08.10.2013 Views

Aspectos jurídicos do atendimento às vítimas de violência sexual

Aspectos jurídicos do atendimento às vítimas de violência sexual

Aspectos jurídicos do atendimento às vítimas de violência sexual

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ASPECTOS JURÍDICOS DO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL: PERGUNTAS E RESPOSTAS PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE<br />

da ida<strong>de</strong> gestacional, entrevistas com psicólogos e assistentes sociais,<br />

etc.), formar o seu convencimento sobre a sua ocorrência. Aliás, a palavra<br />

da mulher que busca assistência médica afirman<strong>do</strong> ter si<strong>do</strong> vítima<br />

<strong>de</strong> um crime <strong>sexual</strong> há <strong>de</strong> gozar <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> e, pelo menos para<br />

o serviço <strong>de</strong> assistência, <strong>de</strong>ve ser recebida com presunção <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong>.<br />

Não se <strong>de</strong>ve confundir os objetivos <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong> assistência à<br />

mulher com os objetivos da justiça criminal. Lembre-se <strong>de</strong> que o objetivo<br />

<strong>do</strong> serviço médico não é con<strong>de</strong>nar ninguém pela prática <strong>do</strong> crime<br />

<strong>sexual</strong>, mas, sim, garantir à mulher o exercício <strong>de</strong> seu direito à assistência<br />

médica integral e segura. Caberá à justiça criminal, no processo<br />

penal respectivo, garantir ao eventual acusa<strong>do</strong> os direitos cabíveis,<br />

como o contraditório e a ampla <strong>de</strong>fesa. Ao serviço médico, no âmbito<br />

exclusivo e específico <strong>do</strong> <strong>atendimento</strong> à vítima, cabe analisar a palavra<br />

da mulher no contexto <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais elementos colhi<strong>do</strong>s durante o procedimento<br />

assistencial e, se não houver elementos hábeis para afastar<br />

aquela presunção, há <strong>de</strong> prevalecer a palavra da mulher, sem que isso<br />

represente qualquer prejuízo para os direitos <strong>do</strong> eventual acusa<strong>do</strong> pelo<br />

crime <strong>sexual</strong> no âmbito da justiça criminal 21 .<br />

5. Em que condições o médico po<strong>de</strong>rá ser processa<strong>do</strong> por realizar<br />

um abortamento?<br />

R: O abortamento, com ou sem o consentimento da gestante, é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

criminoso nos termos <strong>do</strong>s artigos 125 22 e 126 23 <strong>do</strong> Código<br />

Penal. Assim, nesses casos, e apenas nesses casos, o médico po<strong>de</strong>rá<br />

ser responsabiliza<strong>do</strong> criminalmente pelo abortamento. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, induvi<strong>do</strong>samente, não se po<strong>de</strong> falar em crime, nem em responsabilida<strong>de</strong><br />

penal <strong>do</strong> médico, quan<strong>do</strong> o abortamento é pratica<strong>do</strong> nos<br />

21 Jurisprudência: “Evi<strong>de</strong>ntemente, a palavra da ofendida, como em geral nos <strong>de</strong>litos contra os costumes, surge como um coeficiente<br />

probatório <strong>de</strong> ampla valoração” (Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> São Paulo, RT 652/275); “nos crimes contra os costumes confere-se<br />

especial valia à palavra da ofendida, mormente quan<strong>do</strong> se ajusta a outros componentes <strong>do</strong> acervo probatório” (Tribunal <strong>de</strong><br />

Justiça <strong>de</strong> São Paulo, RT 665/266); “nos <strong>de</strong>litos <strong>de</strong> natureza <strong>sexual</strong>, a palavra da ofendida, dada a clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> da infração,<br />

assume prepon<strong>de</strong>rante importância, por ser a principal se não a única prova <strong>de</strong> que dispõem a acusação para <strong>de</strong>monstrar a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong>” (Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> São Paulo, RT 671/305); e “nos crimes sexuais, secretos pela própria natureza, a<br />

palavra da ofendida, muitas vezes a única prova <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> valer a acusação, assume papel prepon<strong>de</strong>rante e goza <strong>de</strong> presunção<br />

<strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> sempre que verossímil, coerente e amparada por incensurável comportamento anterior (Tribunal <strong>de</strong> justiça <strong>de</strong> São<br />

Paulo, RT 436/326).<br />

22 Código Penal, artigo 125: provocar aborto, sem o consentimento da gestante.<br />

23 Código Penal, artigo 126: provocar aborto, com o consentimento da gestante.<br />

. 15 .

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!