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Ficção e Autobiografia: - Série Produção Acadêmica Premiada

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<strong>Série</strong>: <strong>Produção</strong> <strong>Acadêmica</strong> <strong>Premiada</strong><br />

ing of all, generic discussions, which can have such powerful heuristic value in the case of<br />

tragedy or of the novel, remain distressingly sterile when autobiography is at stake. (De<br />

Man 1984: 68)<br />

<strong>Autobiografia</strong> seria então a tendência de ler/perceber atrás de todo texto literário o<br />

autor e reconhecer no texto experiências reais, um tipo de leitura, como se deve admitir,<br />

a moldar especialmente a compreensão não acadêmica da literatura.<br />

Como visto, para grande parte dos autores haveria diferenças entre os gêneros,<br />

que são consideradas das formas mais diversas, sem recorrer muitas vezes ao material<br />

textual. O problema surge quando se tenta demonstrar empiricamente em um corpus tais<br />

diferenças, as quais são admitidas automaticamente por muitos, sem grande questionamento.<br />

Deve-se levar em consideração que os textos acima citados foram em sua maioria<br />

escritos na primeira metade do século XX – o mais recente seria o de Pascal, datado de<br />

1959. Posições mais próximas à defendida neste trabalho podem ser encontradas em<br />

escritos datados a partir da década de setenta, os quais se ocupariam mais do material<br />

textual propriamente.<br />

Philippe Lejeune em seu célebre texto Le pacte autobiographique procura precisar<br />

o que definiria uma autobiografia como tal em oposição à literatura ficcional. O teórico<br />

chega à conclusão de que não adianta procurar elementos textuais e estruturais característicos<br />

para o gênero, a chave estaria no “pacto” estabelecido no texto entre autor e leitor, o<br />

chamado “pacto autobiográfico” – diferente do “pacto romanesco”, para a ficção –, cujo<br />

elemento essencial seria o nome próprio: o nome do autor na capa do livro somado a<br />

uma série de elementos paratextuais, referentes aos códigos de publicação, assegurariam<br />

a identidade entre autor e narrador e assim a equação Autor=Narrador=Protagonista,<br />

que, ao lado do pacto seriam a condição central da autobiografia, segundo o autor. Ao<br />

deslocar o problema para o contrato estabelecido entre as partes, contrato que está explicita<br />

ou implicitamente nos códigos de publicação mais que no próprio texto, Lejeune<br />

desloca também o foco do texto em si para elementos paratextuais, como o título, subtítulo,<br />

nome da coleção na qual o livro está inserido, nota do editor, observação na orelha<br />

do livro, prefácio, etc. A equação citada acima, segundo Lejeune, é um dos pressupostos<br />

de leitura, somada aos códigos de publicação mencionados, para o estabelecimento do<br />

pacto autobiográfico, fenômeno de recepção que indicaria ao leitor uma forma possível<br />

de leitura. Tal fórmula, no entanto, não é suficiente para o intérprete, apenas ponto de<br />

partida. Pode-se ainda questionar a validade da equação ao se colocar a pergunta de em<br />

que medida é possível afirmar a identidade autor, narrador e personagem. Paul Ricoeur,<br />

por exemplo, separa a identidade do indivíduo em identidade idem e ipse, as quais deveriam<br />

ser levadas em conta em uma narrativa, não se podendo falar simplesmente de<br />

personagem ou narrador sem considerar tal polaridade (Ricoeur 1990: 140s.).<br />

O próprio Lejeune, mais de dez anos após a escrita do livro Le pacte autobiographique<br />

de 1975, ou seja, em 1986, retorna ao tema no artigo “Le pacte autobiographique<br />

(bis)”, e percebe que supervalorizou o pacto autobiográfico esquecendo-se de outros<br />

elementos como o conteúdo do texto e técnicas narrativas: jogo de vozes, focalização e<br />

estilo. O leitor perceberia de modo diferente um texto que focaliza a experiência de um

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