cumprir certas condições exigidas pelos seus ocupantes legítimos, para que sejareconhecido como tal.Essa perspectiva remete à teoria <strong>dos</strong> campos <strong>de</strong> Bourdieu (2007), maisespecificamente à análise <strong>de</strong> um campo específico, o campo ambiental (ACSELRAD,2004a; CARVALHO, 2001; CARNEIRO, 2003; ZHOURI et al. 2005). Enquantoestrutura <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> agentes, bens e capitais que permitem a apropriação <strong>dos</strong>bens pelos agentes, o campo ambiental se caracteriza pela configuração <strong>de</strong> um espaço<strong>de</strong> disputa pelo monopólio da produção simbólica do meio ambiente, cuja eficácia sesitua no “po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> impor uma visão do mundo social através <strong>dos</strong> princípios <strong>de</strong> di-visãoque, quando se impõem (...), realizam o sentido e o consenso sobre o sentido”(BOURDIEU, 2007: 113). A posse ou acúmulo <strong>de</strong> capitais específicos <strong>de</strong>termina aposição <strong>dos</strong> agentes no campo e a eficácia simbólica da representação por elesenunciada, eficácia que leva à instituição <strong>de</strong> uma visão dominante que “se apresenta ese impõe como ponto <strong>de</strong> vista universal”, como doxa do campo (BOURDIEU, 1994apud CARNEIRO, 2005: 40). No caso do campo ambiental, seu capital específico é“caracterizado pela formação e pela reputação acadêmico-científica ou tecnológica<strong>dos</strong> agentes, pela representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado segmento da socieda<strong>de</strong> e, (...)pelas relações pessoais” (ZHOURI et al., 2005: 96), mas também pelo “domínioincorporado <strong>de</strong> um complexo conjunto <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> normas técnicas e legais(leis, <strong>de</strong>cretos, resoluções, <strong>de</strong>liberações etc.) pertinentes, praxes, rituais,‘jurisprudências’ (...)” (CARNEIRO, 2005: 71) constituindo-se assim como um capitaltécnico.Essas observações colocam dilemas mais profun<strong>dos</strong> sobre o cerne das disputasambientais que perpassam os conflitos sociais. O próprio processo <strong>de</strong> ambientalização,bem como a emergência <strong>de</strong> uma “questão ambiental” em nível global, expressam uma<strong>de</strong>terminada representação da natureza que tem sua origem social e historicamentelocalizada, fundada em um ponto <strong>de</strong> vista que, concebendo o meio ambiente como uma“realida<strong>de</strong> autônoma e externa às relações sociais” (ZHOURI, 2008: 98), institui-secomo uma forma <strong>de</strong> dominação do mundo por certos agentes.Assim, reconhecer disputas que envolvem a construção social do meio ambienterequer relaciona-las com a instituição do real, partindo da premissa <strong>de</strong> que o instituído éo resultado <strong>de</strong> uma luta “para fazer existir ou ‘inexistir’ o que existe’” (BOURDIEU,2007: 118). Nesse sentido, os conflitos ambientais têm mostrado a manifestação36
crescente <strong>de</strong> um dissenso que transborda o sentido pretensamente universal atribuído aomeio ambiente.Contudo, ao tomarmos uma categoria <strong>de</strong> análise para a apreensão <strong>de</strong> uma<strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vemos refletir como diz Pierre Bourdieu (2007: 107), sobre a“história social <strong>de</strong> sua gênese e da sua utilização”. Se utilizamos, então, a categoria <strong>de</strong>conflito ambiental para apreen<strong>de</strong>r uma situação social (GLUCKMAN, 1987), faz-seimprescindível uma crítica no mesmo sentido à proposta por Bourdieu (2007: 107) natentativa <strong>de</strong> elucidar alguns aspectos circunscritos à construção social da noção <strong>de</strong> meioambiente e às formas históricas <strong>de</strong> dominação da natureza.3.1 A dominação da Natureza enquanto dominação do HomemA existência <strong>de</strong> um dissenso a respeito da significação contemporâneadominante do ambiental não constitui um fato recente. Ao contrário, os diferentespontos <strong>de</strong> vista que constituem o campo ambiental <strong>de</strong>vem ser compreendi<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>um horizonte histórico abrangente (GADAMER,1998 apud CARVALHO, 2001) <strong>de</strong>representações sobre a natureza que se apresentam como tradição, no sentido <strong>de</strong>remeterem “ao passado na medida em que antece<strong>de</strong> o que veio a constituir-se comoambiental, mas, simultaneamente, volta-se para o presente, pois continua a seracionada nos senti<strong>dos</strong> vigentes acerca do meio ambiente” (CARVALHO, 2001: 39).Assim, como horizonte histórico <strong>de</strong> significação do campo ambiental, a tradição assimentendida permite verificar na história do pensamento mo<strong>de</strong>rno como se apresentam asdistintas concepções sobre o mundo natural ou material; contudo, como mostra DavidHarvey (1996), estas concepções compartilham em seus fundamentos uma compreensãoespecífica da relação entre o Homem e a Natureza pautada, ora <strong>de</strong> forma otimista orapessimista, na idéia <strong>de</strong> dominação.Harvey analisa como as idéias <strong>de</strong> dominação, controle e “humanização” danatureza aparecem fortemente atreladas à emergência do Iluminismo nos séculos XVII eXVIII. Contudo, ele coloca em discussão a perspectiva do pensamento ecológicocontemporâneo que consi<strong>de</strong>ra existir uma “aceitação iluminista total” da tese <strong>de</strong> que anatureza está disponível para o uso e que sua dominação é um projeto possível(HARVEY, 1996: 121). Assim, antes <strong>de</strong> formar um pensamento homogêneo, Harveyconsi<strong>de</strong>ra que o discurso oci<strong>de</strong>ntal sobre a natureza se <strong>de</strong>fine mais por suaheterogeneida<strong>de</strong>, que no limite, prega um otimismo cornucopiano e um triunfalismo37
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