A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...
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epresentação de palavra. Nesse ínterim, faz-se necessário passar detalhadamente pela<br />
questão das representações e da localização <strong>do</strong> pré-consciente, tanto na abordagem<br />
martyniana, quanto nas concepções freudianas – estas constituin<strong>do</strong> a base <strong>do</strong><br />
pensamento psicanalítico.<br />
Marty (1993) localiza o pré-consciente como “(...) peça central da economia<br />
psicossomática” (p. 24), e afirma:<br />
“Poder-se-ia finalmente dizer que, quanto mais o pré-consciente de um sujeito se<br />
mostrar rico de representações permanentemente ligadas entre si, mais a<br />
patologia eventual correrá o risco de se situar na vertente mental. Quanto me<strong>nos</strong><br />
o pré-consciente de um sujeito se mostrar rico de representações, de ligações<br />
entre as que existem e de permanência das representações e suas ligações, mais a<br />
patologia eventual correrá o risco de se situar na vertente somática. É neste<br />
senti<strong>do</strong> que qualificamos o pré-consciente de ‘peça central’ da economia<br />
psicossomática.” (ibid., p. 28).<br />
Sob esse ângulo, uma patologia orgânica estará em causa quan<strong>do</strong> a constituição<br />
<strong>do</strong> pré-consciente apresentar pobreza de representações. Nesse contexto, Marty define a<br />
questão, evocan<strong>do</strong> a distinção freudiana entre as representações de palavra e as<br />
representações de coisa para o desenvolvimento dessas idéias. O estu<strong>do</strong> detalha<strong>do</strong> desse<br />
ponto é de fundamental importância para <strong>nos</strong>sa argumentação.<br />
Para Marty (1993), as representações de coisa devem ser entendidas como<br />
realidades vivenciadas, inscrições de percepções de pouca variação em relação à coisa<br />
percebida, pouco mobilizáveis mentalmente (ibid.).<br />
No campo das representações de palavra verifica-se apreensões psíquicas<br />
ligadas ao plano da verbalização. Marty (ibid.) define sua concepção:<br />
“Oriundas das comunicações inter-humanas (com a mãe em primeiro lugar), as<br />
representações de palavras mantêm e organizam essas comunicações, permitin<strong>do</strong><br />
simultaneamente comunicações internas, refletidas consigo mesmo. Facilmente<br />
mobilizáveis pelos afetos, atraentes e enriquecidas por novos afetos e também<br />
por valores simbólicos, à medida da multiplicação das trocas verbais, as<br />
representações de palavras constituem o essencial das associações de idéias” (p.<br />
25).<br />
Estas últimas são características <strong>do</strong> plano pré-consciente, as quais estabelecem<br />
ligações com as representações de coisas, “modifican<strong>do</strong> assim sua natureza” (ibid., p.<br />
25), ou seja, dan<strong>do</strong> a elas, segun<strong>do</strong> Marty (ibid.), possibilidades de associação e<br />
significação.<br />
Marty infere que, <strong>nos</strong> quadros psicossomáticos, as representações de palavras,<br />
no que diz respeito ao seu aspecto qualitativo, carecem de componentes afetivos e