MÉXICO e teatros, rodeados por jardins, fontes, pátios e praças. Estes são os pontos de encontro das famílias nos ensolarados finais de semana. Ali se realizam mostras de artesanato, vendem-se frutas frescas embaladas como presentes para serem degustadas na hora, e cactos, uma das paixões dos mexicanos. No edifício Cabanas, a antiga capela foi pintada com suas expressivas figuras pelo muralista e revolucionário José Clemente Orozco (1883-1949). No centro da cúpula, a pintura de um homem queima envolto em chamas. Dizem os entendidos que é o scorcio (perspectiva em plano oblíquo) mais belo do mundo. Acredito ter visto Orozco ali, representado altivo, ardente e inflamado de mexicanidade. Um dos mais agradáveis passeios acontece na vila de Tlaquepaque que se localiza a quinze minutos do centro de Guadalajara. A cidade de nome sonoro era desde 1542, antigo pueblo de artesãos antes da chegada dos conquistadores espanhóis. Estes construíram suas mansões na calle Real, onde hoje estão galerias de arte, como a que vende cerâmicas e quadros do artista Rodo Padilla. Suas figuras representam mães carinhosas, casais andando de bicicleta com enormes buquês de flores e gordinhos com bigodões e chapelões, bem ao estilo mexicano. Nas lojas de decoração e restaurantes, às vezes juntos, vê-se o melhor do colorido artesanato mexicano, elaborado em palha, madeira, tapeçaria e papel-machê. Vale uma espiada na Casa Fuerte, onde se encontra de um tudo, e esse tudo tem colorido especial, além de inusitadas, mas harmoniosas combinações de lilases ao lado de verdes e laranjas. São objetos para decoração, cerâmica, vasos, bijuterias e quadros que retratam as camponesas em seus exuberantes trajes que mais parecem uma explosão cromática. No mercado Juares, freqüentado por moradores e visitantes, os produtos estão organizados por setores: frutas, comida feita na hora, artesanato e pimentas. Alí se encontram pimentas frescas, secas, em rama, em sementes, e em pó, e nas tonalidades que vão do laranja intenso, ao vermelho acerejado, até o escuro betume. Entre as mais piscosas – ardidas – segundo a senhora Ramirez, proprietária do mais concorrido box do mercado, estão a chili pikin, chipotle, morita, e a yahualica. Alebrijes na família “Eu poderia afirmar que o papel-machê corre nas veias da minha família. Meu avô Pedro Linares é o criador dos alebrijes, mas há cinco gerações os Linares elaboram máscaras para o carnaval em papel-machê”, conta Leonardo sem disfarçar o contentamento de ver I Diferentes tipos de artesanato criado pelos mexicanos o trabalho reconhecido internacionalmente. As máscaras representavam animais como tigres, dragões e serpentes, geralmente em atitudes ferozes, bem ao gosto popular da época.” Porém um dia meu avô ficou doente. A febre alta o fazia delirar. Via criaturas monstruosas, talvez uma mistura dos animais que criava”. Quando Pedro recuperou a saúde, quis reproduzir em papel-machê os estranhos monstros que sonhara. Esses aliados à criatividade dele, logo ganharam notoriedade. Foi convidado para expor sua obra em um museu de Los Angeles, Califórnia, além de receber elogios, do Museu Britânico, Museu do Homem em Londres, Museu George Pompidou na França e do Royal Museu de Arte Moderna da Escócia. Outros artesãos mexicanos foram influenciados pelos alebrijes, mas sem querer competir com a obra dos Linares e para diferenciar, os realizam em diferentes materiais como madeira ou tecido, e recebem o nome de Nahuales. Dizem que o nome alebrije provém do dialeto nahuatl, mas para Leonardo o mais certo é que os monstros sonhados gritavam essa palavra para Pedro.”A verdade é que da palavra e da imagem surgiram essa “poderosa enfermidade” que os Linares transformaram em arte”. A Bebida dos deuses A cartela de cores da paisagem da região de Tequila, no Estado de Jalisco e apenas a uma hora de Guadalajara, se reveste de uma pátina doce e pálida. Obra das nuvens e da fumacinha do vulcão Tequila, com sua dominante silhueta atrás dos extensos campos de agave. Confundida com o cacto, na verdade essa planta da família das xerófitas, de folhas longas e aceradas, semelhante a um grande pé de abacaxi, possui um inusitado e bonito tom azul, levemente esverdeado. O azul se torna mais evidente pelo contraste com a terra ocre amarela, própria dos terrenos argilosos e vulcânicos. Neles trabalha o jimador que com a coa, um afiado instrumento, vai cortando as folhas até surgir uma robusta piña que demora dez anos para se desenvolver. Cozida durante 72 horas, quando se extrai um sumo que fermentado e destilado produz a bebida nacional. Anteriormente os índios tiquilas produziam a bebida macerando com água o mexcalli, um sumo açucarado extraído do agave fermentado. Depois de dias em repouso se convertia em forte bebida alcoólica utilizada em rituais e para fins curativos. A origem do 2
Catedral Metropolitana de Guadalaram Campos de agave azul de cuja piña se produz a tequila m m Casas coloridas de Tlaquepaque mVários tipos de tequila mAfresco de José Clemente Orozco, na cúpulada capela de Cabañas, em Guadalajara