as partes envolvidas no conflito. Na oportunida<strong>de</strong>, houve divergências explícitas quantoà aceitação das justificativas e da<strong>dos</strong> apresenta<strong>dos</strong> pela empresa por parte <strong>dos</strong>moradores. O estudo produzido no bairro pelo movimento do Camargos, já referidoacima, foi <strong>de</strong>squalificado pelo membro <strong>de</strong> um instituto <strong>de</strong> pesquisa contratado pelaSERQUIP para avaliar a percepção <strong>dos</strong> moradores sobre a empresa e sobre a incidência<strong>de</strong> doenças 28 .Já em agosto <strong>de</strong> 2008, a Comissão <strong>de</strong> Direitos Humanos da ALMG promoveumais uma audiência, na qual os moradores se mobilizaram levando faixas, cartazes eusando máscaras cirúrgicas para representar os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>correntes dapoluição. A audiência contou com a participação <strong>de</strong> um membro da ACPO convidadopelos moradores, que fez uma apresentação sobre a gravida<strong>de</strong> da questão dacontaminação por POP’s 29 . Apesar das alegações do diretor da SERQUIP e do gerente<strong>de</strong> licenciamento ambiental da SMAMA sobre a regularida<strong>de</strong> técnica da empresa, opresi<strong>de</strong>nte da FEAM, convidado para a reunião, afirmou que o incinerador não po<strong>de</strong>riaestar instalado no bairro, pon<strong>de</strong>rando controvérsias técnicas e procedimentais emdocumentos apresenta<strong>dos</strong> pela empresa SERQUIP e nos méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> avaliação dasemissões utiliza<strong>dos</strong> pela SMAMA 30 . Já nas falas <strong>dos</strong> moradores do bairro Camargos,corroboradas pela apresentação do químico da ACPO, os relatos dramáticos sobredoenças e mortes reafirmavam o interesse no fim das ativida<strong>de</strong>s da empresa no bairro.Nessa época, a SERQUIP já havia solicitado a renovação da licença <strong>de</strong> operaçãopara a incineração <strong>de</strong> resíduos hospitalares à SMAMA 31 . Através da gerência <strong>de</strong>licenciamento ambiental da secretaria, foi produzido um parecer técnico 32 com a análise<strong>de</strong> diversos aspectos relaciona<strong>dos</strong> à empresa, englobando as avaliações técnicas, ocumprimento <strong>de</strong> condicionantes e mencionando as infrações e os problemas da empresacom a comunida<strong>de</strong>. A conclusão do parecer, que serve <strong>de</strong> subsídio ao COMAM nas<strong>de</strong>cisões em plenária, foi favorável à renovação da LO da SERQUIP, baseando-se,principalmente, na “importância <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> empreendimento para o município”(SMAMA. Parecer Técnico nº. 1237/08, 2008).28Fonte: Relatório da audiência pública na Câmara Municipal <strong>de</strong> Belo Horizonte, 30/10/2007.GESTA/UFMG, 2007.29 O mesmo representante da ACPO também participou da audiência anterior, na Câmara Municipal <strong>de</strong>BH.30 Fonte: Relatório da audiência pública na ALMG, 04/08/2008. GESTA/UFMG, 2008.31 A LO concedida em novembro <strong>de</strong> 2003 tinha valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quatro anos.32 Cf. SMAMA. Parecer Técnico nº 1237/08.24
Pelo lado do movimento, a inserção do conflito em uma instância participativa e<strong>de</strong>liberativa como o COMAM, constituiu uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> articulação estratégica aoutros atores, produzindo novos “fluxos <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> conhecimento”(ESCOBAR, 2003: 652) que, ao longo <strong>dos</strong> oito meses <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira votação darenovação da LO, engendrou em uma reconfiguração das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do campo.A organização do movimento do Camargos remete às interpretações sobre osmovimentos sociais na atualida<strong>de</strong>, que têm no conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> sua chave analítica.Derivada da teoria da complexida<strong>de</strong> das ciências naturais (ESCOBAR, 2003: 644), oconceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> tem sido aplicado às ciências sociais na análise das socieda<strong>de</strong>scontemporâneas no contexto da globalização 33 . Contudo, para Scherer-Warren (2003), anoção <strong>de</strong> re<strong>de</strong> “vem sendo construída enquanto conceito analítico, mas é também umconceito propositivo <strong>dos</strong> próprios movimentos sociais” (SCHERER-WARREN, 2003:31), o que afirma o caráter polissêmico da noção. Porém, a autora reconhece a análisedas re<strong>de</strong>s como uma metodologia a<strong>de</strong>quada na compreensão da complexida<strong>de</strong> dasocieda<strong>de</strong> contemporânea. No que tange à análise <strong>dos</strong> movimentos sociais nasocieda<strong>de</strong> globalizada, estes po<strong>de</strong>m ser entendi<strong>dos</strong> “como uma re<strong>de</strong> que conectasujeitos e organizações <strong>de</strong> movimentos, expressões <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>s culturais e <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s abertas, em permanente constituição, que buscam reconhecimento nasocieda<strong>de</strong> civil” (SCHERER-WARREN, 2003: 30), <strong>de</strong>senvolvendo-se “através <strong>de</strong>relações e articulações que assumem a forma <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>estratégia” (SCHERER-WARREN, 2003: 33) que transcen<strong>de</strong>m reivindicações epráticas localizadas. Já Arturo Escobar (2003), ao analisar os movimentosantiglobalização a partir da teoria das re<strong>de</strong>s, trabalha a noção <strong>de</strong> malha para representaruma estrutura dinâmica formada pelas “articulações <strong>de</strong> elementos heterogêneos emtermos das suas complementarida<strong>de</strong>s funcionais” (ESCOBAR, 2003: 645). Escobarsublinha algumas implicações da aplicação da noção <strong>de</strong> malha ao campo social,relacionadas ao seu caráter político, que se <strong>de</strong>fine pela natureza <strong>de</strong> seus elementosheterogêneos e <strong>dos</strong> tipos <strong>de</strong> articulações estabelecidas entre eles, bem como dopotencial <strong>de</strong>sestratificantes das malhas frente às formas dominantes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r-saber(ESCOBAR, 2003: 647). O autor também ressalta que, mesmo se orientando para atransformação do espaço <strong>dos</strong> fluxos, as malhas têm origem a partir <strong>dos</strong> espaços <strong>dos</strong>lugares (ESCOBAR, 2003: 649).33 Escobar (2003: 642) apresenta algumas das várias vertentes das teorias das re<strong>de</strong>s.25
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