masculino no estágio que estivemos<br />
considerado é uma conseqüência inteligível da distinção<br />
anatômica entre seus órgãos genitais e da situação psíquica aí<br />
envolvida; corresponde a uma castração que foi executada e<br />
outra simplesmente foi ameaçada (FREUD, 1996d, p. 285).<br />
O primeiro objeto de amor da menina, assim como do menino, é a mãe. O<br />
amor pelo pai, no caso da menina, é secundário e resulta de uma mudança de<br />
objeto. Ambos, meninos e meninas, ocupam frente ao desejo materno o lugar de<br />
falo, o que determina que, de início, ambos são meninos para a mãe. Esse “empuxo<br />
à virilidade” tem conseqüências para a menina que podem perdurar, mantendo sua<br />
relação intensa com a mãe através de um complexo de masculinidade. O<br />
deslocamento objetal, da mãe para o pai, nunca se faz por completo e, ainda que a<br />
intervenção paterna seja fundamental para a constituição da menina como sujeito,<br />
14
ela não é resolutiva de seu Édipo, não lhe fornecendo o modelo de uma identificação<br />
feminina. Esta identificação deve ser buscada em sua relação com a mãe.<br />
Freud (1924) assinala que em toda a relação entre uma menina e seu pai, há<br />
que se considerar que houve antes, com igual ou maior intensidade, uma relação de<br />
amor com a mãe. A menina goza de sua mãe pela alimentação e pelos cuidados<br />
corporais. É o mesmo que dizer que são os primeiros cuidados com a criança que<br />
introduzem a sexualidade infantil. A menina somente chega ao amor do pai pela via<br />
do amor da mãe. Essa mudança de objeto de amor ocorre a partir da percepção da<br />
própria castração. Ou seja, a menina fica em falta da mãe, na entrada de um terceiro<br />
na relação, o pai ou aquele que pode ocupar esse lugar, operação que designa a<br />
função paterna. É à medida que o desejo da mãe se volta para esse outro que a<br />
menina percebe que não completa a mãe, que não é tudo para a mãe. É só quando<br />
se dá conta de que sua mãe não é completa, mas faltante, assim como ela mesma,<br />
que então pode abandonar seu apego primário à mãe e tomar o pai como objeto.<br />
Para Freud, a menina não nasce mulher, mas torna-se mulher. Sendo<br />
resultado de um processo psíquico longo, que inicia quando a menina<br />
percebe/descobre que a mãe é castrada e através disso se reconhece também<br />
como castrada. A menina aceita a castração, ou seja, não ter o pênis (falo), mas não<br />
renuncia a tê-lo. Esta operação se efetiva, então, no momento que a menina recalca<br />
a sexualidade masculina e opta por ter um filho do pai no lugar do tão desejado<br />
pênis.<br />
De acordo com sua natureza peculiar, a psicanálise não tenta<br />
descrever o que é uma mulher – seria uma tarefa difícil de<br />
cumprir – mas se empenha em indagar como é que a mulher<br />
se forma, como a mulher se desenvolve desde a criança<br />
dotada de disposição bissexual (Freud, 1966a, p. 117).<br />
O falo é um padrão simbólico. Na doutrina freudiana não é uma fantasia, se<br />
com isso deve-se entender um efeito imaginário. Em "Significação do falo" (1958)<br />
Lacan escreve que "Tampouco é um objeto como tal (parcial, interno, bom, mau,<br />
etc.) na medida em que esse termo tenda a precisar a realidade interessada numa<br />
relação. E ainda bem menos o órgão, pênis ou vagina, que simboliza... Porque o falo<br />
é um significante (...), o significante destinado a designar em seu conjunto os efeitos<br />
15
de significado... O que é preciso reconhecer é a função do falo, não como objeto,<br />
mas como significante do desejo, em todas as suas metamorfoses”.<br />
O falo é o conceito central em torno do qual se organiza o complexo de<br />
castração. O falo é a própria condição que garante a existência da série e torna<br />
possível que objetos heterogêneos na vida sejam objetos equivalentes na ordem do<br />
desejo humano. Na concepção lacaniana a castração é o corte produzido por um ato<br />
que cinde e dissocia o vínculo imaginário e narcísico entre mãe e filho. Por isso a<br />
criança se aloja na parte faltosa do desejo insatisfeito do Outro materno.<br />
Complexo de castração designa "o sentimento inconsciente de ameaça<br />
experimentado pela criança quando ela constata a diferença anatômica entre os<br />
sexos" (ROUDINESCO, E. & PLON, M, 1998: 104.) Este complexo aparece pela<br />
primeira vez no texto de Freud Sobre as teorias sexuais infantis, de 1908, onde<br />
observa que as crianças teorizam que todas as pessoas, homens e mulheres,<br />
possuem pênis e que a diferença sexual se faz entre pessoas que possuem pênis e<br />
pessoas que foram castradas.<br />
O complexo de castração é inserido no conjunto da teoria freudiana sobre a<br />
sexualidade, só no texto A organização genital infantil, de 1923, onde é relacionado<br />
com o complexo de Édipo e com o estádio fálico do desenvolvimento libidinal, diz<br />
Freud, a investigação sexual infantil atribui a ambos os sexos o mesmo genital<br />
masculino, não passando pela distinção sexual, que nada significa além da posse ou<br />
não do falo, que passa a ser o elemento diferencial primordial na organização genital<br />
dos sexos ter pênis ou não ter pênis. A castração possui um grande impacto sobre o<br />
narcisismo dado que o falo é considerado uma parte essencial da imagem do eu e a<br />
sua retirada põe em risco essa imagem, constituindo uma ferida narcísica.<br />
A estrutura e os efeitos do complexo de castração são diferentes tanto no<br />
menino como na menina, assim Freud esclarece em Algumas conseqüências<br />
psíquicas da diferença anatômica entre os sexos, de 1925. Ambos de início passam<br />
pela fase inicial da crença que não há diferença anatômica entre os sexos:<br />
A criança em seu desenvolvimento sexual avança até<br />
determinada fase, na qual o órgão genital já assumiu o seu<br />
papel principal. Esse órgão genital é apenas o masculino, ou,<br />
mais corretamente, o pênis; o genital feminino permaneceu<br />
irrevelado. (FREUD, 1924: 194)<br />
16
O segundo tempo do complexo de castração do menino é assinalado pelas<br />
ameaças verbais dos pais contra suas manipulações auto-eróticas oriundas do seu<br />
interesse nos genitais (fase fálica) e o terceiro é o da constatação visual da região<br />
genital da menina: o que o menino vê não é a vagina, mas sim uma falta de pênis.<br />
Ele tem a idéia de seres desprovidos de pênis inconcebível e a crença de que é<br />
impossível haver seres sem pênis, resistindo às evidências visuais a ponto de crer<br />
que a menina possui um pênis, que é pequeno e que algum dia irá crescer. As<br />
mulheres mais velhas e respeitáveis como sua mãe possuiriam um pênis grande.<br />
Já o quarto tempo é o momento de angústia, onde o menino percebe que sua<br />
mãe também é desprovida de pênis. A rememoração das ameaças verbais do<br />
segundo tempo vem conferir sua significação plena à percepção visual de um perigo<br />
até ali negligenciado (NASIO, 1989: 15.). Em um só depois é que a ameaça de<br />
castração é significada e faz efeito.<br />
Quando um menino pela primeira vez chega a ver a região genital de uma<br />
menina, começa por demonstrar irresolução ou falta de interesse; não vê nada ou<br />
rejeita o que viu (...) somente mais tarde, quando possuído de alguma ameaça de<br />
castração, é que a observação se torna importante para ele; se então a relembra ou<br />
repete, ela desperta nele uma terrível tormenta de emoção e o força a acreditar na<br />
realidade da ameaça de que havia rido até então(FREUD, 1925: 281.)<br />
Como efeito da angústia, o menino aceita a interdição da mãe enquanto<br />
objeto sexual e reconhece a lei paterna no intuito de manter seu pênis, tornando<br />
assim possível sua identidade masculina. As catexias de objetos, vale ressaltar que<br />
essa expressão catexia de objeto, é empregada quando se refere à energia psíquica<br />
que está conectada com algum objeto fora do próprio sujeito, ou à representação<br />
desse objeto na mente do sujeito. A catexia do objeto está associada às<br />
manifestações do narcisismo secundário, que por sua vez, são menos duradouras<br />
do que as do gênero primário. Retomando, as catexias de obejtos são abandonadas<br />
e substituídas por identificações; a autoridade do pai é introjetada e dá origem ao<br />
supereu, que perpetua a proibição contra o incesto, impedindo o retorno da catexia<br />
libidinal; e as tendências libidinais são dessexualizadas e sublimadas (o que<br />
acontece com toda transformação em identificação), inibidas em seu objetivo e<br />
transformadas em afeição. Todo esse processo assegurou a permanência do órgão<br />
genital, mas paralisou-o ao remover sua função, daí o período de latência.<br />
17
O término do complexo de castração é para o menino também o término do<br />
complexo de Édipo, que não é simplesmente recalcado, ele desfaz-se literalmente<br />
em pedaços sob o impacto da ameaça de castração [... ] nos casos ideais, não mais<br />
subsiste sequer no inconsciente (FREUD, 1908.). Já na menina, o complexo de<br />
castração inaugura seu complexo de Édipo que é uma formação secundária.<br />
Enquanto, nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo<br />
complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é<br />
introduzido através do complexo de castração (Freud,<br />
1925/1974, p. 318).<br />
Na menina é diferente do menino para admitir a castração, nela a castração<br />
pode-se dizer que é instantânea, a visão do pênis a obriga a admitir assim a sua<br />
castração. Ela passa, então, a invejar o órgão masculino. Freud assinala que elas<br />
notam o pênis de um irmão ou companheiro de brinquedo, notavelmente visível e de<br />
grandes proporções, e imediatamente o identificam com o correspondente superior<br />
de seu próprio órgão pequeno e imperceptível; dessa ocasião em diante caem<br />
vítimas da inveja do pênis. (FREUD, 1925:280)<br />
A menina de início, não associa a castração a todas as mulheres e acha que<br />
sua situação se trata de um infortúnio pessoal. Depois é que ela percebe que todas<br />
as mulheres são castradas, inclusive a sua própria mãe. Humilhação narcísica, a<br />
castração encerra o complexo de Édipo negativo da menina, criando um ódio por<br />
sua mãe por ela não lhe ter dado um pênis e um desprezo por ela mesma ser<br />
castrada. Ela se volta então para o pai na esperança de dele ganhar o pênis que lhe<br />
foi negado, constituindo o complexo de Édipo positivo. Esse desejo de ganhar um<br />
pênis acaba por ser substituído pelo desejo de ter um filho do pai.<br />
A libido da menina desliza para uma nova posição ao longo da<br />
linha - não há outra maneira de exprimi-lo - da equação 'pêniscriança'.<br />
Ela abandona seu desejo de um pênis e coloca em<br />
seu lugar o desejo de um filho; com esse fim em vista, toma o<br />
pai como objeto de amor. A mãe se torna o objeto de seu<br />
ciúme. A menina transformou-se em uma pequena mulher.<br />
(Ibid, 284.)<br />
Sempre a mãe pode estar com seu filho e supor exatamente o que ele<br />
necessita e é nesses momentos que vai se abrindo lacunas, de ausência e presença<br />
18
onde a criança não consegue perceber em que lugar está o desejo dela. Exatamente<br />
nesse momento o Pai entra, o qual vai exercer sua função, a fim de cortar essa<br />
relação de unidade mãe/filho. A criança se colocava como sujeito de desejo, pois a<br />
mãe emprestava os seus significantes e a criança era o que desejavam dela, ela<br />
demandava e o bebê respondia. Após isso há um deslocamento das marcas<br />
maternas, assim o Pai vai fazendo sua função. Este vem como a Lei, mostrando que<br />
o desejo da mãe está em outro lugar. O Pai coloca significantes que vêm questionar<br />
para além daquilo que foi inaugurado pela mãe, isto produz marcas.<br />
A função paterna, castra, dá a Lei e por outro lado salva do incesto, pois<br />
direciona as pulsões para que não se lide com o mundo a partir só do prazer. Para<br />
que este processo possa ocorrer, a mãe precisa se colocar numa posição remetida à<br />
sua falta, ou seja, castrada, permitindo assim com que um discurso além do seu<br />
possa entrar. É nesse intervalo entre a separação da mãe e a entrada do pai que o<br />
sujeito se constitui, saindo da posição de objeto.<br />
São essas etapas do Complexo de Édipo e de Castração que vão nos dizer<br />
sobre qual estruturação nosso inconsciente vai falar. Se o Nome-do-Pai fizer<br />
efetivamente função e funcionar a Lei, agindo como um substituto do desejo da mãe,<br />
então falar-se-á através de um discurso neurótico. Então a fantasia vai agir como<br />
defesa para organizar esta demanda imaginária do Outro que se impõe. Na neurose<br />
o principal questionamento é “O que o Outro quer de mim?”.<br />
Esta é a questão chave do neurótico, pois está diretamente ligada ao desejo<br />
da mãe e à falta. A demanda de amor da mulher neurótica implica em não haver<br />
limites, nunca o que é recebido é suficiente, algo sempre falta. A menina busca a<br />
completude através do falo, e como não encontra algo que a preencha, mantém-se<br />
eternamente insatisfeita.<br />
Podemos destacar ainda, quando à constituição do sujeito, algumas<br />
considerações a mais sobre o Complexo de Édipo, no qual, há um primeiro<br />
momento, o de alienação: neste, mãe e filho são um só, a criança se coloca como<br />
falo da mãe, objeto de desejo da mãe.<br />
Já em um segundo momento, há a separação: no qual a criança deverá sair<br />
(separação) para a relação em falta, então estamos na castração. O pai surge e faz<br />
o corte desta relação, interditando mãe/filho e falo, este é um pai castrador. É como<br />
se ele dissesse à criança que ela não é o falo da mãe, e que ele, o pai é quem tem o<br />
falo – onde está o desejo da mãe. Isso faz com que a criança saia da relação de<br />
19
objeto com a mãe e se identifique com o pai; e essa castração faz com que algo falte<br />
para a criança, para que então ela possa desejar – ser um sujeito.<br />
É justamente neste segundo tempo do Complexo de Édipo que falha na<br />
neurose histérica, pois o pai castrador não é potente, a mãe não direciona, não<br />
qualificou o seu olhar à ele. Ou seja, o desejo da mãe não está nesse pai. Então, a<br />
identificação se problematiza, pois o pai não consegue dar a ela a identificação<br />
feminina. Por isso a histérica se questiona: O que é ser uma mulher?<br />
Já a problemática histérica gira em torno da falta do falo, dessa posição de<br />
não ser o falo e de também não tê-lo, seu sintoma se apresenta sob forma de<br />
demanda. Sua insatisfação aparece como alguma coisa que falta, algo que ela não<br />
alcança. Inicialmente Freud atribui à relação com o pai o desenvolvimento da<br />
feminilidade da menina, chegando, contudo, à conclusão, ao final de sua trajetória,<br />
que esta depende muito mais do desdobramento de sua relação com a mãe. Por<br />
trás da intensa relação edipiana com o pai, que despertou a atenção de Freud no<br />
caso das histéricas, ele redescobre uma relação pré-edípica da menina com sua<br />
mãe, relação essa que freqüentemente perdura por muito tempo e que marcará em<br />
grande parte o seu futuro como mulher. A pergunta que o autor se faz, a partir de<br />
1925, é: “por que a menina tem tanta dificuldade de separar-se da mãe?”. Esta<br />
dificuldade no dizer freudiano, pode assumir a forma cruel de uma “catástrofe”,<br />
podendo comprometer o processo de construção da feminilidade para uma menina.<br />
Até o final de sua obra, Freud (1925) manteve aberta a questão sobre o<br />
desejo feminino, expresso na pergunta que dirigiu à princesa Marie Bonaparte: “O<br />
que quer a mulher, afinal?”. No texto “Análise Terminável e Interminável” (1937),<br />
quando defrontou-se com os limites do trabalho analítico, localizou neste ponto de<br />
impasse o que chamou de “repúdio à feminilidade, uma parte do grande enigma do<br />
sexo”.<br />
Para a psicanálise a mulher é considerada uma metáfora privilegiada do<br />
inconsciente, já que a sua verdade é a verdade sobre o inconsciente e, portanto, não<br />
pode ser toda conhecida.<br />
20
2. NOTAS SOBRE A HISTERIA FEMININA<br />
O percurso de Freud na compreensão da sexualidade, especificamente a<br />
sexualidade feminina, está presente em toda a obra de Freud, desde os Estudos<br />
sobre a histeria, escrito com Breuer (1893-95), até o artigo de 1937, citado<br />
anteriormente no final do capítulo anterior. Nesta leitura é possível observar que as<br />
questões que Freud coloca sobre a histeria se confundem com as que ele coloca<br />
sobre a mulher. Seja porque a histeria seria mais freqüente entre as mulheres, seja<br />
porque, como para todo homem, a mulher era um enigma para Freud, o fato é que<br />
podemos observar, até em suas últimas obras, o eco da pergunta: “O que quer a<br />
mulher?”<br />
Primeiramente foi Charcot quem falou sobre neurose histérica, já Freud e<br />
Breuer seguiram o caminho que ele estava percorrendo. Em 1893, os autores<br />
escreveram “Comunicação Preliminar”, que levou o título “Sobre o Mecanismo<br />
Psíquico dos Fenômenos Histéricos”. O texto vai mostrar que os sintomas<br />
pertencentes à histeria são descritos como não-traumáticos e, sua explicação<br />
(exceção dos enigmas) estaria nos mesmos mecanismos que Charcot observa nas<br />
paralisias traumáticas.<br />
“Todo evento, toda impressão psíquica é revestida de uma<br />
determinada carga de afeto (Affektbetrag) da qual o ego se<br />
desfaz, seja por meio de uma reação motora, seja pela<br />
atividade psíquica associativa” (Freud, 1893 [1888-1893],<br />
p.215)<br />
Quando Freud (1895) começou a tratar as primeiras histéricas de que se teve<br />
notícia - Emmy de N., Lucy R., Catalina, Isabel de R., ele estava fundamentalmente<br />
preocupado com a questão do trauma. Como se sabe a respeito do engano de<br />
Freud, e ele mesmo foi o primeiro a reconhecer sobre a veracidade das cenas de<br />
sedução sofridas pelas histéricas, o pai da psicanálise já destacava então que o<br />
traumático não era a sedução em si, mas a recordação da cena. As histéricas<br />
sofriam então de reminiscências. Isso porque Freud reconheceu que a sexualidade<br />
humana acontecia em dois tempos marcantes: a infância e a puberdade.<br />
21
(...) que, na base de todos os casos de histeria, há uma ou<br />
mais ocorrências de experiência sexual prematura, ocorrências<br />
estas que pertencem aos primeiros anos da infância, mas que<br />
podem ser reproduzidas através do trabalho da psicanálise a<br />
despeito das décadas decorridas no intervalo (FREUD, 1896, p.<br />
200).<br />
Na maioria dos casos relatados por Freud, eram várias as cenas traumáticas<br />
e não somente uma cena infantil de sedução sexual, a partir daí a distinção entre<br />
“histeria traumática” e “histeria comum” foi feita nos “Estudos Sobre a Histeria”<br />
(1895/1973). A etiologia sexual da histeria, e das neuroses em geral, adquiriu tal<br />
peso para Freud, que ele chegou a dedicar-se a um trabalho específico: A<br />
Sexualidade na Etiologia das Neuroses, editado em 1898 (1898/1973).<br />
Faz-se interessante ressaltar que as reminiscências de que as histéricas<br />
sofriam eram inconscientes, ou seja, as histéricas sabiam, mas não sabiam que<br />
sabiam. Elas se lembravam, mas não sabiam disso. Ou na verdade poderiam não<br />
querer mesmo saber nada disso, simplificando, não queriam saber nada de suas<br />
lembranças da infância e, nem tampouco, de suas fantasias não tão infantis assim.<br />
Na histeria, é recalcada a função paterna, esta caracterizada por um pai<br />
caído, fraco, impotente. Ele é impotente porque não foi investido falicamente pela<br />
mãe. Esse pai não consegue responder ao enigma feminino, então a histérica vai<br />
sustentar esse pai tornando-o sedutor e fantasiando ser seduzida por ele. Por isso,<br />
ela se faz na insatisfação com seu desejo, também como forma de proteção, defesa,<br />
de forma a não se deparar com sua própria castração.<br />
É da fantasia que Freud passa a se ocupar cada vez mais com suas<br />
histéricas, até que, em setembro de 1897 (1897/1973), numa carta a Fliess, Freud<br />
revela que já não mais acredita em seus neuróticos. Sendo a fantasia mais do que<br />
uma eventual sedução, que Freud passará a dar maior importância na compreensão<br />
da produção de sintomas das histéricas, como no famoso Caso Dora 2 (Freud,<br />
1905/1973).<br />
Podemos dizer ainda, que é em função de ter havido uma falha no recalque,<br />
um vazio sem correspondente simbólico, que a identificação se problematiza e a<br />
2 Pseudônimo de uma jovem histérica que fez análise com S. Freud. A análise é apresentada por ele<br />
em “Fragmento de Análise de um caso de Histeria” (1905). O texto, que descreve a análise de uma<br />
jovem de 18 anos, realizada por Freud em 1900, organiza-se em torno do problema da função<br />
traumática da sexualidade, na histeria, bem como do papel determinante da homossexualidade<br />
feminina na transferência histérica. (CHEMAMA, 1995, p. 54)<br />
22
identidade do objeto mãe, para o objeto pai não acontece, por isso no Caso Dora ela<br />
se questiona: “O que é ser uma mulher?”, só podendo ser desejada, não sabe o que<br />
é ser uma mulher, o que esta deseja. Portanto, ela não sabe do desejo da mãe. E<br />
não sabendo sobre o desejo da mãe, não sabe sobre seu próprio desejo. Por isso,<br />
deseja o desejo do outro e também se identifica com os traços do outro. Assim, na<br />
histeria, o desejo é insatisfeito, pois seu desejo é o desejo do outro. Quer<br />
permanecer fálica para tampar a falta do outro. Faz-se na insatisfação e se protege<br />
para não ter que deparar-se com sua própria castração.<br />
A histérica nunca se sente satisfeita com sua imagem corporal, porque para<br />
ela, atrás desse artifício imaginário só existe o corpo real dessexualizado. Sendo<br />
desta forma, ela manifesta sintomas, e por muitas vezes é através do corpo,<br />
procurando reparar uma ausência a nível dessa imagem corporal.<br />
Com efeito, a histérica jamais se sente o bastante revestida por<br />
essa imagem corporal, como se essa vestimenta imaginária<br />
ameaçasse sempre se entreabrir para a realidade repulsiva de<br />
um corpo que ela não pode reconhecer como tal (ANDRE,<br />
1998, p.110)<br />
A histérica faz questão de responsabilizar seu pai impotente, pela falta, pelo<br />
fato dele não ter sido capaz de lhe oferecer uma identidade feminina, o que ele só<br />
pode transmitir foi uma referência fálica.<br />
Se o pai da histérica é estruturamente impotente, é de fato<br />
porque ele não lhe pode dar apoio com que ela conta para<br />
assentar sua identidade feminina. () Elas se tornam doentes<br />
pela falta do Outro, tentando reparar essa falta, chegando por<br />
vezes, ao sacrifício de sua vida pessoal, especialmente a<br />
amorosa. O que a histérica quer obter desse pai é outra coisa<br />
que não seja o falo: Um signo que a funde numa feminilidade<br />
enfim reconhecida. (ANDRÉ, 1998, p. 112).<br />
Permanece no gozo através do corpo, a isso Freud denomina como sintomas<br />
conversivos. E não consegue passar do campo imaginário para o simbólico. Ou seja,<br />
aquilo que não é simbolizado, toma o corpo como cena. Assim, seu sintoma se<br />
manifesta através do corpo.<br />
Podemos pensar na conversão como um mecanismo de formação de<br />
sintomas que opera na histeria. O sujeito responde com seu sintoma à demanda<br />
23
imaginária do Outro, o que é próprio da neurose histérica. O sintoma diz respeito ao<br />
desejo do sujeito, é o que o representa, pois as palavras não dão conta de dizê-lo<br />
completamente. Com isso, por trás de todo sintoma vai se desdobrar uma fantasia,<br />
que é justamente onde está o desejo do sujeito, pois a única forma de realização<br />
desse desejo é pela fantasia. Sendo assim ainda poderíamos pensar que a fantasia<br />
na histeria é a da sedução.<br />
De fato, o papel do pai implica que ele ame outra mulher (a<br />
mãe), e, no entanto, é essa função que provoca o desejo. No<br />
mesmo instante, portanto, o desejo é provocado e impedido,<br />
excitado pelo que o barra irreversivelmente (POMMIER, 1987,<br />
p. 121).<br />
O pai imaginário presente na histeria é colocado pela mãe como impotente<br />
por não satisfazer a mesma. Este pai quando muito carregado pelo desejo da mãe<br />
se faz sedutor, e se permanecer nessa posição ele cai. Então para que não saia da<br />
função (função paterna), a histérica o faz impotente. Recalca o desejo dela pelo pai<br />
e o torna impotente. Portanto, se a mãe não deu muita potência ao pai é porque ele<br />
não a satisfez, com isso a histérica procura um pai que dê conta da mãe.<br />
A questão que fica é onde está o desejo da mãe, isso se torna um enigma, e<br />
o desejo feminino se mistura com o desejo da mãe. A histérica então se coloca no<br />
lugar de um homem para saber o que quer uma mulher. Contudo na histeria o sujeito<br />
se coloca como falo do Outro, como quem pode preencher o desejo do Outro. A<br />
questão é ser o falo.<br />
A angústia característica da histérica provém do ódio à mãe que a privou do<br />
falo. Falo que mesmo a mulher “normal”, não cansará de perseguir na forma de um<br />
filho ou, até mesmo, na procura de uma análise.<br />
Joel Dor nos fala em seu texto “A dinâmica identificatória na histeria”, sobre “a<br />
relação da mulher histérica com seu pai ser, freqüentemente, objeto de uma dialética<br />
identificatória particularmente marcada pela ambivalência” (DOR, 1991, p.53). Com<br />
isso, pode-se entender que o pai para a histérica é objeto de investimento, ora<br />
positivo, ora negativo. Essa ambigüidade pode vir no discurso quando ela<br />
responsabiliza o pai pela infelicidade da família e, portanto, da mãe, ou quando<br />
aparece um pai insatisfeito vítima de uma mãe insuficiente para ele. São<br />
24
possibilidades de investimentos que a mulher histérica, segundo Dor, pode fazer em<br />
relação ao pai.<br />
“Essas duas vertentes da posição histérica em relação ao pai<br />
têm algo em comum. Tanto num caso quanto no outro, a<br />
histérica economiza o seu próprio desejo: de um lado está<br />
sujeito ao desejo do outro, o pai, vítima de uma mulher que não<br />
o compreendeu; de outro, ele coloca-se à serviço da musa<br />
materna. É a própria prova de uma capitulação através da qual<br />
a histérica, renunciando a seu desejo, mobiliza-se<br />
prioritariamente sobre a questão do desejo do outro, quer ele<br />
seja deposto ou mal tratado.” (Dor, 1991, p.54).<br />
O desejo na histeria está sempre sob reserva de se fazer representar. A<br />
histérica então usa disto para manter o seu desejo insatisfeito, pois isso a sustenta.<br />
Na histeria o sujeito precisa que o Outro deseje por ele. Em relação à identificação<br />
sexual, tem a dimensão de fazer através do Outro, tomar o traço do Outro e se<br />
identificar.<br />
O autor ainda traz uma importante contribuição quando escreve que:<br />
”a diferença entre um traço de estrutura e a identidade de um<br />
sintoma depende da observação de índices semelhantes. Além<br />
da plasticidade e da diversidade dos sintomas, o traço de<br />
estrutura impõe-se como um elemento estável que anuncia<br />
uma estratégia do desejo”. (Dor, 1991, p.34)<br />
Outro traço de estrutura histérica seria um recalcamento diretamente<br />
associado a um deslocamento. O que coloca o sujeito em uma posição que nada<br />
tem a ver com o que está acontecendo. A “neutralização do afeto sexual” sob a<br />
forma de deslocamento e recalcamento também é um traço presente nesta<br />
estrutura.<br />
Dizer que a natureza do sintoma é cega, é reconhecer que não existe<br />
necessidade lógica entre sua identidade e a expressão do desejo que aí se encontra<br />
alienada. Não há jamais estratégias cegas, pois elas obedecem a uma estrutura.<br />
Sabe-se que o sintoma é antes de tudo uma forma de realização de desejo.<br />
Conforme Nasio (1991), do lugar transferencial são constatados três estados<br />
permanentes e duradouros do eu histérico, além da multiplicidade dos<br />
acontecimentos que se sucedem no curso de uma análise, aquém das palavras,<br />
25
afetos e silêncios. O primeiro consistiria em um eu insatisfeito, estado passivo, a<br />
espera de receber do Outro, a não-resposta que frustra. O histérico é<br />
fundamentalmente um ser de medo que, para atenuar sua angústia, não encontrou<br />
outro recurso senão manter incessantemente, em suas fantasias e em sua vida, o<br />
doloroso estado de insatisfação.<br />
Enquanto insatisfeito, sente-se protegido do perigo. Esse perigo aqui citado é<br />
um perigo absoluto, puro, sem imagem nem figura, mais pressentido do que<br />
definido. A saber, o perigo de viver a satisfação de um gozo máximo, ou seja, o<br />
problema consiste em evitar qualquer experiência que evoque de perto ou de longe<br />
um estado de plena e absoluta satisfação.<br />
O problema do histérico é seu medo, um medo profundo e decisivo, um medo<br />
concentrado num único perigo: o fato de gozar. Para afastar essa ameaça de um<br />
gozo maldito e temido, o histérico inventa inconscientemente um cenário fantasístico<br />
destinado a provar a si mesmo e ao mundo que só existe gozo insatisfeito.<br />
O histérico trata seu semelhante, amado ou odiado (incluindo o psicanalista),<br />
da mesma maneira que trata o Outro de sua fantasia, logo quer se trate do poder do<br />
outro ou da falha do outro, seja com o Outro de sua fantasia ou com o outro de sua<br />
realidade, é sempre a insatisfação que o eu histérico faz questão de encontrar como<br />
sua melhor guardiã.<br />
Já o segundo estado, diz respeito a um eu histericizante, onde o histérico<br />
transforma a realidade concreta do espaço analítico numa realidade fantasística de<br />
conteúdo sexual. Histericizar é erotizar uma expressão humana mesmo ela não<br />
sendo de natureza sexual. Isso é o que faz o histérico, com toda inocência, sem<br />
saber, ele sexualiza o que não é sexual, apropria-se através do filtro de suas<br />
fantasias de conteúdo sexual (sem necessariamente ter consciência), de qualquer<br />
gesto, palavra ou silêncio que perceba no outro ou que dirija ao outro.<br />
É importante citar que o histérico é um notável decifrador de sinais sexuais,<br />
que raramente são seguidos pelo ato sexual que anunciam seu único gozo, um gozo<br />
masturbatório, consiste em produzir esses sinais, que o faz crer e levar o outro a crer<br />
que seu verdadeiro desejo é enveredar pelo caminho de um ato sexual consumado.<br />
No entanto o desejo a que o histérico se atém é de que este ato fracasse, ele se<br />
apega ao desejo inconsciente da não-realização do ato, continuando como um ser<br />
insatisfeito.<br />
26
Sendo que no terceiro, seria um eu de tristeza, quando precisa enfrentar a<br />
única verdade de seu ser: não saber se é homem ou mulher. O histérico pode se<br />
identificar com o homem, com a mulher ou com o ponto de fratura de um casal, ele<br />
pode encarnar a própria insatisfação que aflige um casal. Adota com surpreendente<br />
desenvoltura, tanto o papel do homem quanto o da mulher, mas, principalmente, o<br />
papel do terceiro personagem através de quem o conflito surge ou, ao contrário,<br />
graças a quem o conflito é aplacado. O histérico ocupa o papel de excluído, e o fato<br />
de ser rejeitado para esse lugar de excluído que explica a tristeza que tão<br />
freqüentemente acabrunha os histéricos. A tristeza do eu histérico corresponde ao<br />
vazio e à incerteza de sua identidade sexuada.<br />
A histérica não sabe o que é ser mulher, portanto representa ser mulher, por<br />
isto muitas vezes demonstra um ar teatral, exagerado, dando a sensação de<br />
artificialidade. Ser mulher para ela é fantasiado dentro do registro que ela conhece, o<br />
fálico, assim ser mulher passaria a ser uma equivalência simbólica com ter o falo.<br />
Ela não pode tolerar não ser mulher porque para ela isto significa ser castrada.<br />
Então aqui entra a encenação histérica do que ela julga ser mulher. Assim, a<br />
feminilidade é passível de ser invejada pela mulher histérica, não qualquer<br />
feminilidade, mas uma feminilidade fálica.<br />
Pode-se dizer que há sim uma relação entre a histérica e a mulher, neste<br />
sentido a histérica seria aquela mulher que assume a posição de feminilidade? A<br />
histérica se coloca como falo, já a mulher é o falo, o é simplesmente e somente na<br />
relação sexual, sendo que ela só é o falo para o Outro especificamente nesta<br />
condição. Ou seja, se a mulher se situa na relação sexual como aquela que traz um<br />
algo a mais, ou melhor, um complemento ao desejo do homem, ela possivelmente<br />
representa para ele o falo.<br />
Na relação sexual o homem vem assumir uma posição de sujeito e a mulher<br />
uma posição de objeto. Para a histérica, a sua busca se centra essencialmente em<br />
ser desejada, e a mulher estar no lugar de desejante é humilhante. A histérica<br />
impossibilita assim a sua subjetividade ao se identificar com o Outro. Ao virar fálica,<br />
ela se protege da condição de desejante, por isso ela busca o desejo do outro,<br />
sendo que o próprio pênis só adquire esta característica ao ser investido pelo<br />
desejo.<br />
O texto “Os escritos técnicos de Freud” (1986) aponta que há no sintoma uma<br />
satisfação desviada. Podemos pensar que o gozo tem relação com o sujeito,<br />
27
enquanto confrontamento com esse buraco deixado em algum certo registro de ato<br />
questionável, o do ato sexual. O sintoma é como uma porta de satisfação que não<br />
se pode parar de tentar buscar, e que, ao mesmo tempo por diversas vezes não se<br />
alcança, ou nunca será alcançada, e se for alcançada será uma satisfação parcial,<br />
nunca total.<br />
Para a histérica, há sempre algo que não satisfaz, um outro desejo que não<br />
pode ser satisfeito. Sendo desta forma, não quer assumir seu lugar de sujeito e arcar<br />
com o desejo e as vicissitudes que lhe são próprias, especialmente a falta. E por que<br />
tanta necessidade de manter o desejo insatisfeito? A histérica se esquiva, há uma<br />
necessidade de manter o desejo do Outro insatisfeito, ela negligencia a demanda,<br />
sabendo que na verdade é apenas uma máscara com a qual ela tenta esconder sua<br />
questão, sempre referida ao falo.<br />
O falo serve de máscara, tamponando a falha, disfarçando aquilo que falta,<br />
mas de certo modo, denuncia também que há falta. As máscaras são tantas, mas de<br />
quantas forem às insatisfações, ou seja, elas são constituídas pelas diversas<br />
demandas recusadas.<br />
A histérica que convocou o saber de Freud (1900) encontra-se no centro da<br />
confusão entre demanda e desejo, pois o que está em questão sempre é sua<br />
condição de falta-a-ser, ao mesmo tempo em que não cessa de apelar ao Outro seu<br />
complemento. Então o que consiste o desejo feminino?<br />
Se a mulher quiser se envolver com um homem, ela tem opções para que<br />
isso ocorra, sendo desta forma, da forma de mulher ou da forma de histérica, sendo<br />
a primeira correspondendo ao desejo da mulher de querer gozar, como o homem, e<br />
a outra ao desejo de não satisfazer esse gozo. Afirmando mais uma vez que a<br />
histérica não renuncia ao gozo, ela goza com a insatisfação. Esse é seu gozo: ela<br />
goza de manter-se insatisfeita, protegendo-se paradoxalmente do desejo.<br />
A mulher quer é gozar sexualmente, o que a difere da histérica, que goza<br />
através da insatisfação sexual. E este gozo não a identifica como mulher. O gozo da<br />
histérica se condensa em ser o objeto que provoca a insatisfação, ou seja, o desejo<br />
da histérica é querer ser para o Outro.<br />
Freud conclui que o sexo feminino enquanto tal, distinto do falo, não é jamais<br />
descoberto senão em sua negatividade. Como a morte que só pode ser<br />
compreendida como uma espécie de não vida devido a uma ausência completa de<br />
significantes próprios a ela, da mesma forma o feminino apenas pode ser acenado<br />
28
como o Outro do falo, encarnação da falta por excelência. Aliás, não é por acaso<br />
que Freud, em 1931, termina o artigo “Feminilidade” da seguinte maneira:<br />
falo.<br />
Isso é tudo que tinha a dizer-lhes a respeito da feminilidade.<br />
Certamente está incompleto e fragmentário, e nem sempre<br />
parece agradável. Mas não se esqueçam de que estive apenas<br />
descrevendo as mulheres na medida em que sua natureza é<br />
determinada por sua função sexual. (...) não desprezamos,<br />
todavia, o fato de que uma mulher possa ser uma criatura<br />
humana também em outros aspectos. Se desejarem saber<br />
mais a respeito da feminilidade, indaguem da própria<br />
experiência da vida dos senhores, ou consultem os poetas (...)<br />
(FREUD, 1976, p. 134).<br />
Pommier em 1991 reafirma que:<br />
“A Mulher” é indizível porque ocupa o lugar daquilo que resiste<br />
às palavras. Ela ocupa esse lugar vazio que as palavras<br />
bordejam (POMMIER, 1991, p.55).<br />
Portanto, a feminilidade será regulada por uma determinada referência ao<br />
29
CONCLUSÃO<br />
O presente trabalho teve intuito de abordar o tema da histeria, mais<br />
especificadamente do lado do feminino. O que foi colhido de informações se deu<br />
através de leituras de vários pesquisadores, com o objetivo de elaborar mais idéias e<br />
também para poder articular melhor o tema que foi abordado. Sem deixar de<br />
sublinhar que o tema o qual foi escolhido, me trouxe de certa forma um<br />
conhecimento maior sobre este.<br />
Após a análise do primeiro capítulo, pode-se dizer que o Complexo de Édipo<br />
é quem vai determinar a priori a posição sexuada do sujeito como tal, e o qual<br />
ordena o sujeito. E produzindo a proibição do incesto permite também ao sujeito<br />
situar-se em seus referenciais identificatórios, que vão lhe conceder um lugar de<br />
sujeito sexuado. Sem deixar de expor que para a mulher aceder à feminilidade, irá<br />
sim depender de como ela passou pela castração, sendo a castração o processo<br />
que vem instaurar a falta no sujeito, possibilitando eclodir o desejo.<br />
A partir das leituras e reflexões desenvolvidas no segundo capítulo, pode-se<br />
concluir que Freud, ao criar um novo modo de entender a histeria, retoma de<br />
Charcot a ideia de origem traumática, mas afirmando que o trauma tinha causas<br />
sexuais. Assim, após iniciar seus estudos sobre o tema, através da teoria da<br />
sedução real, vai aos poucos abandonando esta leitura para chegar na criação da<br />
noção de fantasia. Desta forma, ao mesmo tempo em que avança com inúmeros<br />
conceitos, produzindo a psicanálise, vai demonstrando que a conversão histérica<br />
devia ser entendida como um modo de realização de desejo, um desejo sempre<br />
insatisfeito.<br />
Já a partir de Lacan, que trabalha com outros conceitos produzidos em sua<br />
época, é possível afirmar que a histérica goza por se considerar o objeto que<br />
supostamente vai preencher a falta do Outro. Desta forma, pode-se dizer que o<br />
desejo da histérica é querer ser para o Outro. Dito de outra forma, é através da<br />
ausência de um significante que o feminino se apresenta em toda a mulher.<br />
Com este trabalho pude aprofundar meus conhecimentos sobre este tema,<br />
sendo que também, o estudo e a implicação com o trabalho certamente vão<br />
contribuir para meu crescimento pessoal. Os diversos textos ao qual tive acesso me<br />
permitiram mais entendimento sobre o assunto do tema em si e despertaram o gosto<br />
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pela pesquisa. Certamente ainda ficaram questões que poderão ser trabalhadas<br />
futuramente.<br />
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