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Panorama-do-Cinema-Baiano

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da Montanha, biografia deste cineasta escrita pelojornalista Hermes Leal, no entanto, revela que o filmefoi, sim, concluí<strong>do</strong>, mas um de seus produtores, BragaNeto, receoso por causa <strong>do</strong> Ato Institucional número5, que então se instaura no país, destrói seus negativos,envian<strong>do</strong>-o a uma porção de pessoas com oreca<strong>do</strong> de pôr fim a eles.Em 1970, José Frazão conhece Deolin<strong>do</strong> Checcucci,diretor de teatro, e, juntos, resolvem fazer um filme:Akpalô, chaman<strong>do</strong> para iluminá-lo o fotógrafo VitoDiniz. Vive-se, neste perío<strong>do</strong>, a efervescência <strong>do</strong>Flower Power, a filosofia da paz e <strong>do</strong> amor, <strong>do</strong> façaamor, mas não a guerra, e o filme de Frazão/Checcuccireflete bem a época e sua mentalidade. Não sequer mais, como no Ciclo <strong>Baiano</strong> de <strong>Cinema</strong> e, por extensão,no <strong>Cinema</strong> Novo, fazer um cinema engaja<strong>do</strong>que reflita os problemas sociais, políticos, os fenômenosda sociedade na sua exterioridade. Esmaga<strong>do</strong>s noprocesso de criação pelo AI-5, os cineastas se encontramproibi<strong>do</strong>s de enfocar a realidade <strong>do</strong> país. Resta,portanto, o escapismo.Assim, Akpalô, visto apenas numa única sessãoespecial no antigo cinema Liceu em 1971, é o reflexodessa turbulência caótica e o filme, a rigor, é uma viagem.Uma espécie esdrúxula de extraterrestre, que secorporifica como homem (Sílvio Varjão), passa 24 horasem Salva<strong>do</strong>r, paqueran<strong>do</strong> garotas, contemplan<strong>do</strong>a natureza, e viajan<strong>do</strong> interiormente pelos efeitos dasdrogas. No elenco, Armin<strong>do</strong> Jorge Bião, Anecy Rocha,entre outros, com iluminação inspirada de Vito Diniz.O filme demonstra a incapacidade de seus autoresexercitar o ritmo cinematográfico, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> astomadas longas, demoradas, sem o corte preciso nomomento exato de sua evolução dramatúrgica. MasAkpalô, com o tempo, se perde e os seus negativosdesapareceram.O longa-metragem seguinte <strong>do</strong> surto undergroundé O Anjo Negro (1972), de José Umberto, obra compromissadacom a apologia da cultura negra comoforça mítica que paira solene no patriarca<strong>do</strong> colonialda Bahia. É um filme que no mesmo tempo que tentaum exercício de cinema procura desenvolver o pontoalegórico no qual se insere a negritude como forçaavassala<strong>do</strong>ra que rompe os alicerces de uma famíliade tendências coloniais. Mário Gusmão corporificaesta força, que, como o anjo pasoliniano de Teorema,invade uma célula mater com a virulência de umtsunami.É preciso, porém, ressaltar, um filme undergroundnão devidamente valoriza<strong>do</strong> nos compêndios sobreo chama<strong>do</strong> <strong>Cinema</strong> Marginal, talvez por se tratar deum média-metragem. Trata-se de Voo Interrompi<strong>do</strong>,de José Umberto, que, realiza<strong>do</strong> em 1969, é considera<strong>do</strong>por Álvaro Guimarães, o diretor de Caveira MyFriend, o “primeiro filme realmente underground <strong>do</strong>cinema baiano”. Voo interrompi<strong>do</strong> tem característicasdesse cinema que tenta rasgar a narrativa tradicionalclássica e linear e tratar a escrita fílmica como umpoema na esteira da ideia de Píer Paolo Pasolini aocontrapor um cinema de prosa e um cinema de poesia.O elo sintático de Voo interrompi<strong>do</strong>, isto é, sualinguagem, é que assume pre<strong>do</strong>minância diante de83panorama <strong>do</strong> cinema baiano

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