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A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...

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Freud, as afasias podem ser delimitadas, não em afasia sensorial, motora e de condução,<br />

localizadas em áreas específicas segun<strong>do</strong> Wernicke e Lichtheim, mas em afasias de<br />

primeira ordem ou afasia verbal, em que a perturbação ocorre entre os elementos<br />

intrínsecos da representação da palavra; a afasia simbólica ou “assimbolia”, na qual<br />

aparece uma perturbação entre a representação da palavra e a representação objectual; e<br />

a ag<strong>nos</strong>ia, na qual se verifica uma perda de capacidade de se reconhecer as coisas <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> externo.<br />

O interesse de Freud pela noção de representação no seu estu<strong>do</strong> das afasias está<br />

relaciona<strong>do</strong> fundamentalmente com as concepções das funções cerebrais da linguagem e<br />

seus distúrbios, mas rendeu-lhe grandes des<strong>do</strong>bramentos e importantes bases para a sua<br />

posterior conceituação <strong>do</strong> inconsciente.<br />

Em seu artigo “O Inconsciente”, data<strong>do</strong> de 1915, Freud voltou a estabelecer a<br />

distinção entre a representação de palavra e representação de coisa (antiga<br />

representação objectual). Aqui, ele coloca que o que se pode apreender <strong>do</strong> inconsciente<br />

é que nele há apenas representações de coisas, as quais consistem de “(...) traços de<br />

memória mais remotos” (p. 206) deriva<strong>do</strong>s das imagens das coisas. De acor<strong>do</strong> com as<br />

colocações de Freud, as representações das coisas consistem, não da cópia da imagem<br />

da coisa, a impressão direta da coisa, mas de traços relativos a essa imagem, que<br />

tomam uma certa autonomia em relação à coisa percebida. O inconsciente – diz Freud<br />

(ibid.) – “(...) contém os investimentos da coisa <strong>do</strong>s objetos, os primeiros e verdadeiros<br />

investimentos objetais” (p. 206). Em contrapartida, no campo <strong>do</strong> pré-consciente,<br />

acham-se ligadas as representações das coisas com as representações das palavras que<br />

lhes correspondem.<br />

A noção de representação tomou assim, a partir <strong>do</strong> trabalho de Freud sobre as<br />

afasias, grande importância para a posterior apreensão <strong>do</strong> inconsciente e para a<br />

explicação <strong>do</strong>s processos psíquicos no campo psicanalítico. Essa noção des<strong>do</strong>brou-se<br />

ainda em concepções <strong>do</strong> aparelho psíquico <strong>nos</strong> estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s fenôme<strong>nos</strong> psicossomáticos<br />

realiza<strong>do</strong>s pela Escola de Psicossomática de Paris, orienta<strong>do</strong>s por Pierre Marty, o que<br />

constitui aqui o assunto central de <strong>nos</strong>sa argumentação. A confrontação entre Freud e<br />

Marty, exposta a seguir, <strong>nos</strong> fornece elementos para repensarmos a questão das<br />

“representações” no estu<strong>do</strong> da psicossomática e a discutir de maneira mais aprofundada

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