03.09.2014 Views

A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...

A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...

A psicossomática nos confins do sentido: problemas e reflexões ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

circunscreve-se na relação de ‘oposição’ com a psiconeurose (FREUD, 1898/1996).<br />

Como vimos, a psiconeurose está remetida a questões históricas e subjetivas, ligadas à<br />

sexualidade. A neurose de angústia e a neurastenia apresentavam, em contrapartida,<br />

uma etiologia atual, também ligada contu<strong>do</strong> a <strong>problemas</strong> com a sexualidade, visto que<br />

aparecia articulada a fatores concernentes ao regime sexual. Nesse momento, podemos<br />

afirmar que a palavra atual não se refere a nada mais <strong>do</strong> que o próprio ato sexual, e a<br />

uma dimensão de contemporaneidade, relativa à etiologia de seus sintomas subjacentes.<br />

Como veremos, essa questão não permanece entretanto esgotada para Freud,<br />

tampouco para a própria teoria psicanalítica, na medida em que se sublinha a evolução<br />

<strong>do</strong> seu pensamento como fonte de novas reflexões sobre esse tema.<br />

Freud entendia nas suas conjecturas iniciais, que a neurose atual era o resulta<strong>do</strong><br />

de um processo puramente somático (FREUD, 1895b/1996), concepção que coloca a<br />

questão <strong>do</strong> dispêndio corporal da excitação sexual como separa<strong>do</strong> de qualquer<br />

implicação psíquica. Estabelecia nesse campo um desvio da libi<strong>do</strong> de sua aplicação<br />

satisfatória, atrela<strong>do</strong> a uma não consumação da excitação no ato sexual, concluin<strong>do</strong> que<br />

a excitação somática não se descarregava via coito. Havia também, para além dessa<br />

idéia, a consideração <strong>do</strong> autor a respeito da “elaboração” ou escoamento psíquico das<br />

excitações, ponto teórico sobre o qual se centra o <strong>nos</strong>so maior interesse. Freud afirma:<br />

A neurose de angústia é o produto de to<strong>do</strong>s os fatores que impedem a excitação<br />

sexual somática de ser psiquicamente elaborada. As manifestações da neurose de<br />

angústia aparecem quan<strong>do</strong> a excitação somática que foi desviada da psique é<br />

subcorticalmente despendida em reações totalmente inadequadas” (FREUD,<br />

1895b/1996, p. 110).<br />

A neurose atual aparece assim como uma energia não escoada, desviada da<br />

elaboração simbólica. A questão <strong>do</strong> recalque e <strong>do</strong>s fatores históricos liga<strong>do</strong>s à<br />

sexualidade na abordagem <strong>do</strong>s fenôme<strong>nos</strong> psiconeuróticos localiza inicialmente, como<br />

veremos, esse ponto de não determinação psíquica na neurose atual. Isso marca um<br />

primeiro elemento diferencial para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fenôme<strong>nos</strong> em questão – a saber, a<br />

oposição historicidade/atualidade introduzida por Freud. Devemos lembrar, contu<strong>do</strong>,<br />

que a idéia <strong>do</strong> “atual” em Freud foi pensada num perío<strong>do</strong> pré-psicanalítico, e que o<br />

percurso de criação da psicanálise demonstra que a concepção propriamente<br />

psicanalítica de história não se reduz à idéia de “passa<strong>do</strong>”, mas se complexifica com a<br />

introdução posterior <strong>do</strong> conceito de inconsciente (FREUD, 1900/1996). Tal perspectiva<br />

indica a importância de um estu<strong>do</strong> detalha<strong>do</strong> e de uma definição mais consistente sobre

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!