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2.ª divisão - Post Milenio

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<strong>Post</strong>-Milénio... Às Sextas-feiras, bem pertinho de si!<br />

9 a 15 de Janeiro de 2009 7<br />

Conselho Permanente pede ao PR que não<br />

promulgue fim do voto por correspondência<br />

Oórgão representativo<br />

dos emigrantes<br />

pediu ao<br />

Presidente da República<br />

que pondere "seriamente a<br />

não promulgação" do<br />

diploma que põe fim ao<br />

voto por correspondência,<br />

numa carta divulgada hoje<br />

à saída de uma audiência<br />

com Cavaco Silva.<br />

Na carta, enviada há dias, mas<br />

divulgada apenas hoje, os membros<br />

do Conselho Permanente das<br />

Comunidades Portuguesas<br />

(CPCP) sustentam que o voto<br />

presencial "irá afastar ainda mais a<br />

participação cívica e política da<br />

comunidade portuguesa".<br />

Os 11 elementos do recémeleito<br />

CPCP, que estão em Lisboa<br />

para a sua primeira reunião<br />

ordinária, foram recebidos por<br />

Cavaco Silva no Palácio de<br />

Belém, a quem apresentaram as<br />

prioridades do mandato que agora<br />

começa.<br />

No final do encontro, o presidente<br />

do CPCP, Fernando Gomes,<br />

disse ter "confiança e fé na sensibilidade"<br />

do Presidente da<br />

República, alertando que o fim do<br />

voto por correspondência pode<br />

levar os emigrantes a sentirem-se<br />

"portugueses de segunda".<br />

Por outro lado, o CPCP apresentou<br />

ao Presidente da República<br />

sugestões de alteração do diploma,<br />

que aguarda promulgação,<br />

nomeadamente no artigo relativo<br />

à criação de assembleias de voto<br />

fora das embaixadas e consulados.<br />

Para Fernando Gomes, a criação<br />

de assembleias de voto fora<br />

dos consulados e embaixadas, prevista<br />

no diploma apenas em casos<br />

excepcionais, deve ser "norma e<br />

não excepção", propondo que o<br />

voto electrónico seja complementar<br />

ao presencial.<br />

"É inverter um pouco o<br />

processo, em vez de ser o eleitor a<br />

chegar à mesa de voto, serem as<br />

mesas de voto a irem ao espaço de<br />

residência", sublinhou.<br />

Fernando Gomes acrescentou<br />

que Cavaco Silva garantiu que a<br />

carta do CPCP está a ser apreciada,<br />

mas não deu qualquer indicação<br />

sobre a sua decisão relativamente<br />

ao fim do voto por correspondência.<br />

Os 11 elementos do CPCP<br />

reúnem-se até sexta-feira, na<br />

Assembleia da República, naquela<br />

que será a primeira reunião daquele<br />

órgão, eleito em Outubro passado.<br />

Questionado sobre o facto de a<br />

reunião decorrer numa altura em<br />

que o Tribunal Administrativo<br />

aprecia um pedido de impugnação<br />

da eleição, Fernando Gomes afirmou<br />

que esta não será matéria a<br />

abordar na reunião.<br />

"Quando a decisão [do tribunal]<br />

vier logo se vê. Estamos de<br />

consciência tranquila e temos de<br />

trabalhar porque a comunidade<br />

não pode esperar", disse.<br />

CFF/MCL.<br />

Frio: Drama da vida dos sem-abrigo faz esquecer baixas temperaturas<br />

As temperaturas<br />

negativas<br />

que se<br />

aproximam da capital<br />

portuguesa não<br />

intimidam os semabrigo<br />

que, já habituados<br />

ao frio da noite,<br />

fazem da cidade as<br />

portas das suas casas.<br />

Carlos Rocha, 71 anos,<br />

mora na rua desde 1992 e<br />

desde então que faz das<br />

roupas e dos cobertores<br />

oferecidos<br />

por<br />

Organizações Não<br />

Governamentais os companheiros<br />

de uma luta contra<br />

o frio, que perde muitas<br />

vezes, demasiadas.<br />

Hoje mora na rua<br />

António Pedro, perto do<br />

jardim Constantino, local<br />

onde todas as noites vai<br />

buscar a comida que lhe<br />

aquece o estômago, mas<br />

“noutra vida” até já foi pintor<br />

nas horas livres.<br />

“Vim morar para a rua<br />

porque calhou. Morreu a<br />

minha mulher e a partir daí<br />

foi assim”, disse o idoso,<br />

após beber o copo de sopa<br />

oferecido pela “Dona<br />

Natividade”, uma voluntária<br />

que há 18 anos se juntou<br />

ao Exército da<br />

Salvação, e que três dias por<br />

semana distribui comida e<br />

“palavras amigas” aos semabrigo<br />

da capital.<br />

Marcado pelas dificuldades<br />

que a vida nas ruas<br />

traz, Carlos Rocha já não se<br />

recorda quando conheceu a<br />

mão amiga da voluntária,<br />

que se orgulha da sopa “verdadeira<br />

e consistente” que<br />

oferece aos sem-abrigo.<br />

“É com grande amor<br />

que nós fazemos este trabalho.<br />

Normalmente distribuímos<br />

sopa, pão, iogurtes e<br />

fruta, quando temos”, disse<br />

à agência Lusa Natividade<br />

que, a cada ronda oferece<br />

250 copos de sopa aos semabrigo.<br />

Com a vaga de frio às<br />

portas da cidade, a câmara<br />

municipal de Lisboa já<br />

activou o plano de contingência<br />

para apoiar estas<br />

pessoas, prevendo o reforço<br />

da distribuição de comida e<br />

bebida quentes, agasalhos e<br />

mais 30 camas para pernoitar.<br />

Com o olhar carregado<br />

pelas dificuldades que<br />

atravessou nos últimos 16<br />

anos, Carlos Rocha, já<br />

habituado a dias de frio de<br />

outros invernos, espera<br />

receber roupa quente que o<br />

ajude a passar as próximas<br />

noites.<br />

“Tenho que arranjar um<br />

camisolão”, disse o semabrigo,<br />

acrescentando que,<br />

com a chegada da vaga de<br />

frio, o que há a fazer passa<br />

por agarrar-se “ao cartão”<br />

que lhe faz de cama num<br />

passeio bem perto da<br />

Almirante Reis.<br />

Mas nem sempre as pessoas<br />

que recorrem ao<br />

auxílio dos voluntários das<br />

ONG se encontram a viver<br />

nas ruas. É o caso de<br />

Fernando, que, embora já<br />

tenha feito das ruas a sua<br />

residência “durante tanto<br />

tempo”, hoje, graças ao subsídio<br />

de reinserção social,<br />

consegue alugar um quarto.<br />

“É muito fácil entrar na<br />

vida das ruas mas é muito<br />

difícil sair. Já não tenho<br />

muitos sonhos, agora só<br />

quero ir devagarinho”, disse<br />

o antigo sem-abrigo, que,<br />

após sorver a comida oferecida<br />

pelos voluntários do<br />

Exército de Salvação assistiu<br />

à partida da carrinha “da<br />

sopa” em direcção a outros<br />

rumos.<br />

Na noite de terça-feira<br />

os quatro voluntários do<br />

centro de acolhimento do<br />

sem abrigo de Xabregas<br />

distribuíram 250 sopas no<br />

jardim Constantino, nos<br />

Anjos, no Regueirão dos<br />

Anjos, na Praça do<br />

Comércio e em Santa<br />

Apolónia.<br />

Este auxílio é sempre<br />

bem recebido por aqueles<br />

que mais precisam, quer<br />

seja através de comida, de<br />

roupas ou simplesmente de<br />

uma palavra amiga.<br />

“Chelas” já perdeu a<br />

conta há quantos anos<br />

dorme nas ruas, mas é com<br />

orgulho que mostra o<br />

colchão onde pernoita com<br />

“amigos” nos Anjos.<br />

Humanista por convicção,<br />

Chelas vê na Dona<br />

Natividade uma amiga,<br />

mais não seja pelos conselhos<br />

que recebe, mais uma<br />

vez, para aproveitar a vaga<br />

de frio que se aproxima e<br />

regressar a casa, para junto<br />

da família.<br />

“Vou aproveitar para<br />

tomar um rumo. Um novo<br />

caminho”, disse o sem abrigo<br />

enquanto incentivado<br />

pelos voluntários.<br />

Próxima paragem:<br />

Regueirão dos Anjos. De<br />

acordo com a voluntária do<br />

Exército de Salvação este é<br />

o local onde os toxicodependentes<br />

sem-abrigo se<br />

concentram.<br />

Uma rua escura mostra<br />

os traços de uma vida alternativa:<br />

seringas convivem<br />

com colchões e camas de<br />

cartão que, às 21:30 já<br />

estavam compostas pelos<br />

seus “inquilinos” habituais.<br />

“Hoje em dia já vemos<br />

muitos sem-abrigo jovens.<br />

Raparigas de 13 e 14 anos,<br />

algumas delas grávidas,<br />

costumam vir pedir-nos<br />

comida e agasalhos”,<br />

referiu uma das voluntárias,<br />

enquanto olhava para algumas<br />

das cinco pessoas que<br />

dormiam naquela rua.<br />

A vontade de ajudar<br />

estas pessoas é muita e o<br />

medo, esse, só vem quando<br />

já se consegue ver o fundo<br />

da panela de sopa, o que<br />

impossibilita o cumprimento<br />

do percurso habitual.<br />

Em Santa Apolónia terminou<br />

mais um dia de sacrifício<br />

por parte destes voluntários,<br />

uma campanha de<br />

distribuição recompensada<br />

com a certeza de que<br />

tornaram uma noite difícil<br />

num refúgio menos penoso<br />

a pelo menos 250 pessoas,<br />

um número que, no entanto<br />

é escasso, dada a quantidade<br />

incerta de sem-abrigo<br />

que reside na capital portuguesa.<br />

JYR.

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