30panorama <strong>do</strong> cinema baianoformação de plateias, na deflagração <strong>do</strong> próprio Ciclo<strong>Baiano</strong> (entre 1959 e 1963, filmes genuinamentebaianos são realiza<strong>do</strong>s: Redenção, A Grande Feira,Tocaia no Asfalto etc.) e como centro difusor dacultura cinematográfica é inquestionável. A liderançade Walter proporciona a muitos interessa<strong>do</strong>spela sétima arte uma espécie de descoberta daimportância <strong>do</strong> cinema como veículo de expressãoartística.Vive-se, nos anos 50, na urbis soteropolitana, sobinfluência <strong>do</strong> espetáculo norte-americano, queimpõe uma linguagem e uma forma de ver o discursonarrativo. Vive-se, portanto, sem a possibilidade decontemplação de outras conquistas da linguagemcinematográfica, porque o merca<strong>do</strong>, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelascompanhias americanas, não oferece outra opçãoque não seja o espetáculo narrativo tradicional,imperan<strong>do</strong> o star system, a i<strong>do</strong>latria, o consumodesenfrea<strong>do</strong>. Nunca, no entanto, como o consumismoselvagem da contemporaneidade.Com o Clube de <strong>Cinema</strong> da Bahia, Walter da Silveirapossibilita aos baianos o conhecimento <strong>do</strong>s filmesneorrealistas italianos (Roma Cidade Aberta, Paisà,ambos de Roberto Rossellini, Ladrão de Bicicletas,Umberto D, Milagre em Milão, to<strong>do</strong>s de Vittorio DeSica), <strong>do</strong> realismo poético francês (Les enfants duparadis, de Marcel Carné), <strong>do</strong> cinema de Jean Renoir,da cinematografia soviética e <strong>do</strong>s discursos estéticosde um Serguei Eisenstein (O Encouraça<strong>do</strong> Potenkim,Outubro, Ivan o terrível etc). A contribuição primordialde Walter neste perío<strong>do</strong> está em ter desperta<strong>do</strong>muitos cinéfilos para a descoberta <strong>do</strong> cinema comouma linguagem autônoma, como um verdadeiro epoderoso veículo de expressão artística. Dentre osvários alunos que tem, um destaca-se sobremaneira:Glauber Rocha, que, conforme o mesmo confessa emalguns de seus escritos, “aprendeu cinema com Dr.Walter da Silveira”.Segun<strong>do</strong> recordações de Walter, quan<strong>do</strong> dainauguração <strong>do</strong> Clube em 1950, o auditório épequeno para os especta<strong>do</strong>res que, à porta, seinscrevem como sócios. Cerca de duzentos parauma sala de cem. “Não havia imagina<strong>do</strong> este êxito,Carlos Coqueijo da Costa e eu, quan<strong>do</strong> fundamos ocineclube, seguin<strong>do</strong> os modelos franceses da época.Sabíamos que nossa cidade poderia classificar-seentre as mais atrasadas cinematograficamente<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, desconhecen<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> o cinemaeuropeu, mas não supúnhamos que tanta genteestivesse, como nós, à procura <strong>do</strong> tempo perdi<strong>do</strong>.”A segunda sessão teve de ser numa sala comercial: oGloria (que virou Tamoio). No primeiro <strong>do</strong>mingo dejulho. De manhã. Até aquela data nenhum exibi<strong>do</strong>rpensara em matinais, o Clube de <strong>Cinema</strong> criavaum novo horário. E às 10 horas todas as cadeirasestavam ocupadas para a projeção de Desencanto(Brief-encounter), o extraordinário filme inglês deDavid Lean. O cineclubismo entrava para a vida dacidade. O público de todas as manhãs de <strong>do</strong>mingo,além de versátil, compunha-se das figuras maisrepresentativas da cultura baiana, escritores, artistas,professores, universitários, advoga<strong>do</strong>s, médicos eestudantes.
Com menos de um ano, em abril de 1951, o Clube de<strong>Cinema</strong> da Bahia realizou um Festival Internacional<strong>do</strong> Filme de Curta-Metragem, com a participação de<strong>do</strong>ze países. Até então, no Brasil, nada se fizera maisorganiza<strong>do</strong>. Um júri de alto nível foi eleito e suasvotações tiveram um caráter tão polêmico quanto asdiscussões que tratavam na plateia sobre as fitas quedeviam ser premiadas.Como conferencistas convida<strong>do</strong>s vieram AlbertoCavalcanti, Vinicius de Moraes, Alex Viany, SalvyanoCavalcanti de Paiva e Luís Alípio de Barros. Suaspalavras, ditas no palco <strong>do</strong> Guarany, tambémse tornaram polêmicas, com o jogo cruza<strong>do</strong> deperguntas e respostas a propósito de to<strong>do</strong>s os temascinematográficos. Walter da Silveira contou: “Tenhouma carta de Cavalcanti que releio sempre comorgulho, embora me entristeça recordar como essegrande homem de cinema, tão admira<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>sos historia<strong>do</strong>res mundiais por sua contribuição parao cinema francês <strong>do</strong>s anos 1920 e para o cinemainglês <strong>do</strong>s anos 30 e 40, foi praticamente bani<strong>do</strong>no Brasil; nessa carta, Cavalcanti fala <strong>do</strong> públicodaquele festival como <strong>do</strong>s melhores que conheceuem toda parte. E igualmente Vinicius: mais <strong>do</strong> que osfilmes, não obstante os clássicos, julgou que a plateiamerecera o prêmio, pela quantidade e qualidade<strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res. Em tão pouco tempo, o Clube de<strong>Cinema</strong> formara um tipo de público para dez diassegui<strong>do</strong>s somente de curtas metragens”.Nos anos 60, o Clube passa a funcionar aos sába<strong>do</strong>s,de manhã, no Cine Liceu. Depois, em 65, muda-separa o Cine Guarany, também aos sába<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong>confluir, para suas sessões, cinéfilos e estudantes,universitários e secundaristas, os quais, após osespetáculos, servem-se <strong>do</strong> Restaurante e Bar Cacique(ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> cinema) para um bate-papo em torno<strong>do</strong>s filmes apresenta<strong>do</strong>s, numa época em que aindase pode transitar pelo centro da cidade, quan<strong>do</strong> aBahia ainda oferece a oportunidade de se “tê-la”característica e provinciana.Dois anos depois, reforman<strong>do</strong>-se o antigo Popular(na Rua da Oração, paralela à Saldanha da Gama,onde fica o Cine Liceu), Walter concentra asatividades cineclubistas nesta sala exibi<strong>do</strong>ra,inauguran<strong>do</strong> a programação em junho de 1967,com Terra em Transe, de Glauber Rocha, numahomenagem ao dileto cineclubista que atinge, então,dimensão internacional. As projeções tornam-seininterruptas, com sessões contínuas, modelan<strong>do</strong>-seWalter no esquema programático <strong>do</strong> Cine Paissandu,<strong>do</strong> Rio de Janeiro. A experiência, por causa dasinjunções <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> exibi<strong>do</strong>r, não dá certo.Em 1968, o Clube de <strong>Cinema</strong> da Bahia transfere-separa a Reitoria, com projeções semanais, aos sába<strong>do</strong>spela noite. Neste mesmo ano acontece, por iniciativade Walter, um Curso Livre de <strong>Cinema</strong>, que se estendepor to<strong>do</strong> o ano, com aulas duas vezes por semana.O patrocínio é da Universidade Federal da Bahia.Walter da Silveira realiza seu sonho de dar um cursocompleto sobre a história e a estética da “sétimaarte”. Além de um estilista admirável, irrepreensívelnas suas construções linguísticas e na manipulação31panorama <strong>do</strong> cinema baiano
- Page 3 and 4: POR ANDRÉ SETAROpanoramado cinemab
- Page 11: 11panorama do cinema baiano
- Page 22 and 23: 22panorama do cinema baianoporciona
- Page 24 and 25: 24panorama do cinema baianoBOCCANER
- Page 26 and 27: 26panorama do cinema baianonas cien
- Page 29: Walter da SilveiraA PRESENÇA DE WA
- Page 33 and 34: cinematográfica, passando pela ent
- Page 35: fundamental, como bem demonstram as
- Page 38 and 39: 38panorama do cinema baianoapoio da
- Page 41 and 42: Redenção,1959redenção,de Robert
- Page 43 and 44: fotograma, e apresentado em sessão
- Page 45: ciclo baiano de cinemaNesta época,
- Page 49 and 50: Barravento,1959Acervo CinematecaBra
- Page 51 and 52: obra revolucionária, contra o cand
- Page 53 and 54: o esquema de rodízioForma-se uma E
- Page 55 and 56: inexcedível, em Os fuzis, com foto
- Page 57 and 58: O Pagador dePromessas, 1962ciclo ba
- Page 59 and 60: sobradão, onde fixávamos a tela.
- Page 61 and 62: Glauber Rocha, nosso embaixador mai
- Page 65 and 66: as empresas65Eu me Lembro,2005Com e
- Page 67 and 68: de repente tudo parouO grito da ter
- Page 69 and 70: A Grande Feira,1961a grande feiraH
- Page 71 and 72: claro, da mise-en-scéne - que sua
- Page 73 and 74: donada pelo marinheiro, retorna ao
- Page 75 and 76: tocaia no asfalto75Tocaia no Asfalt
- Page 77 and 78: sol sobre a lamaJoão Palma Neto, a
- Page 79 and 80: ancoradouro, a impedir qualquer aba
- Page 81 and 82:
o surto undergroundRealizado em 196
- Page 83 and 84:
da Montanha, biografia deste cineas
- Page 85 and 86:
ção narrativa que iria se acentua
- Page 87 and 88:
a redençãode meteorango emo super
- Page 89 and 90:
as jornadas baianasAs sementes das
- Page 91:
absoluta - pela, como já se disse,
- Page 94 and 95:
94panorama do cinema baianoNavarro
- Page 96 and 97:
96panorama do cinema baianoHá tamb
- Page 98 and 99:
98panorama do cinema baiano
- Page 100 and 101:
100panorama do cinema baianotragem;
- Page 102 and 103:
102panorama do cinema baianoCom a e
- Page 104 and 105:
Diamante Bruto,1977pela necessidade
- Page 107 and 108:
O Pai doRock, 2001críticasTRÊS HI
- Page 109 and 110:
Três Históriasda Bahia, 2001nova
- Page 111 and 112:
Esses Moços,2004ESSES MOÇOS, de J
- Page 113 and 114:
EU ME LEMBRO, de Edgard Navarro113E
- Page 116 and 117:
116panorama do cinema baianoestavam
- Page 118 and 119:
118panorama do cinema baianoCASCALH
- Page 120 and 121:
120panorama do cinema baianografia
- Page 122:
122panorama do cinema baianose dá
- Page 125 and 126:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS125BOCC
- Page 127:
panorama docinema baianoPOR ANDRÉ