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Ficção e Autobiografia: - Série Produção Acadêmica Premiada

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14<br />

<strong>Série</strong>: <strong>Produção</strong> <strong>Acadêmica</strong> <strong>Premiada</strong><br />

autobiografia, para melhor enxergar as bases por trás da comparação proposta na pesquisa<br />

entre textos ficcionais e factuais.<br />

A análise comparativa apresentada a seguir tem como pressuposto a possibilidade<br />

de diferenciação da literatura factual e ficcional a partir da matéria e construção textuais,<br />

sem recorrer-se à realidade extraliterária para a decisão quanto à veracidade ou falsidade<br />

do conteúdo apresentado, e assim classificar uma obra em um ou outro regime, como é a<br />

tendência da maioria da crítica aceita desde Aristóteles, o qual já escrevia em sua Poética:<br />

“não é em metrificar ou não que diferem o historiador e o poeta; a obra de Heródoto poderia<br />

ser metrificada; não seria menos uma história com o metro que sem ele; a diferença<br />

está em que um narra acontecimentos e o outro, fatos quais podiam acontecer” (Aristóteles,<br />

28). No trecho é perceptível a visão da referencialidade do conteúdo de um texto<br />

como o critério exclusivo de diferenciação do regime adotado. Essa crença continuou<br />

soberana até a primeira metade do século XX, e mesmo na década de setenta ainda havia<br />

autores, como Dieter Baacke e Theodor Schulze, representantes da corrente dita “pädagogische<br />

Biographieforschung”, que tentavam diferenciar textos factuais e ficcionais pelo<br />

conteúdo, o qual, segundo eles, poderia ser verificado na realidade extratextual, logo,<br />

classificado como verdadeiro ou falso (apud Sill 1997: 80).<br />

Nem todos os críticos, contudo, e nisso se apoia esta pesquisa, seguem apenas esse<br />

critério. Fritz Schütze (apud Sill 1997: 80) é da opinião de que a construção textual também<br />

diz muito sobre o conteúdo e o estatuto ficcional ou factual de um texto: a estrutura<br />

do relato dependeria diretamente da experiência relatada. Para ele a estrutura narrativa<br />

copiaria a estrutura da ação factual, logo, um texto biográfico ou autobiográfico por<br />

apresentar o processo social de desenvolvimento e transformação de uma identidade,<br />

copiaria em sua estrutura as características de tal processo. Tal ponto de vista foi partilhado<br />

pela crítica de cunho social praticada também na década de 70. Já em seu livro<br />

Gelesene Wirklichkeit, Ruth Klüger, escritora e ela mesma autora de uma autobiografia<br />

(weiter leben, 1997), parte da questão “was mit der Literatur geschieht, wenn sie sich<br />

der Wirklichkeit stellt und im besonderen sich mit der Geschichte und Zeitgeschichte<br />

auseinandersetzt” (2006: 7) 3 , o que a autora tenta responder em diversos ensaios, com<br />

constatações interessantes, como a de que criminosos e vítimas organizariam o passado<br />

de formas diferentes (23), o que implicaria em estruturas de relato também diferentes,<br />

pois estariam ligadas diretamente à experiência relatada, e não a convenções genéricas<br />

prévias, indo na mesma direção do afirmado acima por Schütze. Sobre a autobiografia<br />

em particular, a autora a coloca na fronteira entre literatura e História, decidindo-se, no<br />

entanto, pela última:<br />

3<br />

“[...] o que acontece com a literatura quando esta se coloca diante da realidade e, em especial, se confronta com a<br />

História e com a história de uma época.” Esta tradução em português é de minha autoria e será indicado pela sigla<br />

P.M.D. Para os textos da bibliografia secundária adota-se aqui, na maioria das vezes, o seguinte procedimento:<br />

tradução no corpo do trabalho, a fim de preservar a fluência da leitura, com citação do original em nota. Por<br />

não se tratarem de obras literárias, que fazem uso especial da linguagem, acredito que o procedimento não seja<br />

prejudicial.

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