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GUATEMALA<br />
ajudará a entender a vida política da civilização maia”, “Secas<br />
provocaram declínio dos maias”, “Guatemala decifra um dos<br />
mais longos textos da civilização maia, e guerras podem ter<br />
sido fatais para seu povo”, “Superpopulação pode ter abalado<br />
império maia”, etc. Sem contar o possível caos ambiental, a<br />
grandeza do conhecimento maia no campo das ciências, levou<br />
o astrônomo brasileiro Ronaldo Mourão a defender a tese de<br />
que o declínio dessa civilização ocorreu em meados do século<br />
11, quando foram assinalados dois fenômenos astronômicos<br />
notáveis. O primeiro foi o alinhamento dos grandes planetas<br />
ocorridos em 1050 e o segundo, a explosão de uma supernova<br />
(registrada pelos chineses em 1054). Estes dois acontecimentos,<br />
de acordo com Mourão, poderiam ter influenciado as<br />
mentes astrológicas dos maias, contribuindo para o início<br />
do fim de sua grande civilização. É importante notar que os<br />
maias abandonaram suas cidades, mas não desapareceram.<br />
Eles constituem hoje a maioria da população guatemalteca.<br />
Onde a paisagem de lagos e florestas se interrompem, surgem<br />
as ruínas da cidade de Yaxhá, que numa tradução livre significa<br />
água verde ou azul. Localizada a 50 quilômetros de Flores<br />
é uma jóia ainda quase oculta. Quando chegamos, envolta<br />
numa neblina, Yaxhá parecia uma cidade encantada. Tremeluzindo<br />
no calor tropical, a noção de magia coexistia pacificamente<br />
com a realidade. Não é exagero dizer que as primeiras<br />
imagens marcantes, no interior daquele bosque úmido, no<br />
silêncio carregado de significados, foram a grande quantidade<br />
de árvores que abrigavam robustas gameleiras. Estas, que lembram<br />
os cabelos da Medusa, abraçam e sufocam suas hospedeiras<br />
até a morte. Além da fronteira do fantástico, na sombra<br />
e na luz do sol, surgiam as imponentes ruínas de templos e<br />
palácios dessa cidade. Percorrendo as calçadas, como seus<br />
habitantes chamavam as trilhas que ligavam seus pontos mais<br />
importantes, e já com a névoa dissipada, pude admirar a beleza<br />
de suas construções. Embora o ar tórrido não fosse renovado<br />
por nenhuma brisa e eu me tornava muito apetitoso para<br />
os mosquitos, não apressava meus passos, pois a paisagem<br />
merecia ser contemplada. Ao deixar as ruínas, uma cortina de<br />
chuva zerou a visibilidade, tornando o panorama idêntico ao<br />
de minha chegada. É tarefa árdua captar em palavras a ciência<br />
de um grande povo. Foi isso que senti em Tikal, a mais bela<br />
das cidades maias, e tombada pela Unesco como Patrimônio<br />
Cultural e Natural da Humanidade, desde 1979. A visão é<br />
deslumbrante! À medida que caminho pelas alamedas, entre<br />
suas inúmeras praças, um pensamento é dominante: como<br />
eles construíram essas edificações, em pedras, no interior<br />
dessa selva? É de causar inveja para os urbanistas de hoje. Para<br />
se ter uma idéia da grandeza desta cidade, são 3000 construções,<br />
entre palácios e templos, mas apenas 15% restauradas.<br />
Na Plaza Mayor, a mais imponente, estão os grandes templos,<br />
del Grande Jaguar, de las Máscaras e la Acrópolis Norte.<br />
Em frente a todos palácios, altares e estelas de dois metros de<br />
altura contam um pouco da história desse povo. A praça é<br />
sedutora. Imagino a cena na época do seu apogeu, multicolorida,<br />
pois os maias pintavam com cores vivas as cresterias<br />
(cristas) de seus edifícios e os dintéis das portas principais<br />
dos palácios. A praça explodia de vida com seus habitantes<br />
em trajes enfeitados de penas de várias tonalidades e adornos<br />
em jade. Uma outra pátina, desta vez de magia recobre essa<br />
cidade. Ela era um centro cerimonial para os maias, e ainda<br />
hoje eles vêm de todas regiões do país fazer suas orações e<br />
oferendas. Notei que na frente de uma Estela, duas senhoras<br />
vindas de uma região longínqua da Guatemala, preparavam<br />
um ofertório para seus deuses em forma de mandala. Muitos<br />
turistas começaram a se aproximar e as maias pediram a todos<br />
que se afastassem ao máximo, porque o ritual era particular.<br />
O destino de uma viagem pode estar na imprevisibilidade<br />
do contato com sua gente, pois apenas um, entre dezenas de<br />
observadores, foi convidado a participar da cerimônia. Por<br />
quê? Para elas o nahual – espírito de um animal da floresta<br />
que habita o corpo - dele, era muito forte. A verdade é que esse<br />
viajante que quase cancelou sua ida a Tikal por um problema<br />
no joelho e cujas dores o impediam de andar regularmente, na<br />
mesma hora sentiu-se 90% recuperado. Esse roteiro, além de<br />
fonte de aventuras, é propicia a reflexões, e ao deixarmos Tikal,<br />
a paisagem que transbordava era das cores do crepúsculo.<br />
O azul cobalto dos lagos<br />
Saímos das cidades maias, cápsulas do tempo, e partimos para<br />
o Lago Atitlán e seus povoados, a leste da capital guatemalteca.<br />
Ziguezaguando pelas encostas e tendo sempre a vista o<br />
azul cobalto do lago, entendemos porque essa região foi considerada<br />
pelo escritor Aldous Huxley, como um dos lugares<br />
mais bonitos do mundo. Sem dúvida, as vilas de Santiago de<br />
Atitlán, Santa Catarina, Panajachel e outras que margeiam o<br />
lago, em plena Sierra Madre, a 1500 metros de altura, sugerem<br />
a imagem zen de uma plácida pintura japonesa. Puro engano!<br />
O peso das sombras dos vulcões ativos Toliman, Atitlán e São<br />
Pedro suscita o medo pela força da sugestão, porém logo dissipado<br />
pela beleza do lago que constitui um dos orgulhos da<br />
Guatemala. Merecidamente. No trajeto para o Lago Atitlán,<br />
passamos por Chichicastenango, uma cidadezinha como<br />
qualquer outra, mas onde, as quintas e domingos, se realiza<br />
uma feira indígena das mais singulares das Américas. Insólita,<br />
surrealista, incensada e mirabolante. Tantos adjetivos são poucos<br />
para definir e entender porque esse país é conhecido com<br />
o mais colorido do mundo. Ali as roupas de várias tonalidades,<br />
padrões e texturas dos guatemaltecos revelam a herança maia.<br />
Cada grupo (são 22 variantes) e povoados do país possuem cores<br />
e padrões próprios, que reafirmam sua identidade cultural.<br />
Trajes típicos sempre<br />
Diferentemente de outros povos, os descendentes dos maias<br />
usam trajes típicos sempre, e não apenas em dias de festa. As<br />
estampas contam sobre animais, plantas, eventos históricos e<br />
religiosos de cada região. É na blusa das mulheres, chamadas<br />
huipil, a maioria delas bordadas à mão, que essas histórias são 2<br />
52 2011 BRASIL TRAVEL NEWS