158 jan/fev 2012 - Odebrecht Informa
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Antônio Francisco Suane viveu, aos 9<br />
anos, uma experiência conhecida por<br />
milhares de crianças angolanas que,<br />
após os conflitos armados no país, migraram<br />
sozinhas do interior para a capital<br />
em busca de melhores condições de vida. Sem um<br />
endereço certo, partiu da Província de Kwanza-Sul em<br />
2002, mesmo ano em que o país iniciou seu processo de<br />
paz. Hoje, em uma rua movimentada de Luanda, Antônio<br />
segue os passos da informalidade engraxando sapatos,<br />
atividade que resiste ao tempo na metrópole de quase 6<br />
milhões de habitantes.<br />
Desde junho de 2010, a rotina de lustrar calçados<br />
de couro e escovar sandálias de camurça ganhou<br />
uma dignidade que ele ainda não havia experimentado.<br />
“Agora é mais seguro, trabalho tranquilamente,<br />
não preciso fugir da polícia”, diz, sorrindo, o garoto<br />
de 18 anos e de pouca conversa.<br />
A mudança na rotina de Antônio veio de uma iniciativa<br />
simples: adaptar o modelo dos pontos de ônibus<br />
(em Angola, conhecidos como paragens) e transformá-<br />
-los em locais de trabalho onde os engraxates pudessem<br />
contar com melhores condições para exercer sua<br />
atividade, e os clientes, mais conforto. Assim nasceu o<br />
projeto Paragem do Brilho, uma parceria da <strong>Odebrecht</strong><br />
Angola com o Governo Provincial de Luanda concebida<br />
para ser um instrumento de inclusão social ao proporcionar<br />
melhores condições de vida a jovens angolanos<br />
que vivem de lustrar sapatos.<br />
“A finalidade do projeto não é torná-los engraxates<br />
para toda a vida, mas inseri-los em um contexto em que<br />
aprendam a ser organizados, a ter compromisso com<br />
um ofício e a valorizar uma profissão”, explica Edson<br />
Cristóvão Duarte, um dos educadores do projeto. Atualmente,<br />
o Paragem do Brilho acompanha o trabalho de<br />
30 jovens em três paragens, uma construída na Avenida<br />
Revolução de Outubro e outras duas na Avenida Ho Chi<br />
Min. Cada uma delas é coberta de uma estrutura de vidro<br />
e metal, e possui cinco bancos de madeira com suporte<br />
para os pés.<br />
Nova cara para a cidade<br />
O projeto Paragem do Brilho foi idealizado no decorrer<br />
das obras do Projeto Vias de Luanda, no qual a <strong>Odebrecht</strong><br />
trabalha revitalizando grandes avenidas da capital.<br />
As equipes da empresa observaram que, enquanto<br />
a paisagem urbana ganhava um aspecto novo após a<br />
reconstrução de praças, calçadas e paradas de ônibus,<br />
meninos e adolescentes engraxates permaneciam nas<br />
calçadas enfrentando as mesmas condições de trabalho<br />
de antes – sentados sobre papelões, caixotes ou móveis<br />
quebrados – e acabavam su<strong>jan</strong>do as calçadas e os muros<br />
depois de um dia inteiro de trabalho.<br />
“Percebemos que a atividade deles não estava<br />
acompanhando o desenvolvimento da cidade e acabava<br />
em desarmonia com a estética atual das vias”,<br />
explica Virgínia Machado, Responsável pela Área<br />
Social e por Relações Comunitárias do Projeto Vias<br />
de Luanda, da <strong>Odebrecht</strong>. A partir de um pedido do<br />
Governo Provincial, que reconhecia a necessidade de<br />
iniciar um programa social voltado ao trabalho informal,<br />
chegou-se ao denominador comum de aliar<br />
um pedido do cliente à visão da própria empresa.<br />
Virgínia, que é baiana, buscou outra inspiração que<br />
fosse positiva para o jovens angolanos: o Projeto Axé,<br />
dedicado à inclusão social de crianças e jovens de<br />
Salvador.<br />
“Nosso objetivo é contribuir para que eles se engajem<br />
no mercado formal, de maneira que outros jovens possam<br />
ser incluídos no Paragem do Brilho”, diz Virgínia,<br />
enquanto observa a rotina dos engraxates em uma manhã<br />
de segunda-feira.<br />
Um deles é Jorge Pedro, um rapaz franzino que aparenta<br />
mais idade do que tem. Aos 19 anos, diz que a vantagem<br />
de trocar a calçada pela paragem é poder usar<br />
um uniforme. “Sinto que as pessoas me olham de uma<br />
forma diferente, com mais respeito, mais confiança”,<br />
afirma.<br />
Embora a valorização da aparência signifique pouco<br />
para um ofício que é, basicamente, escovar sapatos,<br />
esses cuidados se refletem na estima que eles próprios<br />
têm por seus instrumentos de trabalho. Além de usufruírem<br />
das instalações, os participantes do programa recebem,<br />
periodicamente, uniformes personalizados, crachás<br />
de identificação e material de trabalho, que inclui<br />
caixote de madeira, graxas, flanelas, escovas e pincéis.<br />
Os clientes já deram sua contrapartida: de acordo com<br />
os coordenadores da iniciativa, a renda dos engraxates<br />
vem aumentando de 30% a 50%.<br />
A perspectiva é de que novas paragens sejam construídas<br />
em <strong>2012</strong>, para que um maior número de angolanos<br />
seja atendido. Iniciado em abril de 2010, o Paragem<br />
do Brilho pretende encaixar cada um dos selecionados<br />
em várias etapas, que incluem regularização de docu-<br />
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