Avaliação das propriedades gelificantes e emulsionantes de ...
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<strong>Avaliação</strong> <strong>das</strong> <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>gelificantes</strong> e <strong>emulsionantes</strong> <strong>de</strong><br />
misturas <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong> pescado e <strong>de</strong> proteínas vegetais<br />
Ana Sofia Araújo Tomé<br />
Dissertação para obtenção do Grau <strong>de</strong> Mestre em<br />
Engenharia Alimentar – Processamento <strong>de</strong> alimentos<br />
Orientador: Engenheira Carla Pires<br />
Co-Orientador: Professora Doutora Isabel Sousa<br />
Co-Orientador: Professora Doutora Maria Luísa Louro<br />
Jurí:<br />
Presi<strong>de</strong>nte: - Doutora Margarida Gomes Moldão Martins, Professora Auxiliar do Instituto<br />
Superior <strong>de</strong> Agronomia da Universida<strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Vogais: - Doutora Anabela Raymundo, Professora Associada do Instituto Piaget;<br />
- Doutora Isabel Maria Nunes <strong>de</strong> Sousa, Professora Auxiliar do Instituto Superior<br />
<strong>de</strong> Agronomia da Universida<strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Lisboa;<br />
- Doutor Victor Manuel Delgado Alves, Professor Auxiliar do Instituto Superior <strong>de</strong><br />
Agronomia da Universida<strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Lisboa;<br />
- Doutora Carla Maria Feio Pires, Investigadora Auxiliar do Instituto Português do<br />
Mar e da Atmosfera.<br />
Lisboa, 2012
AGRADECIMENTOS<br />
À Engenheira Carla Pires, por me ter orientado este trabalho prático, por me ter transmitido todo<br />
o seu conhecimento necessário à realização e <strong>de</strong>senvolvimento do mesmo ao longo <strong>de</strong>stes<br />
meses. Por toda a ajuda e apoio dados ao longo da realização parte prática e escrita do trabalho.<br />
À Prof. Isabel Sousa, co-orientadora do trabalho, por todo o conhecimento que me transmitiu, o<br />
qual foi fundamental na realização <strong>de</strong>ste trabalho. Pela ajuda, pelo apoio e disponibilida<strong>de</strong>.<br />
À Prof. Luísa Louro, co-orientadora do trabalho, por me ter forncecido a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
realizar o mesmo, por toda a sua ajuda e disponibilida<strong>de</strong>.<br />
Quero fazer um agra<strong>de</strong>cimento muito especial à Prof. Anabela Raymundo, pela imensa ajuda<br />
que me prestou, por todo o seu conhecimento, pela amiza<strong>de</strong>, pelas suas i<strong>de</strong>ias e entusiasmo. O<br />
incentivo que sempre me <strong>de</strong>u ao longo <strong>de</strong>stes meses, a sua energia e o seu apoio foram<br />
<strong>de</strong>terminantes para a realização <strong>de</strong>sta dissertação.<br />
A todos os colegas e funcionários do IPIMAR e do Instituto Piaget <strong>de</strong> Almada, nomeadamente à<br />
Joana Mo<strong>de</strong>sto Santos, ao Engº Inrineu Baptista, à Doutora Maria Cristiana Nunes, à Engª<br />
Patrícia Fradinho por toda a ajuda, conhecimento fornecido e companheirismo.<br />
Ao Instituto Nacional <strong>de</strong> Recursos Biológicos (INRB, IPIMAR) e ao Instituto Piaget <strong>de</strong><br />
Almada, pela disponibilização <strong>das</strong> condições e investimento nos meios técnicos necessários à<br />
realização <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Um agra<strong>de</strong>cimento com muito amor e carinho à minha família, principalmente aos meus pais,<br />
por tudo aquilo que me proporcionaram para eu chegar até aqui, assim como, a toda a família.<br />
Obrigado por todo o apoio, ajuda, força, <strong>de</strong>terminação, persistência e carinho que sempre me<br />
transmitiram <strong>de</strong> forma a ter o maior sucesso possível.<br />
A todos os meus amigos pela força que sempre me <strong>de</strong>ram em todos os momentos,<br />
principalmente os mais difíceis, pelo apoio, incentivo e carinho sempre presentes ao longo<br />
<strong>de</strong>stes meses. Sem eles, tudo teria sido bastante mais difícil. Obrigado pela vossa enorme<br />
amiza<strong>de</strong>.
Resumo<br />
Neste trabalho foram estuda<strong>das</strong> misturas <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong> ervilha (PE) e proteínas recupera<strong>das</strong><br />
(PRP) <strong>de</strong> subprodutos <strong>de</strong> pescada-do-Cabo obti<strong>das</strong> por solubilização alcalina e posterior<br />
precipitação no ponto isoelétrico, em relação aos aspectos funcionais e nutritivos, <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong><br />
da cor, textura e reológicas <strong>de</strong> géis e emulsões.<br />
Os géis e as emulsões preparados com as misturas proteicas apresentaram valores <strong>de</strong> brancura<br />
elevados. A firmeza dos géis aumentou com o aumento da proporção <strong>de</strong> PRP nas misturas.<br />
Após o aquecimento (20 a 90 ºC) formou-se rapidamente a re<strong>de</strong> proteica dos géis e <strong>de</strong>pois do<br />
arrefecimento a 5 ºC esta estrutura era reforçada. Os espetros mecânicos dos géis <strong>das</strong> diferentes<br />
misturas eram típicos <strong>de</strong> géis fracos. Para concentrações mais eleva<strong>das</strong> <strong>de</strong> PRP, os valores dos<br />
módulos <strong>de</strong> conservação (G´) e <strong>de</strong> dissipação (G´´) eram mais elevados, o que correspon<strong>de</strong> a<br />
sistemas mais estruturados.<br />
Os espetros mecânicos <strong>das</strong> emulsões <strong>das</strong> misturas <strong>de</strong> PRP e PE eram típicos <strong>de</strong> emulsões<br />
proteicas estabiliza<strong>das</strong> em que G’ é sempre superior ao G’’. No escoamento <strong>de</strong> to<strong>das</strong> as<br />
emulsões observou-se um comportamento típico <strong>de</strong> um reofluidificante.<br />
Na avaliação sensorial, a apreciação global dos molhos para sala<strong>das</strong> preparados com as misturas<br />
<strong>de</strong> PRP e PE foi bastante satisfatória.<br />
Palavras chave: Subprodutos <strong>de</strong> pescada-do-Cabo, proteínas recupera<strong>das</strong>, proteína <strong>de</strong> ervilha,<br />
géis e emulsões, <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> textura e reológicas, avaliação sensorial.<br />
i
Abstract<br />
In present work fish proteins from Cape-hake by-products were recovered using alkaline<br />
solubilization followed by precipitation at the isoelectric point. Mixtures of these proteins (PRP)<br />
and pea proteins (PE) were used to produce gels and emulsions. Functional and nutrition<br />
aspects, colour, texture and rheological properties of these gels and emulsions were studied.<br />
The gels and emulsions prepared with different protein mixtures presented high whiteness<br />
values. The firmness of gels increased with increasing levels of PRP in mixtures. A gel network<br />
was rapidly formed upon heating (20 to 90 ºC) and reinforced when cooling down to 5 ºC.<br />
Mechanical spectra obtained for gels with different mixtures showed typical patterns of weak<br />
gels. Storage modulus (G’) and loss modulus (G’’) increased with PRP concentrations which<br />
correspond to more structured systems.<br />
Mechanical spectra for emulsions prepared with mixtures of PRP and PE (pH 7,0 and 3,8) are<br />
typical of protein-stabilized emulsions in which G’ is higher than G’’ in the frequency range<br />
studied. For all emulsions studied, a clear shear-thinning behaviour was noticed upon flow at<br />
steady shear.<br />
In sensory analysis, the global appreciation of the salad dressings prepared with the different<br />
mixtures of PRP and PE was very satisfactory.<br />
Keywords: Cape-hake by-products, recovered proteins, pea proteins, gels and emulsions,<br />
texture and rheological properties, sensory evaluation of salad dressings.<br />
ii
Exten<strong>de</strong>d abstract<br />
The use of fish proteins may <strong>de</strong>serve special attention due to their nutritional properties.<br />
Digestibility, amino acid composition, and functional properties, which inclu<strong>de</strong>: foaming<br />
capacity, emulsifying capacity, viscosity, gelling capacity, water holding capacity and<br />
solubility, are excellent.<br />
The objective of the present work was to study some functional properties of recovered proteins<br />
from Cape-hake by-products. These proteins were recovered using a method <strong>de</strong>veloped by<br />
Hultin and Kelleher (2000), involving alkaline protein solubilization, followed by isoelectric<br />
precipitation: proteins are first solubilized at pH 11,0 and the mixture is then centrifuged. The<br />
soluble proteins are then collected and recovered by adjusting pH to isoelectric pH (5,5) causing<br />
them to aggregate and precipitate into a protein isolate. This protein isolate showed high protein<br />
content with high biological and functional value and allows upgrading by-products generated<br />
during the hake processing. Using fish proteins in dry pow<strong>de</strong>r form presents some advantages<br />
since they do not need special requirements upon storage. Furthermore, the protein isolate<br />
obtained in this work was freeze-dried.<br />
The freeze-dried proteins obtained from Cape-hake by-products had a high protein content (92,8<br />
± 1,2) and low moisture (6,57 ± 0,7), fat (3,12 ± 0,2) and ash content (1,03 ± 0,05).<br />
The use of vegetable proteins, like pea protein presents several advantages, also from the<br />
nutritional point of view. Pea protein presents a balanced amino acid composition, especially<br />
lysine, an essential amino acid. In addition to nutrition characteristics, functional properties like<br />
gelation, emulsifying and foaming capacity has led to a great interest in the utilization of these<br />
proteins as a promising food ingredient.<br />
In this work, five different aqueous mixtures of pea proteins (PE) and hake recovered proteins<br />
(PRP) were used:1. 20 % of pea protein (100PE); 2. 16 % of pea protein + 4 % of hake<br />
recovered proteins (80PE+20PRS); 3. 10 % of pea proteins + 10 % of hake recovered proteins<br />
(50PE+50PRS); 4. 4 % of pea proteins + 16 % of hake recovered proteins (20PE+80PRS) and 5.<br />
20 % of hake recovered proteins (100PRP).<br />
The colour parameters, lightness (L*), redness (a*), yellowness (b*) and Whiteness (W) of gels,<br />
prepared with the different protein mixtures were evaluated. All gels presented high whiteness<br />
W values and gels prepared with the mixture 50PE+50PRP had the lower values for redness and<br />
yellowness.<br />
The measurement of gel texture properties was fundamental for un<strong>de</strong>rstanding the importance of<br />
PRP in gel characteristics. In this work, only firmness and adhesivity were consi<strong>de</strong>red from the<br />
TPA results. The firmness of gels increased with increasing levels of PRP in mixtures.<br />
Adhesivity seems to be an important parameter in the characterization of gel texture. However,<br />
the results obtained presented consi<strong>de</strong>rable variability, showing higher standard <strong>de</strong>viations.<br />
iii
Thus, in contrast to firmness, it seems to have no relationship between PE percentage in<br />
mixtures and adhesivity of gels.<br />
The rheological studies revealed that a gel network was rapidly formed upon heating from 20 to<br />
90 ºC, and when cooling down to 5 ºC, the gel structure was reinforced as interactions between<br />
the proteins were strengthened. Mechanical spectra obtained for gels with different mixtures<br />
showed typical patterns of weak gels. Storage modulus (G’) and loss modulus (G’’) are higher<br />
for higher concentrations of PRP which corresponds to more structured systems. Gels prepared<br />
with different mixtures showed a thermo-reversible behaviour with G´ obtained after the 2 nd<br />
heating/cooling cycle very similar to that after the 1 st heating/cooling cycle. Nevertheless, the<br />
gel prepared with 100PRP showed a typical pattern of myofibrillar protein networks with a clear<br />
thermo-reversible behaviour.<br />
Emulsions prepared with different protein mixtures at pH 7,0 and 3,8 showed high W values.<br />
The stress sweep tests of the emulsions prepared at pH 7,0 and 3,8 indicated that G´ and G´´ are<br />
stress in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt (linear viscoelasticity region) in the range of 0,5-10 Pa.<br />
The linear viscoelastic behaviour shown by the emulsions prepared with protein mixtures at pH<br />
7,0 and 3,8 is typical of protein-stabilized emulsions in which an elastic network <strong>de</strong>velops due<br />
to the occurrence of an extensive flocculation process. G´ is higher than G´´ in the frequency<br />
range studied and the evolution of G´ with increased frequency shows a ten<strong>de</strong>ncy to the<br />
<strong>de</strong>velopment of a plateau region, followed by a minimum G´´. The Plateau modulus (G 0 N) was<br />
studied as a characteristic parameter of the plateau region and has been related to the formation<br />
of a structural network in oil-in-water emulsions due to the extension of entanglements among<br />
protein molecules located at the oil-in-water interface. At pH 7,0 there was no relation between<br />
the percentage of PE and G 0 N, but at pH 3,8, a markedly increase of G 0 N with percentage of PE<br />
(0-50 %) was observed. From mechanical spectra it can be also un<strong>de</strong>rline that the shape of<br />
frequency <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce of G´ and G´´ is slightly different for the emulsions studied.<br />
Steady-state flow curves, and the respective zero-shear-rate limiting viscosity, 0 , for the<br />
emulsions with different protein mixtures, were studied. For all emulsions a clear shear-thinning<br />
behaviour was noticed. The emulsion that presents a higher 0 at pH 7,0 was the emulsion<br />
prepared with the mixture 20PE+80PRP and at pH 3,8 the higher 0 was obtained with the<br />
mixture 100PRP.<br />
Another objective of this work was the <strong>de</strong>velopment of a product with the protein mixtures<br />
evaluated. Thus, 2 salad dressings with mixtures 50PE+50PRP and 20PE+80PRP were<br />
prepared with herbs and vinegar. The overall assessment of these two salad dressings was quite<br />
satisfactory. 58,3 % of the panelists preferred the salad dressing prepared with protein mixture<br />
20PE+80 PRP and 16 % the one prepared with 50PE+50 PRP.<br />
iv
ÍNDICE<br />
1. Introdução geral..................................................................................................................... 1<br />
2. Revisão bibliográfica................................................................................................................. 2<br />
2.1. Proteínas ............................................................................................................................ 2<br />
2.2. Proteínas do Músculo do Pescado ............................................................................. 3<br />
2.3. Proteínas Vegetais ..................................................................................................... 4<br />
2.3.1. Proteína <strong>de</strong> ervilha ............................................................................................. 4<br />
2.4. Subprodutos <strong>de</strong> pescada e as suas utilizações ............................................................... 6<br />
2.4.1. Processos <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> proteínas por solubilização ácida ou alcalina .......... 7<br />
2.5. Géis alimentares ............................................................................................................ 8<br />
2.6. Emulsões alimentares .................................................................................................... 9<br />
2.6.1. Emulsionantes ..................................................................................................... 10<br />
2.6.2. Caracterização reológica <strong>das</strong> emulsões ............................................................... 11<br />
2.7. Principais métodos analíticos utilizados........................................................................... 12<br />
2.7.1. Análise dos parâmetros da textura ............................................................................. 12<br />
2.7.1.1. Análise <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura (T.P.A.) .............................................................. 13<br />
2.7.2. Análise do comportamento reológico ........................................................................ 15<br />
2.7.2.1. Testes oscilatórios .............................................................................................. 16<br />
3. Materiais e métodos ............................................................................................................ 18<br />
3.1. Materiais ........................................................................................................................... 18<br />
3.2. Métodos ............................................................................................................................ 18<br />
3.2.1. Recuperação <strong>de</strong> proteínas por solubilização alcalina .......................................... 18<br />
3.2.2. Composição química ................................................................................................. 19<br />
3.2.2.1. Relação Proteína bruta/Proteína total ................................................................. 19<br />
3.2.2.2. Matéria gorda livre ............................................................................................. 19<br />
3.2.2.3. Humida<strong>de</strong> ........................................................................................................... 20<br />
3.2.2.4. Cinza total .......................................................................................................... 20<br />
3.3.2. Géis alimentares ........................................................................................................ 20<br />
v
3.3.2.1. Preparação dos géis ............................................................................................ 20<br />
3.2.3.3. <strong>Avaliação</strong> da textura ........................................................................................... 22<br />
3.2.3.4. Comportamento viscoelástico linear dos géis .................................................... 22<br />
3.2.4. Emulsões alimentares ................................................................................................ 24<br />
3.2.4.1. Preparação <strong>das</strong> emulsões óleo-em-água ............................................................. 24<br />
3.2.4.2. Determinação da cor <strong>das</strong> emulsões .................................................................... 24<br />
3.2.4.3. Textura <strong>das</strong> emulsões ......................................................................................... 25<br />
3.2.4.4. Medições reológicas <strong>das</strong> emulsões ..................................................................... 25<br />
3.2.5. Preparação dos “molhos para salada” ....................................................................... 26<br />
3.2.5.1. Análise sensorial ................................................................................................ 26<br />
3.2.6. Tratamento estatístico ............................................................................................... 27<br />
4. Resultados e discussão ........................................................................................................ 28<br />
4.1. Composição química ........................................................................................................ 28<br />
4.2. Géis <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e proteína <strong>de</strong> ervilha ........................................ 29<br />
4.2.1. Caraterização da cor dos géis .................................................................................... 29<br />
4.2.2. Textura dos géis ........................................................................................................ 31<br />
4.2.3. Proprieda<strong>de</strong>s viscoelásticas dos géis ......................................................................... 34<br />
4.2.4. Termoreversibilida<strong>de</strong> dos géis................................................................................... 42<br />
4.3. Emulsões <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e proteína <strong>de</strong> ervilha a pH 7..................... 44<br />
4.3.1. Caraterização da cor <strong>das</strong> emulsões ............................................................................ 44<br />
4.3.2. Textura <strong>das</strong> emulsões ................................................................................................ 46<br />
4.3.3. Proprieda<strong>de</strong>s viscolásticas <strong>das</strong> emulsões ................................................................... 47<br />
4.4. Emulsões <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e proteína <strong>de</strong> ervilha a pH 3,8.................. 51<br />
4.4.1. Caraterização da cor <strong>das</strong> emulsões ............................................................................ 51<br />
4.4.2. Textura <strong>das</strong> emulsões ................................................................................................ 52<br />
4.4.3. Proprieda<strong>de</strong>s viscoelásticas <strong>das</strong> emulsões ................................................................. 54<br />
4.5. Análise sensorial dos “molhos para salada” ..................................................................... 59<br />
5. Conclusão………………………………………………………………………………...…..63<br />
6. Referências bibliográficas……………………………………………………………………65<br />
vi
Anexos…………………………………………………………………………………………..70<br />
Anexo I – Diagrama da recuperação proteica por solubilização alcalina……………………….71<br />
Anexo II – Folha <strong>de</strong> prova <strong>de</strong> avaliação sensorial (“Molhos para sala<strong>das</strong>”)……………......…..72<br />
Anexo III – Fotografias da prova <strong>de</strong> avaliação sensorial…………………………………….....75<br />
vii
ÍNDICE DE FIGURAS<br />
Figura 1 - Curva <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> típica <strong>de</strong> uma emulsão e respetivas mudanças estruturais<br />
características do fluido reofluidificante. .................................................................................... 11<br />
Figura 2 - Texturómetro TA-XT2 (Stable Micro System, UK) .................................................. 13<br />
Figura 3 – Exemplo <strong>de</strong> um texturograma <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura ................................. 14<br />
Figura 4 - Reometro <strong>de</strong> tensão controlada RheoStress 300 (RS-300 ThermoHaake, Alemanha)<br />
..................................................................................................................................................... 16<br />
Figura 5 - Proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> pescada liofiliza<strong>das</strong> ............................................................ 19<br />
Figura 6 - Representação esquemática do espaço da cor segundo o sistema L*, a* e b*. .......... 22<br />
Figura 7 - Amostra B - emulsão da mistura 20PE+80PRP e amostra A- emulsão da mistura<br />
50PE+50PRP. .............................................................................................................................. 27<br />
Figura 8 - Brancura dos géis obtidos a partir <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP;<br />
50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes significam médias estatisticamente<br />
diferentes (p < 0,05). ................................................................................................................... 30<br />
Figura 9 - Valores <strong>de</strong> firmeza (a) e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (b) dos géis obtidos a partir <strong>das</strong> seguintes<br />
misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes<br />
significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). ........................................................... 32<br />
Figura 10 - Correlação existente entre a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha e a firmeza dos géis.<br />
..................................................................................................................................................... 33<br />
Figura 11 - A: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Curva <strong>de</strong><br />
aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC<br />
da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP; D: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong><br />
20PE+80PRP. E: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo<br />
cheio), G’’ (Símbolo aberto). ...................................................................................................... 34<br />
Figura 12 - A: Aquecimento durante 30 min da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Aquecimento durante 30<br />
min da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Aquecimento durante 30 min da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP;<br />
D: Aquecimento durante 30 min da mistura <strong>de</strong> 20PE+80PRP. E: Aquecimento durante 30 min<br />
da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’ (Símbolo aberto)............................................. 36<br />
Figura 13 - A: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Curva <strong>de</strong><br />
arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90<br />
ºC da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP; D: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong><br />
20PE+80PRP. E: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo<br />
cheio), G’’ (Símbolo aberto). ...................................................................................................... 37<br />
Figura 14 - A: Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3 ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 100PE. B:<br />
Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3 ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Cinéticas <strong>de</strong><br />
maturação a 3 ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 50 PE+50PRP; D: Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3<br />
viii
ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 20PE+80PRP. E: Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3 ºC, durante 600<br />
min da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’ (Símbolo aberto). .................................... 39<br />
Figura 15 - A: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong><br />
80PE+20PRP. C: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP; D: Espetro mecânico da<br />
mistura <strong>de</strong> 20PE+80PRP. E: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’<br />
(Símbolo aberto). ......................................................................................................................... 41<br />
Figura 16 - 1º aquecimento <strong>de</strong> 20 ºC a 90 ºC (♦) ; 1º arrefecimento <strong>de</strong> 90 ºC a 5 ºC (●) ; 2º<br />
aquecimento <strong>de</strong> 5 ºC a 90 ºC (■), seguido do 2º arrefecimento imediato <strong>de</strong> 90 ºC a 5 ºC (▲).A:<br />
Mistura 100PE; B:Mistura 80PE+20PRP; C: Mistura 50PE+50PRP; D: 20PE+80PRP; E:<br />
100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’ (Símbolo aberto). .................................................................. 43<br />
Figura 17 - Valores da brancura <strong>das</strong> emulsões a pH 7 prepara<strong>das</strong> com as misturas 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes significam médias<br />
estatisticamente diferentes (p < 0,05). ......................................................................................... 45<br />
Figura 18 - Valores <strong>de</strong> firmeza (a) e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (a) <strong>das</strong> emulsões prepara<strong>das</strong> com as<br />
seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras<br />
diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). .......................................... 46<br />
Figura 19 - Varrimentos <strong>de</strong> tensão <strong>das</strong> emulsões a pH 7 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. .............................................................. 47<br />
Figura 20 - Espetros mecânicos <strong>das</strong> emulsões a pH 7 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. .............................................................. 48<br />
Figura 21 - Curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões a pH 7 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. .............................................................. 49<br />
Figura 22 - Viscosida<strong>de</strong> limite Newtoniana para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula <strong>das</strong> emulsões a pH 7<br />
obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05) ................................ 50<br />
Figura 23 - Valores da brancura <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 prepara<strong>das</strong> com as misturas 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes significam médias<br />
estatisticamente diferentes (p < 0,05). ......................................................................................... 52<br />
Figura 24 - Valores <strong>de</strong> firmeza (a) e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sevida<strong>de</strong> (b) <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong><br />
seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras<br />
diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). .......................................... 53<br />
Figura 25 - Varrimentos <strong>de</strong> tensão <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas:<br />
100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. .................................................. 54<br />
Figura 26 - Espetros mecânicos <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. .............................................................. 55<br />
Figura 27 - Curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas:<br />
100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. .................................................. 56<br />
ix
Figura 28 - Viscosida<strong>de</strong> limite Newtoniana para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula <strong>das</strong> emulsões a pH<br />
3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP;<br />
100PRP. Letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). ................ 57<br />
Figura 29 - Valores <strong>de</strong> G 0 N <strong>das</strong> emulsões a pH7 e a pH 3,8, <strong>das</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha<br />
e proteína recuperada <strong>de</strong> pescada em estudo. .............................................................................. 58<br />
Figura 30 - Atributos do cheiro dos dois tipos <strong>de</strong> emulsões: 50 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 50 % <strong>de</strong><br />
proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRP); 20 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 80 % <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRP). ...................................................................................... 59<br />
Figura 31 - Atributos da textura e <strong>de</strong> aspecto dos dois tipos <strong>de</strong> emulsões: 50 % proteína <strong>de</strong><br />
ervilha e 50 % <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRP); 20 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 80<br />
% <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRP). ............................................................... 60<br />
Figura 32 - Atributos do sabor dos dois tipos <strong>de</strong> emulsões: 50 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 50 % <strong>de</strong><br />
proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRP); 20 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 80 % <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRP). ...................................................................................... 61<br />
Figura 33 - Apreciação global do painel <strong>de</strong> provadores, numa escala <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 a 10. 61<br />
Figura 34 - Preferência do painel <strong>de</strong> provadores pela amostra A ou amostra B ......................... 62<br />
Figura 35 - Amostra B - emulsão da mistura 20PE+80PRP e amostra A- emulsão da mistura<br />
50PE+50PRP. .............................................................................................................................. 75<br />
Figura 36 - Mesa <strong>de</strong> prova sensorial ........................................................................................... 75<br />
Figura 37 - Painel <strong>de</strong> provadores durante a prova sensorial ........................................................ 75<br />
x
ÍNDICE DE TABELAS<br />
Tabela 1 - Valores da composição química dos subprodutos <strong>de</strong> pescada, proteínas recupera<strong>das</strong>,<br />
proteínas recupera<strong>das</strong> secas e proteínas <strong>de</strong> ervilha. Os valores apresentados correspon<strong>de</strong>m à<br />
média e <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong>terminações. Valores na mesma coluna com letras diferentes<br />
significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). ........................................................... 28<br />
Tabela 2 - Determinação instrumental da cor – Coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> L*, a* e b* para os géis obtidos a<br />
partir <strong>de</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha. Os valores apresentados<br />
correspon<strong>de</strong>m à média e <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong>terminações. Valores na mesma coluna com<br />
letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05). ................................ 29<br />
Tabela 3 – Determinação instrumental da cor – Coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> L*, a* e b* <strong>das</strong> emulsões a pH 7<br />
prepara<strong>das</strong> com as misturas 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Valores na mesma coluna com letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p<br />
< 0,05). ........................................................................................................................................ 44<br />
Tabela 4 - Determinação instrumental da cor – Coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> L*, a* e b* <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8<br />
prepara<strong>das</strong> com as seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP;<br />
100PRP. Valores na mesma coluna com letras diferentes significam médias estatisticamente<br />
diferentes (p < 0,05). ................................................................................................................... 51<br />
xi
Introdução geral<br />
1. Introdução geral<br />
Os subprodutos gerados no processamento do pescado são normalmente subaproveitados, o que<br />
é consi<strong>de</strong>rada uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem na medida em que estes têm uma composição em<br />
aminoácidos que os torna uma excelente fonte <strong>de</strong> proteínas facilmente digestíveis e nutritivas.<br />
As proteínas <strong>de</strong> peixe apresentam boas <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> funcionais, nomeadamente elevada<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção da água, gelificação, ligação <strong>de</strong> gordura, solubilida<strong>de</strong>, viscosida<strong>de</strong>,<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gelificação, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emulsificação, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> espuma,<br />
retenção <strong>de</strong> aromas, absorção <strong>de</strong> gordura.<br />
Como tal, neste trabalho prático preten<strong>de</strong>u-se valorizar os subprodutos da pescada-do-Cabo<br />
(Merluccius capensis) fornecidos pela empresa Gelpeixe (Loures, Portugal), recuperando a<br />
proteína dos mesmos. Esta recuperação proteica foi realizada através <strong>de</strong> um processo que<br />
envolve a solubilização alcalina e a precipitação isoeléctrica <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong> pescada<br />
proveniente <strong>de</strong>stes subprodutos. Este processo permite obter um isolado proteico estável e com<br />
elevada funcionalida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser usado na produção <strong>de</strong> géis e emulsões <strong>de</strong> elevada<br />
qualida<strong>de</strong>.<br />
Após esta recuperação, preten<strong>de</strong>u-se igualmente preparar géis e emulsões a partir <strong>de</strong> cinco<br />
misturas distintas, com diferentes proporções <strong>das</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> pescada e <strong>de</strong><br />
proteínas <strong>de</strong> ervilha. Para tal, utilizou-se um isolado proteico <strong>de</strong> ervilha, o Pisane HD da<br />
Cosucra SA (Warcoing, Bélgica), gentilmente cedido pela empresa Induxtria De Suministros<br />
Portuguesa Lda. Estas proteínas apresentam também uma composição equilibrada em<br />
aminoácidos, especialmente em lisina, um aminoácido essencial. Apresentam ainda boas<br />
<strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> funcionais, como a gelificação, a emulsificação e a formação <strong>de</strong> espumas.<br />
Foi também objetivo <strong>de</strong>ste trabalho estudar os parâmetros da cor, as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> textura<br />
(utilizando a análise <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura-TAP) e as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> viscoelásticas (realizando<br />
varrimentos <strong>de</strong> tempo, temperatura e frequência) dos géis e emulsões (a pH 7 e 3,8) preparados<br />
com as cinco misturas.<br />
Com base nestes resultados, preten<strong>de</strong>u-se também <strong>de</strong>senvolver um molho para sala<strong>das</strong> com base<br />
nas mesmas proteínas preparado com <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> texturais e sensoriais <strong>de</strong>sejáveis ao<br />
consumidor. Para isso, foram avaliados os atributos <strong>de</strong> cheiro, sabor, textura e aspeto <strong>de</strong>stes<br />
molhos <strong>de</strong> salada por um painel <strong>de</strong> provadores não treinados.<br />
1
Revisão bibliográfica<br />
2. Revisão bibliográfica<br />
2.1. Proteínas<br />
As proteínas são macromoléculas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância em certos alimentos, apresentando um<br />
valor nutricional elevado, uma vez que é uma importante fonte <strong>de</strong> aminoácidos essenciais e<br />
apresentando igualmente uma elevada relevância a nível tecnológico, <strong>de</strong>vido às suas<br />
<strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> funcionais. Deste modo são utiliza<strong>das</strong> também como agentes <strong>gelificantes</strong> e<br />
<strong>emulsionantes</strong>.<br />
As proteínas são constituí<strong>das</strong> por ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> aminoácidos unidos por ligações peptídicas<br />
(ligação amida), constituindo ca<strong>de</strong>ias polipeptídicas que diferem umas <strong>das</strong> outras pelo número e<br />
sequência dos resíduos <strong>de</strong> aminoácidos presentes na molécula (Sikorski, 2001).<br />
A estrutura <strong>das</strong> proteínas é consi<strong>de</strong>rada a diversos níveis, sendo o primeiro <strong>de</strong>les, o nível <strong>de</strong><br />
estrutura primária, que correspon<strong>de</strong> à composição e sequência <strong>de</strong> aminoácidos que formam<br />
ca<strong>de</strong>ias polipeptídicas, sem consi<strong>de</strong>rar o arranjo espacial. O nível <strong>de</strong> estrutura secundária está<br />
relacionado com o arranjo espacial dos átomos da ca<strong>de</strong>ia principal. Este arranjo provoca a<br />
formação <strong>de</strong> estruturas secundárias, como hélices e folhas preguea<strong>das</strong>, mas sem ter em conta a<br />
conformação <strong>das</strong> suas ca<strong>de</strong>ias laterais ou as suas relações com outros segmentos <strong>de</strong> proteínas. A<br />
conformida<strong>de</strong> tridimensional <strong>das</strong> proteínas correspon<strong>de</strong>, por sua vez ao arranjo espacial dos<br />
átomos da molécula proteica ou da subunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> molécula proteica (ca<strong>de</strong>ia polipeptídica). Esta<br />
conformida<strong>de</strong> tridimensional dá então origem ao nível <strong>de</strong> estrutura terciária da proteína. Na<br />
formação da estrutura terciária <strong>das</strong> proteínas estão envolvi<strong>das</strong> ligações iónicas (ou<br />
electrostáticas), ligações <strong>de</strong> hidrogénio, forças <strong>de</strong> Van Der Waals e ligações covalentes, sendo<br />
as ligações covalentes <strong>de</strong> enxofre (pontes <strong>de</strong> enxofre) particularmente importantes na<br />
estabilização da estrutura terciária. A maior parte <strong>das</strong> proteínas adquirem funcionalida<strong>de</strong> com<br />
este nível <strong>de</strong> estrutura, como seja o caso da maioria <strong>das</strong> proteínas com activida<strong>de</strong> enzimática<br />
(Damodaran, 1997). No caso em que as subunida<strong>de</strong>s proteicas interagem entre si, as proteínas<br />
adquirem uma estrutura quaternária (nível quaternário <strong>de</strong> organização). As interações que as<br />
ca<strong>de</strong>ias peptídicas po<strong>de</strong>m estabelecer entre si são normalmente interações electrostáticas e<br />
ligações <strong>de</strong> enxofre que permitem a estabilização <strong>de</strong>ste nível <strong>de</strong> estrutura que <strong>de</strong>termina a sua<br />
funcionalida<strong>de</strong> (Damodaran, 1997).<br />
As <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> funcionais da proteína po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>fini<strong>das</strong> como as características <strong>de</strong>stes<br />
biopolímeros que contribuem para a sua própria estrutura, para as suas <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> mecânicas<br />
e para as suas <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> físico-químicas e afetam o comportamento <strong>das</strong> proteínas num<br />
sistema alimentar, durante a sua preparação, o seu processamento, armazenamento e consumo.<br />
2
Revisão bibliográfica<br />
Influenciam, portanto as características sensoriais, texturais e nutricionais dos produtos<br />
alimentares, o que faz com que as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> funcionais sejam um dos parâmetros <strong>de</strong> maior<br />
relevância na aceitabilida<strong>de</strong> do produto final pelo consumidor (Nunes, 2003).<br />
Estas <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> resultam da sua estrutura química (composição, sequência <strong>de</strong> aminoácidos e<br />
conformação), <strong>das</strong> interacções com outros componentes do alimento (água, polissacáridos,<br />
lípidos, compostos responsáveis pelo aroma e iões) e <strong>das</strong> condições do meio (temperatura, pH e<br />
teor em sais) (Sikorski, 2002).<br />
As <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> funcionais típicas <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong> sistemas alimentares, são as seguintes<br />
(Damodaran, 1997): solubilida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> água, viscosida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
gelificação, <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>emulsionantes</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> espuma, retenção <strong>de</strong><br />
aromas, absorção <strong>de</strong> gordura, coesão-a<strong>de</strong>são e a elasticida<strong>de</strong>.<br />
Neste trabalho vamos dar maior ênfase, posteriormente, apenas às <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gelificação e <strong>de</strong> emulsificação.<br />
2.2. Proteínas do Músculo do Pescado<br />
As proteínas do músculo classificam-se geralmente em sarcoplasmáticas ou solúveis,<br />
miofibrilares ou contrácteis e do estroma ou insolúveis. A fração sarcoplasmática correspon<strong>de</strong><br />
aproximadamente a 18-30 % do total <strong>das</strong> proteínas musculares, a fração miofibrilar constitui<br />
cerca <strong>de</strong> 66 a 77%, pertencendo as restantes proteínas ao estroma. Após as operações <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scabeçamento, evisceração, <strong>de</strong>spelagem e filetagem, a proporção <strong>de</strong>stas proteínas é <strong>de</strong> 30 %<br />
<strong>de</strong> proteínas sarcoplasmáticas e 70% <strong>de</strong> proteínas miofibrilares (Men<strong>de</strong>s, 2001).<br />
As proteínas miofibrilares formam as miofibrilas e incluem a miosina, a actina e proteínas<br />
reguladoras como a tropomiosina, troponina e actinina. Este tipo <strong>de</strong> proteínas po<strong>de</strong> ser<br />
igualmente <strong>de</strong>signado por proteínas contrácteis, uma vez que estão envolvi<strong>das</strong> no mecanismo <strong>de</strong><br />
contração do músculo do pescado (Sikorski, 2001).<br />
Estas proteínas apresentam uma elevada importância no processamento <strong>de</strong> polpas <strong>de</strong> pescado,<br />
uma vez que são responsáveis pela coagulação e gelificação dos produtos que po<strong>de</strong>m ser<br />
produzidos com base nessas mesmas polpas.<br />
Esta fracção proteica localiza-se no sarcoplasma e é constituída por cerca <strong>de</strong> 100 proteínas<br />
distintas, que apresentam como principais características comuns, o facto <strong>de</strong> serem solúveis em<br />
água e terem pesos moleculares relativamente baixos. Esta fração <strong>de</strong> proteínas é também<br />
<strong>de</strong>signada por miogénio (Suzuki, 1987).<br />
3
Revisão bibliográfica<br />
Este conjunto <strong>de</strong> proteínas é eliminado no processo tradicional <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> surimi,<br />
juntamente com a água utilizada nas etapas <strong>de</strong> lavagem. Visto que estas proteínas apresentam<br />
um valor nutricional semelhante ao <strong>das</strong> proteínas miofibrilares, têm sido realizados diversos<br />
estudos com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar as per<strong>das</strong> <strong>de</strong>stas proteínas solúveis e recuperá-las <strong>de</strong> modo a<br />
serem utiliza<strong>das</strong> com diferentes fins.<br />
2.3. Proteínas Vegetais<br />
O uso <strong>de</strong> proteínas vegetais nos produtos alimentares como alternativa às proteínas animais tem<br />
vindo a ganhar bastante interesse ao longo dos últimos anos. O preço relativamente baixo <strong>das</strong><br />
proteínas vegetais proporcionou um elevado impulso para a sua utilização em produtos<br />
alimentares como por exemplo, em produtos à base <strong>de</strong> surimi (Luo et al., 2004).<br />
A proteína <strong>de</strong> soja é a mais usada, contudo este cultivar não é muito adaptável ao clima Europeu<br />
e para a reduzir o impacto económico e ambiental negativo da <strong>de</strong>pendência <strong>das</strong> importações <strong>de</strong><br />
soja da Europa, as proteínas <strong>de</strong> outras leguminosas, como por exemplo ervilha, feijão ou<br />
tremoço (Raymundo et. al., 2002) começaram a ser produzi<strong>das</strong> na Europa.<br />
2.3.1. Proteína <strong>de</strong> ervilha<br />
As proteínas maioritariamente presentes nas sementes <strong>de</strong> ervilha (Pisum sativum L.) são as<br />
globulinas e as albuminas.<br />
Os isolados proteicos <strong>de</strong> ervilha comercialmente disponíveis são ricos principalmente em<br />
globulinas que são heterogeneamente compostas por leguminas e vicilinas.<br />
As sementes <strong>de</strong> ervilha têm 20-30% <strong>de</strong> proteína, maioritariamente correspon<strong>de</strong>nte a proteínas <strong>de</strong><br />
armazenamento. As duas principais proteínas, a legumina (7S) e a vicilina (11S), são globulinas<br />
e representam 65-80% <strong>de</strong> to<strong>das</strong> as proteínas extraíveis (Schroe<strong>de</strong>r, 1982). Estas têm uma<br />
estrutura quaternária regular que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do pH e da concentração <strong>de</strong> sal (Gharsallaoui et al.,<br />
2009).<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista nutricional, a proteína <strong>de</strong> ervilha tem a vantagem <strong>de</strong> apresentar uma<br />
composição equilibrada em aminoácidos, especialmente em lisina, um aminoácido essencial<br />
(Schnei<strong>de</strong>r and Lacampagne, 2000). Tal como as características nutricionais, as suas boas<br />
<strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> funcionais, como a gelificação, a emulsificação e a formação <strong>de</strong> espumas têm<br />
4
Revisão bibliográfica<br />
levado a um gran<strong>de</strong> interesse na utilização <strong>de</strong>stas proteínas como um ingrediente alimentar<br />
promissor (Raymundo et al, 2005).<br />
Quando submetida a uma <strong>de</strong>snaturação térmica controlada, as globulinas <strong>de</strong> ervilha po<strong>de</strong>m<br />
formar géis (Bora et al.,1994; O`Kane, 2004; O`Kane et al., 2005). Bacon et al. (1990)<br />
verificaram que foram obtidos géis transparentes <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> submeti<strong>das</strong> a um tratamento térmico,<br />
sob condições áci<strong>das</strong>, permitindo o uso da proteína <strong>de</strong> ervilha como um substituto gelatinoso em<br />
produtos vegetais. Bora et al. (1994) <strong>de</strong>terminaram que as condições ótimas para a gelificação<br />
da globulina <strong>de</strong> ervilha correspon<strong>de</strong>m a um pH <strong>de</strong> 7,1 e um tratamento térmico <strong>de</strong> 87 ºC durante<br />
20 min, enquanto que a adição <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio (NaCl) a concentrações acima <strong>de</strong> 0,05 M<br />
reduzem a firmeza do gel. Estes autores também observaram que a legumina não forma géis e<br />
que a firmeza do gel é inversamente proporcional à proporção <strong>de</strong> mistura <strong>de</strong> legumina/vicilina.<br />
Foi igualmente <strong>de</strong>monstrado que a formação do gel é fortemente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ligações<br />
hidrofóbicas e <strong>de</strong> hidrogénio, enquanto que as ligações <strong>de</strong> bissulfureto (ou pontes <strong>de</strong> enxofre)<br />
não são essenciais. No entanto, estas ligações contribuem para um aumento da estrutura e da<br />
estabilida<strong>de</strong> do gel (Nunes et al, 2003). Ao contrário da glicina <strong>de</strong> soja, as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gel da<br />
legumina <strong>de</strong> ervilha foram susceptíveis a reorganizações que causaram géis que se tornaram<br />
mais fortes <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um reaquecimento/rearrefecimento (O`Kane et al., 2004). A concentração<br />
mínima <strong>de</strong> gelificação <strong>de</strong> isolados <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha a partir <strong>de</strong> cinco cultivares diferentes<br />
foi <strong>de</strong> 16%, em todos os casos. Foi igualmente <strong>de</strong>monstrado que os isolados obtidos a partir <strong>de</strong><br />
cultivares com altos teores da -subunida<strong>de</strong> formam géis muito fracos a pH neutro,<br />
possivelmente <strong>de</strong>vido às repulsões electroestáticas entre as regiões terminais N carrega<strong>das</strong><br />
negativamente (O`Kane et al., 2005).<br />
A produção <strong>de</strong> emulsões óleo em água usando emulsificantes vegetais alternativos para<br />
substituir totalmente ou parcialmente a gema <strong>de</strong> ovo, oferece diversas vantagens dietéticas, tais<br />
como a diminuição do teor <strong>de</strong> colesterol e gordura, bem como o aumento da estabilida<strong>de</strong><br />
microbiológica (Franco et al.,1998b; Raymundo et al., 2005).<br />
A proteína <strong>de</strong> ervilha tem uma boa capacida<strong>de</strong> emulsificante, que tem sido <strong>de</strong>monstrada por<br />
diversos autores, tal como referido anteriormente. Dagorn-Scaviner et al. (1986; 1987)<br />
mostraram que as globulinas <strong>de</strong> ervilha aparentam ser proteínas eficientes como agentes activos<br />
<strong>de</strong> superfície, especialmente a vicilina, que apresenta geralmente maiores taxas constantes <strong>de</strong><br />
adsorção. A vicilina também apresenta melhores <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> emulsificantes que a legumina e<br />
algumas interações inibitórias ocorreram entre as duas globulinas, sendo a adsorção <strong>de</strong> legumina<br />
mais afetada pela vicilina que o oposto (Gharsallcovi et al., 2009). Franco et al. (2000)<br />
estudaram a influência do pH e do tratamento térmico na reologia <strong>das</strong> emulsões óleo-em-água<br />
<strong>de</strong> proteína estabilizada <strong>de</strong> ervilha e verificaram que a viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões aumentava e<br />
5
Revisão bibliográfica<br />
que o tamanho <strong>das</strong> gotículas diminuia com o aumento <strong>de</strong> temperatura, do tempo <strong>de</strong> aquecimento<br />
e valores <strong>de</strong> pH próximos do ponto isoeléctrico (pI).<br />
2.4. Subprodutos <strong>de</strong> pescada e as suas utilizações<br />
O pescado tem uma composição em aminoácidos que o torna uma excelente fonte <strong>de</strong> proteínas<br />
facilmente digestíveis e nutritivas. As proteínas <strong>de</strong> pescado apresentam por sua vez, elevada<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção da água, gelificação, ligação <strong>de</strong> gordura, emulsificação e formação <strong>de</strong><br />
espuma (Xiong, 1997).<br />
Nas operações da pesca ocorre um elevado <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> espécies, sendo<br />
este material lançado ao mar e consequentemente, sem qualquer aproveitamento. Este material<br />
representa uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> elevada qualida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria ser utilizada<br />
para o consumo humano e como tal, criar um valor acrescentado substancial para a indústria <strong>das</strong><br />
pescas (Kristinsson and Rasco, 2000).<br />
Os subprodutos gerados no processamento do pescado, ricos em proteínas e lípidos são<br />
frequentemente subaproveitados (Kristinsson and Rasco, 2002). A utilização <strong>de</strong>stes produtos<br />
tem tido um sucesso limitado pela dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>senvolver produtos funcionais e aceitáveis<br />
pelos consumidores.<br />
O uso <strong>de</strong> tecnologias convencionais para processar o pescado e criar valor acrescentado aos<br />
produtos <strong>de</strong> pescado geralmente leva a uma utilização limitada do animal. Muitos subprodutos<br />
ricos em proteína e lípidos são perdidos e <strong>de</strong>ste modo não são recuperados para o uso humano<br />
(Kristinsson and Rasco, 2002). Embora um uso mais eficiente <strong>de</strong>sse material tenha <strong>de</strong>spertado<br />
gran<strong>de</strong> interesse, esse facto tem sido dificultado pelo sucesso limitado no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
produtos funcionais e aceitáveis para os consumidores finais.<br />
A produção <strong>de</strong> surimi constitui uma técnica que permite obter um concentrado <strong>de</strong> proteínas.<br />
Porém, o produto obtido a partir <strong>de</strong> espécies pelágicas apresenta baixa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido à<br />
presença <strong>de</strong> lípidos oxidáveis e <strong>de</strong> agentes pró-oxidantes (Okada, 1980; Hultin and Kelleher,<br />
2000). Além disso, durante o processamento registam-se muitas per<strong>das</strong> <strong>de</strong> proteínas que<br />
diminuem o rendimento global do processo.<br />
6
Revisão bibliográfica<br />
2.4.1. Processos <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> proteínas por solubilização ácida ou alcalina<br />
Para ultrapassar o problema da utilização <strong>de</strong> matérias-primas não convencionais, foi<br />
<strong>de</strong>senvolvido um processo <strong>de</strong> modo a produzir, economicamente, isolados <strong>de</strong> proteína<br />
funcionais, a partir <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> pescado <strong>de</strong> baixo valor comercial. Este processo usa as<br />
<strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong> (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do pH) <strong>das</strong> proteínas musculares <strong>de</strong> pescado, para a<br />
sua separação (e posterior recuperação) <strong>de</strong> outras componentes do músculo, que não são<br />
<strong>de</strong>sejáveis no produto final (Kristinsson et al., 2005).<br />
Este processo tem sido aplicado em diversos trabalhos <strong>de</strong> recuperação <strong>das</strong> proteínas e envolve a<br />
solubilização ácida ou alcalina e a precipitação isoeléctrica <strong>das</strong> proteínas do pescado<br />
subutilizado <strong>de</strong> baixo valor e provenientes <strong>de</strong> subprodutos. Permite obter um isolado proteico<br />
estável e com elevada funcionalida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser usado na produção <strong>de</strong> géis e emulsões <strong>de</strong><br />
elevada qualida<strong>de</strong>.<br />
Neste processo a massa <strong>de</strong> pescado é misturada com água numa proporção <strong>de</strong> 1:9. O tecido<br />
muscular <strong>de</strong> pescado é homogeneizado a um pH baixo (pH 2 a 3,5) ou alto (pH 10,5 a 11,5).<br />
Estes valores <strong>de</strong> pH permitem que as proteínas do músculo sejam solubiliza<strong>das</strong>, porque nestes<br />
valores <strong>de</strong> pH as proteínas ficam com uma carga global positiva (a pH ácido) ou negativa (a pH<br />
alcalino) que leva à repulsão <strong>das</strong> ca<strong>de</strong>ias proteicas e à interação com a água levando à sua<br />
solubilização (Batista et al., 2007).<br />
As condições áci<strong>das</strong> e alcalinas usa<strong>das</strong> no processo estão longe o suficiente do ponto<br />
isoeléctrico <strong>das</strong> proteínas do músculo (aproximadamente a um pH <strong>de</strong> 5 a 6). O rompimento <strong>das</strong><br />
células musculares e a solubilização <strong>das</strong> proteínas causa uma elevada diminuição na viscosida<strong>de</strong><br />
da solução, o suficiente para permitir que as membranas celulares sejam separa<strong>das</strong> <strong>das</strong> proteínas<br />
solúveis, por centrifugação (Hultin and Kelleher, 2000), ao mesmo tempo que são removidos<br />
sólidos como as espinhas, escamas e gordura neutra. De seguida, as proteínas solúveis livres da<br />
membrana e dos lípidos são então recupera<strong>das</strong> por precipitação isoeléctrica, ajustando o pH para<br />
cerca <strong>de</strong> 5,5 e o isolado proteico resultante po<strong>de</strong> ser utilizado para diversos fins, tais como<br />
ingredientes funcionais ou po<strong>de</strong> ser utilizado diretamente para produzir produtos <strong>de</strong> pescado <strong>de</strong><br />
valor acrescentado, tais como o surimi.<br />
Este processo oferece uma nova tecnologia para recuperar e usar proteína proveniente <strong>de</strong> mais<br />
<strong>de</strong> 50 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>das</strong> <strong>de</strong> espécies aquáticas subutiliza<strong>das</strong> para transformar os subprodutos<br />
usados na alimentação animal em produtos para consumo humano. Além disso, o seu<br />
rendimento é substancialmente maior que o rendimento do processo convencional <strong>de</strong> surimi e<br />
como tal a matéria-prima po<strong>de</strong> ser utilizada <strong>de</strong> um modo mais eficiente.<br />
7
Revisão bibliográfica<br />
O processo <strong>de</strong> solubilização e recuperação <strong>das</strong> proteínas permite obter rendimentos superiores<br />
aos atingidos no processo clássico <strong>de</strong> preparação <strong>de</strong> surimi. Além disso, é aplicável a uma<br />
gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies o que abre perspetivas para a valorização <strong>de</strong> muitas espécies<br />
presentemente subvaloriza<strong>das</strong>. Além disso, alguns estudos têm mostrado que as proteínas<br />
recupera<strong>das</strong> através <strong>de</strong>ste processo têm gran<strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong> e em alguns casos melhores<br />
<strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> gelificação que as proteínas recupera<strong>das</strong> pelo processamento convencional <strong>de</strong><br />
surimi (Hultin and Kelleher, 2000; Un<strong>de</strong>land et al. 2002; Kristinsson and Hultin 2003;<br />
Kristinsson and Demir, 2003). Deste modo, os géis preparados à base <strong>de</strong>stes isolados proteicos<br />
apresentam <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> gelificação tão boas ou melhores comparativamente aos géis<br />
preparados à base <strong>de</strong> isolados proteicos provenientes do processo <strong>de</strong> surimi, como Un<strong>de</strong>rland et<br />
al. (2002) e Choi e Park (2002) verificaram. Kristinsson e Hultin (2003) observaram igualmente<br />
um aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emulsificação e gelificação da miosina e outras proteínas<br />
miofibrilares recupera<strong>das</strong> por solubilização alcalina.<br />
2.5. Géis alimentares<br />
Po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>finir um gel como um sistema bifásico, constituído por uma re<strong>de</strong> macromolecular<br />
tridimensional sólida, formada pelas proteínas, que retém na sua malha uma fase líquida. Esta<br />
re<strong>de</strong> tridimensional tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reter moléculas <strong>de</strong> água e outros compostos <strong>de</strong> baixo<br />
peso molecular. Visto que o gel é um material viscoelástico, po<strong>de</strong> ser ainda consi<strong>de</strong>rado como<br />
um estado intermédio entre um sólido e um líquido (Nunes, 2003a).<br />
Existem diversos fatores que influenciam as características do gel, como o pH, a força iónica, a<br />
concentração proteica e as taxas <strong>de</strong> aquecimento e arrefecimento (Xiong et al.,1994). A<br />
qualida<strong>de</strong> dos géis <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong> pescado é maioritariamente afetada pelo pH e pela força<br />
iónica. Assim sendo, é importante conhecer o pH óptimo para a gelificação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />
proteínas, o qual se encontra entre os valores <strong>de</strong> 5,5 e 7,0, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da própria espécie <strong>de</strong><br />
pescado, da concentração <strong>de</strong> sal e da concentração proteica. Um outro fator <strong>de</strong> extrema<br />
importância na qualida<strong>de</strong> dos géis é o tratamento térmico realizado na formação dos mesmos.<br />
Deste modo, na preparação dos géis é necessário estabelecer o melhor esquema <strong>de</strong><br />
aquecimento/arrefecimento, <strong>de</strong> modo a obter um gel final com boas características. As proteínas<br />
miofibrilares são consi<strong>de</strong>ra<strong>das</strong> as proteínas do músculo com um papel fulcral na formação do<br />
gel, nomeadamente a actina e a actomiosina, apesar <strong>de</strong> esta última apresentar uma importância<br />
menor do que a primeira (Pires, 2008).<br />
A formação <strong>de</strong> um gel confere estrutura e estabilida<strong>de</strong> a diversos alimentos, daí a sua<br />
importância em aplicações alimentares, na medida em que constitui uma matriz estrutural <strong>de</strong><br />
8
Revisão bibliográfica<br />
retenção da água e <strong>de</strong> outros ingredientes alimentares, como açúcares, gordura e compostos<br />
aromáticos.<br />
No caso dos géis proteícos, proce<strong>de</strong>-se inicialmente à <strong>de</strong>snaturação <strong>das</strong> proteínas através do seu<br />
aquecimento. De seguida, efetua-se um arrefecimento, on<strong>de</strong> se verifica o estabelecimento <strong>de</strong><br />
ligações entre as ca<strong>de</strong>ias peptídicas <strong>das</strong> proteínas e a formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> tridimensional.<br />
Nesta associação estão envolvi<strong>das</strong> ligações covalentes e não covalentes: ligações <strong>de</strong> enxofre,<br />
interações hidrofóbicas, ligações por pontes <strong>de</strong> hidrogénio e ligações iónicas (Pomeranz, 1991).<br />
A formação do gel passa por uma etapa anterior <strong>de</strong>signada por sol que, em termos físicos,<br />
correspon<strong>de</strong> a uma suspensão coloidal e que, por arrefecimento vai passar a gel através <strong>de</strong> uma<br />
associação <strong>das</strong> ca<strong>de</strong>ias proteicas. (Nunes, 2003b).<br />
Quando as ca<strong>de</strong>ias estão suficientemente organiza<strong>das</strong>, <strong>de</strong> modo a formarem a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gel e à<br />
medida que a organização <strong>das</strong> re<strong>de</strong>s se vai intensificando, o gel torna-se rígido e ocorre<br />
geralmente o fenómeno <strong>de</strong> sinérese, ou seja, o gel contrai-se e exsuda uma parte da fase líquida<br />
(Nunes, 2003a). O estado <strong>de</strong> gel é um estado <strong>de</strong> equilíbrio, no sentido em que evolui com o<br />
tempo e representa um compromisso entre as interações polímero-polímero e polímero-solvente<br />
(Nunes, 2003b).<br />
2.6. Emulsões alimentares<br />
Uma emulsão é uma dispersão coloidal formada por dois líquidos imiscíveis, geralmente óleo e<br />
água, com um dos líquidos dispersos no outro sob a forma <strong>de</strong> gotas <strong>de</strong> dimensões entre 0,1 e<br />
100 µm (Dickinson e Stainsby, 1988; Rahalkar, 1992). A substância que está contida nas gotas<br />
<strong>de</strong>signa-se por fase dispersa ou interna e a substância que constitui o meio envolvente <strong>de</strong>signase<br />
por fase contínua ou exterior (McClements, 1999).<br />
As emulsões são classifica<strong>das</strong> <strong>de</strong> acordo com a distribuição <strong>das</strong> duas fases (óleo e água) e como<br />
tal existem dois tipos <strong>de</strong> emulsões. Quando as gotas <strong>de</strong> óleo estão dispersas na fase aquosa,<br />
como nas maioneses e nos molhos para sala<strong>das</strong>, estamos perante uma emulsão óleo/água (o/a).<br />
Caso as gotas <strong>de</strong> água estejam dispersas na fase oleosa, a emulsão é classificada como água/óleo<br />
(a/o), tendo como exemplo as margarinas e manteigas. Para além <strong>de</strong>stes dois tipos <strong>de</strong> emulsões,<br />
existem ainda as <strong>de</strong>signa<strong>das</strong> emulsões múltiplas o/a/o ou a/o/a, que têm sido estuda<strong>das</strong> com a<br />
finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir o teor <strong>de</strong> óleo nas emulsões ou mesmo provi<strong>de</strong>nciar um meio <strong>de</strong> isolar um<br />
ingrediente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> outro (Dickinson e Stainsby, 1987).<br />
As emulsões são sistemas termodinamicamente instáveis (McClements, 1999) porque as fases<br />
não se misturam e na medida em que existe uma diferença <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s entre as duas fases, há<br />
9
Revisão bibliográfica<br />
formação <strong>de</strong> uma camada <strong>de</strong> óleo superior (menos <strong>de</strong>nsa) e uma camada aquosa inferior (mais<br />
<strong>de</strong>nsa).<br />
2.6.1. Emulsionantes<br />
Devido a esta instabilida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões, é necessário o uso <strong>de</strong> <strong>emulsionantes</strong> e/ou ou agentes<br />
tensioactivos, <strong>de</strong> modo a que se obtenham emulsões cineticamente estáveis por períodos <strong>de</strong><br />
tempo relativamente elevados (Atkins, 1994).<br />
Os <strong>emulsionantes</strong>, são moléculas com activida<strong>de</strong> superficial que são adsorvi<strong>das</strong> à superficie <strong>das</strong><br />
gotas, impedindo-as <strong>de</strong>ste modo <strong>de</strong> aproximarem umas <strong>das</strong> outras e, consequentemente,<br />
impedindo os fenómenos <strong>de</strong> floculação excessiva ou <strong>de</strong> coalescência (Phillip et al., 1994).<br />
Relativamente aos estabilizantes, geralmente espessantes, estes provocam um aumento da<br />
viscosida<strong>de</strong> da fase contínua, dificultando os movimentos <strong>das</strong> gotas e levando a uma maior<br />
estabilida<strong>de</strong> da emulsão.<br />
Os <strong>emulsionantes</strong> mais utilizados na indústria alimentar são principalmente as proteínas, na<br />
medida em que diminuem a tensão interfacial, garantindo a estabilida<strong>de</strong> da emulsão ao longo do<br />
tempo (Dickinson e Stainsby, 1988). A capacida<strong>de</strong> emulsionante <strong>de</strong> uma proteína é <strong>de</strong>finida<br />
como a quantida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> óleo que po<strong>de</strong> ser dispersa por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fase aquosa, para uma<br />
<strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína, sob condições experimentais controla<strong>das</strong> (Phillip et al.,<br />
1994).<br />
Devido às suas <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> anfifílicas e à sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senrolamento, as proteínas<br />
possuem tanto uma afinida<strong>de</strong> para a fase aquosa com uma afinida<strong>de</strong> para a fase oleosa. Esta<br />
característica <strong>das</strong> proteínas leva a uma redução da tensão superficial entre estas duas fases,<br />
formando filmes intefaciais mais ou menos coesos que, por sua vez, envolvem as gotas <strong>de</strong> óleo.<br />
Como estes filmes interfaciais possuem grupos carregados, provocam repulsões eletrostáticas<br />
entre as gotas vizinhas, o que impe<strong>de</strong> a aproximação <strong>das</strong> mesmas, evitando assim os fenómenos<br />
<strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões, como a coalescência (Phillip et al., 1994).<br />
A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma proteína formar e estabilizar uma emulsão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>mente <strong>das</strong> suas<br />
<strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> intrínsecas, tais como a estrutura primária, secundária e terciária, a solubilida<strong>de</strong>, a<br />
hidrofobicida<strong>de</strong> superficial e a flexibilida<strong>de</strong>. Estes últimos três parâmetros são particularmente<br />
relevantes no caso <strong>de</strong> se preten<strong>de</strong>r utilizar uma proteína como emulsionante.<br />
10
Revisão bibliográfica<br />
2.6.2. Caracterização reológica <strong>das</strong> emulsões<br />
Alguns produtos alimentares não po<strong>de</strong>m ser classificados nem como líquidos simples nem como<br />
soluções verda<strong>de</strong>iras. Po<strong>de</strong>m ser classificados como suspensões coloidais <strong>de</strong> partículas com<br />
tamanhos, flexibilida<strong>de</strong>s e formas diversas que po<strong>de</strong>m formar entre si ligações temporárias ou<br />
estruturas internas mais ou menos complexas, chegando ao estabelecimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s mais ou<br />
menos organiza<strong>das</strong> sob a forma <strong>de</strong> emulsão.<br />
Existem dois tipos <strong>de</strong> comportamentos que se <strong>de</strong>sviam do comportamento viscoso simples ou<br />
Newtoniano: o comportamento reofluidificante e o comportamento reoespessante. O primeiro é<br />
o tipo mais frequente nos produtos alimentares, como por exemplo, as maioneses, os molhos<br />
para sala<strong>das</strong>, patês, entre outros e é caracterizado pela diminuição da viscosida<strong>de</strong> aparente à<br />
medida que aumenta a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação em corte (Raymundo, 1999). Esse comportamento<br />
po<strong>de</strong> ser expresso por uma <strong>de</strong>pendência da viscosida<strong>de</strong> em relação à velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação<br />
ou por uma <strong>de</strong>pendência em relação ao tempo. Esta viscosida<strong>de</strong>, quer <strong>de</strong>penda da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>formação quer <strong>de</strong>penda do tempo, é <strong>de</strong>signada por viscosida<strong>de</strong> aparente. Esta variação <strong>de</strong><br />
viscosida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>vida à existência <strong>de</strong> uma estrutura no interior do líquido (Sousa, 2001a).<br />
Na figura 1 está representada a curva <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> típica <strong>de</strong> uma emulsão.<br />
Figura 1 - Curva <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> típica <strong>de</strong> uma emulsão e respetivas mudanças estruturais<br />
características do fluido reofluidificante.<br />
Fonte: Raymundo, 1999.<br />
11
Revisão bibliográfica<br />
Nesta curva po<strong>de</strong>-se observar três zonas bastante distintas. Na zona I, em que a <strong>de</strong>formação é<br />
baixa a emulsão apresenta um comportamento Newtoniano e uma viscosida<strong>de</strong> constante. Neste<br />
primeiro patamar Newtoniano, o valor da viscosida<strong>de</strong> é o máximo que o sistema po<strong>de</strong> tomar em<br />
<strong>de</strong>termina<strong>das</strong> condições <strong>de</strong> pressão e temperatura: Ƞ 0 e <strong>de</strong>signa-se por viscosida<strong>de</strong> limite.<br />
Na zona II, a emulsão apresenta um comportamento reofluidificante e à medida que a<br />
velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação aumenta, a viscosida<strong>de</strong> vai diminuindo, por haver <strong>de</strong>struição<br />
sucessiva da estrutura interna.<br />
Na última zona, a zona III, o material volta a apresentar um comportamento Newtoniano tal<br />
como na primeira zona. Este segundo patamar Newtoniano correspon<strong>de</strong> à segunda viscosida<strong>de</strong><br />
limite ou Ƞ ∞ e é o valor mínimo <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> do sistema àquela temperatura (Raymundo,<br />
1999).<br />
2.7. Principais métodos analíticos utilizados<br />
2.7.1. Análise dos parâmetros da textura<br />
O texturómetro é um equipamento constituído essencialmente por um dinamómetro que fornece<br />
energia mecânica a velocida<strong>de</strong> constante. O seu principal objetivo é o contacto da sonda com a<br />
amostra a analisar, aplicando uma <strong>de</strong>terminada força, provocando <strong>de</strong>ste modo, uma <strong>de</strong>formação<br />
nessa mesma amostra. Daí obtêm-se curvas força versus tempo ou força versus distância, em<br />
que se regista a resposta do material a uma <strong>de</strong>terminada solicitação (corte, perfuração ou<br />
compressão) permitindo retirar medições <strong>de</strong> parâmetros relacionados diretamente com a sua<br />
textura (Sousa, 2001b).<br />
Os testes realizados neste equipamento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>das</strong> condições <strong>de</strong> cada teste, uma vez que se<br />
tratam <strong>de</strong> testes empíricos e como tal a resposta da amostra não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> só da sua composição e<br />
textura. Os parâmetros a consi<strong>de</strong>rar são o tipo <strong>de</strong> sonda utilizada, a velocida<strong>de</strong> da mesma, a<br />
distância e a geometria da amostra (Mitchell, 2004).<br />
12
Revisão bibliográfica<br />
Figura 2 - Texturómetro TA-XT2 (Stable Micro System, UK)<br />
2.7.1.1. Análise <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura (T.P.A.)<br />
O teste <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura é um teste imitativo que envolve duas penetrações ou compressões<br />
pela sonda na amostra com uma pausa entre elas (recuperação do material) para <strong>de</strong>ste modo se<br />
simular a ação <strong>de</strong> duas <strong>de</strong>nta<strong>das</strong> nos alimentos. Como tal, este teste é igualmente <strong>de</strong>signado por<br />
teste <strong>das</strong> duas <strong>de</strong>nta<strong>das</strong> (two bites). É <strong>de</strong> bastante interesse quando se preten<strong>de</strong> avaliar diferenças<br />
<strong>de</strong> textura sem recorrer à análise sensorial e a um painel <strong>de</strong> provadores, na medida em que os<br />
parâmetros <strong>de</strong> textura obtidos estão bem correlacionados com a avaliação sensorial dos produtos<br />
analisados (Sousa, 2001b).<br />
Com base no texturograma obtido e consoante o material a analisar é possivel obter cinco<br />
parâmetros <strong>de</strong> textura (firmeza, fracturabilida<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong>, elasticida<strong>de</strong> e coesivida<strong>de</strong>) e<br />
calcular dois parâmetros secundários a partir dos anteriores (gomosida<strong>de</strong> e mastigabilida<strong>de</strong>)<br />
(Nunes, 2005).<br />
13
Revisão bibliográfica<br />
O traçado resultante <strong>de</strong>ste teste está representado na figura 3.<br />
Figura 3 – Exemplo <strong>de</strong> um texturograma <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura<br />
A firmeza representa a resistência máxima oferecida pelo material à sonda nas condições<br />
menciona<strong>das</strong>, o que no texturograma correspon<strong>de</strong> à força máxima correspon<strong>de</strong>nte ao primeiro<br />
pico. É expressa em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> força (N).<br />
A a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> é uma proprieda<strong>de</strong> característica <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados materiais a<strong>de</strong>rentes e po<strong>de</strong>rá<br />
ser <strong>de</strong>finida como a resistência do material ao retrocesso da sonda. Este parâmetro é dado pela<br />
área negativa do texturograma (A 3 ) e representa o trabalho necessário para remover a sonda do<br />
interior da amostra (Raymundo, 2003). Este parâmetro tem unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho ou energia<br />
(N.s) e é calculado por integração da área negativa.<br />
A fracturabilida<strong>de</strong> (N) <strong>de</strong>fine-se como a força à qual se verifica a fratura da amostra e<br />
correspon<strong>de</strong> à força do primeiro pico significativo do primeiro ciclo <strong>de</strong> penetração.<br />
A elasticida<strong>de</strong> é obtida pelo quociente comprimento 1/comprimento 2, sendo um parâmetro<br />
adimensional e me<strong>de</strong> a distância que o alimento recupera em altura durante o tempo entre o final<br />
do primeiro ciclo e o início do segundo ciclo. Po<strong>de</strong> ser igualmente <strong>de</strong>finida como uma medida<br />
<strong>de</strong> quanto a estrutura inicial da amostra é quebrada durante o primeiro ciclo.<br />
A coesivida<strong>de</strong> é um parâmetro adimensional e obtém-se dividindo o trabalho realizado no<br />
segundo ciclo (área A 2 ) pelo trabalho realizado no primeiro ciclo (área A 1 ). As amostras que são<br />
muito coesas são percebi<strong>das</strong> na boca como duras e difíceis <strong>de</strong> quebrar (Nunes, 2003).<br />
14
Revisão bibliográfica<br />
Relativamente aos parâmetros secundários são calculados a partir dos parâmetros anteriores. A<br />
gomosida<strong>de</strong> obtém-se a partir do produto da firmeza pela coesivida<strong>de</strong> e a mastigabilida<strong>de</strong> a<br />
partir do produto da gomosida<strong>de</strong> pela elasticida<strong>de</strong> (Sousa, 2001b).<br />
2.7.2. Análise do comportamento reológico<br />
A reologia é uma ciência exata, na medida em que é consi<strong>de</strong>rada um ramo da física (Sousa,<br />
2001) e estuda a <strong>de</strong>formação e o escoamento dos materiais.<br />
O comportamento dos materiais é do tipo sólidos moles (geles, emulsões, espumas) apresenta<br />
características <strong>de</strong> fluido viscoso e <strong>de</strong> sólido elástico simultaneamente. É então caracterizado<br />
pelo módulo complexo dinâmico (G*) expresso como a razão entre uma tensão sinusoidal e a<br />
respetiva <strong>de</strong>formação. Este módulo complexo tem duas componentes: G’ e G’’. G’ é<br />
<strong>de</strong>nominado módulo <strong>de</strong> conservação e me<strong>de</strong> a energia que é conservada e posteriormente<br />
utilizada na recuperação da <strong>de</strong>formação quando a tensão é removida, refletindo a contribuição<br />
elástica do material. O G’’ é <strong>de</strong>nominado módulo <strong>de</strong> dissipação e me<strong>de</strong> a energia que é<br />
dissipada no escoamento para vencer o atrito interno, reflectindo <strong>de</strong>ste modo a contribuição<br />
viscosa (Sousa, 2001a).<br />
Os testes <strong>de</strong> reologia fundamental po<strong>de</strong>m ser efetuados num reómetro <strong>de</strong> tensão ou <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>formação controlada (figura 4), que tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuar nos modos estacionário e<br />
oscilatório, controlando a tensão ou <strong>de</strong>formação aplicada. Po<strong>de</strong>m ser utilizados vários sistemas<br />
<strong>de</strong> medida.<br />
15
Revisão bibliográfica<br />
Figura 4 - Reometro <strong>de</strong> tensão controlada RheoStress 300 (RS-300 ThermoHaake, Alemanha)<br />
São essencialmente dois os testes reológicos utilizados na avaliação do comportamento<br />
reológico: os testes oscilatórios e os testes estáticos. Nesta seção apenas se faz referência aos<br />
testes reológicos fundamentais utilizados no estudo apresentado nesta tese: os testes<br />
oscilatórios.<br />
2.7.2.1. Testes oscilatórios<br />
A essência da análise oscilatória consiste em testar a amostra <strong>de</strong> uma forma não <strong>de</strong>strutiva.<br />
Neste tipo <strong>de</strong> ensaios é aplicada à amostra a estudar uma tensão (ou <strong>de</strong>formação), que é uma<br />
função sinusoidal do tempo e regista-se a <strong>de</strong>formação (ou tensão) resultante. A <strong>de</strong>signação <strong>de</strong>ste<br />
tipo <strong>de</strong> análise é SAOS (small amplitu<strong>de</strong> oscilatory system) e são usa<strong>das</strong> tensões e <strong>de</strong>formações<br />
<strong>de</strong> baixa amplitu<strong>de</strong>.<br />
É possível realizar vários tipos <strong>de</strong> testes oscilatórios consoante o varrimento é realizado em<br />
tensão, frequência, tempo ou temperatura.<br />
O varrimento <strong>de</strong> tensão é usualmente utilizado na <strong>de</strong>terminação do intervalo <strong>de</strong><br />
viscoelasticida<strong>de</strong> linear, ou seja, na <strong>de</strong>terminação da região on<strong>de</strong> G’ e G’’ se mantêm constantes<br />
à medida que a amplitu<strong>de</strong> da tensão ou <strong>de</strong>formação é aumentada, para uma dada frequência.<br />
16
Revisão bibliográfica<br />
Com este teste preten<strong>de</strong>-se, assim, <strong>de</strong>terminar a máxima tensão ou <strong>de</strong>formação que é possível<br />
aplicar ao material, sem que ocorra ruptura da estrutura interna do material (Raymundo, 1999;<br />
Alves, 2003).<br />
17
Materiais e métodos<br />
3. Materiais e métodos<br />
3.1. Materiais<br />
A matéria-prima utilizada neste estudo foi um subproduto <strong>de</strong> pescada do Cabo <strong>de</strong>signado<br />
correntemente por “serradura”, uma vez que este subproduto é o conjunto <strong>das</strong> várias aparas<br />
resultantes da operação <strong>de</strong> corte da pescada em postas, pelas serras <strong>de</strong> fita. Esta “serradura” foi<br />
gentilmente cedida pela empresa <strong>de</strong> indústria e comércio <strong>de</strong> alimentos congelados “Gelpeixe”<br />
(Loures, Portugal). Foi conservada em temperaturas <strong>de</strong> congelação (cerca <strong>de</strong> -12 ºC) no<br />
IPIMAR até se proce<strong>de</strong>r à sua utilização no método <strong>de</strong> recuperação <strong>das</strong> proteínas por<br />
solubilização alcalina.<br />
O isolado <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha (Pervilha) Pisane HD da Cosucra SA (Warcoing, Bélgica) foi<br />
gentilmente cedido pela empresa Induxtria De Suministros Portuguesa Lda.<br />
3.2. Métodos<br />
3.2.1. Recuperação <strong>de</strong> proteínas por solubilização alcalina<br />
Os isolados <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada foram produzidos usando o processo <strong>de</strong> solubilização<br />
alcalina <strong>de</strong> acordo com o método <strong>de</strong> Hultin e Kelleher (2000).<br />
O processo envolveu a homogenização subprodutos <strong>de</strong> pescada numa proporção <strong>de</strong> 1 kg para 9<br />
L <strong>de</strong> água fria/gelo, durante cerca <strong>de</strong> 1 minuto.<br />
De seguida, colocou-se o homogeneizado num tanque <strong>de</strong> agitação e adicionou-se lentamente<br />
hidróxido <strong>de</strong> sódio (NaOH) 2 M ao homogeneizado, provocando a subida do pH até ao valor <strong>de</strong><br />
11. O homogeneizado foi seguidamente bombeado para uma centrífuga contínua (Westfalia<br />
Separator) e então centrifugado a 8500 x g. Desta etapa, resulta a separação <strong>das</strong> proteínas<br />
solúveis do restante material, um sedimento que é rejeitado.<br />
A solução <strong>das</strong> proteínas solubiliza<strong>das</strong> foi colocada novamente no tanque <strong>de</strong> agitação on<strong>de</strong> se<br />
adicionou, lentamente, ácido clorídrico (HCl) 2 M até a solução atingir um pH <strong>de</strong> 5,5 para<br />
ocorrer a agregação <strong>das</strong> proteínas e a sua posterior precipitação. Esta solução foi, por sua vez,<br />
novamente bombeada para a centrífuga contínua Westfalia (GEA, Nuremberg, Germany) e<br />
centrifugada a 10000 x g. Nesta segunda centrifugação obteve-se um sobrenadante final, que é<br />
igualmente rejeitado e um sedimento, constituído pelas proteínas recupera<strong>das</strong>/isolado proteico.<br />
Este processo <strong>de</strong> recuperação <strong>das</strong> proteínas do músculo <strong>de</strong> pescada, através da solubilização<br />
alcalina está representado pelo esquema do Anexo 1.<br />
18
Materiais e métodos<br />
Seguidamente, as proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> pescada foram secas por um processo <strong>de</strong> liofilização<br />
(figura 5).<br />
Figura 5 - Proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> pescada liofiliza<strong>das</strong><br />
3.2.2. Composição química<br />
3.2.2.1. Relação Proteína bruta/Proteína total<br />
A proteína bruta <strong>das</strong> amostras <strong>de</strong> “serradura”, <strong>de</strong> proteína recuperada, <strong>de</strong> proteína recuperada<br />
liofilizada e <strong>de</strong> isolados proteicos <strong>de</strong> ervilha foi <strong>de</strong>terminada pelo método <strong>de</strong> Dumas no<br />
equipamento mo<strong>de</strong>lo, LECO protein/nitrogen analyser FP-528 (LECO Corp., St. Joseph, USA).<br />
Neste método o azoto total foi <strong>de</strong>terminado pelo método <strong>de</strong> combustão no sistema da LECO,<br />
sendo o teor em proteína bruta, o resultado do azoto multiplicado pelo factor <strong>de</strong> conversão 6,25.<br />
3.2.2.2. Matéria gorda livre<br />
Os teores em matéria gorda livre <strong>das</strong> amostras <strong>de</strong> “serradura”, <strong>de</strong> proteína recuperada, <strong>de</strong><br />
proteína recuperada liofilizada e <strong>de</strong> isolados proteicos <strong>de</strong> ervilha foram <strong>de</strong>terminados segundo o<br />
procedimento técnico/analítico interno do IPIMAR, baseado na norma portuguesa NP 1972<br />
(2009) (método <strong>de</strong> Soxhlet modificado).<br />
19
Materiais e métodos<br />
3.2.2.3. Humida<strong>de</strong><br />
A <strong>de</strong>terminação da humida<strong>de</strong> <strong>das</strong> amostras <strong>de</strong> “serradura”, <strong>de</strong> proteína recuperada, <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada liofilizada e <strong>de</strong> isolados proteicos <strong>de</strong> ervilha foi efectuada por diferença <strong>de</strong> peso <strong>de</strong><br />
acordo com o procedimento técnico/analítico utilizado no IPIMAR, baseado na norma<br />
portuguesa NP 2282 (2009) (método gravimétrico em estuda a 105 ºC).<br />
3.2.2.4. Cinza total<br />
O doseamento da cinza total <strong>das</strong> amostras <strong>de</strong> “serradura”, <strong>de</strong> proteína recuperada, <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada liofilizada e <strong>de</strong> isolados proteicos <strong>de</strong> ervilha foi realizado por mineralização a 550 ºC<br />
em mufla, segundo o procedimento técnico/analítico utilizado no IPIMAR, baseado na norma<br />
portuguesa NP 2032 (2009).<br />
3.3.2. Géis alimentares<br />
3.3.2.1. Preparação dos géis<br />
O procedimento para a preparação dos géis tipo kamaboko com as proteínas recupera<strong>das</strong> da<br />
serradura <strong>de</strong> pescada e as proteínas <strong>de</strong> ervilha realizou-se do modo seguidamente <strong>de</strong>scrito.<br />
Inicialmente pesaram-se as diferentes quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e <strong>de</strong> ervilha, para as<br />
diferentes proporções a estudar, bem como os restantes ingredientes, como a água e o sal,<br />
essenciais para a formação dos géis. Em todos os ensaios, o teor total <strong>de</strong> humida<strong>de</strong> foi fixado<br />
em 77,5 %, o teor total <strong>de</strong> proteína em 20 % e o <strong>de</strong> sal em 2,5%. As percentagens relativas <strong>das</strong><br />
proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> pescada (PRP) e <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong> ervilha (PE) nas diferentes misturas<br />
foram as seguintes: 20 % <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha (100PE); 16% <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha + 4 % <strong>de</strong><br />
proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (80PE+20PRS); 10 % <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha + 10 % <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRS); 4 % <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha + 16 % <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRS); 20 % <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (100PRP).<br />
Proce<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> seguida à homogeneização em agitador com barra magnética <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong><br />
pescada e <strong>de</strong> ervilha, juntamente com a água e o sal. Esta pasta ficou a hidratar durante 30 min.<br />
O pH da mesma foi então ajustado a um valor <strong>de</strong> 7,0, medido por potenciómetro, com<br />
bicarbonato <strong>de</strong> sódio e seguidamente colocada em 3 frascos <strong>de</strong> vidro cilíndricos (altura: 5 cm;<br />
diâmetro: 4 cm), que foram colocados num banho-maria a 90 ºC durante 30 min.<br />
20
Materiais e métodos<br />
Depois <strong>de</strong>ste aquecimento térmico os frascos foram colocados na refrigeração durante 24 h.<br />
Após esta maturação dos géis, as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> físicas dos mesmos foram medi<strong>das</strong> à temperatura<br />
controlada <strong>de</strong> 20±1 ºC e sala climatizada, no texturômetro TA-XT2 (Stable Micro System, UK).<br />
Realizou-se uma <strong>de</strong>terminação em cada frasco (replica) e portanto para cada amostra inicial<br />
obteve-se 3 réplicas. Para cada proporção <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> proteínas, realizou-se este<br />
procedimento três vezes e como tal para cada proporção obteve-se assim 9 réplicas.<br />
3.2.3.2. Determinação da cor dos géis<br />
A cor dos géis foi analisada num colorímetro Minolta Chroma Meter CR-300 (Minolta, Japão),<br />
usando uma fonte <strong>de</strong> iluminação padrão D65 e os resultados foram avaliados pelo sistema <strong>de</strong><br />
coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> Lab*, também referido como sistema CIELAB. Neste sistema foram medidos os<br />
seguintes parâmetros: L*, a* e b*. A coor<strong>de</strong>nada L* me<strong>de</strong> a luminosida<strong>de</strong> da amostra em<br />
estudo, variando entre 0% (escuro) e 100% (claro). A componente a* varia por sua vez, entre -<br />
60 e +60. O valor <strong>de</strong> -60 correspon<strong>de</strong> ao ver<strong>de</strong> e o +60 ao vermelho. Finalmente, a componente<br />
b* varia igualmente entre os valores <strong>de</strong> -60 (azul) e +60 (amarelo).<br />
To<strong>das</strong> as <strong>de</strong>terminações foram efectua<strong>das</strong> usando para calibração um padrão branco.<br />
Para cada amostra foram efectua<strong>das</strong> seis medições/<strong>de</strong>terminações em diferentes pontos da<br />
mesma, a partir <strong>das</strong> quais se calculou a média, o <strong>de</strong>svio padrão e a percentagem <strong>de</strong> erro. Estes<br />
resultados apresentados foram obtidos à temperatura ambiente.<br />
A partir <strong>de</strong>stes três parâmetros foi calculado o valor <strong>de</strong> Whiteness (Pires, 2008) (brancura) para<br />
cada <strong>de</strong>terminação efectuada, correndo à seguinte fórmula:<br />
Whiteness = 100 – [(100 – L*) 2 + a* 2 + b* 2 ] 1/2<br />
21
Materiais e métodos<br />
Figura 6 - Representação esquemática do espaço da cor segundo o sistema L*, a* e b*.<br />
O valor <strong>de</strong> Whiteness representa o <strong>de</strong>svio em relação ao branco.<br />
3.2.3.3. <strong>Avaliação</strong> da textura<br />
As variáveis <strong>de</strong> textura foram obti<strong>das</strong> a partir da análise do perfil <strong>de</strong> textura realiza<strong>das</strong> num<br />
texturómetro TA-XT2 (Stable Micro System, UK) on<strong>de</strong> as amostras foram coloca<strong>das</strong> em frascos<br />
<strong>de</strong> vidro cilíndricos (altura: 5 cm; diâmetro: 4 cm). Realizou-se um teste <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> perfil<br />
<strong>de</strong> textura, em penetrometria, usando uma sonda <strong>de</strong> 10 mm <strong>de</strong> diâmetro (10 mm <strong>de</strong><br />
profundida<strong>de</strong>, 5 s <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> espera e 1 mm/s <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>).<br />
Os ensaios foram realizados 24 h <strong>de</strong>pois da preparação dos géis, como referenciado<br />
anteriormente e to<strong>das</strong> as medições foram efetua<strong>das</strong> numa sala com temperatura controlada a<br />
20±2ºC, tendo-se colocado os géis na sala 3 h antes <strong>das</strong> <strong>de</strong>terminações para estabelização da<br />
temperatura. As medições para cada amostra foram realiza<strong>das</strong> em triplicado.<br />
3.2.3.4. Comportamento viscoelástico linear dos géis<br />
A pasta obtida em cada formulação foi colocada no reómetro <strong>de</strong> tensão controlada RheoStress<br />
300 (RS-300 ThermoHaake, Alemanha), em que se proce<strong>de</strong>u à gelificação in situ. Com a<br />
finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se realizar os testes reológicos, utilizou-se um sistema sensor <strong>de</strong> pratos paralelos<br />
serrados (PP20- 20 mm <strong>de</strong> diâmetro) para prevenir o <strong>de</strong>slizamento da amostra e cobriu-se a<br />
22
Materiais e métodos<br />
amostra com parafina líquida (Rie<strong>de</strong>l-<strong>de</strong> Haen, d 20º C = 0,827-0,890 g/mL) para evitar a sua<br />
secagem, ao longo do ensaio.<br />
Efetuaram-se previamente testes <strong>de</strong> varrimentos em tensão <strong>de</strong> modo a garantir que todos os<br />
testes eram realizados em zonas <strong>de</strong> viscoelasticida<strong>de</strong> linear. Nestes testes <strong>de</strong> varrimento em<br />
tensão utilizou-se um intervalo <strong>de</strong> tensões <strong>de</strong> 1 Pa a 1000 Pa a uma frequência <strong>de</strong> 1 Hz e a uma<br />
temperatura <strong>de</strong> 20 ºC. Para a mistura 100PPR utilizou-se uma tensão <strong>de</strong> 100 Pa e para as<br />
restantes misturas utilizou-se uma tensão <strong>de</strong> 10 Pa.<br />
Após cerca <strong>de</strong> 5 min <strong>de</strong> espera a 20 ºC, para estabilização da temperatura <strong>das</strong> amostras,<br />
realizaram-se, sequencialmente, os seguintes testes:<br />
Varrimento em temperatura <strong>de</strong> 20 ºC a 90 ºC: proce<strong>de</strong>u-se a um ciclo <strong>de</strong> aquecimento da pasta<br />
<strong>de</strong> 20º C a 90º C <strong>de</strong> modo contínuo e automático no reómetro, a uma frequência constante <strong>de</strong> 1<br />
Hz.<br />
Varrimento em tempo a 90 ºC: realizou-se uma <strong>de</strong>snaturação proteica a 90 ºC durante 30<br />
minutos e a uma frequência constante <strong>de</strong> 1 Hz.<br />
Varrimento em temperatura <strong>de</strong> 90 ºC a 5 ºC: realizou-se posteriormente um ciclo <strong>de</strong><br />
arrefecimento <strong>de</strong> 90º C a 5º C <strong>de</strong> modo contínuo e automático pelo reómetro, a uma frequência<br />
constante <strong>de</strong> 1 Hz.<br />
Varrimento em tempo a 3 ºC: o <strong>de</strong>senvolvimento da estrutura <strong>das</strong> amostras foi acompanhado<br />
através <strong>de</strong> varrimentos em tempo a 3 ± 2 ºC, vulgarmente <strong>de</strong>signados por cinéticas <strong>de</strong><br />
maturação, registando os modulos <strong>de</strong> conservação e dissipação ao longo <strong>de</strong> 600 min. O teste<br />
realizou-se a uma frequência constante <strong>de</strong> 1 Hz.<br />
Varrimento em frequência a 3 ºC: Após esta maturação, efectuaram-se testes <strong>de</strong> varrimento em<br />
frequência a 3±2 ºC, com o objetivo <strong>de</strong> se obter um espectro mecânico <strong>de</strong> cada amostra em<br />
estudo, utilizando um intervalo <strong>de</strong> frequências <strong>de</strong> 0,001592 Hz – 23,87 Hz.<br />
Com o objectivo <strong>de</strong> se estudar a termoreversibilida<strong>de</strong> <strong>das</strong> diferentes misturas, realizaram-se<br />
ainda os dois seguintes testes:<br />
Varrimento em temperatura <strong>de</strong> 5 ºC a 90 ºC: após os procedimentos anteriores, proce<strong>de</strong>u-se a<br />
um novo aquecimento <strong>de</strong> 5 ºC a 90 ºC, a uma frequência constante <strong>de</strong> 1 Hz.<br />
Varrimento em temperatura <strong>de</strong> 90 ºC a 5 ºC: finalmente, proce<strong>de</strong>u-se a um novo arrefecimento<br />
<strong>de</strong> 90 ºC a 5 ºC, a uma frequência constante <strong>de</strong> 1 Hz.<br />
23
Materiais e métodos<br />
A estrutura foi medida em termos <strong>de</strong> parâmetros reológicos: o módulo <strong>de</strong> conservação (G’), que<br />
contabiliza a componente elástica do material e o módulo <strong>de</strong> dissipação (G’’), que <strong>de</strong>screve a<br />
componente viscosa.<br />
3.2.4. Emulsões alimentares<br />
3.2.4.1. Preparação <strong>das</strong> emulsões óleo-em-água<br />
As emulsões óleo-em-água foram prepara<strong>das</strong> com 65 % (w/w) <strong>de</strong> óleo vegetal, 32 % (w/w) <strong>de</strong><br />
água <strong>de</strong>stilada e 3 % (w/w) <strong>de</strong> proteína. Foram estuda<strong>das</strong> 5 misturas diferentes <strong>das</strong> proteínas: 3<br />
% (w/w) <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha (100PE); 2,4% (w/w) proteína <strong>de</strong> ervilha + 0,6 % (w/w) proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (80PE+20PRP); 1,5 % (w/w) <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha + 1,5 % <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRP); 0,6 % (w/w) <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha + 2,4 (w/w) %<br />
proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRP); 3 % (w/w) <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong> pescada<br />
(100PRP). As misturas proteicas foram dispersas na água sob agitação magnética, durante 30<br />
min à temperatura ambiente. A emulsificação foi realizada a 13,000 rpm durante 5 min, usando<br />
um homogeneizador Ultra Torrax T-25 (IKA, Alemanha).<br />
As emulsões foram coloca<strong>das</strong> em recipientes <strong>de</strong> vidro cilíndricos, com 6 cm <strong>de</strong> diâmetro e 4,5<br />
cm <strong>de</strong> altura, a uma temperatura <strong>de</strong> 4 ºC durante 24 h.<br />
Como Raymundo (1999) mostrou, o pH <strong>das</strong> emulsões afeta as suas <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> físicas, como<br />
as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> textura e as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> viscoelásticas. Raymundo (1999) verificou que os<br />
molhos para salada comerciais apresentam um pH <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3,8 (em média) e como tal foi<br />
importante analisar os mesmos parâmetros estudados nas emulsões <strong>de</strong> pH 7 num pH 3,8, pois as<br />
emulsões em pH 7 po<strong>de</strong>m apresentar boas caraterísticas mas alterando o pH para 3,8, as mesmas<br />
po<strong>de</strong>m ser altera<strong>das</strong>. Por este motivo, neste trabalho prático prepararam-se emulsões segundo o<br />
método acima <strong>de</strong>scrito, ajustando o pH quer a 7 quer a 3,8. O pH <strong>das</strong> soluções proteicas foi<br />
ajustado com bicarbonato <strong>de</strong> sódio e ácido cítrico.<br />
Todos os ensaios foram realizados em duplicado.<br />
3.2.4.2. Determinação da cor <strong>das</strong> emulsões<br />
A <strong>de</strong>terminação <strong>das</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> da cor, L*, a*, b*, <strong>das</strong> emulsões prepara<strong>das</strong> a pH 7 e pH 3,8<br />
foi realizada tal como <strong>de</strong>scrito no ponto 3.2.3.2.<br />
24
Materiais e métodos<br />
3.2.4.3. Textura <strong>das</strong> emulsões<br />
As variáveis <strong>de</strong> textura <strong>das</strong> emulsões foram obti<strong>das</strong> a partir da análise do perfil <strong>de</strong> textura<br />
realiza<strong>das</strong> num texturómetro TA-XT2 (Stable Micro System, UK) on<strong>de</strong> as amostras foram<br />
coloca<strong>das</strong> em frascos <strong>de</strong> vidro cilíndricos (altura: 4,5 cm; diâmetro: 6 cm). Realizou-se um teste<br />
<strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura, em penetrometria, usando uma sonda <strong>de</strong> 25 mm <strong>de</strong> diâmetro<br />
(10 mm <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>, 5 s <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> espera e 2 mm/s <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>).<br />
Os ensaios foram realizados 24 h <strong>de</strong>pois da preparação <strong>das</strong> emulsões e to<strong>das</strong> as medições foram<br />
efetua<strong>das</strong> numa sala com temperatura controlada a 20 ± 2ºC, tendo-se colocado os na sala 3 h<br />
antes <strong>das</strong> <strong>de</strong>terminações para estabilização da temperatura. As medições para cada amostra<br />
foram realiza<strong>das</strong> em triplicado.<br />
3.2.4.4. Medições reológicas <strong>das</strong> emulsões<br />
Os testes viscoelásticos dinâmicos e a obtenção <strong>das</strong> curvas <strong>de</strong> escoamento foram realizados num<br />
reómetro <strong>de</strong> tensão controlada RheoStress 300 (RS-300 ThermoHaake, Alemanha), a 20±1 ºC.<br />
Realizou-se inicialmente um teste <strong>de</strong> varrimento <strong>de</strong> tensão para cada formulação, on<strong>de</strong> se<br />
registaram os valores <strong>de</strong> G’ e G’’ obtidos em função da tensão aplicada. Preten<strong>de</strong>-se com este<br />
teste <strong>de</strong>terminar previamente o intervalo <strong>de</strong> tensões no qual os módulos <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong><br />
dissipação são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da tensão aplicada e <strong>de</strong>ste modo, <strong>de</strong>terminar a tensão máxima que<br />
é possível aplicar ao material sem que ocorra ruptura da sua estrutura interna.<br />
Testes oscilatórios:<br />
Uma vez <strong>de</strong>finida a zona viscoelástica linear, efectuaram-se os testes <strong>de</strong> varrimento <strong>de</strong><br />
frequência ou testes oscilatórios, <strong>de</strong> modo a obter os espetros mecânicos <strong>de</strong> cada formulação em<br />
estudo. Para tal utilizou-se uma tensão <strong>de</strong> 1 Pa e um sistema sensor do tipo cone-prato, com 35<br />
mm <strong>de</strong> diâmetro e 2º <strong>de</strong> ângulo (C35/2), num intervalo <strong>de</strong> frequências entre 0,001000 Hz –<br />
100,0 Hz.<br />
Testes reológicos a diferentes velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação:<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> se obter as curvas <strong>de</strong> escoamento <strong>das</strong> diversas misturas em estudo,<br />
realizaram-se testes reológicos a diferentes velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação. Utilizaram-se<br />
velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação muito baixas que estão <strong>de</strong>ntro da zona <strong>de</strong> comportamento linear e<br />
<strong>de</strong>formações mais eleva<strong>das</strong> em que o comportamento do material é altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />
velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação aplicada. Utilizou-se para tal, um sistema sensor do tipo prato-prato,<br />
com paralelos serrados <strong>de</strong> 20 mm <strong>de</strong> diâmetro (PP20) para impedir o <strong>de</strong>slizamento da amostra,<br />
25
Materiais e métodos<br />
como foi recomendado por Franco et al (1998b) para o caso <strong>de</strong> emulsões <strong>de</strong> isolados proteicos<br />
<strong>de</strong> ervilha.<br />
3.2.5. Preparação dos “molhos para salada”<br />
As emulsões óleo-em-água “molhos pra salada” foram prepara<strong>das</strong> com 65 % (w/w) <strong>de</strong> óleo<br />
vegetal, 29,8 % (w/w) <strong>de</strong> água <strong>de</strong>stilada e 3 % (w/w) <strong>de</strong> proteína, 1% (w/w) <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio<br />
(NaCl), 0,7 % (w/w) <strong>de</strong> ácido cítrico e 0,5 % (w/w) <strong>de</strong> vinagre. Foram estuda<strong>das</strong> as duas<br />
misturas que apresentaram parâmetros <strong>de</strong> textura semelhantes aos <strong>das</strong> maioneses comerciais<br />
(Raymundo, 1999): 0,6 % (w/w) <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha + 2,4 (w/w) % proteína <strong>de</strong> pescada e 1,5<br />
% (w/w) <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha + 1,5 % <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada. Após a preparação <strong>de</strong>sta<br />
formulação, juntou-se 0,5 g <strong>de</strong> ervas “provence”a cada uma <strong>das</strong> misturas. Estas ervas<br />
“provence” são uma mistura francesa <strong>de</strong> ervas tais como tomilho, alecrim, segurelha, oregãos e<br />
alfazema. Este conjunto <strong>de</strong> ervas foi apenas adicionado nas emulsões utiliza<strong>das</strong> para a avaliação<br />
sensorial (às emulsões utliza<strong>das</strong> para a avaliação <strong>das</strong> <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> cor, textura e <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong><br />
viscoelásticas não foram adiciona<strong>das</strong> ervas “provence”).<br />
As misturas proteicas foram dispersas na água sob agitação magnética, durante 30 minutos à<br />
temperatura ambiente. A emulsificação foi realizada a 13,000 rpm durante 5 min, usando um<br />
homogeneizador Ultra Torrax T-25 (IKA, Alemanha). As emulsões foram coloca<strong>das</strong> em<br />
recipientes <strong>de</strong> plástico, com 5 cm <strong>de</strong> diâmetro e 7 cm <strong>de</strong> altura, a uma temperatura <strong>de</strong> 4 ºC<br />
durante 6 h.<br />
3.2.5.1. Análise sensorial<br />
A análise sensorial consistiu na avaliação <strong>de</strong> uma ou várias caraterísticas <strong>de</strong> um alimento por<br />
apreciação direta.<br />
A avaliação sensorial <strong>das</strong> emulsões <strong>das</strong> misturas <strong>de</strong> proteínas enriqueci<strong>das</strong> com ervas<br />
“provence” foi realizada por 12 provadores não treinados e para tal utilizou-se uma folha <strong>de</strong><br />
prova, adaptada <strong>de</strong> Raymundo (1999), com uma escala <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 a 10 (Anexo 2). A<br />
análise sensorial foi efectuada após cerca <strong>de</strong> 7 horas <strong>de</strong> refrigeração após a preparação <strong>das</strong><br />
emulsões. Utilizou-se um código formado por uma letra (A e B) para cada uma <strong>das</strong> 2 emulsões<br />
em estudo. As duas amostras foram apresenta<strong>das</strong> em pequenos recipientes <strong>de</strong> plástico, cada um<br />
com a respetiva i<strong>de</strong>ntificação: A (correspondia à emulsão da mistura 50PE+50PRP) e B<br />
(correspondia à emulsão da mistura 20PE+80PRP) (figura 7) e foram prova<strong>das</strong> aleatoriamente.<br />
26
Materiais e métodos<br />
Figura 7 - Amostra B - emulsão da mistura 20PE+80PRP e amostra A- emulsão da mistura<br />
50PE+50PRP.<br />
Foi pedido aos provadores que avaliassem os diversos parâmetros presentes na folha <strong>de</strong> prova,<br />
tais como os parâmetros do aspecto (cor), cheiro (ranço, vinagre, especiarias, estranho), textura<br />
(consistência, espalhabilida<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong>, granulosida<strong>de</strong>) e sabor (ácido, salgado, especiarias,<br />
estranho) e indicassem igualmente a apreciação global do produto.<br />
3.2.6. Tratamento estatístico<br />
O tratamento estatístico foi realizado no software Statistica (StatSoft, Inc., Tulsa, OK 74104,<br />
USA) versao 7, <strong>de</strong> 2004. Nos estudos em que se efetuaram tratamentos a diferentes níveis,<br />
recorreu-se à análise <strong>de</strong> variância (One-Way ANOVA) e a verificação dos prossupostos <strong>de</strong>ste<br />
teste, normalida<strong>de</strong> e homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variâncias, foi efetuada através da aplicação dos testes<br />
<strong>de</strong> Kolmogorov-Smirnov e <strong>de</strong> Levene. Em geral, não se verificaram violações graves <strong>de</strong>stes<br />
pressupostos, pelo que se aplicaram métodos paramétricos: T-Stu<strong>de</strong>nt (comparação <strong>de</strong> dois<br />
grupos) e a análise <strong>de</strong> variância. Na comparação múltipla <strong>de</strong> grupos aplicou-se o teste <strong>de</strong><br />
Scheffé. Todos os testes foram realizados ao nível <strong>de</strong> significância α=0,05. Consi<strong>de</strong>rou-se<br />
significativa a diferença entre grupos sempre que p
Resultados e discussão<br />
4. Resultados e discussão<br />
4.1. Composição química<br />
Na tabela 1 são apresentados os valores da composição química dos subprodutos <strong>de</strong> pescada,<br />
<strong>das</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> (PRP) antes e <strong>de</strong>pois da sua liofilização e <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong> ervilha<br />
(PE).<br />
Tabela 1 - Valores da composição química dos subprodutos <strong>de</strong> pescada, proteínas recupera<strong>das</strong>,<br />
proteínas recupera<strong>das</strong> secas e proteínas <strong>de</strong> ervilha. Os valores apresentados correspon<strong>de</strong>m à<br />
média e <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong>terminações. Valores na mesma coluna com letras diferentes<br />
significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
Amostra (g) Proteína (%) Humida<strong>de</strong> (%) Gordura (%) Cinza (%)<br />
Subprodutos <strong>de</strong><br />
pescada 18,57 ± 0,2 a 80,03 ± 0,2 c 1,19 ± 0,1 a 2,3 ± 0,01 c<br />
Proteínas<br />
recupera<strong>das</strong> 19,18 ± 0,2 a 81,81 ± 0,4 d 1,13 ± 0,1 a 0,38 ± 0,08 a<br />
Proteínas<br />
recupera<strong>das</strong> secas 92,80 ± 1,2 b 6,57 ± 0,7 a 3,12 ± 0,2 b 1,03 ± 0,05 b<br />
Proteínas <strong>de</strong><br />
ervilha 80,87 ± 1,2 c 8,6 ± 0,1 b 2,00 ± 0,6 a 4,47 ± 0,02 d<br />
Pela observação da tabela, po<strong>de</strong>mos afirmar que as proteínas recupera<strong>das</strong> secas apresentam um<br />
teor <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> 92,8 %, valor este bastante maior que o teor em proteína dos subprodutos <strong>de</strong><br />
pescada e <strong>das</strong> proteínas recupera<strong>das</strong>. Este facto <strong>de</strong>ve-se ao processo <strong>de</strong> liofilização que permitiu<br />
a secagem <strong>das</strong> proteínas recupera<strong>das</strong>, diminuindo assim o seu teor em Humida<strong>de</strong> e aumentando<br />
proporcionalmente o teor em proteína.<br />
As proteínas recupera<strong>das</strong> secas apresentam um elevado teor <strong>de</strong> proteína (92,8 ± 1,2) e valores<br />
bastante reduzidos relativamente aos teores <strong>de</strong> humida<strong>de</strong> (6,57 ± 0,7), gordura (3,12 ± 0,2) e<br />
cinza (1,03 ± 0,05).<br />
Num estudo semelhante, Pires (2008) obteve resultados idênticos relativamente aos teores <strong>de</strong><br />
proteína, humida<strong>de</strong>, gordura e cinza dos subprodutos <strong>de</strong> pescada, <strong>das</strong> proteínas recupera<strong>das</strong><br />
secas e <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong> ervilha.<br />
28
Resultados e discussão<br />
O isolado proteico <strong>de</strong> ervilha apresentava um teor <strong>de</strong> proteína significativamente inferior (p <<br />
0,05) (80,87 ± 1,2) ao <strong>das</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> secas <strong>de</strong> pescado. Isto po<strong>de</strong> indicar a presença<br />
<strong>de</strong> fibras e hidratos <strong>de</strong> carbono no isolado <strong>de</strong> origem vegetal. Para além disso, o teor em cinza<br />
era também mais baixo no caso <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong> pescada o que parece mostrar que a maior parte<br />
dos sais são eliminados no sobrenadante obtido após a precipitação <strong>das</strong> proteínas. Alguma da<br />
gordura presente nos subprodutos <strong>de</strong> pescada é também eliminada durante o processo. Os<br />
valores da composição <strong>das</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> por solubilização alcalina seguida <strong>de</strong><br />
precipitação a partir dos subprodutos <strong>de</strong> pescada são semelhantes aos <strong>de</strong>scritos para outros<br />
isolados proteicos <strong>de</strong> pescado obtidos a partir <strong>de</strong> diferentes matérias- primas (Sathivel et al.,<br />
2004, 2005, 2006; Sathivel e Bechtel, 2006; Shaviklo et al., 2011).<br />
4.2. Géis <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e proteína <strong>de</strong> ervilha<br />
4.2.1. Caraterização da cor dos géis<br />
Os valores <strong>das</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> da cor, L*, a* e b* dos géis <strong>das</strong> misturas <strong>de</strong> PRP e <strong>de</strong> PE nas cinco<br />
proporções são apresentados na tabela 2.<br />
L* a* b*<br />
100PE 61,40 ± 1,74 d 1,72 ± 0,15 d 14,46 ± 0,75 c<br />
80PE+20PRP 62,24 ± 0,97 d 1,21 ± 0,15 c 13,56 ± 0,15 c<br />
50PE+50PRP 55,75 ± 3,83 b -0,14 ± 0,71 a 9,77 ± 2,84 a<br />
20PE+80PRP 53,26 ± 2,86 a 0,34 ± 0,74 b 10,68 ± 1,15 b<br />
100PRP 58,40 ± 2,37 c 1,12 ± 0,18 c 13,94 ± 0,92 c<br />
Tabela 2 - Determinação instrumental da cor – Coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> L*, a* e b* para os géis obtidos a<br />
partir <strong>de</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha. Os valores apresentados<br />
correspon<strong>de</strong>m à média e <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong>terminações. Valores na mesma coluna com<br />
letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
29
W<br />
Resultados e discussão<br />
Os valores <strong>de</strong> L* (luminosida<strong>de</strong>) dos géis preparados com as diferentes misturas encontram-se<br />
no intervalo <strong>de</strong> 53 a 63. Este parâmetro dá conta da variação escuro – claro da cor, o que<br />
significa que, em termos <strong>de</strong> componente L*, todos os géis estudados apresentam uma tonalida<strong>de</strong><br />
clara, sendo o gel preparado com a mistura 20PE+80PRP o mais escuro. Para este parâmetro os<br />
géis <strong>de</strong> to<strong>das</strong> as misturas em estudo são significativamente diferentes (p < 0,05) uns dos outros,<br />
à exceção dos géis <strong>das</strong> misturas 100PE e 80PE+20PRP.<br />
Relativamente aos valores <strong>de</strong> a* (ver<strong>de</strong>-vermelho), constatou-se igualmente que os géis <strong>de</strong> to<strong>das</strong><br />
as misturas são significativamente diferentes (p < 0,05) à exceção dos géis <strong>das</strong> misturas 100PRP<br />
e 80PE+20PRP. O gel que apresenta uma tonalida<strong>de</strong> mais avermelhada é o gel relativo à<br />
mistura 100PE (1,72 ± 0,15) e o que apresenta uma tonalida<strong>de</strong> mais esver<strong>de</strong>ada é o gel relativo<br />
à mistura 50PE+50PRP (-0,14 ± 0,71).<br />
Verifica-se que em relação à coor<strong>de</strong>nada da cor b* (azul-amarelo) os géis da mistura<br />
50PE+50PRP (9,77 ± 2,84) apresentam uma tonalida<strong>de</strong> menos amarela. Os géis da mistura<br />
100PE (14,46 ± 0,75) são os que apresentam uma tonalida<strong>de</strong> mais amarelada.<br />
Os géis preparados com a mistura 50PE+50PRP apresentam em simultâneo os valores mais<br />
baixos <strong>de</strong> a* e b* e, por isso, são os menos amarelos e menos vermelhos.<br />
100<br />
80<br />
60<br />
d d b a c<br />
40<br />
20<br />
0<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 8 - Brancura dos géis obtidos a partir <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP;<br />
50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes significam médias estatisticamente<br />
diferentes (p < 0,05).<br />
30
Resultados e discussão<br />
Analisando os valores da brancura (W) na figura 8 verifica-se que todos os géis apresentam uma<br />
tonalida<strong>de</strong> bastante clara (o valor <strong>de</strong> W varia entre 52,03 e 59,86), contudo todos eles são<br />
significativamente diferentes entre si com exceção dos géis <strong>das</strong> misturas 100PE e 80PE+20PRP.<br />
4.2.2. Textura dos géis<br />
A partir do T.P.A realizado, obteve-se os diversos parâmetros <strong>de</strong> textura referenciados no ponto<br />
2.5.1.1.1. Contudo, na figura 9 apresentam-se apenas os valores da firmeza e da a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> dos<br />
géis preparados com as diferentes misturas <strong>de</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> pescada e o isolado<br />
proteico <strong>de</strong> ervilha.<br />
Só a firmeza se mostra coerente, isto é, com tendência <strong>de</strong>finida e com baixos valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio<br />
padrão, para a <strong>de</strong>scrição <strong>das</strong> características <strong>de</strong> textura do gel.<br />
A a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> parecia ser um parâmetro interessante na caracterização da textura dos géis,<br />
contudo, como se po<strong>de</strong> observar na figura 9, este parâmetro apresenta uma gran<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong>,<br />
exibindo <strong>de</strong>svios padrão bastante elevados, o que faz com que não existam diferenças<br />
significativas (p ≥ 0,05) entre os géis avaliados. Como tal, parece não existir nenhuma relação<br />
entre a percentagem <strong>de</strong> proteínas <strong>de</strong> ervilha e a a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> dos géis.<br />
31
A<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (N.s)<br />
Firmeza (N)<br />
Resultados e discussão<br />
8,00<br />
d<br />
6,00<br />
4,00<br />
2,00<br />
a<br />
a<br />
b<br />
c<br />
0,00<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
(a)<br />
1,50<br />
1,00<br />
ab<br />
b<br />
ab<br />
(b)<br />
0,50<br />
a<br />
a<br />
0,00<br />
-0,50<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 9 - Valores <strong>de</strong> firmeza (a) e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (b) dos géis obtidos a partir <strong>das</strong> seguintes<br />
misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes<br />
significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
A firmeza dos géis aumenta à medida que a percentagem <strong>de</strong> PPR aumenta nas misturas, sendo<br />
os géis preparados só com proteínas <strong>de</strong> pescada os mais firmes (valor da firmeza). No entanto, a<br />
firmeza dos géis preparados a partir <strong>das</strong> misturas 100PE e 80 PE+20PRP não são<br />
significativamente diferente (p ≥ 0,05).<br />
Com base nestes resultados, po<strong>de</strong> ser estudada a correlação entre a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong><br />
pescada adicionada às misturas e a firmeza dos géis. A figura seguinte apresenta essa<br />
correlação.<br />
32
Firmeza (N)<br />
Resultados e discussão<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
y = 6,0578e -0,0275x<br />
R 2 = 0,9814<br />
0 20 40 60 80 100 120<br />
% proteína <strong>de</strong> ervilha<br />
Figura 10 - Correlação existente entre a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha e a firmeza dos géis.<br />
Verifica-se que existe um <strong>de</strong>caimento exponencial da firmeza dos géis com o aumento do teor<br />
<strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha (ou a diminuição do teor <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong> pescada). O<br />
coeficiente <strong>de</strong> correlação, R 2 é bastante elevado (0,9814) e como tal a equação obtida,<br />
Y=6,0578e -0,0275X , é a<strong>de</strong>quada para <strong>de</strong>screver a correlação entre a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong><br />
ervilha adicionada e a firmeza dos géis.<br />
Com base nestes resultados e <strong>de</strong> acordo com Ziegler e Foegeding (1990) po<strong>de</strong>mos dizer que<br />
estamos perante um sistema incompatível <strong>de</strong> proteínas. Estes autores classificam os sistemas <strong>de</strong><br />
misturas <strong>de</strong> proteínas em compatíveis, semicompatíveis ou incompatíveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da<br />
interação entre os dois tipos diferentes <strong>de</strong> proteína. Este tipo <strong>de</strong> interacção afeta posteriormente<br />
as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> do gel formado pelas proteínas. Neste estudo, as proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong><br />
pescada formam entre si uma re<strong>de</strong> proteica forte e como tal, os valores <strong>de</strong> firmeza dos geís da<br />
mistura 100PRP são elevados, como se po<strong>de</strong> observar na figura 9. Contudo, ao adicionarmos<br />
proteína <strong>de</strong> ervilha, verifica-se um <strong>de</strong>caimento exponencial da firmeza dos géis, cuja correlação<br />
é bastante explícita na figura 10. Este <strong>de</strong>caimento po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>vido ao facto da proteína <strong>de</strong><br />
ervilha actuar como um agente perturbador da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gel <strong>das</strong> proteínas <strong>de</strong> pescada nestas<br />
misturas, perturbando <strong>de</strong>ste modo a re<strong>de</strong> formada pelas proteínas <strong>de</strong> pescada. Para esta<br />
diminuição dos valores <strong>de</strong> firmeza com o aumento do teor <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha, sugerida pelos<br />
mesmos autores, é o facto <strong>de</strong> estes dois diferentes tipos <strong>de</strong> proteínas po<strong>de</strong>rem formar re<strong>de</strong>s<br />
proteicas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e termodinamicamente incompatíveis.<br />
33
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
4.2.3. Proprieda<strong>de</strong>s viscoelásticas dos géis<br />
Na figura seguinte estão representa<strong>das</strong> as curvas <strong>de</strong> aquecimento <strong>das</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteínas<br />
estuda<strong>das</strong>, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> observar a evolução dos módulos <strong>de</strong> conservação (G’) e dissipação<br />
(G’’) em função da temperatura <strong>de</strong> aquecimento (20 a 90 ºC).<br />
A<br />
B<br />
8,0E+03<br />
6,0E+03<br />
100PE<br />
1,0E+04<br />
8,0E+03<br />
80PE+20PRP<br />
4,0E+03<br />
6,0E+03<br />
4,0E+03<br />
2,0E+03<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
C<br />
2,0E+03<br />
0,0E+00<br />
100 % PRP<br />
0 20 40 60 80 100<br />
D<br />
T (ºC)<br />
3,0E+04<br />
50PE+50PRP<br />
4,0E+04<br />
20PE+80PRP<br />
2,0E+04<br />
3,0E+04<br />
2,0E+04<br />
1,0E+04<br />
1,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
5,0E+04<br />
4,0E+04<br />
E<br />
100PRP<br />
3,0E+04<br />
2,0E+04<br />
1,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
Figura 11 - A: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Curva <strong>de</strong><br />
aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC<br />
da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP; D: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong><br />
20PE+80PRP. E: Curva <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo<br />
cheio), G’’ (Símbolo aberto).<br />
34
Resultados e discussão<br />
Durante o aquecimento, verifica-se um <strong>de</strong>créscimo inicial do valor <strong>de</strong> G’ até à temperatura <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> 75 ºC, nas misturas <strong>de</strong> 100PE, 80PE+20PRP e 50PE+50PRP. Nestas 3 misturas e após<br />
esta temperatura, o <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> G´ torna-se ainda mais acentuado. Nas outras misturas<br />
(20PE+80PRP e 100PRP) ocorre um <strong>de</strong>créscimo acentuado no valor <strong>de</strong> G’ até cerca dos 35 ºC e<br />
a partir <strong>de</strong>sta temperatura regista-se um ligeiro aumento do valor <strong>de</strong> G’ até cerca dos 50 º C.<br />
Des<strong>de</strong> esta temperatura e até aos 90 ºC o valor <strong>de</strong> G’ manteve-se praticamente constante.<br />
Os valores dos módulos G’ e G’’ são mais elevados à medida que a percentagem <strong>de</strong> PE diminui<br />
nas misturas e consequentemente a percentagem <strong>de</strong> PPR aumenta.<br />
Pires et al. (2012) estudaram as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> reológicas <strong>de</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong><br />
subprodutos <strong>de</strong> pescada secas com diferentes percentagens <strong>de</strong> proteína (17,5 %, 10 % e 5 %) e<br />
obtiveram curvas <strong>de</strong> aquecimento semelhantes às obti<strong>das</strong> neste estudo com a mistura 100PRP.<br />
A curva <strong>de</strong> aquecimento correspon<strong>de</strong>nte à mistura 100PRP apresenta um comportamento típico<br />
<strong>das</strong> proteínas miofibrilares, uma vez que se regista uma diminuição acentuada do valor <strong>de</strong> G’ até<br />
uma temperatura <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 35 ºC, seguida <strong>de</strong> um aumento do mesmo à medida que a<br />
temperatura aumenta. Este comportamento vai sendo atenuado à medida que se adicionam na<br />
mistura as proteínas <strong>de</strong> ervilha. Este comportamento do módulo <strong>de</strong> conservação típico <strong>das</strong><br />
proteínas miofibrilares foi também verificado por outros autores como Romero et al. (2009). No<br />
início do tratamento térmico (T
G'; G'' (pa)<br />
G';G'' (Pa)<br />
G';G'' (Pa)<br />
G';G'' (Pa)<br />
G';G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
A<br />
B<br />
4,0E+03<br />
3,0E+03<br />
4,0E+03<br />
100PE % PE 80PE+20PRP<br />
3,0E+03<br />
2,0E+03<br />
2,0E+03<br />
1,0E+03<br />
1,0E+03<br />
0,0E+00<br />
0 5 10 15 20 25 30 35<br />
t (min)<br />
0,0E+00<br />
0 5 10 15 20 25 30 35<br />
t (min)<br />
C<br />
D<br />
1,2E+04<br />
50PE+50PRP<br />
3,0E+04<br />
20PE+80PRP<br />
8,0E+03<br />
2,0E+04<br />
4,0E+03<br />
1,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 5 10 15 20 25 30 35<br />
t (min)<br />
5,0E+04<br />
E<br />
0,0E+00<br />
0 5 10 15 20 25 30 35<br />
t (min)<br />
100PRP<br />
4,0E+04<br />
3,0E+04<br />
2,0E+04<br />
1,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 5 10 15 20 25 30 35<br />
t (min)<br />
Figura 12 - A: Aquecimento durante 30 min da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Aquecimento durante 30<br />
min da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Aquecimento durante 30 min da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP;<br />
D: Aquecimento durante 30 min da mistura <strong>de</strong> 20PE+80PRP. E: Aquecimento durante 30 min<br />
da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’ (Símbolo aberto).<br />
Na figura 12 estão presentes os módulos G’ e G’’ obtidos durante o aquecimento <strong>das</strong> proteínas,<br />
durante 30 min. As proteínas estão praticamente <strong>de</strong>snatura<strong>das</strong> após 10 min a 90 ºC, uma vez que<br />
a partir <strong>de</strong>ste tempo as 5 misturas em estudo apresentam valores <strong>de</strong> G’ e G’’ praticamente<br />
constantes até ao final <strong>de</strong>sta etapa. Assim, parece que a maior <strong>de</strong>snaturação <strong>das</strong> proteínas ocorre<br />
durante o processo <strong>de</strong> aquecimento, on<strong>de</strong> ocorre uma maior variação do valor <strong>de</strong> G’.<br />
36
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
A<br />
B<br />
1,2E+04<br />
100PE<br />
1,2E+04<br />
80PE+20PRP<br />
9,0E+03<br />
8,0E+03<br />
6,0E+03<br />
3,0E+03<br />
4,0E+03<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
C<br />
D<br />
3,0E+04<br />
50PE+50PRP<br />
8,0E+04<br />
20PE+80PRP<br />
2,0E+04<br />
6,0E+04<br />
4,0E+04<br />
1,0E+04<br />
2,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
E<br />
2,0E+05<br />
1,6E+05<br />
100PRP<br />
1,2E+05<br />
8,0E+04<br />
4,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
Figura 13 - A: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Curva <strong>de</strong><br />
arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90<br />
ºC da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP; D: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong><br />
20PE+80PRP. E: Curva <strong>de</strong> arrefecimento <strong>de</strong> 20 a 90 ºC da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo<br />
cheio), G’’ (Símbolo aberto).<br />
37
Resultados e discussão<br />
A evolução dos valores <strong>de</strong> G’ e G’’ em função da temperatura durante o arrefecimento <strong>de</strong> 90 ºC<br />
a 5 ºC, está representada na figura 13. Em to<strong>das</strong> as misturas ocorre um aumento gradual dos<br />
módulos viscoelásticos com o arrefecimento <strong>de</strong> 90 a 5 ºC e G’ é maior do que G’’, ou seja,<br />
to<strong>das</strong> as amostras apresentam uma maior componente elástica. Este aumento dos dois módulos<br />
viscoelásticos ocorre <strong>de</strong>vido a interacções físicas, principalmente ligações <strong>de</strong> hidrogénio, já que<br />
o gel é termoreversível (como se mostra no ponto 4.2.4.). Estas ligações <strong>de</strong> hidrogénio entre os<br />
aminoácidos e as moléculas <strong>de</strong> água, forma<strong>das</strong> maioritariamente durante o arrefecimento,<br />
po<strong>de</strong>m ser importantes na estabilização do sistema proteico. Além disso, estas ligações<br />
contribuem também para imobilizar a água na re<strong>de</strong> <strong>das</strong> moléculas proteicas (Lanier et al., 2005).<br />
Comparando estes resultados com o estudo efetuado por Pires et al. (2012) mencionado<br />
anteriormente, as curvas <strong>de</strong> arrefecimento da mistura 100PRP e a obtida por estes autores são<br />
bastante semelhantes, uma vez que em ambas suce<strong>de</strong> um aumento gradual dos valores <strong>de</strong> G’ e<br />
G’’ com a diminuição <strong>de</strong> temperatura.<br />
Nunes (2005) estudou o efeito <strong>de</strong> três diferentes concentrações (12 %, 12 % e 16 %) <strong>de</strong> proteína<br />
<strong>de</strong> ervilha nas <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> reológicas <strong>de</strong> géis. Comparando as curvas <strong>de</strong> arrefecimento da<br />
concentração <strong>de</strong> 16 % <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha obtida por Nunes (2005) com a curva <strong>de</strong><br />
arrefecimento da mistura 100PE, verifica-se uma semelhança no comportamento que o G’ e G’’<br />
tomam, uma vez que, em ambas as curvas se observa um aumento gradual dos módulos<br />
viscoelásticos com a diminuição da temperatura. Este comportamento é característico <strong>das</strong><br />
proteínas globulares. Contudo, o valor <strong>de</strong> G’ correspon<strong>de</strong>nte à temperatura final <strong>de</strong><br />
arrefecimento (5 ºC) mistura 100PE obtida neste trabalho prático, é mais elevado nas misturas<br />
00PE (cerca <strong>de</strong> 1100 Pa) do que nos geís simples <strong>de</strong> ervilha obtidos por Nunes (2005) (cerca <strong>de</strong><br />
525). Esta diferença é por certo <strong>de</strong>vida à diferença da composição dos isolados proteicos<br />
utilizados nos diferentes estudos.<br />
Este aumento gradual do módulo <strong>de</strong> conservação (G’) resulta <strong>de</strong> uma contínua reorganização da<br />
re<strong>de</strong> do gel, já que as partículas poliméricas po<strong>de</strong>m juntar-se dando origem a ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>nsas e<br />
ao aumento <strong>das</strong> interações proteína/proteína (van Vliet et al., 2002).<br />
38
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
A<br />
B<br />
1,6E+04<br />
100PE<br />
1,6E+04<br />
80PE+20PRP<br />
1,2E+04<br />
1,2E+04<br />
8,0E+03<br />
4,0E+03<br />
0,0E+00<br />
0 100 200 300 400 500 600 700<br />
t (min)<br />
8,0E+03<br />
4,0E+03<br />
0,0E+00<br />
0 100 200 300 400 500 600 700<br />
t (min)<br />
E<br />
C<br />
4,0E+04<br />
50PE+50PRP<br />
8,0E+04<br />
80PE+20PRP 20PE+80PRP<br />
3,0E+04<br />
6,0E+04<br />
2,0E+04<br />
4,0E+04<br />
1,0E+04<br />
2,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 100 200 300 400 500 600 700<br />
t (min)<br />
0,0E+00<br />
0 100 200 300 400 500 600 700<br />
t (min)<br />
B<br />
3,0E+05<br />
100PRP 100PRP<br />
2,0E+05<br />
1,0E+05<br />
0,0E+00<br />
0 100 200 300 400 500 600 700<br />
t (min)<br />
Figura 14 - A: Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3 ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 100PE. B:<br />
Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3 ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 80PE+20PRP. C: Cinéticas <strong>de</strong><br />
maturação a 3 ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 50 PE+50PRP; D: Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3<br />
ºC, durante 600 min da mistura <strong>de</strong> 20PE+80PRP. E: Cinéticas <strong>de</strong> maturação a 3 ºC, durante 600<br />
min da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’ (Símbolo aberto).<br />
Na figura 14 estão apresenta<strong>das</strong> as cinéticas <strong>de</strong> maturação dos géis <strong>das</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada e <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha. Em to<strong>das</strong> as misturas o valor <strong>de</strong> G’ mantém-se<br />
39
Resultados e discussão<br />
praticamente constante ao longo dos 600 min <strong>de</strong> maturação. Este facto permite afirmar que<br />
nestas 4 misturas, os géis já estão praticamente formados no início da maturação. À medida que<br />
a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PE diminui (e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PRP aumenta) na mistura, o valor <strong>de</strong> G’ vai<br />
aumentando. Como tal, o aumento da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PRP na proporção da mistura resulta em<br />
géis mais estruturados <strong>de</strong>vido à formação <strong>de</strong> uma estrutura mais forte da actina e da miosina<br />
(Pires et al., 2012). Relativamente à mistura 80PE+20PRP, esta apresenta um comportamento<br />
diferente <strong>das</strong> restantes. O comportamento do módulo <strong>de</strong> conservação (G’) é caraterizado por um<br />
ligeiro <strong>de</strong>créscimo até cerca <strong>de</strong> 500 min <strong>de</strong> maturação e apenas nos últimos 100 min da mesma é<br />
que se observa um ligeiro aumento no valor <strong>de</strong> G’. Tal po<strong>de</strong> ser explicado pela<br />
incompatibilida<strong>de</strong> entre os dois tipos <strong>de</strong> proteínas, que nestas proporções tornam este<br />
comportamento mais evi<strong>de</strong>nte.<br />
Nunes (2005) verificou que nas cinéticas <strong>de</strong> maturação dos géis <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha com uma<br />
concentração <strong>de</strong> 16 % <strong>de</strong> proteína, o comportamento do módulo <strong>de</strong> conservação (G’) é<br />
caracterizado por uma subida rápida nas primeiras horas, seguida <strong>de</strong> uma evolução mais lenta.<br />
Este comportamento não ocorre na cinética <strong>de</strong> maturação da mistura <strong>de</strong> 100PE, uma vez que<br />
este gel tem 20 % <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha e observa-se que o valor <strong>de</strong> G’ é praticamente constante<br />
(variando apenas <strong>de</strong> 12000 a 12500 Pa) ao longo dos 600 min da maturação, o que indica que a<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gel já está reorganizada.<br />
Pires et al. (2012) num estudo com proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> subprodutos <strong>de</strong> pescada obtiveram<br />
uma curva <strong>de</strong> maturação muito semelhante à obtida neste estudo. Outros autores (Yongwatdigul<br />
e Park, 2004) referem valores <strong>de</strong> G´<strong>de</strong>ntro da gama dos encontrados neste estudo.<br />
40
G';G'' (Pa)<br />
G';G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G';G'' (Pa)<br />
G';G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
A<br />
B<br />
1,00E+05<br />
100PE<br />
100PE<br />
1,00E+05<br />
80PE+20PRP<br />
20PE+80PRP<br />
1,00E+04<br />
1,00E+04<br />
1,00E+03<br />
1,00E+03<br />
1,00E+02<br />
1,00E-04 1,00E-03 1,00E-02 1,00E-01 1,00E+00 1,00E+01 1,00E+02<br />
f (Hz)<br />
1,00E+02<br />
1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02<br />
f (Hz)<br />
C<br />
D<br />
1,0E+05<br />
50PE+50PRP<br />
1,0E+06<br />
80PE+20PRP<br />
20PE+80PRP<br />
1,0E+05<br />
1,0E+04<br />
1,0E+04<br />
1,0E+03<br />
1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02<br />
f (Hz)<br />
1,0E+06<br />
E<br />
1,0E+03<br />
1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02<br />
f (Hz)<br />
100PRP<br />
1,0E+05<br />
1,0E+04<br />
1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02<br />
f (Hz)<br />
Figura 15 - A: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong> 100PE. B: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong><br />
80PE+20PRP. C: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong> 50PE+50PRP; D: Espetro mecânico da<br />
mistura <strong>de</strong> 20PE+80PRP. E: Espetro mecânico da mistura <strong>de</strong> 100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’<br />
(Símbolo aberto).<br />
Na figura 15 estão representados os espetros mecânicos obtidos a 3 ºC, para as 5 misturas em<br />
estudo. O módulo <strong>de</strong> conservação (G’) apresenta sempre valores superiores ao módulo <strong>de</strong><br />
dissipação (G’’) na gama <strong>de</strong> frequências utiliza<strong>das</strong> e ambos são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da frequência um<br />
comportamento característico <strong>de</strong> um gel fraco. Este comportamento foi igualmente verificado<br />
41
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
por outros autores como Nunes (2005), Romero et al. (2009) e Pires et al. (2012). Nas 5<br />
misturas, o valor <strong>de</strong> G’ é praticamente superior em uma década ao valor <strong>de</strong> G’’, o que significa<br />
que to<strong>das</strong> as misturas apresentam um comportamento <strong>de</strong> gel, on<strong>de</strong> um melhoramento<br />
significativo da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gel é claramente induzido pelo processamento térmico (Romero et al.,<br />
2009). À medida que se diminui a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PE na formulação dos géis (ou se aumenta a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PRP), os mesmos apresentam valores <strong>de</strong> G’ e G’’ cada vez maiores, o que indica<br />
que quanto maior for a percentagem <strong>de</strong> PRP na mistura, mais consistente será o gel formado.<br />
4.2.4. Termoreversibilida<strong>de</strong> dos géis<br />
De modo a estudar a termoreversibilida<strong>de</strong> dos géis preparados com as 5 misturas, foi realizado<br />
um 2º ciclo <strong>de</strong> aquecimento <strong>de</strong> 5 ºC a 90 ºC, seguido <strong>de</strong> um arrefecimento imediato <strong>de</strong> 90 ºC a 5<br />
ºC (Figura 16).<br />
1,6E+04<br />
1,2E+04<br />
A<br />
100PE<br />
8,0E+03<br />
4,0E+03<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
1,2E+04<br />
8,0E+03<br />
B<br />
8PE+20PR<br />
P<br />
4,0E+03<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
42
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
C<br />
4,0E+04<br />
3,0E+04<br />
50PE+50PR<br />
P<br />
2,0E+04<br />
1,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
D<br />
9,0E+04<br />
20PE+80PRP<br />
6,0E+04<br />
3,0E+04<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
3,0E+05<br />
E<br />
100PRP<br />
2,0E+05<br />
1,0E+05<br />
0,0E+00<br />
0 20 40 60 80 100<br />
T (ºC)<br />
Figura 16 - 1º aquecimento <strong>de</strong> 20 ºC a 90 ºC (♦) ; 1º arrefecimento <strong>de</strong> 90 ºC a 5 ºC (●) ; 2º<br />
aquecimento <strong>de</strong> 5 ºC a 90 ºC (■), seguido do 2º arrefecimento imediato <strong>de</strong> 90 ºC a 5 ºC (▲).A:<br />
Mistura 100PE; B:Mistura 80PE+20PRP; C: Mistura 50PE+50PRP; D: 20PE+80PRP; E:<br />
100PRP. G’ (Símbolo cheio), G’’ (Símbolo aberto).<br />
43
Resultados e discussão<br />
Analisando a figura anterior, verifica-se que todos os géis são praticamente termoreversíveis,<br />
isto é, recuperam quase totalmente do ciclo <strong>de</strong> aquecimento-arrefecimento, sendo o valor <strong>de</strong> G’<br />
no final do 2º ciclo <strong>de</strong> aquecimento/arrefecimento bastante semelhante ao valor do G’ no final<br />
do 1º ciclo <strong>de</strong> aquecimento/arrefecimento. Como se po<strong>de</strong> observar na figura 16, o gel mais<br />
termoreversível é o gel correspon<strong>de</strong>nte à mistura <strong>de</strong> 100PRP, à qual correspon<strong>de</strong> 20 % <strong>de</strong><br />
proteína <strong>de</strong> pescada. Estes resultados vão ao encontro com os resultados obtidos por Pires et al.<br />
(2012). Estes autores constataram que géis preparados com teores <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong><br />
pescada <strong>de</strong> 17,5 %, 12,5 % e 10 % são igualmente termoreversíveis.<br />
4.3. Emulsões <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e proteína <strong>de</strong> ervilha a pH 7<br />
4.3.1. Caraterização da cor <strong>das</strong> emulsões<br />
Na tabela 4 estão representa<strong>das</strong> as coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> <strong>de</strong> cor, L*, a* e b* <strong>das</strong> emulsões a pH 7<br />
prepara<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha e proteína recuperada <strong>de</strong> pescada<br />
estuda<strong>das</strong>.<br />
Tabela 3 – Determinação instrumental da cor – Coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> L*, a* e b* <strong>das</strong> emulsões a pH 7<br />
prepara<strong>das</strong> com as misturas 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Valores na mesma coluna com letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p<br />
< 0,05).<br />
L* a* b*<br />
100PE 88,21 ± 0,70 ab -0,24 ± 0,25 bd 7,88 ± 0,30 cd<br />
80PE+20PRP 91,90 ± 7,20 bc 0,12 ± 0,65 cd 5,13 ± 3,01 ab<br />
50PE+50PRP 87,74 ± 0,33 a -0,55 ± 0,08 ab 6,50 ± 0,04 bc<br />
20PE+80PRP 92,64 ± 6,40 c -0,28 ± 0,95 bc 4,16 ± 2,85 a<br />
100PRP 86,72 ± 0,12 a -1,01 ± 0,07 a 6,64 ± 0,12 bd<br />
As 5 emulsões a pH 7 <strong>das</strong> diferentes misturas em estudo neste trabalho prático apresentam um<br />
valor <strong>de</strong> L* elevado, encontrando-se no intervalo <strong>de</strong> 86 a 93 (tabela 3). Este parâmetro dá conta<br />
da variação escuro-claro da cor, o que significa que to<strong>das</strong> as emulsões a pH 7 apresentam uma<br />
44
W<br />
Resultados e discussão<br />
tonalida<strong>de</strong> bastante clara. A emulsão da mistura 20PE+80PRP é a emulsão mais clara em termos<br />
<strong>de</strong> componente <strong>de</strong> L*, uma vez que apresenta o maior valor <strong>de</strong>ste parâmetro (92,64 ± 6,40) e a<br />
emulsão da mistura 100PRP é a emulsão mais escura, apresentando obviamente o valor mais<br />
baixo (86,72 ± 0,12).<br />
Relativamente à componente a*, que correspon<strong>de</strong> à variação ver<strong>de</strong>-vermelho, constata-se que<br />
to<strong>das</strong> as emulsões apresentam valores negativos <strong>de</strong> a*, sendo a emulsão com uma tonalida<strong>de</strong><br />
mais avermelhada a da mistura 80PE+20PRP (0,12 ± 0,65) e a emulsão com uma tonalida<strong>de</strong><br />
mais esver<strong>de</strong>ada a da mistura 100PRP (-1,01 ± 0,07).<br />
Em relação à coor<strong>de</strong>nada b*, constata-se que as 5 emulsões <strong>das</strong> diferentes misturas em estudo<br />
neste trabalho prático apresentam valores <strong>de</strong> b* baixos, variando os mesmos entre 4 e 8. Estes<br />
resultados correspon<strong>de</strong>m a uma tonalida<strong>de</strong> amarelada <strong>das</strong> 5 emulsões em estudo. Verifica-se<br />
também que a emulsão que apresenta uma tonalida<strong>de</strong> significativamente mais amarelada (p <<br />
0,05) é a emulsão preparada a partir da mistura 100PE e a emulsão que apresenta uma<br />
tonalida<strong>de</strong> menos amarela é a emulsão obtida a partir da mistura 20PE+80PRP.<br />
100<br />
80<br />
a<br />
bc<br />
ab<br />
c<br />
a<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 17 - Valores da brancura <strong>das</strong> emulsões a pH 7 prepara<strong>das</strong> com as misturas 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes significam médias<br />
estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
Por observação da figura 17, verifica-se que to<strong>das</strong> as emulsões prepara<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> cinco<br />
diferentes misturas apresentam valores <strong>de</strong> brancura elevados. Para além disso, parece não existir<br />
nenhuma relação entre a percentagem <strong>de</strong> proteína e este parâmetro.<br />
45
A<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (N.s)<br />
Firmeza (N)<br />
Resultados e discussão<br />
4.3.2. Textura <strong>das</strong> emulsões<br />
Relativamente aos parâmetros <strong>de</strong> textura <strong>das</strong> emulsões (a pH7 e a pH 3,8), tal como no ponto<br />
4.2.2., apenas são apresentados os parâmetros <strong>de</strong> firmeza e a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> visto que neste tipo <strong>de</strong><br />
produtos, estes dois parâmetros são os mais importantes na sua caracterização.<br />
1,00<br />
0,80<br />
0,60<br />
0,40<br />
0,20<br />
a<br />
ab<br />
c<br />
c<br />
b<br />
0,00<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
(a)<br />
2,50<br />
2,00<br />
1,50<br />
1,00<br />
0,50<br />
a<br />
ab<br />
bc<br />
c<br />
ab<br />
(b)<br />
0,00<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 18 - Valores <strong>de</strong> firmeza (a) e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (a) <strong>das</strong> emulsões prepara<strong>das</strong> com as<br />
seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras<br />
diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
Os valores <strong>de</strong> firmeza e a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> <strong>das</strong> 5 emulsões em estudo obtidos a partir dos testes<br />
empíricos <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> textura (T.P.A.) encontram-se representados na figura 18. As emulsões<br />
prepara<strong>das</strong> com as misturas 50PE+50PRP e 20PE+80PRP são significativamente mais firmes (p<br />
46
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
< 0,05) do que as restantes. Pelo contrário, as emulsões prepara<strong>das</strong> só com proteína <strong>de</strong> ervilha<br />
são significativamente menos firmes (p < 0.05).<br />
A a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões prepara<strong>das</strong> com as diferentes misturas apresenta uma tendência<br />
semelhante à firmeza com o aumento da percentagem <strong>de</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong> pescada.<br />
Assim, é a emulsão preparada com 100PE que apresenta um valor <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong><br />
significativamente inferior (p < 0,05) ao <strong>das</strong> restantes. Pelo contrário, a emulsão que apresenta<br />
uma maior a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> é a emulsão da mistura 20PE+80PRP.<br />
4.3.3. Proprieda<strong>de</strong>s viscolásticas <strong>das</strong> emulsões<br />
Na Figura seguinte (figura 19) po<strong>de</strong> avaliar-se os varrimentos <strong>de</strong> tensão <strong>das</strong> emulsões a pH 7<br />
em função <strong>das</strong> diferentes proporcões mássicas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha e proteína recuperada <strong>de</strong><br />
pescada.<br />
1,0E+04<br />
1,0E+03<br />
1,0E+02<br />
1,0E+01<br />
1,0E+00<br />
1,0E-01<br />
1,0E-02<br />
1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02 1,0E+03 1,0E+04<br />
t (Pa)<br />
G' 100PE G' 100PE G'' 80PE+20PRP G'' 80PE+20PRP G' 50PE+50PRP G'' 50PE+50PRP<br />
G' 20PE+80PRP G'' 20PE+80PRP G' 100PRP G'' 100PRP<br />
Figura 19 - Varrimentos <strong>de</strong> tensão <strong>das</strong> emulsões a pH 7 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Em to<strong>das</strong> as misturas, o intervalo <strong>de</strong> tensões no qual os módulos <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> dissipação<br />
são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da tensão aplicada (zona <strong>de</strong> viscoelasticida<strong>de</strong> linear) situa-se sensivelmente<br />
entre os 0,5 e 10 Pa e, como tal, <strong>de</strong>ste último valor, qualquer tensão aplicada po<strong>de</strong>rá<br />
eventualmente provocar uma ruptura da estrutura interna do material. O comportamento<br />
47
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
viscoelástico linear que estas emulsões apresentam é semelhante ao comportamento caraterístico<br />
<strong>das</strong> emulsões flocula<strong>das</strong> (Franco et al, 1997; Franco et al, 1998a; Raymundo et al, 2002).<br />
Na figura seguinte (figura 20) estão representados os espetros mecânicos <strong>das</strong> 5 misturas dos<br />
dois tipos <strong>de</strong> proteína. Os espectros mecânicos apresentados na figura anterior mostram que as<br />
amostras <strong>das</strong> misturas 50PE+50PRP e 20PE+80PRP são as emulsões mais estrutura<strong>das</strong><br />
apresentando valores <strong>de</strong> G’e G’’ mais elevados que as restantes. Parece existir um efeito<br />
sinergético nestas duas misturas o que leva à estabilização da estrutura. Em todos os casos, G’ ><br />
G’’, isto é, to<strong>das</strong> as amostras apresentam sistemas estruturados com a componente elástica<br />
superior à componente viscosa. To<strong>das</strong> estas emulsões apresentam espetros mecânicos típicos <strong>de</strong><br />
emulsões proteicas estabiliza<strong>das</strong> nas quais uma re<strong>de</strong> proteica é <strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong>vido à ocorrência<br />
<strong>de</strong> um extenso processo <strong>de</strong> floculação em ponte (Franco et al., 1998a). De acordo com os<br />
resultados obtidos a mistura 100PE é a mistura que dá origem a emulsões menos estrutura<strong>das</strong>,<br />
uma vez que apresenta valores <strong>de</strong> G’ e G’’ mais baixos que as restantes.<br />
1,0E+04<br />
1,0E+03<br />
1,0E+02<br />
1,0E+01<br />
1,0E+00<br />
1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02<br />
f (Hz)<br />
G' 100PE G'' 100PE G' 80PE+20PRP G'' 80PE+20PRP G' 50PE+50PRP G'' 50PE+50PRP<br />
G' 20PE+80PRP G'' 20PE+80PRP G' 100PRP G'' 100PRP<br />
Figura 20 - Espetros mecânicos <strong>das</strong> emulsões a pH 7 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
48
Eta (Pa.s)<br />
Resultados e discussão<br />
Raymundo et al. (2005) estudaram as <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> reológicas e <strong>de</strong> textura <strong>de</strong> emulsões<br />
prepara<strong>das</strong> com proteínas <strong>de</strong> ervilha. Neste estudo apresentam um espectro mecânico com<br />
comportamento dos módulos viscoelásticos semelhante, uma vez que o valor <strong>de</strong> G’ é sempre<br />
superior ao valor <strong>de</strong> G’’ na faixa <strong>de</strong> frequência utilizada e a evolução do valor do módulo <strong>de</strong><br />
conservação com a frequência mostra uma tendência para o <strong>de</strong>senvolvimento da região <strong>de</strong><br />
plateau.<br />
1,0E+06<br />
1,0E+05<br />
1,0E+04<br />
1,0E+03<br />
1,0E+02<br />
1,0E+01<br />
1,0E+00<br />
1,0E-01<br />
1,0E-06 1,0E-05 1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02 1,0E+03 1,0E+04<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação (s -1 )<br />
Eta 100PE Eta 80PE+20PRP Eta 50PE+50PRP Eta 20PE+80PRP Eta 100PRP<br />
Figura 21 - Curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões a pH 7 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Na figura 21 são apresenta<strong>das</strong> as curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> obti<strong>das</strong> paras as emulsões<br />
correspon<strong>de</strong>ntes às cinco misturas <strong>de</strong> proteínas. To<strong>das</strong> as emulsões estuda<strong>das</strong> apresentam um<br />
comportamento reofluidificante, isto é, para baixas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação observa-se uma zona<br />
Newtoniana (Ƞ 0 ), enquanto que para taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação eleva<strong>das</strong>, a viscosida<strong>de</strong> aparente<br />
diminui à medida que a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação aumenta.<br />
O mo<strong>de</strong>lo Carreau é o mo<strong>de</strong>lo mais a<strong>de</strong>quado para <strong>de</strong>screver o comportamento reológico dos<br />
polissacáridos e como tal foi este o mo<strong>de</strong>lo utilizado neste trabalho prático (Raymundo, 1999).<br />
É caraterizado pela seguinte equação:<br />
Ƞ ap = Ƞ ∞ + (Ƞ 0 - Ƞ ∞ )/<br />
1 +<br />
,<br />
2<br />
s<br />
c<br />
49
Eta0 (Pa.s)<br />
Resultados e discussão<br />
On<strong>de</strong> Ƞ ap é a viscosida<strong>de</strong> aparente, Ƞ 0 a viscosida<strong>de</strong> limite Newtoniana para taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação<br />
nula, Ƞ ∞ a viscosida<strong>de</strong> limite para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação infinita, c o valor da taxa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>formação crítica e “s” um parâmetro adimensional relacionado com a zona intermédia e dado<br />
pelo <strong>de</strong>clive da zona reofluidificante.<br />
O mo<strong>de</strong>lo foi ajustado às curvas experimentais e a partir <strong>de</strong>sse ajuste obteve-se o parâmetreo<br />
ETA 0 (viscosida<strong>de</strong> limite para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula) para as diferentes misturas em estudo.<br />
Na figura seguinte (figura 22) estão representa<strong>das</strong> as viscosida<strong>de</strong>s limite Newtoniana para a taxa<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula <strong>das</strong> emulsões a pH 7 correspon<strong>de</strong>ntes às misturas <strong>de</strong> 100PE, 80PE+20PRP,<br />
50PE+50PRP, 20PE+80PRP, 100PRP.<br />
8,0E+05<br />
6,0E+05<br />
bc<br />
c<br />
4,0E+05<br />
2,0E+05<br />
a<br />
a<br />
ab<br />
0,0E+00<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 22 - Viscosida<strong>de</strong> limite Newtoniana para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula <strong>das</strong> emulsões a pH 7<br />
obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05)<br />
As emulsões <strong>das</strong> misturas 20PE+80PRP e 50PR+50PRP são as que apresentam os valores <strong>de</strong><br />
viscosida<strong>de</strong> limite Newtoniana para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula significativamente mais elevados<br />
(p < 0,05).<br />
50
Resultados e discussão<br />
4.4. Emulsões <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> pescada e proteína <strong>de</strong> ervilha a pH 3,8<br />
4.4.1. Caraterização da cor <strong>das</strong> emulsões<br />
Na tabela 4 estão representa<strong>das</strong> as coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> <strong>de</strong> cor, L*, a* e b* <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8<br />
prepara<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha e proteína recuperada <strong>de</strong> pescada<br />
estuda<strong>das</strong>.<br />
Tabela 4 - Determinação instrumental da cor – Coor<strong>de</strong>na<strong>das</strong> L*, a* e b* <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8<br />
prepara<strong>das</strong> com as seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP;<br />
100PRP. Valores na mesma coluna com letras diferentes significam médias estatisticamente<br />
diferentes (p < 0,05).<br />
L* a* b*<br />
100PE 81,53 ± 0,41 b -0,37 ± 0,12 d 10,89 ± 0,22 e<br />
80PE+20PRP 73,95 ± 2,92 a -0,51 ± 0,05 b 10,56 ± 0,02 c<br />
50PE+50PRP 82,39 ± 0,08 c -0,44 ± 0,05 c 10,72 ± 0,18 d<br />
20PE+80PRP 84,89 ± 0,89 d -0,87 ± 0,01 a 8,69 ± 0,37 b<br />
100PRP 84,53 ± 1,39 d -0,95 ± 0,14 a 7,90 ± 0,18 a<br />
Verifica-se que as 5 emulsões <strong>das</strong> diferentes misturas em estudo neste trabalho prático<br />
apresentam um valor <strong>de</strong> L* elevado, encontrando-se no intervalo <strong>de</strong> 73 a 85. Como tal to<strong>das</strong> as<br />
emulsões a pH 3,8 apresentam uma tonalida<strong>de</strong> bastante clara, sendo a emulsão reparada com a<br />
mistura 20PE+80PRP a mais clara (84,89 ± 0,89). Para além disso, to<strong>das</strong> as 5 emulsões<br />
apresentam valores negativos <strong>de</strong> a*, variando este parâmetro entre -0,37 e -0,95, o que significa<br />
que as emulsões em estudo apresentam uma tonalida<strong>de</strong> ligeiramente avermelhada. As emulsões<br />
prepara<strong>das</strong> com as misturas 100PRP e 20PE+80PRP são significativamente mais avermelha<strong>das</strong><br />
(p < 0,05) do que as restantes.<br />
Analisando a componente b*, observa-se que as 5 emulsões prepara<strong>das</strong> com as diferentes<br />
misturas em estudo neste trabalho apresentam uma tonalida<strong>de</strong> amarelada. Das 5 emulsões, a<br />
emulsão correspon<strong>de</strong>nte à mistura 100PE é a que apresenta uma tonalida<strong>de</strong> significativamente<br />
mais amarelada (p < 0.05). Verifica-se ainda que que to<strong>das</strong> as emulsões obti<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> 5<br />
diferentes misturas são significativamente diferentes (p
W<br />
Resultados e discussão<br />
100<br />
80<br />
b<br />
a<br />
c d d<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 23 - Valores da brancura <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 prepara<strong>das</strong> com as misturas 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras diferentes significam médias<br />
estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
Por observação da figura anterior, verifica-se que o valor da brancura <strong>de</strong> to<strong>das</strong> as emulsões é<br />
elevado. As emulsões correspon<strong>de</strong>ntes às misturas <strong>de</strong> 20PE+80PRP (82,54 ± 0,95) e 100PRP<br />
(82,59 ± 1,14) são significativamente mais esbranquiça<strong>das</strong> (p < 0,05) que as restantes.<br />
4.4.2. Textura <strong>das</strong> emulsões<br />
A figura 24 apresenta os valores da firmeza e a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões em estudo neste<br />
trabalho. As emulsões <strong>das</strong> misturas 20PE+80PRP e 100PRP apresentam um valor <strong>de</strong> firmeza e<br />
<strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> significativamente superior às prepara<strong>das</strong> só com PE, com 20% e 50 % <strong>de</strong> PE.<br />
Em oposição, as emulsões que apresentam um valor <strong>de</strong> firmeza e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong><br />
significativamente mais baixo (p < 0,05) são as emulsões prepara<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> mistura<br />
80PE+20PRP e 100PE.<br />
52
A<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (N.s)<br />
Firmeza (N)<br />
Resultados e discussão<br />
1,00<br />
0,80<br />
0,60<br />
0,40<br />
0,20<br />
ab<br />
a<br />
b<br />
c<br />
c<br />
0,00<br />
100 PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
(a)<br />
2,00<br />
1,50<br />
1,00<br />
0,50<br />
0,00<br />
ab<br />
a<br />
bc<br />
c<br />
c<br />
(b)<br />
100 PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 24 - Valores <strong>de</strong> firmeza (a) e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sevida<strong>de</strong> (b) <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong><br />
seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP. Letras<br />
diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
Batista et al. (2006) estudaram o efeito da adição <strong>de</strong> pigmentos naturais, nomeadamente luteína<br />
e ficocianina, em emulsões estabiliza<strong>das</strong> <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha. Estes autores obtiveram valores<br />
<strong>de</strong> firmeza para as diferentes concentrações <strong>de</strong> luteína adiciona<strong>das</strong> bastante superiores aos<br />
valores <strong>de</strong> firmeza <strong>de</strong> qualquer uma <strong>das</strong> misturas que contêm PE.<br />
53
G' ;G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
4.4.3. Proprieda<strong>de</strong>s viscoelásticas <strong>das</strong> emulsões<br />
A partir da Figura 25 po<strong>de</strong> avaliar-se os varrimentos <strong>de</strong> tensão <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 em função<br />
<strong>das</strong> diferentes proporcões mássicas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha e proteína recuperada <strong>de</strong> pescada.<br />
1,0E+04<br />
1,0E+03<br />
1,0E+02<br />
1,0E+01<br />
1,0E+00<br />
1,0E-01<br />
1,0E-02<br />
1,0E-03<br />
1,0E-04<br />
1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02 1,0E+03 1,0E+04<br />
t (Pa)<br />
G' 100PE G'' 100PE G' 80PE+20PRP G'' 80PE+20PRP G' 50PE+50PRP<br />
G'' 50PE+50PRP G' 20PE+80PRP G'' 20PE+80PRP G' 100PRP G'' 100PRP<br />
Figura 25 - Varrimentos <strong>de</strong> tensão <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas:<br />
100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Como se po<strong>de</strong> observar na figura anterior o intervalo <strong>de</strong> tensões no qual os módulos <strong>de</strong><br />
conservação e <strong>de</strong> dissipação são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da tensão aplicada (zona <strong>de</strong> viscoelasticida<strong>de</strong><br />
linear) situa-se sensivelmente entre os 0,5 e 10 Pa e, como tal, a partir <strong>de</strong>ste último valor,<br />
qualquer tensão aplicada po<strong>de</strong>rá eventualmente provocar uma ruptura da estrutura interna do<br />
material. O mesmo acontece com as emulsões prepara<strong>das</strong> a pH 7, o que significa que o ajuste do<br />
pH a um valor mais ácido não afeta a zona <strong>de</strong> viscoelasticida<strong>de</strong> linear.<br />
54
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
1,0E+04<br />
1,0E+03<br />
1,0E+02<br />
1,0E+01<br />
1,0E+00<br />
1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02<br />
f (Hz)<br />
G' 100PE G'' 100PE G' 80PE+20PRP G'' 80PE+20PRP G' 50PE+50PRP<br />
G''' 50PE+50RPRP G' 20PE+80PRP G'' 20PE+80PRP G' 100PRP G'' 100PRP<br />
Figura 26 - Espetros mecânicos <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE;<br />
80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Na figura 26 estão representados os espetros mecânicos <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 prepara<strong>das</strong> a<br />
partir <strong>das</strong> cinco diferentes misturas em estudo. Pela observação dos espetros mecânicos<br />
presentes nesta figura, constata-se que a este pH o efeito sinergético <strong>de</strong>stas duas proteínas não é<br />
tão evi<strong>de</strong>nte como a pH 7, uma vez que o espetro mecânico da mistura 100PRP é idêntico ao<br />
<strong>das</strong> misturas 20PE+80PRP e 50PE+50PRP. Em todos os casos, G’ > G’’, isto é, to<strong>das</strong> as<br />
amostras apresentam sistemas estruturados com a componente elástica superior à componente<br />
viscosa. Estas emulsões apresentam espetros mecânicos típicos <strong>de</strong> emulsões proteicas estáveis<br />
nas quais ocorre um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> elástica <strong>de</strong>vido à ocorrência <strong>de</strong> um processo<br />
<strong>de</strong> floculação. Estes resultados são semelhantes aos resultados obtidos com as emulsões a pH 7,<br />
o que é positivo para este trabalho prático, uma vez que o objetivo é que as emulsões a pH 3,8<br />
tenham <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> viscoelásticas semelhantes às <strong>das</strong> emulsóes a pH 7, na medida em que os<br />
molhos para sala<strong>das</strong> apresentam um pH <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3,8 como já foi dito anteriormente.<br />
55
G'; G'' (Pa)<br />
Resultados e discussão<br />
1,0E+06<br />
1,0E+05<br />
1,0E+04<br />
1,0E+03<br />
1,0E+02<br />
1,0E+01<br />
1,0E+00<br />
1,0E-01<br />
1,0E-06 1,0E-05 1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00 1,0E+01 1,0E+02 1,0E+03 1,0E+04<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação (s -1 )<br />
Eta 100PE Eta 80PE+20PRP Eta 50PE+50PRP Eta 20PE+80PRP Eta 100PRP<br />
Figura 27 - Curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas:<br />
100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP; 100PRP.<br />
Na figura anterior (figura 27) estão respresenta<strong>das</strong> as curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões a pH<br />
3,8 obti<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> cinco misturas. Tal como as curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões a pH 7,<br />
as curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 representa<strong>das</strong> na figura 27 apresentam um<br />
comportamento reofluidificante. Constate-se, assim, que a mudança <strong>de</strong> pH <strong>das</strong> emulsões para<br />
3,8 não afeta o comportamento <strong>das</strong> curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong>.<br />
Na figura seguinte (figura 28) estão representa<strong>das</strong> as viscosida<strong>de</strong>s limite Newtoniana (Ƞ 0 ) para a<br />
taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula <strong>das</strong> emulsões a pH 3,8 correspon<strong>de</strong>ntes às misturas <strong>de</strong> 100PE,<br />
80PE+20PRP, 50PE+50PRP, 20PE+80PRP, 100PRP.<br />
56
Eta0 (Pa.s)<br />
Resultados e discussão<br />
4,0E+05<br />
c<br />
3,0E+05<br />
bc<br />
2,0E+05<br />
1,0E+05<br />
a<br />
a<br />
ab<br />
0,0E+00<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
Figura 28 - Viscosida<strong>de</strong> limite Newtoniana para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação nula <strong>das</strong> emulsões a pH<br />
3,8 obti<strong>das</strong> <strong>das</strong> seguintes misturas: 100PE; 80PE+20PRP; 50PE+50PRP; 20PE+80PRP;<br />
100PRP. Letras diferentes significam médias estatisticamente diferentes (p < 0,05).<br />
Verifica-se que as emulsões <strong>das</strong> misturas 100PRP e 20PE+80PRP são as que apresentam<br />
valores <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong> limite Newtoniana significativamente maiores (p < 0,05) e como tal estas<br />
três misturas possuem uma maior consistência. Este parâmetro representa a viscosida<strong>de</strong> quando<br />
a estrutura interna não é danificada pela tensão aplicada e me<strong>de</strong> a resistência máxima, a partir da<br />
qual o sistema começa a fluir (Raymundo et al., 2005).<br />
4.4.4. Módulo plateau <strong>das</strong> emulsões a pH 7 e a pH 3,8<br />
Um parâmetro caraterístico <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> emulsões é o módulo plateau, G 0 N, que traduz a<br />
contribuição dos entrelaçamentos entre os filmes proteicos que revestem as gotas para a<br />
estrutura do sistema, correspon<strong>de</strong>ndo ao valor do módulo elástico obtido quando a tanδ atinge<br />
um mínimo. Em termos <strong>de</strong> Ciência <strong>de</strong> Polímeros, o módulo plateau tem sido relacionado com a<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> dos entrelaçamentos que se <strong>de</strong>senvolvem entre as moléculas poliméricas. Por<br />
anologia, no estudo <strong>das</strong> emulsões, este parâmetro (G 0 N) tem sido relacionado com a formação <strong>de</strong><br />
uma malha <strong>de</strong> entrelaçamentos entre as moléculas proteicas adsorvi<strong>das</strong> e não adsorvi<strong>das</strong> na<br />
interface, resultante <strong>de</strong> uma extensa floculação <strong>das</strong> gotas <strong>de</strong> óleo (Raymundo, 1999). O módulo<br />
plateau po<strong>de</strong> ser facilmente estimado, a partir do valor <strong>de</strong> G’, para o qual tanδ (G’’/G’)<br />
apresenta um valor mínimo, ou seja:<br />
57
Resultados e discussão<br />
3000<br />
2500<br />
y<br />
y<br />
y<br />
G 0 N<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
a<br />
x<br />
ab<br />
x<br />
bc<br />
c<br />
ab<br />
0<br />
100PE<br />
80PE+20PRP<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
100PRP<br />
pH7 pH 3,8<br />
Figura 29 - Valores <strong>de</strong> G 0 N <strong>das</strong> emulsões a pH7 e a pH 3,8, <strong>das</strong> 5 misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha<br />
e proteína recuperada <strong>de</strong> pescada em estudo.<br />
Na figura 29 estão apresentados os valores <strong>de</strong> G 0 N <strong>das</strong> emulsões a pH 7 e a pH 3,8 <strong>das</strong> 5<br />
misturas <strong>de</strong> PE e PRP.<br />
Da análise dos resultados relativos ao pH 7, constata-se que parece não existir nenhuma relação<br />
entre a percentagem <strong>de</strong> PE e os valores <strong>de</strong> G 0 N.<br />
A pH 3,8 verifica-se que à medida que a percentagem <strong>de</strong> PE aumenta, os valores <strong>de</strong> aumentam<br />
G 0 N igualmente. Contudo, as misturas 50PE+50PRP, 20PE+80PRP e 100PRP não apresentam<br />
valores <strong>de</strong> G 0 N significativamente diferentes (p ≥ 0,05), o que significa que a partir da mistura<br />
50PE+50PRP <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ocorrer um aumento significativo do valor <strong>de</strong> G 0 N.<br />
Como se po<strong>de</strong> observar na figura 29, os valores <strong>de</strong> G 0 N vão aumentando à medida que a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PRP na proporção da mistura vai aumentando, para o pH a 3,8. Resultados<br />
semelhantes foram obtidos por outros autores como Pires et al. (2012), cujos verificaram que os<br />
valores <strong>de</strong> G 0 N também aumentavam com o aumento do teor <strong>de</strong> proteína recuperada seca <strong>de</strong><br />
pescada utilizado na preparação <strong>das</strong> emulsões. Este comportamento po<strong>de</strong> ser explicado pelo<br />
aumento da viscosida<strong>de</strong> da fase contínua da emulsão. A possível interação da proteína <strong>de</strong><br />
ervilha e da proteína recuperada <strong>de</strong> pescada po<strong>de</strong> também contribuir para o reforço da estrutura<br />
58
Resultados e discussão<br />
da emulsão através da formação <strong>de</strong> entrelaçamentos físicos (Raymundo et al., 2005; Pires et al.,<br />
2012).<br />
4.5. Análise sensorial dos “molhos para salada”<br />
A figura seguinte (figura 30) apresenta a intensida<strong>de</strong> dos atributos do cheiro avaliados para os<br />
molhos preparados com as misturas <strong>de</strong> proteínas 50PE+50PRP e 20PE+80PRP.<br />
Ranço<br />
10<br />
Estranho<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
Vinagre<br />
Especiarias<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
Figura 30 - Atributos do cheiro dos dois tipos <strong>de</strong> emulsões: 50 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 50 % <strong>de</strong><br />
proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRP); 20 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 80 % <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRP).<br />
Como se po<strong>de</strong> verificar os provadores caraterizam a amostra 50PE+50PRP como sendo uma<br />
amostra que apresenta um cheiro mais avinagrado do que a amostra 20PE+80PRP.<br />
Relativamente à amostra 20PE+80PRP, esta manifesta um cheiro a especiarias mais intenso do<br />
que a amostra 50PE+50PRP. Quer na amostra 50PE+50PRP como na amostra 20PE+80PRP os<br />
provadores não i<strong>de</strong>ntificaram a presença <strong>de</strong> nenhum cheiro estranho. No que diz respeito a estes<br />
4 atributos não se verificam diferenças significativas (p ≥ 0.05) entre os molhos preparados com<br />
50PE+50PRP e 20PE+80PRP.<br />
Na figura seguinte (figura 31) são apresentados os atributos da textura e <strong>de</strong> aspecto dos dois<br />
tipos <strong>de</strong> emulsões avaliados na prova sensorial.<br />
59
Resultados e discussão<br />
Cor<br />
Consistência<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
Espalhabilida<strong>de</strong><br />
Granulosida<strong>de</strong><br />
A<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong><br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
Figura 31 - Atributos da textura e <strong>de</strong> aspecto dos dois tipos <strong>de</strong> emulsões: 50 % proteína <strong>de</strong><br />
ervilha e 50 % <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRP); 20 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 80<br />
% <strong>de</strong> proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRP).<br />
Por observação da figura 31, verifica-se que quer o molho preparado com a mistura<br />
50PE+80PRP, quer o preparado com a mistura 20PE+80PRP apresentam uma boa<br />
espalhabilida<strong>de</strong> (com uma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 8,5), a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (com uma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> 7) e uma cor típica <strong>de</strong>stes produtos (com uma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 9).O molho da<br />
mistura 50PE+80PRP foi consi<strong>de</strong>rado ligeiramente mais consistente que o da mistura<br />
20PE+80PRP (mas ambas no intervalo <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 3 a 5) e esta última apresenta uma<br />
alguma granulosida<strong>de</strong> (com uma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2). Contudo, o molho preparado com a<br />
mistura 50PE+50PRP não é significativamente diferente (p ≥ 0,05) do molho preparado com<br />
20PE+80PRP para todos os atributos avaliados.<br />
60
Intensida<strong>de</strong><br />
Resultados e discussão<br />
Estranho<br />
Ácido<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
Salgado<br />
Especiarias<br />
50PE+50PRP<br />
20PE+80PRP<br />
Figura 32 - Atributos do sabor dos dois tipos <strong>de</strong> emulsões: 50 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 50 % <strong>de</strong><br />
proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (50PE+50PRP); 20 % proteína <strong>de</strong> ervilha e 80 % <strong>de</strong> proteína<br />
recuperada <strong>de</strong> pescada (20PE+80PRP).<br />
Na figura anterior (figura 32) apresentam-se os resultados relativos aos atributos do sabor dos<br />
dois molhos em estudo. Os provadores caraterizam ambos os molhos como tendo um sabor a<br />
salgado com uma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 4 e um sabor a ácido com uma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />
7,5. Caracterizam igualmente o molho 20PE+80PRP como um sabor a especiarias mais intenso<br />
do que o preparado com a mistura 50PE+50PRP. Contudo analisando estatisticamente estes 4<br />
atributos do sabor, o molho 50PE+50PRP não é significativamente diferente (p ≥ 0,05) do <strong>de</strong><br />
20PE+80PRP, relativamente a todos eles.<br />
A apreciação global do conjunto <strong>de</strong> provadores utilizado é apresentado na figura 33.<br />
Apreciação global<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
A<br />
Amostra<br />
B<br />
Figura 33 - Apreciação global do painel <strong>de</strong> provadores, numa escala <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 a 10.<br />
61
Resultados e discussão<br />
Como se po<strong>de</strong> observar na figura 33 verifica-se que relativamente à apreciação global dos<br />
provadores, a amostra 50PE+50PRP (A) não é significativamente diferente (p ≥ 0,05) da<br />
amostra 20PE+80PRP (B). Ambas as amostras foram avalia<strong>das</strong> com uma intensida<strong>de</strong> entre 5 e<br />
6.<br />
Figura 34 - Preferência do painel <strong>de</strong> provadores pela amostra A ou amostra B<br />
A figura 34 representa a percentagem <strong>de</strong> preferência pelos molhos em estudo neste trabalho. Do<br />
conjunto <strong>de</strong> provadores 58,3 % prefere a amostra B, 16,7 % prefere a amostra A e 25,0 % não<br />
tem preferência por nenhuma <strong>das</strong> amostras.<br />
62
Conclusão<br />
5. CONCLUSÃO<br />
Neste trabalho prático recuperaram-se as proteínas existente nos subprodutos <strong>de</strong> pescada-do-<br />
Cabo <strong>de</strong> modo a valorizar os mesmos. Esta recuperação proteica foi realizada com sucesso por<br />
solubilização proteica. A posterior liofilização levou à obtenção <strong>de</strong> proteínas recupera<strong>das</strong> <strong>de</strong><br />
pescada secas com valores <strong>de</strong> proteína brutal/proteína total, matéria gorda livre, humida<strong>de</strong> e<br />
cinza total interessantes na sua utilização neste estudo prático.<br />
A análise da textura dos géis <strong>das</strong> misturas dos géis <strong>das</strong> misturas <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha (PE) e<br />
proteína recuperada <strong>de</strong> pescada (PRP) permitiu verificar que estes géis apresentam valores <strong>de</strong><br />
firmeza cada vez menores à medida que a percentagem <strong>de</strong> PRP na mistura diminui (ou a<br />
percentagem <strong>de</strong> PE aumenta). Este facto permitiu concluir que a adição <strong>de</strong> PE prejudica a<br />
firmeza dos géis resultantes. Estes resultados mostram que a PE po<strong>de</strong> funcionar como um<br />
agente perturbador <strong>de</strong> gelificação nestas misturas, prejudicando <strong>de</strong>ste modo a re<strong>de</strong> proteica<br />
formada pelas proteínas <strong>de</strong> pescada. Outro motivo para esta diminuição dos valores <strong>de</strong> firmeza<br />
com o aumento do teor <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> ervilha é o facto <strong>de</strong> estes dois diferentes tipos <strong>de</strong> proteínas<br />
pu<strong>de</strong>rem formar re<strong>de</strong>s proteicas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e termodinamicamente incompatíveis.<br />
Através da avaliação <strong>das</strong> <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> viscoelásticas dos géis resultantes <strong>das</strong> misturas concluise<br />
que os géis <strong>de</strong> to<strong>das</strong> as cinco diferentes misturas estão praticamente formados no final do 1º<br />
arrefecimento. A avaliação <strong>das</strong> cinéticas <strong>de</strong> maturação permite concluir que o teor <strong>de</strong> proteína<br />
<strong>das</strong> PRP utilizado neste trabalho foi um pouco elevado, uma vez que os géis <strong>das</strong> misturas que<br />
contêm PRP (80PRP+20PE, 50PRP+50PE, 20PE+80PRP) atingiram a maturação completa nos<br />
primeiros min da etapa da maturação. Ao longo do resto do tempo da maturação, os valores <strong>de</strong><br />
G’ e G’’ permanecem praticamente constantes. Relativamente aos espetros mecânicos, estes<br />
permitem concluir que os géis <strong>das</strong> cinco misturas são caraterizados como géis fracos e à medida<br />
que a percentagem <strong>de</strong> PRP na mistura é maior, os géis resultantes apresentavam uma maior<br />
estruturação, uma vez que os valores dos módulos <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> dissipação são cada vez<br />
mais elevados.<br />
A avaliação <strong>das</strong> <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> viscoelásticas <strong>das</strong> emulsões prepara<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> cinco<br />
diferentes misturas mostram que a mudança <strong>de</strong> pH <strong>de</strong> 7 para 3,8 não alterou a zona <strong>de</strong><br />
viscoelasticida<strong>de</strong> linear nem o comportamento <strong>das</strong> curvas <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong>, que em ambos os<br />
casos em to<strong>das</strong> as misturas apresentam um comportamento reofluidificante. Contudo, a análise<br />
<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação limite, permite concluir que a pH 7 a emulsão que apresenta uma<br />
maior velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação limite correspon<strong>de</strong> à mistura 20PE+80PRP, enquanto que a pH<br />
3,8 correspon<strong>de</strong> à mistura 100PRP. To<strong>das</strong> estas emulsões (quer a pH 7 ou a pH 3,8) apresentam<br />
espetros mecânicos típicos <strong>de</strong> emulsões proteicas estabiliza<strong>das</strong> nas quais uma re<strong>de</strong> proteica é<br />
<strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong>vido à ocorrência <strong>de</strong> um extenso processo <strong>de</strong> floculação em ponte e em que o<br />
63
Conclusão<br />
módulo <strong>de</strong> conservação (G’) é sempre superior que o módulo <strong>de</strong> dissipação (G’’) na faixa <strong>de</strong><br />
frequência estudada.<br />
Uma vez que um dos objetivos <strong>de</strong>ste trabalho é <strong>de</strong>senvolver e caraterizar sensorialmente um<br />
inovador “molho para salada”, conclui-se que as emulsões a pH 3,8 (pH <strong>das</strong> maioneses<br />
comerciais) que apresentavam valores <strong>de</strong> textura e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> semelhantes aos <strong>das</strong><br />
maioneses comerciais são as emulsões correspon<strong>de</strong>ntes às misturas 50PE+50PRP e<br />
20PE+80PRP. Por este motivo, estas foram estas emulsões as escolhi<strong>das</strong> para <strong>de</strong>senvolver o<br />
“molho para salada”. Por análise <strong>das</strong> respostas da<strong>das</strong> pelo painel <strong>de</strong> provadores utilizado à<br />
pergunta “ Qual a amostra que prefere”, conclui-se que 58,3 % prefere correspon<strong>de</strong>nte à mistura<br />
20PE+80PRP, 16,7 % prefere a amostra correpon<strong>de</strong>nte à mistura 50PE+50PRP e 25,0 % não<br />
tem preferência por nenhuma <strong>das</strong> amostras.<br />
Aten<strong>de</strong>ndo aos resultados relativos à caraterização <strong>das</strong> <strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> cor, textura e <strong>das</strong><br />
<strong>proprieda<strong>de</strong>s</strong> viscoelásticas é possível propor outros estudos para complementar os resultados<br />
obtidos, como o estudo <strong>de</strong>stes mesmos parâmetros em géis preparados a partir <strong>de</strong> PRP com um<br />
teor <strong>de</strong> proteína mais baixo. Seria igualmente bastante interessante analisar posteriormente a<br />
distribuição do tamanho <strong>de</strong> gota <strong>das</strong> emulsões obti<strong>das</strong> a partir <strong>das</strong> 5 diferentes misturas <strong>de</strong><br />
proteínas. Para melhor compreen<strong>de</strong>r a relação/sinergia entre os dois tipos <strong>de</strong> proteína estudados<br />
neste trabalho (PE e PRP) na formação dos géis e <strong>das</strong> emulsões, a utilização da técnica <strong>de</strong><br />
microscopia confocal por varrimento laser num estudo posterior, seria fundamental para<br />
completar os resultados dos parâmetros <strong>de</strong> cor, textura e reologia obtidos neste trabalho prático.<br />
64
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69
ANEXOS<br />
70
Anexos<br />
Anexo I – Diagrama da recuperação proteica por solubilização alcalina<br />
Restos <strong>de</strong> pescada (Serradura)<br />
Homogeneização (1 Serradura: 9 H 2 O)<br />
Solubilização Alcalina - Ajuste pH 11,0 (NaOH 2M)<br />
Centrifugação (Centrifuga continua)<br />
Proteínas solubiliza<strong>das</strong><br />
Precipitação - Ajuste pH 5,5 (HCL 2M)<br />
Centrifugação (Centrifuga continua)<br />
Isolado proteico<br />
Secagem (Liofilização)<br />
Proteínas recupera<strong>das</strong> secas<br />
71
Anexos<br />
Anexo II – Folha <strong>de</strong> prova <strong>de</strong> avaliação sensorial (“Molhos para sala<strong>das</strong>”)<br />
FOLHA DE PROVA (Molhos para sala<strong>das</strong>)<br />
Nome:…………………………………………………………..…. Data: ……………..…….<br />
Código:……………..…………..<br />
ASPETO<br />
Cor<br />
Atípico<br />
Típico<br />
CHEIRO<br />
Ranço<br />
Ausente<br />
Muito intenso<br />
Vinagre<br />
Ausente<br />
Muito intenso<br />
Especiarias<br />
Ausente<br />
Muito intenso<br />
Estranho<br />
Ausente<br />
(Típico)<br />
Muito intenso<br />
(Atípico)<br />
TEXTURA<br />
Consistência<br />
Mole (muito fluída)<br />
Dura (muito consistente)<br />
72
Anexos<br />
Espalhabilida<strong>de</strong><br />
Difícil <strong>de</strong> espalhar<br />
Fácil <strong>de</strong> espalhar<br />
A<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong><br />
Pouco a<strong>de</strong>sivo<br />
Muito a<strong>de</strong>sivo<br />
Granulosida<strong>de</strong><br />
Sem grânulos<br />
Com muitos grânulos<br />
SABOR<br />
Ácido<br />
Ausente<br />
Muito intenso<br />
Salgado<br />
Ausente<br />
Muito intenso<br />
Especiarias<br />
Ausente<br />
Muito intenso<br />
Estranho<br />
Ausente<br />
(Típico)<br />
Muito intenso<br />
(Atípico)<br />
APRECIAÇÃO GLOBAL<br />
Péssimo<br />
Muito bom<br />
73
Anexos<br />
Qual a amostra que prefere?<br />
A____ B____ Nenhuma____<br />
Observações<br />
Muito obrigado pela sua colaboração!<br />
74
Anexos<br />
Anexo III – Fotografias da prova <strong>de</strong> avaliação sensorial<br />
Figura 35 - Amostra B - emulsão da mistura 20PE+80PRP e amostra A- emulsão da mistura<br />
50PE+50PRP.<br />
Figura 36 - Mesa <strong>de</strong> prova sensorial<br />
Figura 37 - Painel <strong>de</strong> provadores durante a prova sensorial<br />
75