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Trinta anos depois de revolucionar os quadrinhos, Angeli faz ...

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REPORTAGEM | mulheres quadrinistas<br />

sapatilhas<br />

<strong>de</strong> arame<br />

Quadrinistas mulheres veem seu trabalho ser reconhecido no Brasil e no exterior, mas ainda<br />

<strong>faz</strong>em parte <strong>de</strong> uma minoria, num mercado dominado pel<strong>os</strong> colegas do sexo op<strong>os</strong>to<br />

TEXTO carol almeida<br />

Quadrinh<strong>os</strong> sempre foram vist<strong>os</strong> com reserva por<br />

educadores e pais. Para <strong>os</strong> artistas plástic<strong>os</strong>, raramente<br />

essa linguagem era associada a obras <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Esse cenário foi pouco a pouco<br />

se modificando, com uma produção maior <strong>de</strong> histórias<br />

e o refinamento d<strong>os</strong> traç<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhistas<br />

mundo afora. Hoje, enfim, as HQs têm seu valor literário<br />

e artístico reconhecido e consolidado, mas<br />

permanecem sendo um território quase exclusivamente<br />

masculino. I<strong>de</strong>ntificada como “coisa <strong>de</strong><br />

menino”, é uma das únicas formas <strong>de</strong> expressão<br />

pop que ainda arrastam consigo o ranço do direcionamento<br />

<strong>de</strong> gêner<strong>os</strong>.<br />

A boa-nova é: o lado feminino <strong>de</strong>ssa gangorra<br />

está começando a se levantar. E a prova disso é a<br />

presença cada vez maior <strong>de</strong> mulheres em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

segment<strong>os</strong> <strong>de</strong> produção das HQs. De resenhistas<br />

a editoras, <strong>de</strong> quadrinistas a cartunistas e chargistas...<br />

No mercado brasileiro <strong>de</strong> quadrinh<strong>os</strong> há pelo<br />

men<strong>os</strong> 20 mulheres assinando trabalh<strong>os</strong>, sem contar<br />

o gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> profissionais do sexo feminino<br />

que atualmente colabora para a série Turma<br />

da Mônica e sua <strong>de</strong>rivada, a Mônica Jovem. Por<br />

sinal, a principal roteirista <strong>de</strong>sses produt<strong>os</strong>, editad<strong>os</strong><br />

pela Panini, é uma mulher: Petra Leão.<br />

O número ainda é ínfimo se comparado com o<br />

<strong>de</strong> profissionais do gênero masculino, mas é quase<br />

100% maior do que o que se via há breves <strong>de</strong>z<br />

<strong>an<strong>os</strong></strong>. “De memória, com exceção da Erica Awano,<br />

que, naquele tempo, estava no começo <strong>de</strong> seu trabalho,<br />

e da Eva Furnari, não me recordo <strong>de</strong> mulheres<br />

criando quadrinh<strong>os</strong> no Brasil”, diz Sidney<br />

Gusman, jornalista especializado no tema e hoje<br />

editor d<strong>os</strong> estúdi<strong>os</strong> Mauricio <strong>de</strong> Sousa. Em recente<br />

projeto para rever <strong>os</strong> personagens do <strong>de</strong>senhista,<br />

Gusman convidou 150 artistas nacionais para criar<br />

quadrinh<strong>os</strong> e cartuns para três livr<strong>os</strong>. O projeto<br />

contou com a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mulheres no time<br />

– 6,6% do total, na precisão matemática. “P<strong>os</strong>so garantir<br />

que essas profissionais estavam no nível <strong>de</strong><br />

excelência <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> participantes.”<br />

Mas, como numa economia que se retroalimenta,<br />

é certo que a presença <strong>de</strong> mulheres no campo da<br />

produção <strong>de</strong> quadrinh<strong>os</strong> cresce conforme aumenta<br />

sua presença na outra ponta do processo: o consumo.<br />

Mariamma Fonseca, uma das três criadoras<br />

do Lady’s Comics [ladyscomics.com.br] – site<br />

<strong>de</strong>dicado a meninas que leem e <strong>faz</strong>em quadrinh<strong>os</strong><br />

cujo slogan é “HQ não é só para seu namorado”<br />

–, diz que percebe uma presença cada<br />

vez mais constante <strong>de</strong> mulheres em gibitecas e<br />

livrarias e acredita que boa parte <strong>de</strong>sse interesse<br />

cresceu entre e com as meninas (em vez <strong>de</strong><br />

parar na infância após a inevitável leitura d<strong>os</strong><br />

gibis da Turma da Mônica) quando <strong>os</strong> mangás<br />

se tornaram populares no país. Mariamma recebe<br />

vári<strong>os</strong> e-mails <strong>de</strong> meninas interessadas<br />

em ler e <strong>faz</strong>er quadrinh<strong>os</strong>, e, para ela, <strong>de</strong>svincular<br />

o HQ da questão <strong>de</strong> gênero, pelo men<strong>os</strong><br />

do lado <strong>de</strong> quem consome, ajuda a criar campo<br />

para quem produz.<br />

Prestígio lá fora<br />

Já para as moças que hoje se <strong>de</strong>bruçam sobre<br />

a prancheta para criar tirinhas, quadrinh<strong>os</strong><br />

autorais e até mesmo super-heróis está claro<br />

que tudo o que não precisam ver é a produção<br />

e o consumo <strong>de</strong> seu trabalho atrelad<strong>os</strong> ao fato<br />

<strong>de</strong> serem mulheres. Numa conversa com cinco<br />

quadrinistas que trabalham para o mercado<br />

brasileiro e estrangeiro e vivem <strong>de</strong> sua criação,<br />

é consensual não existir uma “leitura feminina”<br />

que as diferencie d<strong>os</strong> profissionais homens.<br />

“Isso não <strong>faz</strong> sentido. Não é o sexo que <strong>de</strong>termina<br />

esse tipo <strong>de</strong> coisa. São as pessoas, com suas<br />

limitações e talent<strong>os</strong>, que produzem obras convincentes,<br />

ou não, em suas prop<strong>os</strong>tas”, garante<br />

a paulistana Erica Awano. Ela começou a <strong>de</strong>senhar<br />

seus mangás no fim d<strong>os</strong> <strong>an<strong>os</strong></strong> 1990 e ganhou<br />

popularida<strong>de</strong> ao ilustrar a série brasileira<br />

Holy Avenger. Hoje é reconhecida no mercado<br />

internacional. São <strong>de</strong>la, por exemplo, <strong>os</strong> <strong>de</strong>senh<strong>os</strong><br />

da versão em quadrinh<strong>os</strong> <strong>de</strong> Alice no<br />

País das Maravilhas, com roteiro <strong>de</strong> Leah Moore,<br />

filha <strong>de</strong> Alan Moore, criador <strong>de</strong> clássic<strong>os</strong><br />

como Watchmen e V <strong>de</strong> Vingança.<br />

O traço <strong>de</strong> Adriana Melo tenta fugir do estereótipo do mercado<br />

internacional e ressaltar a força das heroínas em vez <strong>de</strong> seus<br />

atribut<strong>os</strong> corporais<br />

A boneca inflável Amely, criação <strong>de</strong><br />

Pryscila Vieira: bom humor para falar<br />

do universo feminino

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