conjuntamente a idéia das relações ecossistêmicas da ecologia científica e a contestaçãodo modo <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong> industrial (ESTEVA, 2000). Denunciando “umaalienação mais radical do que a simples expropriação da mais-valia, qual seja, aalienação entre a socieda<strong>de</strong> industrial e a natureza, o sujeito e o mundo” (ZHOURI etal., 2005: 13), a ecologia política, enquanto corrente crítica <strong>de</strong>ntro do pensamentoecológico, partiu da evi<strong>de</strong>nciação da lógica produtivista questionando os estilos <strong>de</strong> vidae padrões <strong>de</strong> consumo da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna e também os mo<strong>dos</strong> <strong>de</strong> produçãoheterônomos que se traduzem no controle da natureza por <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong> grupos sociais(DUPUY, 1981: 34).Porém, a então “crise ecológica” só foi reconhecida pelas elites políticas eeconômicas do oci<strong>de</strong>nte no momento em que, aparentemente, apresentou-se como uma“crise do capitalismo” 50 . Como afirma Carneiro (2005: 38):Com efeito, somente no último terço do século passado o <strong>de</strong>senvolvimentodo sistema mundial <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> mercadorias atingiu um grau em que a<strong>de</strong>struição intensa e global das condições naturais <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>mercadorias e da vida levou as elites políticas a afirmar <strong>de</strong> forma maisgeneralizada a idéia <strong>de</strong> programas que objetivam a gestão política‘‘racional” das condições naturais <strong>de</strong> produção.Os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da natureza, ao ameaçarem a continuida<strong>de</strong> daacumulação capitalista, elevaram o tema da preservação ambiental ao plano <strong>dos</strong> <strong>de</strong>batespolíticos e científicos internacionais. Iniciada na década <strong>de</strong> 1970, essainstitucionalização da questão ambiental 51 , entendida como um <strong>dos</strong> fatores do processo<strong>de</strong> ambientalização já <strong>de</strong>scrito acima, mobilizou os esforços <strong>de</strong> diferentes áreas doconhecimento no intuito <strong>de</strong> elaborar diagnósticos e soluções para a “crise ambiental”.Mas, ao ser assumida <strong>de</strong>ntro da lógica economicista e instrumental dadominação da natureza, a crise assim concebida apresenta em sua base a idéia <strong>de</strong> “umcolapso na relação quantitativa malthusiana entre população e território ou entre ocrescimento econômico material e a base finita <strong>de</strong> recursos” (ACSELRAD, 2004a: 13),o qual po<strong>de</strong>ria ser revertido pela própria dinâmica globalizada do livre mercado e pelo<strong>de</strong>senvolvimento científico aplicado à tecnologia. Contraditoriamente, foi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssaperspectiva que se <strong>de</strong>senrolaram os <strong>de</strong>bates sobre o planejamento e a implementação <strong>de</strong>50 Concordo com a afirmação <strong>de</strong> Chesnais & Serfati (2003: 4) <strong>de</strong> que “a ou as crise(s) ecológica(s)planetária(s), cujos efeitos se repartem <strong>de</strong> forma muito <strong>de</strong>sigual, são os produtos do capitalismo, mas nempor isso são fatores centrais <strong>de</strong> crise para o capitalismo”.51 Cf. Lopes et al., 2004; Brüseke, 1995; Sachs, 1993; Viola e Leis, 1995; Viola, 1995; Zhouri, 2008.44
estratégias consi<strong>de</strong>radas ambientalmente viáveis para se promover um <strong>de</strong>senvolvimentosocioeconômico eqüitativo, fornecendo as bases para o que posteriormente veio a serconhecido como <strong>de</strong>senvolvimento sustentável 52 .O Relatório “Nosso Futuro Comum” apresentado à Assembléia Geral dasNações Unidas em 1987 é a principal expressão <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento quetenta conciliar crescimento econômico com preservação ambiental. Elaborado noâmbito da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU nosanos <strong>de</strong> 1980, o relatório relaciona os êxitos e os fracassos do <strong>de</strong>senvolvimento atéentão vigente, sublinhando um novo momento com o surgimento das crises globais queevi<strong>de</strong>nciariam uma inter<strong>de</strong>pendência econômica e ecológica <strong>dos</strong> países. Definindonovas formas <strong>de</strong> cooperação internacional para orientar as ações políticas, científicas eeconômicas, o relatório propôs diretrizes pautadas na criação <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> gestão<strong>dos</strong> recursos naturais por órgãos específicos, basea<strong>dos</strong> no aprimoramento <strong>de</strong> novastecnologias que permitissem a eficiência produtiva e o controle e mitigação <strong>dos</strong>impactos produzi<strong>dos</strong> pelo estágio <strong>de</strong>senvolvimentista. Une-se a isto a participação <strong>de</strong>diferentes segmentos da socieda<strong>de</strong> nas instâncias <strong>de</strong>cisórias e a importância dasinstituições <strong>de</strong> financiamento internacional no sentido <strong>de</strong> privilegiar empreendimentossustentáveis. O <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é concebido como um processo <strong>de</strong>mudança pelo qual a exploração <strong>dos</strong> recursos, a orientação <strong>dos</strong> investimentos, os rumosdo <strong>de</strong>senvolvimento técnico, as mudanças institucionais estariam <strong>de</strong> acordo com“necessida<strong>de</strong>s atuais e futuras” (CMMAD, 1991: 10), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo apenas da“cooperação e <strong>de</strong> um consenso ‘supraclassista’” (ACSELRAD, 2004a: 13) para serimplementado.Porém, como afirma Carneiro, citando Barbieri (1997):A proposição <strong>de</strong>sses programas só faz sentido se se concebe que o<strong>de</strong>senvolvimento (capitalista) ecologicamente sustentável e socialmentejusto não encontra limites intransponíveis nas relações <strong>de</strong> produção quevertebram o sistema produtor <strong>de</strong> mercadorias, mas apenas obstáculosdiscretos que po<strong>de</strong>m ser contorna<strong>dos</strong> mediante a gestão política,cientificamente embasada, <strong>dos</strong> usos das condições naturais (CARNEIRO,2005: 39).A i<strong>de</strong>ologia do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, doxa do campo ambiental(BOURDIEU, 2007; CARNEIRO, 2005: 41), legitima-se pelo consenso político entre52 Vi<strong>de</strong> a conferências <strong>de</strong> Estocolmo (1972), as <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> Cocoyoc (1974), entre outras. Cf. Brüseke,1995).45
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