crescimento econômico e preservação natural. Contudo, esse processo foi, <strong>de</strong> certaforma, “previsto” por Jean-Pierre Dupuy (1981) ainda nos anos <strong>de</strong> 1980, ao afirmar que,no momento em que a crise ecológica apresentou certos limites ao <strong>de</strong>senvolvimentocapitalista (<strong>de</strong>gradação das condições naturais <strong>de</strong> produção), este <strong>de</strong>veria se ajustar <strong>de</strong>forma a incorporar os constrangimentos a seu funcionamento à sua lógica <strong>de</strong> produção,ou então iria perecer (DUPUY, 1981: 19).Dessa forma, a consagração do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, já nos anos 90 <strong>dos</strong>éculo XX, opera uma domesticação política da lógica <strong>de</strong>strutiva da economia <strong>de</strong>mercado (CARNEIRO, 2005: 34); a solução para a crise ecológica torna-se viável pelainstitucionalização <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los participativos enquanto “espaços <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>consensos” (ZHOURI, 2008: 100), e pelo <strong>de</strong>senvolvimento técnico-científico quelevaria ao uso mais eficiente <strong>dos</strong> recursos naturais; por outro lado, atribui-se valor <strong>de</strong>mercado a produtos “ecologicamente corretos”, ou seja, aqueles cuja produção éreconhecida ou certificada por padrões ambientais internacionais <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>,sendo aplicadas e incentivadas pelo Estado. Essa tría<strong>de</strong> entre consenso político,soluções técnico-científicas e a ação do mercado (ZHOURI et al., 2005) emerge comovia positiva para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, figurando como solução hegemônicapara a crise ambiental.Contudo, se a “variável ambiental” passou a ser incorporada à discussão sobre asocieda<strong>de</strong> industrial, isto levou à <strong>de</strong>spolitização do “meio ambiente”, “na medidamesma em que as forças hegemônicas da socieda<strong>de</strong> reconheciam e institucionalizavamaqueles temas ambientais que não colocam em cheque as instituições da socieda<strong>de</strong>vigente” (ZHOURI et al., 2005:13). Amplamente aceita por diferentes segmentossociais como um avanço na concepção das soluções para a crise ambiental, a via da“mo<strong>de</strong>rnização ecológica” (ACSELRAD, 2004b; ZHOURI et al., 2005) abriu ocaminho para a continuida<strong>de</strong> do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>senvolvimentista que, então, passa a selegitimar contraditoriamente por meio <strong>de</strong> um artifício semântico que nega e oculta seusentido real. Tanto o é que, inevitavelmente, surgem as evidências empíricas <strong>de</strong>ssacontradição.O que se coloca por <strong>de</strong>trás da idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é a mesmaobjetivação da natureza como esfera dissociada da socieda<strong>de</strong> e da cultura, que justifica apretensão <strong>de</strong> dominá-la ignorando a existência <strong>de</strong> formas alternativas <strong>de</strong> representar einteragir com o meio ambiente. Nessa perspectiva, a visão hegemônica do<strong>de</strong>senvolvimento sustentável tem norteado a formulação <strong>de</strong> diretrizes político-46
econômicas e a criação <strong>de</strong> aparatos institucionais nos níveis global e local que mantêmem primeiro plano a questão da continuida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> dominação capitalista danatureza (e do homem) <strong>de</strong>ntro do paradigma da a<strong>de</strong>quação ambiental (ZHOURI et al.,2005), enfraquecendo o sentido <strong>de</strong> autonomia política e social por <strong>de</strong>squalificar práticase discursos que <strong>de</strong> alguma forma questionam a legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo.O contexto atual mostra um cenário <strong>de</strong> emergência <strong>de</strong> conflitos envolvendodisputas ambientais cuja complexida<strong>de</strong> escapa à compreensão e resolução técnicoadministrativaproposta pela via da mo<strong>de</strong>rnização ecológica. Ao contrário, comoafirmam Zhouri & Laschefski (2010: 17), “seja pela ação do Estado, seja pelasconseqüências das ativida<strong>de</strong>s econômicas voltadas à acumulação <strong>de</strong> capital, asustentabilida<strong>de</strong> das práticas <strong>de</strong> reprodução material e simbólica <strong>de</strong> diferentespopulações vê-se ameaçada.”.O movimento <strong>de</strong> justiça ambiental surgido nos EUA foi um marco doenfrentamento e <strong>de</strong>núncia social <strong>de</strong> uma lógica <strong>de</strong> apropriação do território e <strong>de</strong>externalização <strong>dos</strong> custos da produção capitalista que incidiam sobre grupos maisvulneráveis da socieda<strong>de</strong>. Tendo origem nas lutas <strong>de</strong> algumas comunida<strong>de</strong>s negrasnorte-americanas contra a localização e disposição <strong>de</strong> resíduos tóxicos e condiçõesina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> saneamento, surge nos anos <strong>de</strong> 1980 um movimento social que, atravésda evi<strong>de</strong>nciação da relação entre localização <strong>dos</strong> resíduos perigosos, comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>minorias étnicas (principalmente negros) e fragilida<strong>de</strong> política – relação traduzida pelotermo “racismo ambiental” (BULLARD, 2004) - promoveu “uma articulação criativaentre lutas <strong>de</strong> caráter social, territorial, ambiental e <strong>de</strong> direitos civis” (ACSELRAD,2004b: 25), influenciando a agenda política daquele país e agregando outros segmentosda socieda<strong>de</strong> à sua causa, fazendo-se reconhecer enquanto grupo <strong>de</strong> direito.Nesse sentido, a noção <strong>de</strong> justiça ambiental (MARTINEZ-ALIER, 1999;ZHOURI et al., 2005; ACSELRAD, 2004b), expressando “o conjunto <strong>de</strong> princípios queasseguram que nenhum grupo <strong>de</strong> pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou <strong>de</strong> classe,suporte uma parcela <strong>de</strong>sproporcional <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do espaço coletivo”(ACSELRAD et al., 2004), permitiu uma apreensão diferenciada da dinâmica <strong>de</strong>ssesconflitos ambientais, ao analisar as causas e os problemas <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> da distribuiçãoecológica (MARTINEZ-ALIER, 1999: 216) das ativida<strong>de</strong>s produtivas e <strong>dos</strong> riscos<strong>de</strong>correntes das mesmas, que expõem “as assimetrias ou <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais,espaciais e temporais na utilização pelos humanos <strong>dos</strong> recursos e serviços ambientais,objetos ou não <strong>de</strong> trocas comerciais” (MARTINEZ-ALIER, 1999: 216).47
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