Filosofia e Sociologia
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perspectiva tradicional. Por isso, voltando à questão da<br />
virtude que pode ser prejudicial” e do vício que pode ser<br />
“bom”, podemos compreender que uma generosidade<br />
excessiva, por exemplo, poderia levar o Príncipe à ruína<br />
financeira e os súditos a sentirem-se oprimidos, o que<br />
suscitaria o ódio. Por outro lado, a sobriedade, que seria<br />
identificável com a avareza, tornando a figura do<br />
Príncipe antipática, possibilitaria gestos de grandeza e<br />
prodigalidade que, com certeza, seriam reconhecidos<br />
pelos súditos sem que estes se sentissem oprimidos e tão<br />
pouco descontentes.<br />
Por isso, para Maquiavel, há uma distinção entre os<br />
espaços da moral e da política. Isto não significa que se<br />
pode “fazer o que se quer”, de qualquer modo, sem<br />
sentido algum. A máxima segundo a qual “os fins<br />
justificam os meios” tem uma implicação muito mais<br />
coerente e profunda. Ser acusado de crueldade não deve<br />
ser o temor do Príncipe, desde que tal atitude seja<br />
necessária para unificar o povo e manter a paz.<br />
V ir t ù e For t u n a<br />
Maquiavel tem uma visão do homem de como ele é e não<br />
de como deveria ser necessariamente. Para ele,<br />
certamente, devemos olhar para o real e não para o ideal<br />
moral. Por isso Maquiavel trata da questão da virtù e da<br />
fortuna.<br />
A virtù refere-se à capacidade de decidir diante de<br />
determinada situação, cuja necessidade deve-se à<br />
fortuna. O agir pressupõe a compreensão da natureza<br />
humana, assim entendida por Maquiavel: os homens<br />
buscam quem lhes proporcione vantagens, melhorias.<br />
Atribuem este papel e responsabilidade ao governante.<br />
Esclarece num trecho da obra que “os homens mudam de<br />
governantes com grande facilidade, esperando sempre<br />
uma melhoria”. (MAQUIAVEL, 2005, p. 32) O que<br />
importa, para os homens na sua maioria, são os<br />
benefícios e acreditar que é o príncipe quem pode<br />
proporcioná-los. Contudo, o governante deve estar<br />
atento. A estabilidade política é sempre precária e<br />
“qualquer mudança pode desencadear um processo de<br />
transformação difícil de conter.” (SCHLESENER, 1989,<br />
p. 3)<br />
Contrariando a concepção cristã de virtude, Maquiavel<br />
entende virtù como o que faz os grandes homens. Atingir<br />
os objetivos propostos implica em utilizar os meios<br />
necessários para fazê-lo. Encontrar os meios necessários<br />
para chegar aos fins é virtù em Maquiavel, pois os fins<br />
são construídos pelos meios. O homem virtuoso em<br />
Maquiavel é aquele capaz de conquistar a fortuna e<br />
mantê-la. E aqui é importante entendermos o conceito de<br />
fortuna em Maquiavel.<br />
O conceito de fortuna para o filósofo em questão,<br />
também é retomado dos antigos. Ele recorre à imagem da<br />
deusa fortuna, possível aliada dos homens e cuja<br />
simpatia era importante atrair. Representava uma figura<br />
feminina que despejava riquezas de sua cornucópia<br />
àqueles que sabiam conquistá-la. Para tanto, era<br />
necessário ser um homem de virtù. Como nos esclarece<br />
WEFFORT (1989), durante o período medievo, a figura<br />
da “boa deusa, disposta a ser seduzida, foi substituída por<br />
um ‘poder cego’, inabalável, fechado a qualquer<br />
influência, que distribui seus bens de forma<br />
indiscriminada.” (WEFFORT, 1989, p. 21) Contrariando<br />
o pensamento dos antigos, “a fortuna não tem mais como<br />
símbolo a cornucópia, mas a roda do tempo, que gira<br />
indefinidamente sem que se possa descobrir o seu<br />
movimento.” (WEFFORT, 1989, p. 21) Apresentando<br />
uma perspectiva mais próxima à da Roda de Heródoto,<br />
que girava indiscriminadamente, esta visão considerava<br />
os bens valorizados no período clássico como um nada,<br />
compreendendo que a felicidade não se realizava no<br />
mundo terreno e que o destino é uma força da<br />
providência divina tendo o homem como sua vítima<br />
impotente. (WEFFORT, 1989, p. 21) Em Maquiavel,<br />
...ao se indagar sobre a possibilidade de se fazer uma<br />
aliança com a Fortuna, esta não é mais uma força<br />
impiedosa, mas uma deusa boa, tal como era simbolizada<br />
pelos antigos. Ela é mulher, deseja ser seduzida e está<br />
sempre pronta a entregar-se aos homens bravos,<br />
corajosos, aqueles que demonstram ter virtù.<br />
(WEFFORT, 1989, p. 22)<br />
Fortuna, portanto, não está relacionado à sorte ou<br />
predestinação, mas sim ao exercício da virtù no mais alto<br />
grau. É aproveitar a ocasião dada pelas circunstâncias<br />
para amoldar as coisas como melhor aprouver ao<br />
virtuoso. (MAQUIAVEL, 005, p. 49. Virtù e fortuna em<br />
Maquiavel, portanto, estão intimamente ligadas. E ser<br />
honrado, para Maquiavel, não implica numa questão de<br />
valores morais, mas de justiça política, onde o que<br />
importa são os resultados obtidos.<br />
O E st ad o<br />
Para Maquiavel, o conflito que existe entre os homens é<br />
o que fundamenta a ação política. Tendo em vista a<br />
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