Algumas considerações sobre a metapsicologia da melancolia, sua ...
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escritos se encontram: o ar sombrio, a sonolência, o olhar vago. Aspectos esses que Lambotte<br />
(2000) aproxima <strong>da</strong> acedia, termo que remete a <strong>melancolia</strong> ao discurso religioso.<br />
Primeiramente ti<strong>da</strong> como uma aversão às coisas de Deus, uma má vontade no cumprimento dos<br />
deveres religiosos, a acedia será concebi<strong>da</strong> também como preguiça ou ócio, último dos pecados<br />
capitais.<br />
Na Renascença, é evoca<strong>da</strong> a noção <strong>da</strong> <strong>melancolia</strong> liga<strong>da</strong> ao esvaziamento do eu,<br />
trazi<strong>da</strong> novamente séculos depois por Freud, conforme veremos mais adiante (Lambotte, 2000).<br />
O quadro de Albrecht Dürer, Melencholia § I(1514), artista renascentista alemão,<br />
representa uma figura alegórica alvo de muitos estudos “ícono-simbólicos”. A personagem<br />
central se encontra, com olhar vago ao longe, mãos apoiando a cabeça e senta<strong>da</strong> ao meio de<br />
inúmeras ferramentas torna<strong>da</strong>s inúteis ao chão. E. Panofsky (1971) descreve a gravura tratando<br />
<strong>da</strong> <strong>melancolia</strong> a partir <strong>da</strong> idéia do encontro com o absurdo que mais tarde será trabalha<strong>da</strong> por<br />
outros autores: “<strong>sua</strong> <strong>melancolia</strong> não é nem uma miséria, nem um caso mental, mas um pensador<br />
na perplexi<strong>da</strong>de. Ela não está dirigi<strong>da</strong> para um objeto que não existiria, mas para um problema<br />
que não pode ser resolvido.” (E. Panofsky,1971 apud Lambotte 2000:24). Outra obra alvo de<br />
muitos estudos no que diz respeito à <strong>melancolia</strong>, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de aproxima<strong>da</strong>mente um século mais<br />
tarde, traz uma varie<strong>da</strong>de infinita de causas e remédios para o mal melancólico. Trata-se de<br />
“Anatomia <strong>da</strong> <strong>melancolia</strong>” de Robert Burton (1621) que, inseri<strong>da</strong> na tradição barroca, organiza<br />
diversos discursos <strong>sobre</strong> esse tema. A “tristeza indiferente”, marca<strong>da</strong> pela acedia e também