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Trinta anos depois de revolucionar os quadrinhos, Angeli faz ...

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REPORTAGEm | vi<strong>de</strong>omapping<br />

Apresentações <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>omapping transformam a relação entre homem, arte e cida<strong>de</strong><br />

TEXTO sabrina duran<br />

FOTO garapa<br />

No escuro, a apresentação começa. O som é forte,<br />

percussão sintetizada, textura musical digitalizada.<br />

N<strong>os</strong>so ouvido se abre. As luzes que vêm em sequência<br />

são linhas finas e coloridas, imagens abstratas<br />

em movimento, fot<strong>os</strong>, frases, um mapa da<br />

América Latina em tamanho <strong>de</strong>scomunal. Aberto,<br />

ele não caberia na sala da sua casa nem em três ou<br />

quatro salas da sua casa. Tudo piscando e se movendo<br />

em compasso com a música. N<strong>os</strong>sa mente<br />

trabalha reconhecendo aquelas figuras enquanto<br />

a boca entreaberta m<strong>os</strong>tra quanto cada pessoa se<br />

surpreen<strong>de</strong> com o que vê e ouve. E o mais interessante<br />

<strong>de</strong> tudo é que, sem ninguém n<strong>os</strong> tocar,<br />

n<strong>os</strong>sa pele se arrepia inteira, feito pele <strong>de</strong> galinha.<br />

Insuspeitável é o que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia toda essa reação<br />

física: uma apresentação <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>omapping<br />

(ou vi<strong>de</strong>omapeamento), técnica <strong>de</strong> projeção audiovisual<br />

em gran<strong>de</strong>s estruturas, como edifíci<strong>os</strong><br />

e monument<strong>os</strong>, em que as imagens, interagindo<br />

com a arquitetura on<strong>de</strong> são exibidas, ganham volume<br />

e contam uma história ao público. No último<br />

dia 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, a fachada que serviu <strong>de</strong><br />

suporte à projeção foi a alva estrutura externa do<br />

Memorial da América Latina, em São Paulo, como<br />

parte do Passport VJ University (passportvjuniversity.com.br),<br />

série <strong>de</strong> seis dias <strong>de</strong> workshop<br />

sobre vi<strong>de</strong>omapping. Com organização e curadoria<br />

d<strong>os</strong> VJs Spetto e Pedro Zaz, amb<strong>os</strong> do coletivo<br />

internacional United VJs (unitedvjs.org),<br />

o Passport reuniu centenas <strong>de</strong> pessoas durante<br />

uma noite quente diante do conjunto projetado<br />

por Oscar Niemeyer, inaugurado em 1989.<br />

Naquela festa, o Memorial serviu <strong>de</strong> palco para<br />

tecnologias avançadas <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>oprojeção, usadas<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar a arte e as pessoas à<br />

arquitetura e ao espaço público – uma das principais<br />

razões <strong>de</strong> ser do vi<strong>de</strong>omapping.<br />

O pulo do gato<br />

Embora as primeiras experiências com vi<strong>de</strong>omapeamento<br />

tenham sido feitas no mundo há pouco<br />

mais <strong>de</strong> cinco <strong>an<strong>os</strong></strong>, o conceito que embasa essa arte<br />

prece<strong>de</strong> sua execução em mais <strong>de</strong> um século. “Os<br />

futuristas, no início do século XX, já diziam que a<br />

fachada <strong>de</strong>via ser midiática, que o edifício tinha <strong>de</strong><br />

se comunicar com o entorno”, afirma Spetto.<br />

A luz é a matéria-prima do vi<strong>de</strong>omapping. Transformada<br />

por técnicas <strong>de</strong> ilusão <strong>de</strong> óptica e anamorf<strong>os</strong>e<br />

(<strong>de</strong>formação reversível da imagem), por<br />

exemplo, ela ajuda a romper padrões visuais a<strong>os</strong><br />

quais o olho humano está ac<strong>os</strong>tumado há sécul<strong>os</strong>,<br />

afirma Omar Calzada, do Telenoika (telenoika.<br />

net), um d<strong>os</strong> mais expressiv<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> <strong>de</strong> criação<br />

audiovisual da Espanha. E é justamente essa ruptura<br />

que surpreen<strong>de</strong> <strong>os</strong> sentid<strong>os</strong> <strong>de</strong> quem vê uma<br />

apresentação <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>omapeamento.<br />

O “pulo do gato” do vi<strong>de</strong>omapping, que intensificou<br />

sua comunicação com o entorno, foi a<br />

projeção volumétrica em contrap<strong>os</strong>ição à bidimensional.<br />

Isso foi p<strong>os</strong>sível quando <strong>os</strong> artistas<br />

<strong>de</strong>scobriram – <strong>de</strong> forma casual e intuitiva – que<br />

era viável não só projetar imagens em várias telas<br />

e em espaç<strong>os</strong> bem maiores do que elas, mas<br />

que também era p<strong>os</strong>sível “dobrar” essas imagens,<br />

<strong>faz</strong>endo, assim, com que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> <strong>de</strong>talhes das<br />

fachadas – curvas, janelas, portas, torres e o que<br />

mais existir – pu<strong>de</strong>ssem ser usad<strong>os</strong> como suportes<br />

em três dimensões para as projeções. Não se<br />

trata <strong>de</strong> projetar uma imagem bidimensional em<br />

uma pare<strong>de</strong> plana, mas, sim, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhá-la com<br />

luz em toda a estrutura cúbica <strong>de</strong> uma edificação.<br />

A comunicação com o entorno passou a ser, então,<br />

mais complexa (e completa) e o impacto causado<br />

n<strong>os</strong> espectadores tornou-se mais vivo.<br />

“Sem dúvida, a projeção mapeada tem levado<br />

essa arte para um patamar nunca antes imaginado.<br />

A evolução técnica é muito gran<strong>de</strong>, tanto<br />

por parte d<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> quanto d<strong>os</strong> softwares<br />

<strong>de</strong> criação. Hoje, o que <strong>de</strong>fine o limite <strong>de</strong><br />

cada projeto é seu budget e seu tempo <strong>de</strong> criação.<br />

Simplesmente não há mais limites técnic<strong>os</strong><br />

ou <strong>de</strong> concepção. Conseguim<strong>os</strong> <strong>faz</strong>er <strong>de</strong> tudo,<br />

até o Cristo Re<strong>de</strong>ntor fechar <strong>os</strong> braç<strong>os</strong>”, afirma<br />

Dudão Melo, diretor do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> comunicação<br />

e projet<strong>os</strong> da produtora Visualfarm, responsável<br />

pelo projeto artístico Ví<strong>de</strong>o Guerrilha<br />

(vi<strong>de</strong>oguerrilha.com.br), que em novembro <strong>de</strong><br />

2011 “ocupou” fachadas <strong>de</strong> edifíci<strong>os</strong> e casas na<br />

Rua Augusta, em São Paulo.<br />

Nessa edição, a segunda realizada, mais <strong>de</strong><br />

uma centena <strong>de</strong> criadores fez projeções monumentais<br />

utilizando técnicas <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>omapeamento.<br />

“As pessoas não olham mais a<br />

paisagem urbana, estão cegas e presas à sua<br />

rotina, em que olhar para cima ou para o lado<br />

significa per<strong>de</strong>r tempo. Hoje, o êxodo urbano<br />

central é uma realida<strong>de</strong> na maioria das gran<strong>de</strong>s<br />

cida<strong>de</strong>s do Brasil e do mundo. A Rua Augusta<br />

tem sido um bom exemplo da importância<br />

do entretenimento para a recuperação<br />

daquela região”, diz Melo.<br />

O atual momento da vi<strong>de</strong>oprojeção ratifica, segundo<br />

Spetto, um p<strong>os</strong>tulado do arquiteto italiano<br />

Bruno Zevi em seu livro Saber Ver a Arquitetura<br />

(WMF, 2009): a arquitetura é algo que se<br />

vivencia. “Por mais que você tenha uma planta,<br />

uma foto, um ví<strong>de</strong>o, um memorial <strong>de</strong>scritivo,<br />

nada disso suplanta a experiência <strong>de</strong> viver<br />

a arquitetura, que é você passar por um portal<br />

e sentir uma brisa no r<strong>os</strong>to, ver a luz do sol se

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