50 Corpo e Sexualidade
Conhecer nosso corpo e suas sensações de prazer e desprazer é essencial para nosso bem estar, favorece nossa autonomia e autocuidado, além de ser um direito de todo ser humano. Todos, sem exceção, têm direito ao conhecimento e cuidado de sua integridade corporal, mental, sexual e reprodutiva. Isto inclui não somente o funcionamento dos órgãos sexuais e reprodutivos, bem <strong>com</strong>o o fato de reconhecer expressões e afetos e as diferentes dimensões do corpo, incluindo a emocional e erótica. <strong>Mulheres</strong> e corpos Quem tem o direito e o poder de decidir acerca de tudo o que afeta positiva ou negativamente nosso corpo? Não há dúvida de que as decisões sobre seu corpo cabem a cada mulher. No entanto, a imagem e as decisões sobre o corpo feminino são influenciadas pelas normas culturais rígidas. A sociedade exerce um papel fundamental na formação da imagem de nossos corpos. O que esconder, o que mostrar, o que podemos tocar, o que é considerado nojento ou sagrado, nossa maneira de sentar e posicionar as pernas, tudo isto é influenciado por normas culturais e, na maioria das vezes, variam para homens e mulheres. Em algumas regiões do mundo, existem fortes proibições que impedem que as mulheres conheçam, toquem ou mostrem seu corpo e tomem decisões que dizem respeito a sua sexualidade. Muitas mulheres são educadas desde cedo a reprimirem o prazer e a se sentirem culpadas em relação a sua sexualidade, através de normas culturais que dizem, por exemplo: “Feche as pernas!”, “Sente-se direito!”, “Meninas não fazem isso!”, “Menstruação é suja!”, “O prazer é pecado!”, “<strong>Mulheres</strong> sem filhos não são mulheres de verdade!”. Essas normas e outras que proíbem mulheres jovens de tocarem e conhecerem seus corpos podem fazer <strong>com</strong> que tenham dificuldade de tomar decisões, <strong>com</strong>o quando e <strong>com</strong> quem ter relações sexuais, quando engravidar, uso do preservativo e métodos contraceptivos, entre outras. Para algumas mulheres, o toque do parceiro, em vez de ser motivo de prazer, e o de médicos, em vez de associado ao cuidado <strong>com</strong> a saúde, pode gerar constrangimentos ou desconforto. Além disso, em muitas culturas, o corpo feminino é subjugado aos desejos masculinos. É o homem quem escolhe o momento de ter relações sexuais e lhes é dado, até mesmo, o direito de agredir a mulher caso esta não cumpra seus desejos. <strong>Mulheres</strong> e sexualidade A relação das mulheres <strong>com</strong> seus corpos influencia diretamente a maneira <strong>com</strong>o expressam e percebem sua sexualidade. A sexualidade humana não é um fenômeno apenas biológico - é formada também por aspectos culturais e psíquicos, e é experimentada de maneira diferente por cada indivíduo e em diferentes fases da vida. Não é necessário que tenhamos um relacionamento <strong>com</strong> outra pessoa para que possamos viver nossa sexualidade. Ambos, a sexualidade e o prazer, podem ser experimentados de várias formas: fisicamente, emocionalmente, espiritualmente e intelectualmente. A sexualidade fornece energia para todas as atividades humanas, incluindo sexo, amizade, artes, entre outras atividades criativas. Normas sócio-culturais sobre o corpo e a sexualidade são geralmente distintas para homens e mulheres. Em muitas sociedades, a sexualidade masculina é representada <strong>com</strong>o impulsiva e incontrolável. Ser viril e ter relações sexuais antes do casamento representam ritos de passagem para o mundo adulto. O mesmo não serve para as mulheres, que devem ser recatadas e responsáveis por controlar seu desejo sexual. Estas normas sociais podem gerar dúvidas e ansiedades sobre nossos corpos e <strong>com</strong>portamentos, além de interferir na livre e saudável expressão de nossa sexualidade. Outro exemplo de contrastes em relação às diferentes expectativas para mulheres e homens que podem afetar a expressão de sua sexulidade está relacionado à masturbação. Enquanto que as normas sociais são geralmente permissivas a esta prática relacionada ao homem, elas geralmente restringem ou condenam esta prática por mulheres. Tocar o corpo, sentir suas sutilezas, perceber desejos, prazer e dor são formas de conhecer o corpo e favorece a expressão e o desfrute da sexualidade de forma plena. A sexualidade se manifesta de maneira diferente em diferentes fases de nossa vida. A adolescência, em particular, é tempo de transformações corporais e psicológias e de intensificação dos desejos. É também tempo de autoconhecimento, de dúvidas e decisões sobre que fronteiras <strong>Trabalhando</strong> <strong>com</strong> <strong>Mulheres</strong> <strong>Jovens</strong>: <strong>Empoderamento</strong>, Cidadania e Saúde 51