A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...
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CAPÍTULO I – OS CAMINHOS E OS DESCAMINHOS DA<br />
PSICOSSOMÁTICA NA PSICANÁLISE<br />
A psicossomática se desenvolveu a partir de pensa<strong>do</strong>res, médicos e<br />
psicanalistas, que voltaram sua atenção a fenôme<strong>nos</strong> corporais, diferentes daqueles<br />
aborda<strong>do</strong>s por Freud a respeito das conversões histéricas. Tais fenôme<strong>nos</strong> aparecem<br />
muitas vezes de forma enigmática para a medicina, à medida que configuram lesões<br />
orgânicas concretas e que, contu<strong>do</strong>, apresentam uma etiopatogenia muitas vezes<br />
desconhecida <strong>do</strong> ponto de vista das observações médicas. São fenôme<strong>nos</strong> que desafiam<br />
o saber médico, face à impossibilidade de sustentação etiopatogênica que justifique seu<br />
aparecimento, bem como aos contextos de sua manifestação, fator importante para que<br />
se estabeleça na medicina e na psicanálise a suposição de ligação desses fenôme<strong>nos</strong><br />
com processos psíquicos (WARTEL, 1987).<br />
Em decorrência de uma interlocução entre o discurso médico e o discurso<br />
psicanalítico (VOLICH, 1998), a psicossomática começou a se constituir como<br />
importante vertente das investigações em psicanálise, ou pelo me<strong>nos</strong> como investigação<br />
em permanente diálogo com esta. Tal interlocução se iniciou com o próprio Freud, que<br />
defendeu a idéia de que a medicina deve aliar-se às perspectivas que trabalham o<br />
psíquico, onde ele propõe uma visão não tão tecnocêntrica no tratamento das<br />
enfermidades:<br />
“Essa formação [médica] tem si<strong>do</strong> justamente criticada nas últimas décadas pela<br />
maneira parcial pela qual dirige o estudante para os campos da anatomia, da<br />
física e da química, enquanto falha, por outro la<strong>do</strong>, no esclarecimento <strong>do</strong><br />
significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fatores mentais nas diferentes funções vitais, bem como nas<br />
<strong>do</strong>enças e seu tratamento” (FREUD, 1919a/1996, p. 187).<br />
Essa opinião de Freud revela sua preocupação em relação à importância da<br />
dinâmica psíquica e da implicação <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s enfermos sobre a subjetividade humana,<br />
bem como <strong>do</strong>s progressos da própria medicina face às dificuldades subjetivas que uma<br />
<strong>do</strong>ença pode acarretar para a vida psíquica. Para Birman (1980), o saber médico<br />
estende-se necessariamente a uma inter-relação que se estabelece em suas fronteiras<br />
com outros campos de saber tais como, Psicologia, Sociologia, Biologia, Psicanálise.<br />
Ele aponta:<br />
“A prática médica passa assim a ser pensada e realizada com auxílio de outros<br />
saberes, que se articulam numa relação complexa com o discurso biológico. A<br />
Medicina entra na região da interdisciplinaridade, adquirin<strong>do</strong> neste campo de<br />
práticas o mesmo estatuto ambíguo, <strong>do</strong> ponto de vista epistemológico, que em