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Filosofia e Sociologia

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polis. A ideia de semelhança se converterá em igualdade<br />

no plano político, no conceito de isonomia, de mesma<br />

participação no poder entre os cidadãos. As leis escritas<br />

são as mesmas para todos os cidadãos iv e os mesmos<br />

deveriam participar dos tribunais e das assembleias.<br />

A in v en ç ã o d a escr it a<br />

A consciência mítica predomina em culturas de tradição<br />

oral, quando ainda não há escrita. Mesmo após seu<br />

surgimento, a escrita reserva-se aos privilegiados, aos<br />

sacerdotes e aos reis, e geralmente mantém o caráter<br />

mágico: entre os antigos egípcios, por exemplo, a<br />

Palavra hieróglifo significa literalmente "sinal divino".<br />

Na Grécia, já existia uma escrita no período<br />

micênico, mas restrita aos escribas que exerciam funções<br />

administrativas de interesse da aristocracia palaciana.<br />

Com a violenta invasão dórica, no século XII a.C. a<br />

escrita desapareceu junto com a civilização micênica,<br />

para ressurgir apenas no final do século IX ou VIII a.C.<br />

por influência dos fenícios.<br />

Em seu surgimento, a escrita assumiu função diferente,<br />

desligada da influência religiosa passou a ser utilizada<br />

para formas mais democráticas de exercício do poder.<br />

Enquanto os rituais religiosos eram cheios de fórmulas<br />

mágicas, termos fixos e inquestionáveis, os escritos<br />

passaram a ser divulgados em praça pública, sujeitos à<br />

discussão e à crítica. Isso não significa que a escrita se<br />

tornasse acessível a todos, muito pelo contrário, já que a<br />

maioria da população era constituída de analfabetos. O<br />

que está em destaque é a dessacralização da escrita, ou<br />

seja, seu desligamento do sagrado.<br />

A escrita gera nova idade mental porque a postura de<br />

quem escreve é diferente daquela de quem apenas fala.<br />

Como a escrita fixa a palavra para além de quem a<br />

proferiu, exige maior rigor e clareza, o que estimula o<br />

espírito crítico. Além disso, a retomada posterior do que<br />

foi escrito_ não só por contemporâneos mas por outras<br />

gerações _ abre os horizontes do pensamento e<br />

proporciona o distanciamento do vivido e o confronto<br />

das ideias. Portanto, a escrita surge como possibilidade<br />

maior de abstração, de uma reflexão aprimorada que<br />

tenderá a modificar a própria estrutura do pensamento.<br />

Os aedos (poetas-cantores) são cultores da memória. Eles<br />

possuem a força da palavra e revelam a vida e a origem<br />

dos seres e do mundo. As concepções míticas são<br />

mantidas vivas pela tradição oral. Com a invenção e uso<br />

da escrita essas concepções passam a ser registradas. O<br />

rigor daquele que escreve é diferente do rigor daquele<br />

que fala e, as palavras, uma vez escritas, estão fixas,<br />

permitindo maior exame e reflexão posterior. Portanto, o<br />

uso da escrita tem uma contribuição fundamental para o<br />

questionamento das interpretações míticas.<br />

Enquanto o pensamento mítico não questiona o seu<br />

conteúdo, o pensamento filosófico caracteriza-se pelo<br />

questionamento, pela investigação e argumentação<br />

racional para explicação da realidade. Embora o<br />

conteúdo da explicação, desses primeiros filósofos, tenha<br />

muita semelhança com o mito a forma de explicar é<br />

diferente.<br />

Aedo em grego antigo significa “cantor”; os aedos eram<br />

os poetas que, antes da invenção do alfabeto, praticavam<br />

o culto da deusa Memória e das musas e recebiam dessas<br />

divindades o dom de compor canções ao som da lira.<br />

Posteriormente, com a popularização do alfabeto, essas<br />

canções foram escritas e os aedos desapareceram, e aos<br />

poucos deixou-se de cultuar a deusa Memória. Mas é<br />

daquela época remota que nos chegaram, entre outras<br />

canções, a Ilíada e a Odisséia, cujo autor os gregos<br />

acreditavam ter sido Homero, um aedo da rica região da<br />

Jônia, Ásia Menor, no século 8 a. C.<br />

Contemporâneo de Homero, um outro aedo chamado<br />

Hesíodo, que viveu na Beócia, região norte da Grécia<br />

continental, transmitiu-nos também importantes canções.<br />

Hesíodo e Homero estão nos umbrais da história grega,<br />

pois é a partir da época em que viveram que se divulgou<br />

mais intensamente o uso da escrita na Grécia. Mas foi<br />

como aedos (e não como escritores) que eles<br />

compuseram suas canções: inspirados pelas deusasmusas,<br />

guiados pela deusa Memória, e servindo-se de<br />

técnicas de composição oral que durante séculos foram<br />

transmitidas de geração a geração.<br />

Os mestres-escolas da Grécia clássica chamaram essa<br />

canção de Hesíodo Teogonia, que significa em grego<br />

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