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A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...

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Para a explicação dessa falha fundamental, Marty se remete aos estu<strong>do</strong>s das<br />

relações mãe-bebê no desenvolvimento infantil, e registra o princípio dessa falha<br />

mental <strong>do</strong> ‘paciente somático’ na função materna. Para a psicossomática martyniana, a<br />

mãe “(...) falha como função de pára-excitação <strong>do</strong> bebê, o que constitui um<br />

traumatismo vivencia<strong>do</strong> na primeira infância, antes mesmo da aquisição da palavra”<br />

(FERRAZ, 1997, p. 32). Marty (1998) delineia esse quadro, conceben<strong>do</strong> a existência de<br />

alguns tipos de falha, algumas vezes <strong>do</strong> la<strong>do</strong> da criança e na maioria das vezes <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

da mãe:<br />

“As insuficiências básicas das representações encontram sua origem no início <strong>do</strong><br />

desenvolvimento <strong>do</strong> sujeito. Elas provêm: a) de uma insuficiência congênita ou<br />

acidental das funções sensório-motoras da criança, funções que constituem as<br />

bases perceptivas das representações (dificuldades visuais, auditivas ou motoras,<br />

por exemplo); b) de deficiências funcionais da mãe, da mesma ordem que as<br />

precedentes. Consideramos que uma mãe mais ou me<strong>nos</strong> surda ou cega, por<br />

exemplo, não possa assegurar uma comunicação clássica com seu bebê ou sua<br />

criança; c) ou, e este é de longe o caso mais freqüente, de uma carência ou de<br />

uma desarmonia das respostas afetivas da mãe em relação a seu filho” (p. 22).<br />

Tais fatores são aponta<strong>do</strong>s como razões básicas <strong>do</strong> déficit psíquico. Essa<br />

“desarmonia” nas comunicações mãe-bebê e nas respostas afetivas da mãe provocaria<br />

nessa concepção uma incapacidade de formações representativas no sujeito, devi<strong>do</strong> ao<br />

fato de que a mãe não fornece as possibilidades para tal disposição. A função de páraexcitação<br />

da mãe no desenvolvimento infantil, sen<strong>do</strong> ela falha, acarreta a<br />

impossibilidade de um manejo posterior de excitações e uma dificuldade de<br />

transformação de excitações somáticas em libi<strong>do</strong> psíquica, esta constituin<strong>do</strong> o plano<br />

representativo. A precariedade na articulação <strong>do</strong>s pensamentos (pensamento operatório)<br />

como resulta<strong>do</strong> da escassez <strong>do</strong> plano representativo seria, portanto, a causa<br />

fundamental para a ocorrência das patologias psicossomáticas.<br />

Os fenôme<strong>nos</strong> psicossomáticos são compreendi<strong>do</strong>s assim como resulta<strong>do</strong> de<br />

excitações que não passaram pelo escoamento psíquico. Marty centraliza a eclosão<br />

psicossomática no ponto de vista econômico, a partir <strong>do</strong> qual se pensa uma quantidade<br />

isolada que não encontra escoamento psíquico e produz descargas corporais,<br />

comprometen<strong>do</strong> o sistema somático e lesionan<strong>do</strong> o organismo como resulta<strong>do</strong> de um<br />

fracasso das funções psíquicas. Isso está diretamente liga<strong>do</strong> à idéia de traumatismo,<br />

utilizada por Marty (1993) para caracterizar esses fenôme<strong>nos</strong>.<br />

“A descoberta <strong>do</strong>s traumatismos que foram a origem das <strong>do</strong>enças somáticas (...)<br />

constitui uma fase rica de investigação. (...) Os traumatismos permanecem <strong>nos</strong><br />

quadros econômicos individuais que estabelecemos anteriormente. Oriun<strong>do</strong>s de

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