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Mesa Redonda 04 - sigrh

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<strong>Mesa</strong> <strong>Redonda</strong> 4<br />

Vazão Ecológica<br />

Rosa Mancini: Vamos dar início à sessão da tarde, que terá como temas<br />

‘’Vazão Ecológica” e “Pegada Hídrica’’. Então, eu gostaria de convidar o prefeito<br />

de Jaboticabal e presidente do Comitê Mogi, José Carlos Hori, que vai ser o<br />

moderador e coordenador da nossa <strong>Mesa</strong>, e o relator Sandro Roberto Selmo,<br />

secretário-adjunto do Comitê Pontal do Paranapanema.<br />

José Carlos Hori: Boa tarde. Vamos alegrar um pouco a nossa tarde, que é um<br />

momento importante, depois de uma manhã produtiva. Eu tenho certeza<br />

absoluta que a tarde será tão produtiva quanto. Eu gostaria de convidar a<br />

engenheira Leila Gomes para a <strong>Mesa</strong>. Também, com o mesmo carinho de<br />

vocês, o Eduardo Mazzolenis de Oliveira, também engenheiro. Vamos receber<br />

com entusiasmo a Maria Silvia Romitelli, engenheira civil. E com não menos<br />

aplausos, a professora da Universidade Federal da Bahia, Yvonilde Dantas<br />

Pinto Medeiros. E para finalizar, a engenheira agrônoma Vanessa Empinotti.<br />

Para começar eu já vou passar a palavra para a engenheira civil e bacharel em<br />

Direito, diretora de Outorga e Fiscalização do DAEE, membro da Câmara<br />

Técnica de Outorga do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos,<br />

coordenadora da Câmara Técnica de Usos Múltiplos do CRH, que abordará o<br />

conceito de vazão mínima, remanescente, um assunto novo, um assunto<br />

intrigante, se assim eu posso dizer, e é extremamente importante nós<br />

começarmos uma discussão nesse momento oportuno; então, com vocês, a<br />

engenheira civil, Leila Gomes.<br />

Leila Gomes: Com certeza, não só o tema, aliás, os temas, porque, como vocês<br />

vão ver no histórico, em função da definição de diretrizes para vazão mínima<br />

remanescente, na Câmara de Outorga do Conselho Nacional, foi feita toda uma<br />

discussão envolvendo um tema ainda mais polêmico, que é a vazão ecológica<br />

ou vários outros nomes que ela pode vir a ter; então, essa apresentação vai ser<br />

muito rápida, basicamente a gente vai mostrar um histórico de quando, a<br />

pedido da ANA, foi solicitado ao Conselho Nacional que se discutisse diretrizes<br />

para vazão mínima remanescente, que envolve efetivamente os órgãos


outorgantes, a nossa prática no dia-a-dia, foi discutido se deveria ser incluído<br />

ou não a questão da vazão ecológica e tudo o que aconteceu na sequência<br />

desse tema.<br />

Então, o assunto é vazão mínima remanescente, esse tema ainda está sendo<br />

tratado com bastante dificuldade em se fechar a resolução na câmara de<br />

outorga, mas essa discussão se iniciou em maio de 2006. O que eu posso<br />

relatar para os senhores e as senhoras, como experiência de oito anos em que<br />

eu presidi essa câmara de outorga no Conselho, é que a resolução que mais<br />

tinha demorado até então, a sair de lá, tenham sido nove meses, que era sobre<br />

diretrizes para outorga de barragens; nós brincávamos que efetivamente tinha<br />

sido um parto, porque foram nove meses. E por incrível que pareça, bate todos<br />

os recordes, que eu saiba, de resolução no Conselho; vocês veem o quanto o<br />

tema é polêmico, rico, interessante, e que tem envolvido uma série de<br />

discussões e estamos aqui trazendo aos senhores. Então, em maio de 2006,<br />

na CETAP - Câmara Técnica de Análise de Projetos, por solicitação da agência<br />

de água, esse tema foi proposto; mas volto a dizer, o tema proposto eram as<br />

diretrizes para os órgãos gestores, que iam emitir outorga sobre o que seria<br />

vazão mínima remanescente. Em novembro de 2007, em uma reunião<br />

conjunta, CETAP e Câmara Técnica de Integração dos Procedimentos de<br />

Outorga, aqui em São Paulo, na ABRH, a CETAP apresentou-nos uma primeira<br />

minuta, e na sequência passou a bola para a câmara de outorga, com a<br />

seguinte missão: o que envolve projeto, e aí, principalmente tinha um olhar das<br />

obras hidráulicas e obra hidráulica barragem; e na CETAP tem várias questões<br />

que envolvem principalmente o setor elétrico; com esse olhar, foi passada a<br />

bola para a câmara de outorga para que a discussão fosse maior; vazão<br />

mínima remanescente não só nas seções das barragens, mas numa seção<br />

qualquer, onde tem uma retirada de água, ou, se você quiser saber naquele<br />

ponto, fazer um cálculo de disponibilidade, um balanço hídrico naquela seção, e<br />

saber qual a vazão que você deve deixar; aí a missão veio para a câmara de<br />

outorga.<br />

Em 2008 e 2009, no âmbito da câmara de outorga, foi discutida e aprofundada<br />

essa questão, que vem na sequência, o Eduardo vai fazer um resumo, que ele<br />

tem sido um companheiro nosso aqui por São Paulo, junto nessas discussões,<br />

com a Dra. Célia Poeta, com um olhar no meio ambiente e a tentativa de a


gente incluir a questão ambiental nesse conceito. Ele vai falar um pouco do<br />

resultado dessas oficinas.<br />

De tanta dificuldade que havia, vocês vão ver que houve uma série de palestras<br />

de especialistas do país, e não chegar a uma conclusão de como se fazer a<br />

inserção da vazão ecológica nesse sistema, a própria secretaria executiva do<br />

Conselho resolveu fazer três ou quatro oficinas, e o Eduardo vai falar aqui um<br />

pouquinho. A própria professora foi uma das convidadas e fez uma palestra na<br />

câmara, levando a experiência que ela vai apresentar aqui para vocês hoje.<br />

Então, em novembro de 2009 houve ainda uma reunião conjunta, mas se<br />

chegou à conclusão que não estava bem definido o que seria vazão ecológica,<br />

e agora em 2010, continuamos a discussão, fizemos uma primeira reunião<br />

conjunta com a CETAP, e aí vieram conceitos que retornaram quase ao início<br />

da discussão, onde havia posições um pouco diversas, por exemplo, o clássico<br />

conflito de recursos hídricos, o setor hidrelétrico e o setor de transportes,<br />

hidrovias versus a geração de energia. Então, as reuniões foram bastante<br />

intensas, para uma minuta de resolução, que como vocês vão ver, ela é<br />

simples, ela estabelece diretrizes, mas cada um com o seu olhar achava que ali<br />

poderia haver um problema, e que aquele problema poderia afetar o seu setor.<br />

Então, essa discussão ainda está na câmara de outorga, que ao fechar a<br />

minuta, vai encaminhar de volta à CETAP, para depois ir para a plenária do<br />

Conselho. Na nota técnica 21, de 2010, só para vocês terem uma primeira ideia<br />

de como a secretaria executiva do Conselho via esse conceito, tem essa<br />

definição: as ações mínimas de intervenções hidráulicas, onde a retirada de<br />

água qualquer, bem como qualquer ponto de controle do corpo de água devem<br />

contemplar as vazões necessárias ao atendimento dos usos atuais e previstos,<br />

bem como as vazões ecológicas, necessárias ao provimento do ecossistema.<br />

Para vocês terem uma ideia das várias apresentações que houve no âmbito da<br />

câmara de outorga, ainda antes, alguns aspectos que causam polêmica<br />

efetivamente na discussão desse conceito, seja simplesmente de vazão mínima<br />

remanescente, levando em conta ou não a vazão ecológica. Primeiro, a<br />

questão dos usos consuntivos, irrigação, indústria, abastecimento público e<br />

privado, entre outros, dos não-consutivos, inclusive com aquele velho conflito<br />

do setor de recursos hídricos, da navegação versus a geração de energia; a


vazão ecológica, definida ou não na licença ambiental, e enquadramento de<br />

corpos de água; ou seja, cada vez que se lê um dos conceitos, que<br />

aparentemente são bem simples, que a gente vai mostrar aqui aos senhores,<br />

sempre existe o olhar de algum técnico de qualquer um dos setores,<br />

questionando essas definições, em função desses aspectos, principalmente.<br />

Algumas apresentações foram feitas ao longo desses anos em que nós<br />

estamos discutindo: o Sidney Agra, do Rio Grande do Sul, inserindo um<br />

hidrograma ecológico no sistema; em fevereiro de 2008, o André, da Secretaria<br />

de Recursos Hídricos, Gestão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, onde<br />

pela primeira vez, em 2008, foi levantada essa possibilidade de se fazerem<br />

essas oficinas, ele foi apresentar isso, como seria no âmbito do Brasil; Paulo<br />

Diniz, representante da ANS, influência das condições ambientais e restrição<br />

do uso múltiplo de água, na operação do sistema integrado. Aliás, foi uma das<br />

mais interessantes palestras que houve na prática, para os gestores de<br />

recursos hídricos, onde ele mostrou um estudo feito pela Universidade Federal<br />

do Rio Grande do Sul, para um caso real, como operar a barragem de geração<br />

de energia, levando em conta não só as questões do uso múltiplo, mas<br />

incluindo nesse uso múltiplo a questão ecológica; foi uma questão bem<br />

interessante e digamos pragmática, porque, como vocês vão ver ao longo da<br />

discussão, o pessoal dos órgãos de recursos hídricos fala sempre o seguinte:<br />

“não podemos ficar aguardando uma definição de vazão ecológica generalista<br />

porque todo dia tem alguém pedindo outorga e você não pode ficar esperando<br />

uma definição”. Efetivamente, na ausência dela, os órgãos gestores adotam<br />

certo percentual da sua vazão de referência, como vocês vão ver, e continuam<br />

a dar outorga no dia-a-dia, que é isso que acontece na prática. O sistema de<br />

meio ambiente de Minas Gerais, no evento da ABAS, em Natal, em setembro<br />

de 2008, também colocou mais pimenta e sal num sentido bem interessante,<br />

levantando mais algumas excepcionalidades, por exemplo, a questão de rios<br />

intermitentes; e o pessoal do Nordeste dizia “puxa vida, que vazão mínima,<br />

quando o meu rio não tem água o ano inteiro?” Aliás, foi feita uma oficina no<br />

Conselho dois meses atrás, exatamente para se pensar em diretrizes para<br />

outorga desses rios intermitentes, que é um assunto bastante difícil de ser<br />

encarado no dia-a-dia, por falta de diretrizes, envolve questão de legalidade, de<br />

você manter ou não a vazão do rio, um assunto bastante interessante. Então,


houve ainda algumas excepcionalidades levantadas por Minas, que é um<br />

Estado que tem parte com bastante água e parte com o mesmo comportamento<br />

do Nordeste de rios intermitentes. Rios intermitentes, regiões com grandes<br />

vazões temporárias, que afetam todo o ecossistema efetivamente e a<br />

competência dos comitês no processo. Isso é interessante, afinal, vocês estão<br />

aqui no evento voltado para os comitês; então, foi bastante discutido. Quando<br />

você fala de vazão mínima, de vazão ecológica, qual seria a competência dos<br />

comitês? A gente vai falar um pouco disso.<br />

Por fim, essa última oficina, com foco em sistema. Onde a decisão tomada,<br />

quando houver as oficinas na Secretaria, e efetivamente não sair nenhuma<br />

proposta para tratar vazão ecológica de uma forma objetiva, para o poder<br />

outorgante aplicar, de que seria considerada a vazão ecológica como um<br />

superusuário do setor de recursos hídricos; foi essa a decisão tomada junto à<br />

CETAP e ao CTPOAR; e a partir daí foi esse o encaminhamento dado para<br />

tratar essa minuta. Há ainda uma questão que o tempo inteiro permeou as<br />

discussões, que era não utilizar a vazão ecológica na resolução, porque houve<br />

várias tentativas de trazer o CONAMA ou alguma câmara do CONAMA para<br />

fazer essa discussão com a gente, e para avaliar, mesmo estando no mesmo<br />

Ministério, nós não conseguimos que o Conselho Nacional e o CONAMA<br />

fizessem um trabalho conjunto; infelizmente, isso deixa todos nós muito tristes,<br />

quem atuou nesses sistemas, sejam sistemas estaduais, sejam sistemas<br />

nacionais. Isso se tem repetido em várias resoluções, quem atua no CNRH<br />

sabe dessa dificuldade, tem aqui o Carlão, que é representante de São Paulo,<br />

por vocês, comitês, e que tem acompanhado o quanto tem sido feito na<br />

tentativa de que o CONAMA e o CNRH trabalhem em conjunto, e não se<br />

consegue efetivamente. E isso é algo que tem muito caminho pelo visto, não<br />

tem sido fácil, a Rosa tem acompanhado também. Resoluções do tipo<br />

integração de outorga e licenciamento ambiental, também foi um parto, não<br />

saía a resolução, essa conseguiu sair, mas, a tentativa que se fez para<br />

conseguir que o CONAMA também aprovasse essa resolução, é um caminho<br />

realmente árduo, tem uma área de articulação na Secretaria Executiva do<br />

Conselho, mas é um árduo caminho conseguir fazer esses dois conselhos<br />

fazerem um trabalho em conjunto, infelizmente. Na sequência disso então, o<br />

termo que se pensou em usar nessa resolução foi: necessidades hídricas


ambientais, quando se falasse em vazão ecológica . Que, ainda por cima,<br />

quando qualquer resolução chega na CETIL, e aqui nós temos a Neusa e<br />

outros que atuam na CETIL, o próprio Carlão, a CETIL sempre fala para a<br />

gente não utilizar expressões que possam ser de competência do CNRH.<br />

Gente, tudo o que estou falando para vocês pode parecer muito burocrático,<br />

mas, na prática, não sai nenhuma norma do Conselho sem que essas<br />

discussões sejam pautadas o tempo inteiro; e olha que a gente atua no<br />

Conselho desde a fundação das primeiras câmaras técnicas, como vários<br />

outros colegas aqui também; realmente tem um lado assim, jurídico, que às<br />

vezes é pesado e que segura um pouco algumas das possibilidades que a<br />

gente teria de avançar um pouquinho em alguns conceitos.<br />

Por fim, em fevereiro de 2010 houve uma reunião conjunta das duas câmaras,<br />

com apresentação das conclusões da oficina, que nos deixou muito<br />

preocupados, que vai ser o que o Eduardo vai falar; nós chegamos à conclusão<br />

que dessas oficinas não havia nenhum conceito efetivo para ser aplicado pelas<br />

áreas de outorga dos Estados do Brasil. Efetivamente não havia uma diretriz e<br />

não havia um conceito que pudesse ser utilizado. E a decisão foi: vamos fazer<br />

uma resolução que os órgão de outorga possam usar para vazão mínima<br />

remanescente, preservando a relação do órgão de recursos hídricos com o<br />

órgão ambiental, no sentido de que seja sempre observada a vazão ecológica,<br />

quando houver essa definição; e na ausência dela, como eu falei para os<br />

senhores, nós não podemos parar de fazer outorga para esperar que aconteça<br />

essa definição; nós vamos trabalhando com critérios que, por exemplo, numa<br />

reunião recente, na ANA, há 15 dias, com todos os Estados, com todos os<br />

órgãos de outorga, ficou claro que o procedimento de todos tem sido esse. Na<br />

ausência, no caso das grandes obras, em que há uma definição da licença<br />

ambiental, ela é observada, mas no dia-a-dia, estão usando esses critérios<br />

gerais.<br />

O meu tempo está acabando, vou passar pelos ‘‘considerandos”, começar do<br />

artigo primeiro. A finalidade dela então é estabelecer diretrizes para definição<br />

de vazões mínimas remanescentes, em um curso de água. E é importante ver<br />

alguns dos conflitos no artigo 2, que são as definições: vazão mínima<br />

remanescente, a menor vazão a ser mantida num curso de água em seção de<br />

controle, seja decorrente de critério de outorga, seja decorrente de parâmetros


definidos nessa resolução, visando atendimento aos usos múltiplos de recursos<br />

hídricos. Eu não vou fazer muitos comentários agora, fica para o debate. Se eu<br />

disser para vocês que isso já mudou 50 vezes, vocês podem acreditar.<br />

Seção de controle: seção transversal, perpendicular, à direção principal de<br />

escoamento do curso de água, utilizado para monitorar vazões. Termo de<br />

alocação de água: estabelecimento de regras na utilização de recursos<br />

hídricos, com o objetivo de realizar a sua distribuição de forma negociada, entre<br />

a autoridade outorgante e usuários, com a participação do comitê de bacia. Só<br />

vou chamar a atenção, está aqui o grande papel do comitê de bacia, na<br />

alocação de água; aproveito também, quando eu entrei hoje o Wanderley<br />

estava numa fala relativa à questão da outorga, falando do conflito de<br />

abastecimento público e outros usuários, principalmente o agrícola. O que a<br />

gente pode responder é o seguinte, claro, quando ao longo dos anos, não<br />

havia, por parte da Sabesp, o Wanderley sabe disso, a Sabesp está no esforço<br />

agora, a regularização desses usos, quem chegasse primeiro e pedisse a<br />

outorga, independente da prioridade, tinha. Segundo: cada dia que passa, a<br />

água é um bem mais escasso e já tem conflito. Terceiro, a partir da hora que<br />

você tem a outorga, não só você tem a prioridade legal, mas você tem a<br />

garantia entre aspas, da sua captação. E por fim, bacia que tem conflito de<br />

água, não se resolve com outorga, isso você conversa com a ANA, com<br />

qualquer Estado do Brasil, não é a outorga um instrumento do que eu chamo de<br />

contabilidade de água nas bacias que têm água; onde não tem, é isso aqui, é<br />

negociação, e esse é o grande papel do comitê, que é o fórum para<br />

negociação, está aqui o Carlão, que tem seis ou sete sub-bacias que são<br />

consideradas críticas, dentro da área do Grande, e a gente tem que ir lá, sentar<br />

com todos os usuários, para discutir prioridade, e fazer pacto de alocação de<br />

água. Isso eu estou falando de quantidade, coloca aí qualidade, coloca<br />

enquadramento, aí a história é um pouquinho mais complicada, ou seja, é uma<br />

cultura importantíssima a ser desenvolvida dentro dos comitês. Se há um papel<br />

importante que existe para vocês todos que atuam em comitês, é esse.<br />

Aqui tem a definição de vazão de referência, que cada Estado utiliza; por<br />

exemplo, nesse evento da ANA, recente, os quatro estados da Região Sudeste<br />

presentes, só o Espírito Santo trabalha com Q 90 , os outros trabalham com Q 7,10


como padrão de referência. Nem vou ler a definição, para fazer comentários<br />

bem rápidos, pode passar.<br />

As vazões mínimas remanescentes devem ser utilizadas como limitantes,<br />

quando da emissão de manifestação prévia das outorgas de direitos de uso e<br />

nas autorizações e intervenções hidráulicas. Para estimativa da vazão mínima<br />

remanescente seções de controle serão consideradas, vazão de referência,<br />

demandas e características específicas dos usos e das interferências dos<br />

recursos hídricos a montante e jusante, ou seja, o balanço, os critérios de<br />

gerenciamento adotados nos corpos de água de interesse.<br />

Quinto: cada autoridade outorgante estabelece critérios específicos para<br />

determinação da vazão mínima remanescente, preferencialmente em<br />

articulação com os demais integrantes do Sistema de Gerenciamento de<br />

Recursos Hídricos; na determinação de vazão mínima remanescente deverão<br />

ser consideradas as prioridades e diretrizes estabelecidas nos planos de<br />

recursos hídricos; novamente o pessoal que atua nos comitês, o pessoal que<br />

conhece a gente há bastante tempo, que trabalha com outorga, sabe que<br />

sempre foi uma luta, e o discurso, cada vez que os comitês iam fazer planos, o<br />

pessoal que atua nos órgãos outorgantes, licenciadores costumava falar<br />

‘’comitê, seu papel, definição de usos preponderantes, prioridades de uso...”. E<br />

se houver necessidade, usar uma vazão de referência diferenciada.<br />

No caso de curso de água intermitente caberá à autoridade outorgante adotar<br />

critérios e procedimentos específicos para a determinação da vazão mínima<br />

remanescente.<br />

Só para vocês terem uma ideia, tudo que está em verde e vermelho, em aberto,<br />

são efetivamente discussões onde não se chegou ainda a uma conclusão sobre<br />

como tratar os trechos dos chamados curto-circuitados, e isso é algo que a<br />

Sílvia vai falar um pouquinho, das preocupações que ela tem como órgão<br />

licenciador das PCHs.<br />

No caso de barragens com trechos de rios com vazão reduzida ou trecho de rio<br />

desviado, poderão ser definidos os critérios específicos para o estabelecimento<br />

de vazão mínima. Eu só li um, tem pelo menos uma dúzia para discutir.<br />

Tudo isso é ainda a discussão dos trechos circuitados.<br />

A vazão mínima remanescente, sob o ponto de vista temporal, poderá ser<br />

permanente, quando deve ser sempre adotada, e aí, basicamente é no caso de


eservatório que você pode operar; sazonal, quando é em períodos regulares<br />

em que deve ser adotada; temporário, por exemplo, no caso de você ter rios<br />

intermitentes, ou, você ter usos e usuários, como tem no caso da irrigação, que<br />

só se dá ao longo de alguns meses por ano, e temporária quando adotada de<br />

forma excepcional e em caráter provisório, em situações de eventos<br />

hidrológicos críticos, com comprometimento da disponibilidade, poderão ser<br />

mantidas a jusante das seções, vazões abaixo da mínima remanescente; desde<br />

que atendidos os usos prioritários estabelecidos na Lei 9.433, e aprovados pelo<br />

órgão outorgante com autorização do órgão ambiental competente. Ou seja,<br />

aqui estamos dizendo algo assim, vai chegar uma época do ano que não tem<br />

água nem para manter a mínima da mínima; você no máximo vai atender as<br />

primeiras necessidades da vida.<br />

A vazão mínima remanescente em uma seção de controle poderá sofrer<br />

alteração desde que embasada por estudo técnico que a justifique no seguinte<br />

caso: por deliberação do comitê de bacia, quando houver previsão legal e em<br />

consonância com o plano de recursos hídricos aprovado; por deliberação do<br />

respectivo Conselho, por solicitação do usuário de recursos hídricos, e claro<br />

que teria que ser avaliado pelo órgão gestor, por termo de alocação de água,<br />

por solicitação do órgão de meio ambiente competente, em decorrência do<br />

enquadramento do corpo de água. Os procedimentos decorrentes deverão ser<br />

realizados preferencialmente em articulação com os órgãos nacionais de meio<br />

ambiente. Gente, como vocês veem, é extremamente polêmica a questão da<br />

vazão ecológica; não conseguimos ao longo desses anos, como falei para<br />

vocês, foi o mais longo dos partos, para sair uma resolução do Conselho, está<br />

sendo essa aqui, e a solução que se encontrou foi essa, tratar para o dia-a-dia<br />

de outorga, não para grandes obras, onde a licença ambiental já apresenta<br />

uma exigência sobre o que deve ser uma vazão ecológica, tratar como sendo o<br />

que a gente chama de uma necessidade hídrico-ambiental, definida pelo<br />

próprio gestor de recursos hídricos em articulação com o órgão ambiental, e<br />

com certeza conversaremos mais ao longo do debate. Obrigada.<br />

José Carlos Hori: Gostaria de convidar agora o Dr. Eduardo Mazzolenis de<br />

Oliveira, engenheiro químico, formado pela Faculdade Oswaldo Cruz, Mestre<br />

em Ciências Ambientais, pelo Programa de Ciências Ambientais do Estado de


São Paulo. Trabalha como engenheiro na Diretoria de Licenciamento e Gestão<br />

Ambiental da CETESB; Secretário Executivo da Câmara Ambiental de<br />

Saneamento da CETESB e membro da CETESB no CORHI.<br />

Eduardo Mazzolenis: Boa tarde a todos, o tema da nossa palestra está<br />

interessante. O tema de fronteiras, em discussão nacional, vocês puderam<br />

observar pela apresentação da Leila, que é tema de fronteira mesmo.<br />

Rapidamente, a abordagem é comentar as iniciativas do Sistema Nacional de<br />

Recursos hídricos e apresentar os desafios, bem rapidamente. Não vou entrar<br />

também em detalhes técnicos, mas configurar a questão institucional e dar<br />

algumas definições. A base das informações que eu vou usar é do pessoal das<br />

câmaras técnicas, da CTPOAR e da CTAP, de alguns colegas da SRH, e do<br />

João Bosco, que foi Secretário de Nacional de Recursos hídricos.<br />

É muito interessante o que a Leila já comentou que é uma coisa meio evidente<br />

para nós, e a cada dia fica mais evidente, mais dramático que o planejamento,<br />

e a gestão das águas tem especificidades que são tratadas por sistemas de<br />

gerenciamento diferentes porque assim está definido na Constituição brasileira,<br />

pelo SISNAMA e pelo SINGREH. A política nacional de meio ambiente é de<br />

1981 e foi acolhida pela Constituição de 1988; mas tem especificidades que<br />

são tratadas por dois sistemas de gestão. Alguns temas aproximam os dois<br />

sistemas, como enquadramento, outorga de captação e lançamento, e a<br />

abordagem ecossistêmica, que estão por exemplo, no Plano Nacional de<br />

Recursos Hídricos.<br />

Quanto à questão do regime hidrológico e ecossistema, eu vou passar<br />

rapidamente, só para ilustrar um pouco como é complexa, mas acho que<br />

depois a Dra. Yvonilde vai comentar. O que é abordagem ecossistêmica na<br />

gestão integrada de recursos hídricos? Vejam que interessante, que nesse<br />

ponto, o sistema de gestão de recursos hídricos talvez por ser mais novo, por já<br />

estar influenciado por uma turma nova, um novo período, uma nova época, ele<br />

vai trazendo avanços, lentamente, mas vai trazendo avanços importantes. Por<br />

exemplo, a Resolução do CNRH-98 de 2009, chama a atenção para que todos<br />

os usos da água são considerados interdependentes sob o enfoque


ecossistêmico e da sustentabilidade. O Plano Nacional de Recursos Hídricos<br />

incorpora em seu conteúdo as ecorregiões aquáticas e vazões ambientais; o<br />

Brasil é o primeiro país na América Latina a fazê-lo em um plano nacional, ou<br />

seja, está sinalizado esse tema do ponto de vista institucional. O plano nacional<br />

tem um papel indutor nas discussões a respeito do tema e deve promover<br />

formas de integração que possibilitem a compatibilização da política nacional<br />

de recursos hídricos com as outras políticas setoriais, particularmente com o<br />

meio ambiente. Essa abordagem ecossistêmica, por exemplo, está em alguns<br />

programas do plano nacional, como por exemplo, o Programa 5.2, que versa<br />

sobre a compatibilização e integração dos projetos setoriais, incorporação de<br />

diretrizes para gestão de recursos hídricos. Uma das questões que animou, até<br />

em nível internacional, a discussão das vazões ambientais ou vazões<br />

ecológicas foi a necessidade de definição de regras de operação de barragens<br />

ou reservatórios para a geração de energia hidrelétrica; na hora que você<br />

observa a literatura internacional, essa questão da vazão ambiental está muito<br />

amarrada a impactos de operação desses sistemas e a abordagem<br />

ecossistêmica do plano agora chama a atenção para isso.<br />

O Programa 3.4 fala de metodologias e sistemas de outorga e direito de uso<br />

dos recursos hídricos, e fala de vazão ecológica como critério que considere as<br />

necessidades ambientais por água, que é um tema que foi para as câmaras<br />

técnicas; é um tema difícil de discutir.<br />

A cronologia, meio facilitada pelo que a Leila já colocou, teve demanda na<br />

CTAP, por solicitação da ANA, por quê? Justamente pela questão da gestão de<br />

água no setor elétrico, ou seja, do impacto no setor elétrico para administração<br />

da outorga, quer dizer, quais os critérios para outorga, então, a ANA remete ao<br />

Conselho Nacional que chama suas câmaras técnicas para detalhar o assunto;<br />

a CTAP que iniciou o processo de análise envia para a CTPOAR, que era<br />

coordenada até recentemente pela Leila, para ver seu parecer sobre outorga<br />

sobre o tema. A CTPOAR começou a estudar e trabalhar junto com a CTAP e<br />

decidiu não discutir vazão ecológica/vazão ambiental, e sim trabalhar pelo<br />

conceito de vazão mínima remanescente. Entretanto, o sistema de gestão de<br />

recursos hídricos, por conta desse enfoque ecossistêmico de recursos hídricos,


ealizou oficinas e também encaminhou solicitação à secretaria executiva do<br />

CONAMA, e nós, como CETESB, como companhia ambiental, que fazemos<br />

parte do CONAMA, também fazemos gestões do lado do CONAMA. Essa<br />

discussão mostra claramente que o mesmo elemento água, parte do meio<br />

ambiente, tem especificidades de gestão tratadas por dois sistemas de gestão<br />

dentro do mesmo Ministério que às vezes tem dificuldade de se articular. Então,<br />

às vezes, ou pelas câmaras, ou pelos técnicos, a gente vai colocando a<br />

questão na pauta.<br />

As oficinas do CNRH tiveram apoio do projeto nacional de ações integradas<br />

públicas ou privadas para a biodiversidade, com o apoio do GEF que tem esse<br />

subcomponente de integração entre gestão de recursos hídricos e meio<br />

ambiente; à primeira vista parece uma coisa estranha; os recursos hídricos não<br />

fazem parte do meio ambiente? Fazem, mas institucionalmente estão em dois<br />

sistemas distintos, necessitando, pois, de integração; evidentemente está<br />

sendo colocado um ponto de vista institucional para o tema. São realizadas<br />

várias oficinas em 2009, e atividades previstas em 2010. As oficinas de 2009<br />

foram sobre vazões ambientais, detalhamento de regiões aquáticas e enfoque<br />

ecossistêmico. Em 2010 houve reunião conjunta entre as câmaras técnicas de<br />

qualidade ambiental do CONAMA e a CTPOAR. Em outubro de 2010 vai ser<br />

realizada uma nova oficina no Conselho Nacional dos Recursos Hídricos que<br />

tinha o objetivo de consolidar nas discussões de vazão ecológica e vazão<br />

ambiental; na CTPOAR esperávamos essa definição para incorporar à nossa<br />

resolução de vazões mínimas e ficamos sabendo anteontem, que o enfoque do<br />

CNRH na sua última oficina de vazões ecológicas sobre formas práticas e<br />

implementação de ações, deste tema, no âmbito do plano; não vão entrar na<br />

questão da definição quer dizer, postergou mais para a frente ainda.<br />

Alguns resultados das oficinas: A adoção de vazão ambiental na gestão de<br />

recursos hídricos é possível? Então, a consolidação das respostas mais<br />

importantes. Sim, há necessidade de adotar a vazão ambiental, por quê?<br />

Porque está ligada à manutenção de serviços ambientais, relacionados aos<br />

sistemas aquáticos. Interessante que se fala que há dados suficientes para<br />

início do processo em algumas bacias, talvez o São Francisco; eu achei<br />

estranho isso, faltou talvez fixar uma questão de estratégia, mas diz que há em


algumas bacias. Qual a dificuldade? A dificuldade não casa bem com os<br />

argumentos, mas isso é o resultado das oficinas no nível de rede nacional.<br />

Falta de disseminação de conhecimento, carência de técnicos preparados,<br />

lacunas nos conhecimentos sobre componentes bióticos dos ecossistemas;<br />

parece que há dados suficientes para início do processo, mas há lacunas no<br />

conhecimento. Conflito entre as expectativas dos setores, principalmente<br />

envolvendo a questão do setor elétrico.<br />

Como internalizar a questão ambiental na gestão dos recursos hídricos?<br />

Melhorando a disseminação das informações, capacitando técnicos, articulação<br />

institucional entre as esferas de gestão, e nisso ficou bem claro, o<br />

relacionamento da vazão ambiental com outros sistemas de gestão, execução<br />

de projetos piloto, envolvendo todos os setores e demandas; então, novamente<br />

reforçando o que a Leila falou, estamos num congresso de comitês, essa é uma<br />

agenda importante para os comitês começarem a aprofundar, discutir<br />

progressivamente; porque essas questões passam muito pela questão dos<br />

órgãos gestores de quantidade e qualidade e dos comitês de bacia.<br />

Vejam só as definições a que se chegou, da vazão ecológica e de uma vazão<br />

ambiental, quer dizer, a vazão ambiental seria uma vazão, vamos chamar<br />

assim, uma vazão institucional; a vazão ecológica é aquela que assegura<br />

quantidade e qualidade de água num tempo e num espaço necessário para<br />

manter os componentes, as funções e os processos dos ecossistemas<br />

aquáticos; uma definição interessante, centrada tecnicamente, funções e<br />

processos dos ecossistemas, e seria uma atribuição das oficinas da área<br />

ambiental, e a vazão ambiental é resultado das negociações com os diversos<br />

atores, tendo como ponto de partida a vazão ecológica; seria uma atribuição da<br />

área de gestão de recursos hídricos, portanto, dos órgãos gestores e dos<br />

comitês de bacia, a aplicação da vazão ambiental, uma vez definido pelo<br />

outorgante e pelo licenciador.<br />

As oficinas então focalizaram o quê? Que faltam diretrizes político-institucionais<br />

para adoção dessa vazão. Quais são as responsabilidades para adoção da<br />

vazão ambiental/ecológica? Qual esfera de decisão? Apostou-se muito nessa


questão que a Leila falou: comitê de bacia ou conselhos; a vazão ambiental<br />

pode ser um instrumento das políticas de recursos hídricos e meio ambiente,<br />

não pode dissociar meio ambiente de recursos hídricos, do ponto de vista do<br />

processo de gestão e do Ministério do Meio Ambiente, definição de vazão<br />

ecológica; então, ficou essa “agenda” para o sistema de meio ambiente<br />

aprofundar, a discussão do ponto de vista de vazão ecológica de “proteger”<br />

funções dos ecossistemas aquáticos num país de imensa diversidade, onde há<br />

rios intermitentes, rios de vazão altíssima, rios como esses do Centro-Sul do<br />

Brasil, onde há regiões mais críticas. Quem são os responsáveis pelos<br />

cálculos, a definição de metodologia, tarefas para o Ministério do Meio<br />

Ambiente. Do ponto de vista institucional, a discussão chega a quê? A esses<br />

impasses, essas questões.<br />

Agora, muito rapidamente falando, em termos de qualidade de água em São<br />

Paulo, mostrando as dificuldades e os desafios para se aplicar isso, por<br />

exemplo, no Estado de São Paulo; vocês veem que o Estado de São Paulo em<br />

2008 tinha 85% de coleta de esgoto, 45%, está chegando a 49%, de tratamento<br />

e o gráfico da rede de qualidade de água da CETESB comprova que as<br />

principais desconformidades nas redes de qualidade são o quê? Coliformes<br />

fecais, fósforo, oxigênio, e algumas outras coisas, como alumínio, ferro e<br />

manganês. O alumínio, o ferro e o manganês por conta do uso inadequado do<br />

solo agrícola de São Paulo, pois a chuva carreia esses elementos, típicos do<br />

solo de São Paulo para os corpos de água e impacta as classes de qualidade;<br />

entretanto, o principal problema de qualidade das águas do Estado ainda é a<br />

insuficiência do tratamento de esgoto em várias regiões.<br />

Já a disponibilidade hídrica mostra que São Paulo possui áreas de<br />

disponibilidade hídrica crítica; a Grande São Paulo e a bacia do Piracicaba têm<br />

disponibilidade crítica meio semelhante a Estados do Nordeste, então, você<br />

tem regiões críticas do ponto de vista de disponibilidade e de qualidade, o que<br />

torna, por exemplo, o problema da vazão ambiental, nessas regiões, e em<br />

muitos corpos de água dessas regiões, difíceis de aplicar.<br />

Nessa transparência final eu coloquei ‘’caminhos’’, porque não vamos aqui<br />

discutir uma estratégia, uma fórmula de como essas coisas vão ser feitas, de


como vai ser colocado mais para a frente, porque há muito que fazer, muitas<br />

discussões que fazer; entretanto, não dá para traçar um cenário institucional<br />

sem deixar algumas propostas simples para a gente pensar, na possibilidade<br />

de começar a implementar ou discutir isso nos nossos fóruns; a questão da<br />

definição da qualidade e usos do corpo de água; evidentemente há muitas<br />

regiões críticas, onde num primeiro momento não há muita possibilidade de<br />

aplicar o conceito de vazão ecológica ou vazão ambiental; a definição de<br />

prioridades, por exemplo, o licenciamento ambiental e outorga de áreas<br />

protegidas e mananciais, ou de empreendimentos hidrelétricos, por exemplo,<br />

podem talvez ser uma oportunidade interessante; a Sílvia vai comentar um<br />

pouco das dificuldades que o sistema de meio ambiente tem no licenciamento<br />

do setor elétrico, mas, talvez, definir algumas prioridades, estudar por conta dos<br />

impactos que se sabe que causam, pode gerar algum resultado interessante.<br />

Insistência em estruturação de instâncias, estamos novamente no congresso<br />

de comitês, os órgãos gestores e os comitês de bacia articulados à comunidade<br />

científica, tem um fórum privilegiado, tem um fundo de recursos, aqui em São<br />

Paulo, por exemplo, tem um plano de bacia com definição de<br />

prioridades.Disponibilidade de dados qualitativos e quantitativos: quando você<br />

vê a literatura internacional, e nós fizemos uma discussão dessa literatura de<br />

forma superficial na CTPOAR, da Austrália, Canadá e Estados Unidos aparece<br />

como fundamental a necessidade de se ter séries de dados; ocorre que em São<br />

Paulo nossas redes, quanti/quali não estão bem articuladas; nós estamos<br />

buscando dentro do SIGRH, articular as redes, quanti/quali, na medida do<br />

possível; há um projeto do FEHIDRO tratando dessa questão. Então, redes<br />

articuladas, quanti/quali, com dados, com série histórica, para ver os impactos<br />

da variação, da variabilidade do regime hidrológico no ecossistema aquático,<br />

para inclusive não confundir, por exemplo, com certas melhorias no sistema de<br />

saneamento que podem ser importantes e podem ter impacto no corpo de<br />

água, mas necessariamente não tenham a ver com a vazão ecológica, não está<br />

relacionado com a vazão ecológica.<br />

Incentivo à utilização de obras hidráulicas “adaptadas à natureza”, ou seja, a<br />

gente discute vazão ecológica, vazão ambiental, possibilidade de isso entrar na<br />

agenda, mas é importante discutir também alternativas de construção das


estruturas, tais como, renaturalização de rios ou novos empreendimentos que<br />

tenham a questão do impacto nas funções do ecossistema hídrico, que tenha<br />

essa questão discutida, isso pode ajudar bastante também. É isso, obrigado<br />

pela atenção de vocês.<br />

José Carlos Hori: Obrigado Eduardo, vamos ouvir agora a Professora da<br />

Universidade Federal da Bahia, Doutorado em Hidrologia na Inglaterra,<br />

coordenadora da Rede de Pesquisa Ecovazão, Estudo do Regime de Vazões<br />

Ecológicas para o Baixo Curso do Rio São Francisco, e do projeto de pesquisa<br />

e participação social na determinação da vazão ecológica; membro titular do<br />

Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco 2003-2010, falará sobre a<br />

experiência do São Francisco, Dra. Yvonilde Dantas Pinto Medeiros.<br />

Yvonilde: Eu só queria fazer uma correção nesse meu minicurriculum; eu fui<br />

membro do comitê do São Francisco até ontem. Hoje está ocorrendo a posse<br />

dos novos membros e daqui a pouco estou indo para a eleição de diretoria,<br />

amanhã. Desculpem-me a pressa, eu tentarei copiar o Eduardo e falar sem<br />

respirar, em 15 minutos. Eu acho que nós três estamos nos mesmos<br />

ambientes, participamos das mesmas reuniões, com certeza, vocês muito mais<br />

que eu. Mas, eu participei das oficinas do CNRH, inclusive a de vazão mínima,<br />

por conta da experiência do Salitre, pois nós estamos desenvolvendo pesquisa<br />

sobre o enquadramento de cursos de água e rios, rios intermitentes. Então, eu<br />

pensei já que vou participar de uma <strong>Mesa</strong>-<strong>Redonda</strong> com a presença de mais<br />

dois colegas, quis trazer para um questionamento essa pergunta que eu coloco<br />

como uma provocação para o debate. De fato, a pergunta não é minha, ela foi<br />

feita por Marcos, que é o representante da Comissão Pastoral de Pescadores<br />

da Baía do Iguape. A Baia do Iguape fica entre o Rio Paraguaçu e a Baía de<br />

Todos os Santos. No Rio Paraguaçu foi construída a barragem Pedra do<br />

Cavalo, e posteriormente uma usina de geração de energia elétrica lá se<br />

instalou, aproximadamente há seis anos, causando uma grande mudança no<br />

ecossistema que já estava adaptado. Essa mudança criou uma situação em<br />

que as pessoas se manifestaram contra, dizendo que “nós precisamos da<br />

vazão ecológica”, ou o que é o mesmo, da vazão ambiental. Mas a vazão<br />

ambiental onde é que está, se esse sistema já foi alterado e adaptado? Então,


a pergunta que foi feita pelo Marcos é exatamente esta, há condições<br />

sustentáveis para grandes empreendimentos, leia-se usina de geração de<br />

energia, e sobrevivência de comunidades ribeirinhas, principalmente<br />

comunidades que vivem de pesca? Claro que uma comunidade ribeirinha não<br />

fala em ecossistema, esse termo ecossistema foi interpretação minha. Mas<br />

enfim, será que existe essa possibilidade? Conseguir conciliar as duas coisas?<br />

Uma vez que um grande empreendimento, como geração de energia, altera<br />

completamente o ciclo hidrológico, mudando o período das cheias, das<br />

vazantes, alterando a vazão, a qualidade de água, e isso traz um impacto que<br />

certamente o ecossistema aquático sofre os efeitos. Sofrem primeiro os peixes,<br />

que abandonam, ou que são dizimados pelas novas espécies que invadem seu<br />

habitat. Então, a comunidade de pesca da Baía do Iguape exigiu do governo,<br />

representada pelo Ministério Público, que alguma ação fosse feita, no momento<br />

em que está ocorrendo o processo de renovação da licença de operação da<br />

usina hidrelétrica. Então parou todo o processo e a universidade foi chamada<br />

para propor uma solução. Nós estávamos finalizando um outro estudo, sobre a<br />

vazão ambiental do rio São Francisco, onde a questão foi levantada por<br />

questionamento do comitê. No São Francisco foi estabelecida uma vazão<br />

mínima de 1.300 metros cúbicos por segundo, que muita gente pode achar que<br />

é uma vazão muito grande. De fato, este valor foi definido com objetivo de<br />

atender à navegação do rio, ao abastecimento humano em Juazeiro e cidades<br />

ribeirinhas, ao funcionamento das turbinas para geração de energia. Tudo isso<br />

resultando em menos cheia, menos variação de vazão, menos para o meio<br />

ambiente. Ou seja, a vazão ecológica do São Francisco não foi definida por<br />

critérios ecológicos. Historicamente, a vazão ecológica não tem sido definia por<br />

critérios ecológicos. O valor da vazão ecológica, ou vazão mínima, era<br />

geralmente definido com base em Q 7,10 ou em Q 90 , Q 95 . Quem sabe de onde<br />

vieram esses números? Eu estava conversando com a Manuela, ela dizia, sete<br />

dias de uma semana, ou 10, é um número redondo para vazão, ocorre uma vez<br />

a cada 10 anos, poderia ser uma vez a cada 15, ou a cada 50, mas ficou um<br />

número muito bonito, Q 7,10 , pronto. No caso do Q 90 poderia também ser Q 95 .<br />

Nós especialistas estabelecemos os números e depois acreditamos que com<br />

isso o ecossistema está preservado. Ficamos satisfeitos, vamos todos para<br />

casa, felizes. O Ministério Público tem um número para balizar seus processos


e cobrar das pessoas “vocês não estão atendendo a Q 7,10 ” ‘’vamos impedir<br />

esse licenciamento porque não atende a Q 90 ’’ Isso não quer dizer nada, porque,<br />

mesmo atendendo, todos os peixes podem estar mortos, o rio pode estar com<br />

elevado teor de sal, por exemplo. A Baía de Todos os Santos, no momento em<br />

que a vazão reduziu, com a construção da barragem, a maré avançou, por sua<br />

vez, a Baía de Todos os Santos avançou dentro da Baía do Iguape, salinizou<br />

mais, vieram novas espécies de peixe. No início, os pescadores ficaram felizes.<br />

Peixes marinhos têm mais valor comercial, eles começaram a pescar. Porém,<br />

agora com a instalação da usina hidrelétrica, lançando 80 metros por segundo,<br />

em cada turbina, ou seja são mais 160 metros cúbicos chegando pela calha do<br />

rio Paraguaçu à Baia do Iguape. No momento que a Baía de Todos os Santos<br />

recua, o rio fica com teor de sal mais baixo, os pescadores começaram a<br />

reclamar ‘’cadê a vazão ambiental?’’ Ou seja, o meio ambiente será o meio<br />

ambiente que nós queremos. O meio ambiente depende da decisão da<br />

sociedade.<br />

Esse conceito, que tanto a Leila quanto o Eduardo vêm discutindo, que nós<br />

estamos discutindo em vários ambientes, inclusive câmaras técnicas do<br />

conselho, falando sobre vazão mínima, vazão ecológica, vazão de referência,<br />

vazão ambiental. E no do âmbito de gestão integrada dos recursos hídricos,<br />

nós precisamos antes de definir qual o nome correto, decidir exatamente o que<br />

nós queremos fazer. Nós queremos definir o quê? Uma vazão para atender o<br />

setor elétrico, uma vazão para o Ministério Público saber como é que atua, ou<br />

uma vazão que atenda minimamente o ecossistema que nós queremos<br />

preservar; porque nós somos responsáveis por esse ecossistema, nós somos<br />

responsáveis pelo meio ambiente, não vai ser outra pessoa que será<br />

responsável, somos nós que vamos definir; então, a decisão sobre o meio<br />

ambiente que desejamos vai depender de nós. Eu estava num evento, onde se<br />

está discutindo o desenvolvimento no semi-árido e mudança de clima, achei<br />

interessante o que um dos palestrantes disse “nós temos que nos acostumar<br />

com a ideia de que nós teremos um futuro sem carbono. Isto porque, senão nós<br />

não teremos nem futuro”. Então, se nós queremos ter futuro, nós vamos ter que<br />

ter produção sem carbono. Se nós estamos hoje num momento de pensar que<br />

nós podemos nos planejar para um futuro, com uma produção muito menor do


que hoje em termos de carbono, eu acho que está no momento também de nós<br />

nos responsabilizarmos e termos consciência que o meio ambiente é<br />

responsabilidade nossa; e se nós queremos definir alguma coisa para<br />

preservar o meio ambiente, não adianta ficarmos nos apegando a questão de<br />

nomeclatura, mínima, máxima, referência, que tudo isso é bobagem. O que<br />

precisa decidir é que essa questão de vazão mínima tem que acabar. Se nós<br />

fossemos peixes, dentro de um rio desses, nós iríamos nos conformar com<br />

vazão mínima durante 12 meses. Tem um pescador no rio São Francisco,<br />

chamado Seu Toinho, que é uma pessoa muito sábia, ele diz ‘”minha filha, os<br />

peixes namoram, se beijam e eles namoram quando tem cheia, porque a cheia<br />

traz água amarela, a cheia traz uma água nutritiva, e é a partir daí, dessa<br />

felicidade, que eles têm até vontade de namorar e de procriar”. As águas do rio<br />

São Francisco, a jusante das barragens, são as águas mais limpas que vocês<br />

podem ver. Depois das barragens, a água é limpa, não tem nada, nem peixe<br />

(risos).<br />

No passado, nós trabalhavámos com série histórica de vazão, métodos<br />

hidrológicos, com fundamentação estatística. No presente a questão ainda é<br />

técnica, ainda continua sendo técnica, mas vai envolver outras disciplinas e<br />

mais a nossa consciência, a nossa decisão. Como um todo, a decisão é da<br />

sociedade, e essa decisão deve estar embasada na legislação: o conceito<br />

adotado para vazão ambiental, a esfera de decisão, se será o Conselho o<br />

fórum de decisão, ou se será o comitê, se serão os dois, quem define, quando,<br />

qual vai ser o procedimento, ou quais são os procedimentos técnicos e legais, a<br />

metodologia. É o procedimento para a tomada de decisão. Nós vamos<br />

simplesmente dizer ‘’vocês aprovam?’’ e todo mundo aprova, é preciso que as<br />

pessoas saibam exatamente o que está sendo decidido. Não é um plebiscito<br />

porque não adianta dizer que não quer geração de energia, porque seria falso,<br />

dizer que não quer. Então, nós queremos energia, mas queremos preservar o<br />

meio ambiente também. Então, até que ponto é possível ceder, em que, e<br />

quando e onde e como a sociedade vai ser envolvida na decisão sobre os<br />

riscos e benefícios do empreendimento? Então, o futuro está sempre em<br />

negociação, nós temos uma legislação que permite isso, nós temos<br />

instrumentos que permitem isso, precisamos aprimorar e ajustar alguma coisa,


mas temos uma legislação pronta. Na África do Sul, um pouquinho depois da<br />

nossa legislação, acho que um ano depois, aquela motivação da<br />

independência, da igualdade, que vem com todo aquele movimento em torno<br />

do fim do apartheid, Mandela aprova uma legislação que coloca a gestão<br />

ambiental como forma de alcançar justiça social. Um pesquisador que<br />

trabalhou conosco no São Francisco, o Jay O´Keeffe, que aplicou essa<br />

metodologia na África do Sul, costuma dizer “se nós não tomarmos decisão<br />

enquanto sociedade, alguém vai tomar por nós’’ e sabe lá de que forma, e sob<br />

quais critérios. Então, nós temos que assumir a responsabilidade e tomar<br />

decisão sensata, mesmo que essa decisão não seja definitiva; temos que<br />

buscar a solução, ainda assumindo as incertezas das metodologias<br />

multidisciplinares e adaptativas, em vez de definir valor fixo, como Q 90 , Q 7,10 ,<br />

indiferentes às características do ecossistema. É possível tomar uma decisão<br />

com base no conhecimento técnico-científico e dados existentes, apoiado no<br />

saber local, e ir aprimorando esses conhecimentos e saberes com<br />

monitoramento.<br />

Eu gostaria de complementar o conceito que o Eduardo apresentou, dizendo<br />

que vazão ambiental não é só qualidade e quantidade; a vazão ambiental<br />

refere-se também à distribuição, ou seja, período em que acontece a<br />

sazonalidade necessária para manter os componentes, funções e processos do<br />

ecossistema aquático, dos quais as pessoas dependem. Então, a definição da<br />

vazão não se baseia só na quantidade, como se costumava fazer, também não<br />

é uma definição com base nos aspectos qualitativos, como alguns biólogos<br />

também achavam que deveria ser. A definição da vazão ambiental deve levar<br />

em consideração o ecossistema e principalmente o julgamento da sociedade.<br />

Nós fizemos um exemplo dessa aplicação da metodologia adaptativa (BBM-<br />

Building Block Methodology) no São Francisco, e ela tem pelo menos dois<br />

momentos de grande participação – quando, inicialmente, é feita uma consulta à<br />

população mais afetada, a população ribeirinha, aquela que depende<br />

diretamente de um rio saudável, a população que vive de um rio no seu estado<br />

natural, e é essa pergunta que vai nos conduzindo ao que nós chamamos de<br />

hidrograma ambiental. Alguns chamam de hidrograma ambiental e outros<br />

preferem chamar de regime de vazão ambiental, mas, visto que não se trata de


definir um valor fixo para a vazão. Esta vazão é variável, como o rio, como tudo<br />

é variável na natureza, período de cheia, período de vazante. Mas sempre<br />

levando em consideração ano seco, ano úmido, a variação ao longo do ano,<br />

mesmo em ano seco. E, ao longo do trabalho, com a participação de vários<br />

especialistas, na reunião de trabalho foram vários pesquisadores, mas,<br />

depende do conhecimento e da opinião de vários especialistas, biólogo,<br />

químico, hidrólogo, hidráulico, geomorfologista, economista, sociólogo, tem que<br />

ter toda essa gama. É desse grupo de especialistas que vai surgir o<br />

hidrograma.<br />

Esse hidrograma que aparece na imagem, aquele azul, os pontos em vermelho<br />

são os pulsos de cheia. As bolas em branco, onde está escrito Sobradinho, são<br />

as vazões que passavam antes da barragem de Sobradinho. Temos aí, a vazão<br />

de um ano seco, a vazão é quase constante; como era ela antes da barragem?<br />

Era bem maior; hoje ela é aquela branca (menor e quase constante). A<br />

proposta é que ela que tenha períodos de pico, porque o ecossistema precisa<br />

das cheias, como aquilo que o pescador dizia ‘’é necessário que ocorram as<br />

cheias, mesmo levando em consideração essa variação, é necessário que<br />

tenha cheia’’. Então, nós chegamos a essa proposta de hidrograma, ou melhor<br />

dois, um para período seco e outro para período úmido, seguindo essa<br />

metodologia BBM, metodologia de construção de blocos, que, depende dessa<br />

consulta a todos os especialistas, e consulta às comunidades ribeirinhas, para<br />

que digam como que era antes o rio; é importante a gente saber o histórico,<br />

com fotos, com fotografias, com filmes, e isso está bem registrado; e saber da<br />

situação hoje, como é que eles viviam, que recursos eles tiravam, que peixe<br />

eles tinham, o que eles eram antes e o que são hoje, depois eles eram<br />

induzidos também a fazer da associação, o que era antes e o que é hoje, com<br />

relação a cotas de vazão, para que nos informe mais ou menos como é aquela<br />

situação, e que os especialistas, os químicos, os biólogos, os hidrólogos, todos<br />

eles vão chegar, e, ajustando o hidrograma com base no conhecimento local e<br />

do conhecimento do especialista, nós chegamos nessa oficina, que é a oficina<br />

que é mais especialista mesmo, levando em consideração todas as<br />

informações, e depois na fase seguinte, ocorre a negociação com todos os<br />

usuários, também chamado de stakeholders. No estudo do São Francisco nós


chegamos até aquela oficina de especialistas, levamos depois ao comitê. Agora<br />

estamos aguardando uma decisão do comitê para prosseguir com a segunda<br />

fase, que seria a discussão com todos os diversos segmentos ou interessados.<br />

Eu acho que essa metodologia para o São Francisco se mostrou adequada,<br />

pode ser que para outros rios, outras metodologias sejam mais apropriadas.<br />

Mas, o fator mais relevante para escolha da metodologia BBM, foi que ela se<br />

ajusta muito bem a nossa Lei das Águas, que prevê a participação da<br />

sociedade na decisão, apresentando um procedimento definindo de que forma<br />

e em que momento a sociedade deve ser envolvida. Portanto, trata-se de uma<br />

metodologia que leva em consideração o conhecimento de técnicos, e também<br />

o conhecimento da sociedade, tanto local quanto aqueles que são os decisores,<br />

na decisão final; Ela se adéqua perfeitamente a uma discussão em comitê e<br />

uma discussão em conselho. Eu agradeço.<br />

José Carlos Hori: Nós que agradecemos. Agora teremos 10 minutos com a Dra.<br />

Maria Silvia Romitelli, engenheira civil com mestrado na Escola de Engenharia<br />

de São Carlos, Doutorado na Universidade da Flórida, em Engenharia<br />

Ambiental, trabalha há 22 anos na CETESB, no Departamento de Avaliação de<br />

Impacto Ambiental, onde é a atual gerente. Falará sobre o impacto ambiental<br />

no licenciamento de PCHs, quando é considerada a vazão ecológica.<br />

Maria Sílvia Romitelli: Boa tarde, vou falar sobre um caso bem aplicado, já é<br />

uma coisa bem específica, em que esse conflito de vazão ecológica aparece<br />

bem explicativo. PCHs são Pequenas Centrais Hidrelétricas que têm até 30<br />

megawatts, uma área de inundação de até 300 hectares; nós temos no<br />

Departamento de Licenciamento, de Avaliação de Impacto Ambiental várias<br />

delas, e temos que tomar decisões bem rápidas, porque nós somos acusados<br />

publicamente em muitos casos, como se não tomássemos decisões. A gente<br />

demora, “o licenciamento impede o desenvolvimento do país”, então, a gente<br />

tem que tomar decisões e às vezes elas são bem difíceis de ser tomadas,<br />

especialmente porque tem um conflito muito grande aí, no caso de PCH; a<br />

primeira coisa é a seguinte, uma PCH é uma alternativa de geração de energia<br />

limpa, que tem sido estimulada com as questões de mudanças climáticas, quer<br />

dizer, esse problema que a Dra. Yvonilde estava falando que ela estava com


um pessoal discutindo mudanças climáticas, no dia seguinte, discutindo vazão<br />

mínima, elas são realmente antagônicas nesse caso, as duas perguntas se<br />

debatem.<br />

As PCHs têm dois impactos que são bem complicados para a vazão: um, é<br />

quando você tem uma vazão, uma redução drástica da vazão num trecho do<br />

rio; e o segundo, uma geração de ponta, quando acontece uma variação súbita<br />

de grandes proporções, uma vazão jusante.<br />

Esse aqui é um arranjo físico que mostra uma PCH que a água desvia, na<br />

verdade, o rio seguia esse circuito mais meândrico, e para poder render em<br />

termos de energia, o empreendedor pretende então que a água corra por esse<br />

canal de adução e vai na base de força; então, existe um conflito permanente; o<br />

empreendedor, quanto mais ele passar água pelo canal, mais ele gera energia.<br />

E a gente, quanto mais a gente conseguir que ele mantenha no rio, mais a<br />

gente ganha com vazão ecológica. Então, essa disputa, ela é interminável no<br />

nosso licenciamento de PCH; e a discussão que me surpreendeu é que a ANS<br />

esteve presente em algum momento, e teve uma solução para isso, porque,<br />

geralmente, quem demanda o empreendimento, quem gera energia, quem<br />

chama o empreendimento para gerar energia no caso, é a própria ANS, então,<br />

ela manda que passe água na turbina, então, a gente tem uma dificuldade<br />

enorme de conseguir ganhar nessa negociação.<br />

Aqui, um caso típico que acontece com a gente, uma unidade bem pequena de<br />

geração de energia. Na verdade, estou mostrando dois casos, esse é um à<br />

parte que ele pede quando faz um processo lá, me traz como ele funcionaria<br />

num ano médio de vazões, e um ano seco; e o que a gente nota é o seguinte,<br />

essa vazão natural é a verde, nos dois casos, e o que ele propõe para usar é<br />

essa roxa que fica mais embaixo, que vai sobrar na vazão do trecho<br />

curtocircuitado. E, o que a gente nota é o seguinte, ali no ano médio de vazões,<br />

ele passa a ter uns seis ou sete meses de vazão mínima, e, no ano seco, a<br />

proposta, como ele não consegue gerar por algum tempo, ele acaba tendo essa<br />

cor de rosa, roxo, ele tem justamente a vazão mínima quando tem a inundação<br />

e a vazão máxima quando o rio estaria normalmente mais baixo. Então, ele<br />

inverte todo o hidrograma natural do rio. Essa é uma proposta, pode passar a<br />

outra, na verdade é similar, é uma vazão Q 7,10 , o cara põe para funcionar, e<br />

num ano normal ela não flutuaria, ficaria o ano inteiro funcionando com a


mesma vazão, essa cor de rosa ai, e num ano úmido ela faria certa flutuação.<br />

Então, esses são os casos, é uma disputa muito grande, uma briga muito<br />

grande, qualquer metro cúbico que a gente mede a mais eles falam que<br />

inviabiliza o empreendimento, e fica naquela disputa muito grande, muito difícil<br />

para a gente enfrentar tecnicamente num licenciamento; que são pequenos,<br />

não são coisas muito grandes, eles não são de render muito para o<br />

empreendedor, mas também ficam nessa disputa que dificilmente,<br />

tecnicamente dá para defender.<br />

Bom, aqui tem os impactos, que eu tinha “linkado” com os impactos da vazão<br />

reduzida, que a gente espera. Tem uma coisa que a gente está para chamar a<br />

atenção, que estava na discussão anterior e estou falando agora, nós estamos<br />

falando de um trecho geralmente menor, não estamos falando de uma bacia<br />

hidrográfica, e geralmente isso acontece nos trechos de montante, nos trechos<br />

mais de montanha. Então, ele não tem um efeito na bacia toda, são efeitos<br />

localizados, mas têm impacto sim, para a flora e a fauna. Então, os impactos:<br />

elevação de temperatura, diminuição do oxigênio, redução da extensão,<br />

disponibilidade de habitats, intensificação da relação de organismos aquáticos<br />

e terrestres, quando se reduz a vazão ali restringe, encolhimento da zona<br />

variável, em torno do rio, ali na mata ciliar, diminuição da umidade relativa do<br />

ar, redução do sombreamento, redução do aporte alimento próprio das matas<br />

ciliares, ictiofauna, isso tem impacto na ictiofauna local. Isso que eu falo, em<br />

geral, os trechos mais de montanha, mais encachoeirados, eles tem uma<br />

ictiofauna característica, e essas nascentes têm endemismo, que são peixes<br />

típicos daquela região, que só tem ali. Então, tem uns impactos bem<br />

localizados, mas que são significativos, podem ser significativos.<br />

Outro problema que a gente tem nesses licenciamentos é na geração de ponta,<br />

esse também é um caso que apareceu lá para a gente analisar; o<br />

empreendedor pretendia, ele faria assim, o rio, a vazão média deveria ser<br />

assim, ele reserva o dia todo uma vazão, e soltaria à noite, quando ele geraria<br />

energia; então, o rio passaria o dia inteiro com dois metros por segundo, e<br />

chega numa hora tem 10 metros por segundo. Essa variação diária aqui, nos<br />

mostrou que é maior que a vazão anual, quer dizer, a vazão anual dele,<br />

tipicamente, seria superada num primeiro momento numa vazão diária. Então,<br />

esses impactos são dos mais drásticos para o rio e para a vazante do rio.


Então, um dos impactos seria perturbações na sinalização do início da<br />

piracema, quer dizer, o peixe pensaria que todos os dias são de piracema.<br />

Arrastes físicos de sedimentos de fauna e flora, na jusante, interferência com<br />

reprodução e atividades alimentares dos peixes, impacto de uso da água à<br />

jusante, você teria alguns lugares com pouca água por 18 horas, e em três<br />

horas você teria cinco vezes mais vazão naquele momento.<br />

Bom, os meandros mais usados para medição de vazão mínima, vazão<br />

ecológica, eu vou só citar, tem os hidrológicos, que são esses números aí, em<br />

função do histórico de vazão do rio, os hidráulicos, que têm um perímetro<br />

molhado, ou então por classificação de habitats, quer dizer, conhecer o método,<br />

conhecer o peixe, nesse caso do habitat; eles escolhem alguns organismos que<br />

são característicos daquele rio, nos Estados Unidos, truta e salmão, que são os<br />

característicos, e tem que descobrir qual é a condição mínima que o peixe<br />

precisa para sobreviver àquela condição; você tem que conhecer e escolher<br />

quais os organismos que você quer proteger. Mas isso é muito difícil quando<br />

você não conhece quase nada de ictiofauna, especialmente em relação à<br />

endêmica, então, essa é uma coisa difícil de definir .<br />

Aí tem esse do regime, do método do hidrograma ecológico, que teria acho que<br />

uma participação que acabou não aparecendo, que ele privilegia, ele diz a<br />

importância de você manter tanto as vazões mínimas como as vazões<br />

máximas, com a variação em hidrogramas, para poder considerar um<br />

ecossistema.<br />

Mudando agora, eu fiz um desenho, eu fui aluna do Odun, e a gente usa esse<br />

modelo aqui, mas basicamente está dizendo que o sistema natural que você<br />

tem, tanto o biótico aquático quanto a mata ciliar, é função das fontes de<br />

energia que entram nesse sistema que é a bacia hidrográfica. Então, as fontes<br />

de energia são praticamente o sol e a chuva, e muito do regime hidrológico,<br />

quer dizer, a avaliação de vazão ao longo do ano é que vai caracterizar o tipo<br />

de fauna e flora que você tem nesse local e a geomorfologia.<br />

Então, eu só queria contar o que a gente já chegou à conclusão, nós já tivemos<br />

algumas discussões na Secretaria de Meio Ambiente, uma tentativa de fazer<br />

uma resolução sobre essas vazões ecológicas, e as diretrizes maiores são:<br />

evitar geração de ponta, gerações abruptas de vazão, promover a flutuação de


vazões reduzidas ao longo do ano, conforme o regime natural do corpo de<br />

água, quer dizer, tentar manter o regime natural.<br />

As vazões mínimas gradativas, em função da importância ecológica do trecho,<br />

do impacto previsto, quer dizer, não ter só um número, mas uma gradação de<br />

valores, ter rios com barreiras naturais e trechos mais curtos, que poderiam<br />

aceitar ações mais críticas, em ambientes mais preservados, vazões mínimas<br />

mais altas.<br />

Bom, a conclusão no caso é complexa de ser resolvida; para resolver caso a<br />

caso, a gente lá no Licenciamento enfrenta isso, mas é muito difícil você, como<br />

técnico, argumentar que um valor é maior ou menor, e permitir algumas coisas,<br />

é muito difícil essa decisão, e mesmo conhecendo, pedindo que se conheça o<br />

ecossistema, a gente consulta, e pede que se faça o levantamento de<br />

ictiofauna, mas, o período é curto, não é sempre que você garante uma<br />

qualidade de estudo muito boa, e também não sabe o que essa relação,<br />

ictiofauna, demanda e questão hidrológica associada, não é uma relação que<br />

se mandou estudar, não é fácil de se obter essa resposta. E é importante<br />

porque ele pode definir as áreas a serem preservadas e definir as demandas e<br />

reserva de vazão para o trecho em análise. Obrigada.<br />

José Carlos Hori: Nós que agradecemos, Dra. Maria Silvia. E agora, para falar<br />

sobre o que é pegada hídrica, nós convidamos a engenheira agrônoma,<br />

formada pela Universidade Federal do Paraná, com mestrado em ciências do<br />

solo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1997, e Doutorado<br />

em Ciência Ambiental pela Universidade Colorado dos Estados Unidos; com<br />

mais quatro anos de experiência na área de manejo e gestão de recursos<br />

naturais; atualmente é pesquisadora associada do PROCAM, São Paulo, onde<br />

desenvolve estudos na área de governância da água e setor privado, Dra.<br />

Vanessa Empinotti.<br />

Vanessa Empinotti: Bom, em primeiro lugar eu queria agradecer o convite, a<br />

oportunidade de estar aqui e também, de mostrar um “linkezinho”, uma relação<br />

com a vazão ecológica, que afinal justifica o que eu estou fazendo aqui, falando<br />

de pegada hídrica numa mesa em que só se discute vazão ecológica. Então, o<br />

desafio é mostrar como a vazão ecológica, a pegada hídrica, é uma nova


metodologia que traz desafios para o modelo de gestão que a gente tem hoje.<br />

A intenção é trazer essa ideia e provocar um pouco mais de discussão além de<br />

tudo o que já foi mostrado aqui. Eu vou começar a minha apresentação com um<br />

vídeo, e esse vídeo foi desenvolvido por uma rede de ONGs americanas que se<br />

chama Circle of Blue. Ele foi apresentado no Fórum Econômico Mundial em<br />

2009, para mostrar àquela audiência que era formada principalmente por<br />

empresas multinacionais e as principais nações do mundo, a problemática da<br />

água. E eu queria chamar a atenção para a forma como eles trazem o problema<br />

da água, quais são as imagens que eles usam para trazer o problema da água.<br />

O vídeo tem poucas palavras, em inglês, e pelo fato de ter muitas imagens<br />

acho que não necessite de tradução.<br />

Esse vídeo, de uma forma bem provocativa e cínica, coloca que a água na<br />

verdade está presente em todas as ações que nós fazemos no dia-a-dia, e<br />

existem todas as razões para se preocupar com a questão da gestão da água e<br />

de facilitar o acesso ao recurso hídrico, mas também de uma forma eficiente,<br />

que possa propiciar o acesso a todos. O que é muito interessante nesse vídeo,<br />

é que ele transforma tudo em água e, nessa perspectiva, traz uma nova ideia<br />

de como trabalhar com a questão da água; saindo da ideia de como resolver<br />

esse problema de disponibilidade da água, através da agregação de valor<br />

econômico à água, através do serviço de distribuição, através da cobrança pelo<br />

uso. Você sai um pouco dessa perspectiva e entra em outra, que olha a<br />

quantidade de água presente nos produtos que nós consumimos, mudando a<br />

escala de ação e trazendo o conceito de eficiência de uso como ponto central<br />

nessa discussão, porque a gente está falando do quanto de água que é<br />

necessário ser utilizado para produzir um bem. Com isso nós mudamos um<br />

pouco a perspectiva da discussão; e nesse contexto, surge uma nova<br />

metodologia, que se chama pegada hídrica, em inglês water footprint.<br />

O que é a pegada hídrica? A pegada hídrica é o volume total de água utilizada<br />

na produção de bens e serviços consumidos por um indivíduo, por uma<br />

comunidade, uma cidade, um Estado, uma Nação; e o objetivo dela, dessa<br />

metodologia, é entender como a água é consumida no processo produtivo, e a<br />

partir daí, identificar em que momento a água é mais consumida, e nesses


momentos, quais as estratégias podem ser utilizadas para aumentar a<br />

eficiência do uso dessa água. Essa é a versão simplificada da fórmula, mas a<br />

fórmula, o que ela é? A pegada hídrica total, que é igual à pegada hídrica azul,<br />

mais a pegada hídrica verde, mais a pegada hídrica cinza, onde a pegada<br />

hídrica azul é a água que se refere às fontes superficiais e subterrâneas, a<br />

pegada hídrica verde é proveniente da água da chuva, que é drenada no solo,<br />

então, principalmente, você calcula a pegada hídrica verde na produção<br />

agrícola, e a cinza, que é a quantidade de água necessária para diluir a<br />

poluição produzida no processo produtivo, e manter os níveis de qualidade da<br />

água. Essa metodologia considera toda a cadeia produtiva, em todos os<br />

momentos.<br />

Aqui é um exemplo de como ela é utilizada; mais uma vez, considera a cadeia<br />

produtiva inteira, desde o agricultor, até o consumidor. Passa do agricultor ao<br />

beneficiador, à indústria, para o comércio, e daí, para o consumidor. Dentro de<br />

cada um desses momentos, é calculada a pegada hídrica total.<br />

Esse é um exemplo, que a empresa de jeans Levi’s, fez, a pegada hídrica do<br />

jeans deles, nos Estados Unidos, e ela constatou que 49% da pegada hídrica<br />

total é consumida na atividade agrícola, na produção de algodão, que na<br />

transformação do algodão para o tecido, é apenas 5% da pegada hídrica, e na<br />

loja, para o consumidor, é 45%. Daí você me pergunta “mas como 45%, de<br />

onde vem isso?” Eles entendem que é porque, quando o consumidor compra a<br />

calça jeans, ele lava a calça jeans para usar várias vezes. Então, eles colocam<br />

que é muito interessante, porque você tem a capacidade de trabalhar a<br />

perspectiva de quem é o responsável pelo consumo da água e em que<br />

momento. Então, o que eles falam? “O nosso trabalho é desenvolver tecnologia<br />

junto com os agricultores, para aumentar a eficiência do processo de irrigação,<br />

e também desenvolver toda uma tintura, conscientizar o consumidor que ele<br />

não precisa lavar a calça jeans todos os dias”; então, essa é a ideia. Outra<br />

maneira de ver a pegada hídrica é, por exemplo, esse material que vem do<br />

relatório do Banco Mundial desse ano, e que já começa a falar de produtos<br />

agrícolas em termos de pegada hídrica. Ele traz a atenção forte para essa<br />

questão de eficiência; então, ele usa o discurso da pegada hídrica para chamar


a atenção para a importância de desenvolvimento de tecnologias que<br />

aumentem a eficiência do uso da água no processo de irrigação. Ele tem<br />

primeiro, a maior gota, é a produção de carne, que para cada quilo de carne<br />

são necessários 15.500 litros de água, a produção de galinha, de frango, para<br />

cada quilo de frango são necessários 3.900 litros de água, e assim por diante,<br />

até a batata, que são 900 litros de água por um quilo de batata. Então, a gente<br />

começa a visualizar a água e traduzir os produtos em termos de água.<br />

Qual seria o impacto dessa nova metodologia? Que é uma nova estratégia de<br />

sensibilização da problemática da água, ela se torna um instrumento de gestão<br />

muito interessante, porque, como vocês perceberam, é muito fácil você<br />

identificar e entender o impacto desse consumo, você vê em litros e por quilo<br />

de produto. É uma unidade de fácil entendimento, é um cálculo simples,<br />

comparado com outras metodologias, e, ele abre espaço para negociação,<br />

entre o usuário da água e os outros setores da sociedade. A partir daí você<br />

começa a ter parâmetros para negociar, se isso é alto, se isso é baixo, como se<br />

faz para reduzir, então, você cria um espaço de diálogo que antes não tinha.<br />

Ele também traz um viés que é muito interessante, que ele agrega valor ao<br />

produto. O pesquisador que desenvolveu essa metodologia em 2002, se chama<br />

Hoekstra, não imaginava que a questão da pegada hídrica na verdade seria<br />

apropriada pelo setor privado, num momento de crise mundial, onde o mercado<br />

se reinventa, e traz a embalagem verde para o produto, que traz um diferencial<br />

verde para a competitividade, e ainda mais dentro de uma discussão de<br />

mudança do clima. Então, você começa a usar indicadores como esse, para<br />

agregar valor ao seu produto, e o seu produto assume um diferencial, porque<br />

você mostra qual é o impacto do seu produto no meio ambiente. E nisso, você<br />

começa também a ter um diálogo maior com o consumidor, o consumidor<br />

começa a ser um ator importante no processo de transformação.<br />

Nessa agregação de valor se começa a discutir toda uma linguagem de<br />

certificação, que abre novos mercados, e traz a questão ambiental para dentro<br />

da questão econômica.<br />

Aqui, um exercício rápido: quais seriam as possibilidades de impacto desse tipo<br />

de metodologia no sistema de gestão que nós temos no Brasil?


A pegada hídrica pode ser um auxiliar no processo de identificação de<br />

coeficientes de eficiências do uso da água; que esses coeficientes são uma<br />

demanda do Plano Nacional de Recursos Hídricos e já começou uma discussão<br />

dentro da Secretaria de Recursos Hídricos, para definição desses coeficientes.<br />

E também, pode-se começar a utilizá-lo como um instrumento de previsão de<br />

demanda de água, de acordo com as atividades produtivas desenvolvidas na<br />

bacia, que se você sabe o quanto de água é necessário para produzir uma<br />

tonelada de cana-de-açúcar, e você tem uma área “x”, que você sabe qual é a<br />

tonelada produzida ali, você pode começar a ter ideias de quanto de água foi<br />

utilizada naquela atividade econômica; então, a gente sabe que existe um<br />

caminho muito grande nessa questão, de você ter acesso a informações, a<br />

dados do setor produtivo. Isso poderia ser um motivador para iniciar uma<br />

discussão, até para gerar dados que não são necessariamente aqueles que<br />

refletem a realidade, mas são dados que iniciam uma discussão, para que se<br />

chegue a esses dados reais; e também, ao referencial de consumo de água, é<br />

um mecanismo que pode servir para incentivar e premiar os usuários que já<br />

consomem menos água do que se esperaria de um padrão aceitável. Dessa<br />

forma, você abre caminhos de discussão, em várias direções.<br />

Para finalizar, o que essa metodologia trás para a discussão? Novamente, uma<br />

nova maneira de identificar a presença de água no dia-a-dia, ela atinge a<br />

sociedade como um todo, é facilmente reconhecida, as pessoas não precisam<br />

ser especialistas em recursos hídricos para entender o impacto disso, você<br />

começa a ativar novos atores, que nesse caso seriam os consumidores. No<br />

momento que eu tenho um grupo de consumidores, que demanda produtos que<br />

tenham um impacto ambiental menor, ele começa a pressionar para que esse<br />

tipo de indicador seja utilizado pela indústria, porque, ele está interessado em<br />

consumir um produto com esse perfil. Então, hoje em dia já existe, começou na<br />

Finlândia: uma empresa que produz cereais colocou na embalagem dela a<br />

pegada hídrica daquele produto (da aveia). Você começa a ver que está<br />

acontecendo isso na prática, adicionando um diferencial em produtos de<br />

consumo diário das pessoas.


Novamente aumenta a visibilidade da questão da água na sociedade, e abre<br />

espaço para novos mercados. A mudança é incentivada pelas possibilidades<br />

de agregar valor ao produto. Você percebe que essa mudança não é gerada<br />

por comando, controle, consenso, mas é gerada pelo mercado, sendo<br />

interessante perceber por onde, que outros caminhos a gestão de recursos<br />

hídricos pode ser impactada e também possa ter vantagem utilizar esses<br />

mecanismos, que não vieram de dentro do sistema.<br />

Terminando, a nova ferramenta de negociação identifica a área de maior<br />

consumo de água no processo produtivo, ou pelo menos abre espaço para<br />

discussão, onde essa água está sendo consumida. Cada ator vai contar a sua<br />

história, como a calça Levi’s contou. Mas pelo menos existe espaço ali para<br />

mostrar ‘’espera aí, vamos olhar por essa outra perspectiva, se a gente<br />

considera cada setor produtivo separadamente, qual o impacto...’’ e você gera<br />

um ambiente de discussão, que hoje em dia não existe.<br />

Então a sua contribuição é no desenvolvimento de estratégias para resolver o<br />

problema, um fácil entendimento, por ser uma unidade litros por quilo, e um<br />

cálculo simplificado. E lembrando, ela traz o foco da discussão para a eficiência<br />

do uso do recurso hídrico. Muito mais do que você cobrar, do que você<br />

controlar, mas ela foca a atenção em como o recurso hídrico é utilizado, e qual<br />

é a referência de como ele deveria ser utilizado. É isso, obrigada.<br />

José Carlos Hori: A Dra. Yvonilde precisou ir embora. Teremos agora perguntas<br />

em bloco; temos aqui na mesa, a Dra. Leila, Dra. Silvia, o Eduardo, e a Dra.<br />

Vanessa.<br />

Fernando: Sou de São José do Rio Preto, Secretaria de Educação, minha<br />

pergunta é para a Dra. Vanessa, não pergunta, é mais um pedido para<br />

complementar a explicação sobre a pegada, que foi comentada hoje, e eu<br />

gostaria de fazer duas abordagens rapidamente, para poder demonstrar qual a<br />

minha preocupação com o que foi apresentado; por exemplo, hoje nós tivemos<br />

algumas atividades que demonstraram o alto consumo de água na agricultura,<br />

não foi totalmente debatido, mas ficou claro aí a ausência do setor. Então,<br />

quando um setor, por exemplo, no Cerrado, a irrigação, bem acentuada, a


produção de melão, e quando se dá a exportação desse melão, está sendo<br />

considerada a pegada que está embutida nesse melão, quer dizer, o detentor<br />

do mercado da fruta de exportação é quem tem lucro na venda da nossa água;<br />

essa é uma questão que eu gostaria de refletir um pouquinho mais com a<br />

mesa. Por outro lado, quando a gente exporta bauxita para que industrializem<br />

uma lata de alumínio, e a gente importa o produto, ficando ao nosso encargo, a<br />

reciclagem dessa lata, desse alumínio; também é um fator negativo para quem<br />

importou; então, eu estou querendo refletir um pouco mais na informação que<br />

para mim é novidade, com relação tanto à exportação, no caso do fruto, com a<br />

água indo embora, como no caso de a gente estar tendo que limpar o que<br />

sujaram no caso do alumínio.<br />

Jozrael: Sou da FATEC Jaú, onde coordeno um curso de meio ambiente e<br />

recursos hídricos, e sou vice-presidente do Comitê de Bacia Tietê-Jacaré;<br />

gostaria de parabenizar todos os debatedores, em especial a Professora<br />

Yvonilde, que já não está, mas eu gostaria de parabenizá-la porque, ela tocou<br />

num ponto importante, que é o pulso de um rio, e a gente ouve falar muito<br />

pouco disso. O rio tem que variar a sua vazão, a flutuação de vazão de um rio,<br />

do ponto de vista ecossistêmico é fundamental, não só o ecossistema aquático,<br />

mas os processos ecológicos de todos os sistemas ribeirinhos demandam esse<br />

curso, principalmente aqueles rios que têm planície de inundação. Então, ela<br />

tocou num ponto fundamental, todo rio ou todo trecho de rio, que tem uma<br />

vazão totalmente regularizada, que é uma reta, não está equilibrado do ponto<br />

de vista ecológico; mas o meu questionamento vem para o outro lado, eu vou<br />

apresentar na seção técnica um trabalho sobre avaliação fluviológica, de<br />

alguns rios, do Tietê-Jacaré, comparar o que é medido com o que é estimado<br />

pela hidrologia; então, o Eduardo colocou a importância de a gente ter séries<br />

históricas de vazão; e infelizmente, eu gostaria de fazer essa pergunta, nós<br />

tínhamos no Estado de São Paulo uma rede pequena, operada pelo DAEE, se<br />

não me engano eram 88 postos fluviométricos, quando foi feita a regionalização<br />

hidrológica do Estado, com vazão diária, foram considerados os dados de 88<br />

postos fluviométricos de vazão diária, e 219 considerados de vazão mensal. E<br />

a gente sabe que a partir da década de 90, de meados da década de 90, essa<br />

rede foi sucateada, hoje ela não está operando dentro dessa totalidade, ou


seja, em vez de melhorar ela piorou. O meu trabalho por exemplo, como eu fiz<br />

comparativamente, eu tive que parar em 98, porque vários daqueles postos que<br />

eram operados diariamente, que tinham leituras diárias, aquelas réguas não<br />

existem mais; a gente sabe que tem tecnologia, desde a mais simples, um<br />

observador medindo a altura, seção transversal, estações fluviométricas,<br />

automatizadas, com tempo real, enfim. Mas, qual é o tamanho da rede<br />

fluviométrica operada hoje? Porque, como é que nós vamos falar sobre<br />

disponibilidade se a gente não está medindo essa vazão? O que está<br />

acontecendo com os nossos rios, esse é um problema que nós temos, sério no<br />

país, nós medimos pouca vazão, e quando a gente fala em pequenas bacias<br />

hidrográficas, isso praticamente não existe. Então, o questionamento é: tem<br />

algum planejamento para melhorar essa medição das vazões dos nossos rios?<br />

Plateia: Minha pergunta é para a engenheira Vanessa, você citou dois<br />

produtos, calça e aveia, se tem um comparativo antes e pós, da divulgação da<br />

pegada, desse consumo? Isso assustou o consumidor em relação ao<br />

consumo? E também, sobre essa certificação, você mencionou da certificação,<br />

ela vem de onde? O comparativo mundial, regional, como se faz a certificação?<br />

Leonardo: Eu sou pesquisador científico da Secretaria da Agricultura, sou<br />

Doutor em Apicultura, queria parabenizar a Professora Maria Sílvia, que falou<br />

sobre os peixes, que nesses dois dias estou aprendendo muito, que eu vi agora<br />

da importância, quase ninguém estava falando, eu vejo muito essa parte da<br />

vazão, que é a minha área de especialidade, então, ela lembrou bem essa área<br />

do peixe. A minha pergunta vai para a Vanessa, como eu sou da área de<br />

agricultura, da parte zootécnica, eu vi alguns dados ali de criação, eu gostaria<br />

de saber se existem alguns dados extensivos, antes, que ali são dados<br />

zootécnicos onde você tem que confinar, melhorar, e se tem algum dado<br />

extensivo, talvez o gado consumisse 13 mil litros só de ter nascido um bezerro<br />

e ter virado boi; um frango só ter virado galo em casa, consumiria três mil litros,<br />

então, se tem algum parâmetro que a gente possa melhorar a atividade<br />

zootécnica.<br />

José Carlos Hori: Vamos passar a palavra para a Dra. Vanessa.


Vanessa Empinotti: Bom, a primeira foi um comentário do Fernando, que é a<br />

questão da pegada hídrica, mas principalmente da água, que está presente<br />

dentro dos produtos de exportação, mais a questão de importação, de como<br />

você lida com resíduos. Essa questão da exportação tem um conceito e uma<br />

discussão muito grande que se chama água virtual, que se fala exatamente<br />

disso, de como a água é exportada dentro de alimentos, e inclusive ela justifica<br />

isso porque ela traz uma escala global para discussão da água e ela coloca que<br />

muitos dos conflitos que poderiam estar ocorrendo em países que têm<br />

problemas de disponibilidade hídrica, eles não ocorrem tanto porque essa água<br />

é importada de outros lugares através dos alimentos; então, você não produz o<br />

alimento naquela região porque não tem água, mas você importa esse alimento<br />

de outra região que tem. Essa perspectiva começou a ser discutida em 1998,<br />

ainda é muito recente, mas começa a aumentar o interesse nessa discussão;<br />

inclusive, até de como é que você reconhece essa água que está sendo<br />

exportada, porque você paga pelo produto de mercado, o que é definido no<br />

produto da soja, na bolsa de Chicago, mas ninguém está falando da água que<br />

está ali dentro. Com isso existe toda uma discussão que tem que se começar a<br />

fazer, de até que ponto que esse valor agregado da água, presente no produto,<br />

vai ser agregado ao valor do próprio produto. Mas isso aí é uma longa<br />

discussão, e você pode imaginar o nível que vai, quando você começa a falar<br />

de mercado internacional e de barreiras que podem começar a surgir em<br />

função disso; até mesmo em função de como você define os processos não<br />

eficientes do uso da água, que possam estar caracterizando a sua produção de<br />

uma forma negativa; então, tem vários caminhos por onde ir. E essa outra parte<br />

dos resíduos, também é o que a gente poderia chamar de um passivo, a gente<br />

compra um produto e assume a responsabilidade de lidar com esse resíduo;<br />

então, isso também é um ponto super polêmico e atual, e você vê essa<br />

discussão muito grande, acontecendo tanto nos países desenvolvidos como<br />

nos em desenvolvimento, porque você vê toda essa problemática de<br />

exportação de lixo, e a gente nem está falando da África, que é assim, uma<br />

coisa horrorosa, o que outros países fazem. Estas são questões atuais, e são<br />

os problemas do futuro, com certeza; e é importante você reconhecer essa<br />

problemática para daí ocorrer essa discussão e definir maneiras de resolver o


problema, não apenas assumir o problema do outro. Com relação à certificação<br />

e impacto com o consumidor, ainda está bem no início, esse selo da aveia foi<br />

criado no ano passado, e ainda ele é muito restrito àquele país, o que se<br />

percebe é esse compromisso e esse interesse em você começar a classificar o<br />

seu produto em função da quantidade de recursos naturais que você utiliza.<br />

Você percebe que essa dinâmica começa com o carbono, começa essa<br />

discussão com a pegada do carbono, a quantidade de carbono que você emite<br />

no processo produtivo, isso começa a entrar nos relatórios socioambientais das<br />

empresas, com um diferencial de valorização do produto, e agora você vê essa<br />

mesma tendência para a água. Então, ela é interessante de se perceber, ela é<br />

muito nova e ainda não tem a referência do que é o bom. A empresa colocou o<br />

selo na aveia, mas e daí? Quem me diz que essa é a boa referência? Que é<br />

essa a quantidade de água que deveria ser utilizada? Então, ainda não temos<br />

isso. Da calça Levi’s, ela não foi publicada, ela foi apresentada num congresso,<br />

entre outras empresas, então, é inicial, é uma discussão interna da indústria,<br />

mas é interessante para a transparência para o consumidor, quando ele<br />

consome um produto. Quanto à questão de certificação, ela ainda não existe,<br />

ela começou a ser discutida pela ISO, e aí já entra outra problemática<br />

enlouquecedora, porque você começa a ter tensões entre diferentes<br />

metodologias de avaliação, você tem a metodologia da pegada hídrica, você<br />

tem a metodologia de avaliação de ciclo de vida, que são diferentes, e você<br />

começa a questionar mercados que já existem na área de certificação. Porque,<br />

a pegada hídrica, ela não precisa, tudo bem, ela tem que ter especialistas para<br />

calcular, mas ela não é tão específica e não precisa de tantos conhecimentos<br />

específicos quanto à análise de ciclo de vida. Então, aí já começa outro tipo de<br />

discussão, que vai ser essa tensão de qual que vai ser a certificação que vai<br />

ser reconhecida; e a gente percebe que o Banco Mundial e a ONU já vêm<br />

utilizando a pegada hídrica e outras empresas multinacionais também,<br />

pesadas, como a Levi’s, a Nestlé, o setor petroquímico, já existem redes, a<br />

Water Footprint Network, que é formada por várias empresas multinacionais de<br />

grande impacto, então, você percebe que há uma apropriação dessas<br />

empresas para esse tipo de referência.<br />

Para finalizar, queria falar para meu colega, engenheiro agrônomo, da questão<br />

da criação do gado, com certeza, esses valores são extremamente gerais, eles


não reconhecem as diferentes técnicas de produção; e eles também têm que<br />

considerar que cada região, dentro do país, vai ter uma pegada hídrica<br />

diferente, que aí, você está falando da disponibilidade hídrica que tem nessas<br />

regiões. Então, essa metodologia está se iniciando, e ela precisa ser adaptada<br />

para essas várias condições, e a gente tem que tomar muito cuidado para isso,<br />

estar atento a isso; que não adianta você criar um valor e falar “essa é a<br />

referência para todo mundo seguir” porque, não é verdade, você tem que<br />

respeitar as diferenças de cada local. Então, esse é o grande desafio de um<br />

indicador. Mas é importante considerar essas diferenças, produção intensiva e<br />

produção extensiva. Essas são as discussões que os técnicos de cada área<br />

têm que trazer, para o debate e melhoramento da metodologia.<br />

José Carlos Hori: Obrigado Dra. Então, antes de passarmos para a Rosa. A<br />

Doutora...<br />

Leila Gomes: Primeiro uma resposta rápida ao nosso colega que perguntou<br />

sobre a rede plu e flu do Estado; 15 dias atrás mais ou menos eu consultei o<br />

Márcio Ribeiro, que é consultor do CTH, e ele me falou que estava em torno de<br />

200 e 500; qual é a grande questão da quantidade? É a questão das séries<br />

históricas, que nem todas estão sendo trabalhadas, você tem o dado, mas nem<br />

todas estão com essas séries consistidas. Existe um trabalho intenso, no<br />

CORHI, de alguns projetos, não só para ampliar essa rede, mas também para<br />

fazer uma integração de dados em quantidade e qualidade, que estão em<br />

andamento. O pessoal me pediu para fazer uma colocação final, que a gente<br />

gostaria de falar, e é menos como DAEE e mais como sistema; vocês viram as<br />

dificuldades que a gente colocou aqui da conciliação, de conseguir trabalhar,<br />

CNRH e CONAMA. No Estado de São Paulo a gente não tem essa experiência,<br />

muito pelo contrário, produzimos resoluções conjuntas, envolvendo não só os<br />

recursos hídricos, DAEE, CETESB, SMA, que são resoluções muito<br />

importantes e que deram um avanço nessa questão da integração de recursos<br />

hídricos e meio ambiente, e recentemente, três anos atrás, a Secretaria da<br />

Saúde, que tem sido uma parceira muito interessante, o Sérgio Valentim estava


aqui na mesa de manhã, não sei se ainda está. Na gestão de águas<br />

subterrâneas existe uma resolução que integra essas três instâncias, e o<br />

pessoal tem tido muita seriedade na condução da aplicação dessa resolução, e<br />

o mesmo não conseguimos fazer no Conselho Nacional de Meio Ambiente e<br />

Recursos Hídricos, mas pelo menos no Estado de São Paulo a gente está<br />

caminhando. E a última fala, rapidinho, é reforçar o papel dos comitês na<br />

gestão dos recursos hídricos, em questões como essas que a gente colocou<br />

aqui, quer dizer, que o plano consiga efetivamente nos trazer diretrizes, que<br />

auxilie os órgão gestores em quantidade e qualidade, nas suas atividades de<br />

outorga e licenciamento; tanto a questão de vazões de referência, quanto ao<br />

estudo mais detalhado de criticidade de bacia; ou seja, o belo papel que o<br />

comitê tem, terá, no sentido de atuação da sociedade, no sentido de cada um<br />

definir o que quer para seu rio; é preservar mais? Para que os peixinhos fiquem<br />

mais tempo ali namorando mais? É uma pressão da sociedade local no sentido<br />

de que tem a PCH, hidrelétrica, indústria...? Efetivamente esse é um grande<br />

papel, e que cabe a todos vocês que estão aqui, o que cada um quer para seu<br />

rio. Obrigada.<br />

José Carlos Hori: Muito obrigado, passamos agora ao Dr. Eduardo.<br />

Eduardo Mazzolenis: Sobre a questão das redes, a Dra. Leila já colocou, o<br />

desafio para os órgãos gestores, a partir da criação dos sistemas de gestão de<br />

recursos hídricos, por exemplo, quer dizer, os órgãos não foram estruturados<br />

para a criação de movimentos sistêmicos, então, desde a criação estão se<br />

estruturando, dificuldades como essas vão surgir, e a Dra. Leila explicou a<br />

questão das redes, de quantidade. Com relação, por exemplo, às redes de<br />

qualidade, a gente na CETESB tem evoluído, discutindo a questão com os<br />

planos, com as agências regionais e muitas vezes também com os comitês.<br />

Mas o que é interessante, na necessidade de dados de quantidade, por<br />

exemplo, lembrar, que se existe um gestor de quantidade no Estado, que é o<br />

DAEE, também existem entidades que geram dados de quantidade, e a gente,<br />

junto com o DAEE, vai obtendo esses dados, dessas outras entidades, e vai<br />

tentando compor a base de quantidade para avaliação de qualidade; por<br />

exemplo, as empresas de saneamento, setor elétrico, no final do ano, quando


produz o relatório de qualidade, a gente se embasa nos dados disponíveis do<br />

DAEE e todos os outros dados disponíveis das outras instituições, consistimos<br />

esses dados, e trabalhamos com eles. No sistema estadual de recursos<br />

hídricos há um projeto FEHIDRO, bastante interessante, que é o quê?<br />

Diretrizes de monitoramento integrado de recursos hídricos em São Paulo; há<br />

muitas demandas em vários comitês, em vários órgãos do Estado, então, a<br />

ideia era tentar fazer como se fosse um projeto diretor de monitoramento, que<br />

considerasse a parte quantitativa, qualitativa, fluviométrica, subterrânea,<br />

meteorológica, superficial .Diagnóstico do sistema, ver como ele funciona, suas<br />

características, manutenção, custos, verificar a problemática da gestão de<br />

qualidade e quantidade, a necessidade de monitoramento, principalmente<br />

agora com a chegada do enquadramento, com a questão da cobrança. Então,<br />

seja para a vazão ambiental e ecológica, seja para a aplicação efetiva dos<br />

outros instrumentos do sistema, a gente precisa realmente de dados, séries<br />

históricas de dados. A gente pode reunir os experts, pode discutir o<br />

crescimento da região, isso é fundamental e deve ser incentivado, mas, a base<br />

histórica de dados é importante, não só para os estudos, mas para a<br />

democratização da gestão; é fundamental estruturar uma rede de<br />

monitoramento, de quantidade e qualidade, articulado, em que os dados sejam<br />

inclusive disponíveis à população, é garantia da democracia, do<br />

acompanhamento, mais do que até mesmo o grupo de experts; o grupo de<br />

experts contribui e colabora com essa definição, mas o acompanhamento<br />

social e as decisões do fórum de decisão do parlamento, que é o comitê, se dá<br />

nessa medida. Então, eu só queria resgatar isso, e também, fazer a minha<br />

consideração final, na mesma linha da Leila, a gente que tem participado todos<br />

esses anos da elaboração, da implementação do Sistema Nacional de<br />

Recursos Hídricos, a gente fica feliz de ver que tem um congresso de comitês,<br />

com gente de todas as formações, prefeitos, antes não tinha muita<br />

representação do parlamento, do Executivo, agora a gente percebe que tem<br />

cada vez mais. As entidades da sociedade civil, o pessoal se capacita, se<br />

interessa, questiona, e dessa relação é que o sistema evolui; talvez o sistema<br />

de política pública no Brasil, junto com o sistema de saúde, com todas as<br />

limitações, o sistema mais evoluído, em termos de gerar decisões, implementar<br />

decisões, possibilitar o acompanhamento dessas decisões, se chama sistema


de gestão de recursos hídricos; e a aplicação de conceitos, como eles<br />

colocaram aqui, a vazão ecológica, vazão ambiental, implantação disso,<br />

articulado com enquadramento, com outros sistemas, é papel fundamental<br />

ligado aos comitês de bacia; isso não quer dizer que os órgãos gestores não<br />

devam estar articulados e preparados, não, eles devem se desenvolver, mas a<br />

partir de um fórum de participação, a partir de um espaço de discussão do<br />

sistema estadual e do sistema nacional de gestão de recursos hídricos. Então,<br />

parabéns ao fórum, parabéns a vocês, e quero deixar claro também que a<br />

gente está sempre aprendendo, essa mesa foi muito rica, a reflexão prática que<br />

a gente teve aqui também.<br />

Maria Silvia Romitelli: Eu também queria agradecer por ter estado aqui, aliás,<br />

eu mentalizei, como é que estavam as discussão nos níveis federal e estadual,<br />

eu não conhecia. Que a gente se sente meio isolado quando está fazendo<br />

licenciamento, nós ficamos tão pressionados para responder alguma coisa de<br />

maneira urgente e não conseguimos ter muito como discutir isso; embora a<br />

gente tenha consultado os comitês de bacia. Então, eu queria fazer um apelo<br />

para que as manifestações dos comitês também refletissem as preocupações<br />

regionais e talvez até com a questão ecológica também, para não deixar os<br />

peixinhos só para nós, e também, o conhecimento, talvez o FEHIDRO pudesse<br />

ajudar, eu não sei se ele financia alguma coisa para conhecer melhor, a<br />

ictiofauna, regional, que é interessante que se conheça, é parte da bacia.<br />

Obrigada.<br />

Vanessa Empinotti: Eu também quero agradecer, qualquer dúvida que vocês<br />

tiverem da pegada hídrica, a gente está à disposição na USP e também em<br />

“provocar”, que eu acho que essa platéia aqui está atrás de desafios, senão,<br />

ela não estaria aqui. Obrigada.<br />

José Carlos Hori: Nós é que agradecemos a todos os palestrantes, a quem tem<br />

a incumbência de amanhã expor o resumo desse encontro. Agradeço ao Dr.<br />

Eduardo, Dra. Leila, Dra. Vanessa, Dra. Maria Silvia, pelas belíssimas<br />

apresentações. Vou pedir um minuto para a Dra. Rosa, só para dizer o<br />

seguinte: no Japão tem várias modalidades esportivas muito conceituadas, mas


o Judô é uma delas que desponta; então, toda vez que vir alguém, um atleta<br />

com uma faixa branca, andando pelas ruas do Japão, numa escola ou numa<br />

academia, ele é visto como quem está começando, sabe muito pouco; e aquele<br />

que é visto com uma faixa preta, de imediato é visto, não como estamos<br />

pensando agora, mas é visto como aquela pessoa que realmente está<br />

preparada para crescer mais e aprender mais; não é que atingiu o ápice. Eu<br />

entendo como a Dra. Vanessa disse, aqui tem um grupo de faixa preta,<br />

pessoas que estão muito preparadas, em busca de desafios, em busca de<br />

aprendizado, e é graças a vocês, idealizadores, sonhadores, com ideal, que a<br />

gente consegue junto com o Governo do Estado, à Secretaria de Meio<br />

Ambiente do Estado, fazer com que esse II Congresso, tenha o sucesso que<br />

está tendo, vindo pessoas competentes, pessoas comprometidas, e vocês,<br />

idealizadores e sonhadores, que trabalham. Eu estou como prefeito, como<br />

presidente de comitê de bacias, mas aprendo muito com isso. É muito gostoso<br />

ver o quanto a gente hoje, apaixonados por meio ambiente, mudou, e mudou<br />

muito. Então, parabéns, esse é um momento mágico para a gente. Rosa, a<br />

palavra é sua.<br />

Rosa: Eu quero finalizar a sessão, temos 10 minutos para o café, e na<br />

sequência voltamos.

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