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A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...

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apontamento: “Os casos mistos, em que os sinais de neurastenia se combinam com os<br />

de uma psiconeurose são de natureza muito freqüente (...)” (FREUD, 1898/1996; p.<br />

254). Essa passagem introduz a idéia fundamental de que, clinicamente as duas<br />

neuroses aparecem juntas, sem qualquer problema de contradição fenomenológica.<br />

Com relação à etiologia – localizada essencialmente <strong>nos</strong> movimentos libidinais tanto<br />

numa neurose como na outra – Freud (ibid.) afirma:<br />

“A razão por que as neuroses mistas ocorrem com tanta freqüência é que seus<br />

fatores etiológicos se acham muitas vezes entremea<strong>do</strong>s, às vezes apenas por<br />

acaso, outras vezes como resulta<strong>do</strong> de relações causais entre os processos de que<br />

derivam os fatores etiológicos das neuroses” (p. 275).<br />

Freud concebe nesse momento que as neuroses atuais estão entrecruzadas com<br />

as psiconeuroses em suas relações etiológicas. Esta afirmação se configura como da<br />

maior importância à medida que se vai colocan<strong>do</strong> em destaque as conseqüências<br />

teóricas da interação psiconeurose–nueorse atual, o que será desenvolvi<strong>do</strong><br />

posteriormente, quan<strong>do</strong> tratarmos desse assunto mais detalhadamente. De fato,<br />

contu<strong>do</strong>, isso já sinaliza algumas questões relativas à concepção psicossomática. Outra<br />

importante passagem na obra de Freud (1917c/1996) a respeito da ligação entre as duas<br />

neuroses diz respeito ao caráter eclosivo que as põe em relação mútua: “(...) um<br />

sintoma de uma neurose atual é freqüentemente o núcleo e o primeiro estágio de um<br />

sintoma psiconeurótico” (p. 391). Bem antes disso, em 1898, no mesmo senti<strong>do</strong>, ele<br />

afirmara: “Elas [psiconeuroses] aparecem em <strong>do</strong>is tipos determinantes, seja<br />

independentemente, seja no rastro das neuroses atuais” (idem, 1898/1996, p. 264).<br />

Essas são afirmações diversas que revelam uma ligação intrínseca e uma<br />

importante interação entre os fenôme<strong>nos</strong> concernentes aos <strong>do</strong>is grupos de neuroses.<br />

Freud (1917a/1996) chegou a falar em conexão entre as duas neuroses, mas não<br />

aprofun<strong>do</strong>u suas investigações sobre esse modelo da descarga corporal, tampouco<br />

sobre a conexão entre essas descargas e os fenôme<strong>nos</strong> (psico)neuróticos.<br />

O que avaliamos contu<strong>do</strong> imprescindível para uma discussão consistente sobre a<br />

neurose atual e a psicossomática é o fato de que, para Freud, não é necessária a<br />

inexistência de representações psíquicas para haver descargas corporais gera<strong>do</strong>ras de<br />

alterações orgânicas concretas. Tampouco os pacientes psiconeuróticos se acham<br />

‘protegi<strong>do</strong>s’ da neurose atual. Ao contrário, de acor<strong>do</strong> com Freud, grande número de<br />

pacientes psiconeuróticos apresentavam também neuroses ‘atuais’, a ponto de Freud<br />

localizar a última como complexo eclosivo da psiconeurose. Tais observações,

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