38panorama <strong>do</strong> cinema baianoapoio da imprensa. José Telles de Magalhães e GlauberRocha invadem a Rádio Excelsior com um manifestopedin<strong>do</strong> ajuda à Prefeitura. É então que o líderda Câmara de Verea<strong>do</strong>res resolve atender a súplica eoferece Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros antigos– antes da reforma monetária de 1967). O grupo,entretanto, se desentende e as disputas intestinasfazem com que se dissolva. Nada se realiza <strong>do</strong> pontode vista prático. Glauber, sozinho, resolve realizar umcurta e, com uma câmera de 35mm, manipulada pelofotógrafo José Ribamar de Almeida, o qual lhe dá dicaspreciosas sobre fotografia em cinema, realiza, em1959, O pátio, com as sobras <strong>do</strong>s negativos de Redenção.Os efeitos formais consegui<strong>do</strong>s não satisfazemo estreante: uma experiência fílmica com ritmo e aplástica da linguagem cinematográfica. Um casal burguês(Helena Ignez e Solon Barreto) sobe uma escada,abraça<strong>do</strong>, e, num pátio, obten<strong>do</strong> os efeitos plásticos<strong>do</strong> mosaico em cores, transcorre toda a película.Os namora<strong>do</strong>s, deita<strong>do</strong>s, fazem amor ali mesmo. Ela,rolan<strong>do</strong> pelo xadrez, plena de desejo, e ele, no ato<strong>do</strong> êxtase. Um acha<strong>do</strong> simbólico coroa a película: ela,descansan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> momento catártico, atira um sapatilhaque vai cair dentro de outra. Ao término de 15minutos, o ator se afasta da companheira, embrenhasepor uns matos “e realiza um festival de espumas”.O pátio é apresenta<strong>do</strong> em março de 1959 no Clubede <strong>Cinema</strong> da Bahia.Outros curtas, no entanto, são roda<strong>do</strong>s em Salva<strong>do</strong>r,<strong>do</strong>cumentários com a tônica da preocupação social.Um <strong>do</strong>s mais famosos é Um dia na rampa, de LuizPaulino <strong>do</strong>s Santos (1956), que focaliza um dia de trabalhona rampa <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Modelo (o antigo, antes<strong>do</strong> incêndio). Em Feira de Santana, Olney São Paulorealiza Um crime na rua, no mesmo ano (56), umahistória policial com “informação cultural”. RobertoPires experimenta nos curtas O sonho e Calcanharde Aquiles. E estrangeiros, ávi<strong>do</strong>s pelo décor natural,pela paisagem exuberante, filmam em Salva<strong>do</strong>rMaria Madalena, feito por um argentino e inspira<strong>do</strong>na vida de Cristo; Sob o céu da Bahia, Mulher defogo, o desconheci<strong>do</strong> Moema, que nunca chegou aser visto e narra a busca de uma jovem que, nadan<strong>do</strong>pela Baía de To<strong>do</strong>s os Santos, procura o ama<strong>do</strong>, quepartira numa embarcação.O segun<strong>do</strong> curta de Glauber Rocha, Cruz na Praça,nunca é monta<strong>do</strong>. Roda<strong>do</strong> em torno de uma cruzexistente na praça <strong>do</strong> Terreiro de Jesus, próxima àIgreja de São Francisco, é basea<strong>do</strong> num conto (A Retretana Praça) publica<strong>do</strong> por Glauber no <strong>Panorama</strong><strong>do</strong> Conto <strong>Baiano</strong>, lança<strong>do</strong> em 1959 por VasconcelosMaia e Nelson Araújo. Entre os atores, Luiz CarlosMaciel (que, na época, ensina na Escola de Teatro)e Anatólio Oliveira. O tema, ao que parece, gira emtorno <strong>do</strong> homossexualismo masculino.São de Glauber as seguintes palavras, publicadas emRevisão crítica <strong>do</strong> cinema brasileiro que retratam bemo panorama cultural da Bahia de então: “A tradiçãoliterária da Bahia é retórica. As novas gerações deescritores e artistas surgidas, inicialmente, em 1945,no grupo Caderno da Bahia, e, mais tarde em Ângulose Mapa, sempre foram violentamente combatidasao passa<strong>do</strong> de Castro Alves e Ruy Barbosa; contu<strong>do</strong>,o improviso, o romantismo e o discurso descritivocontinuam marcan<strong>do</strong>, e mal, a expressão artísticada Bahia. Jorge Ama<strong>do</strong>, carregan<strong>do</strong> a força ficcionalde seu contexto, é um escritor sem a disciplina que
caracteriza Graciliano Ramos e João Cabral de MelloNeto. Os melhores poetas modernos da Bahia, CarvalhoFilho, Jair Gramacho e Florisval<strong>do</strong> Mattos, sãoainda sensualistas em conflito com a razão; a mesmacircunstância-crise caracteriza a obra literária deNelson de Araújo, Luis Henrique, Flávio Costa, SadalaMaron, José Pedreira, Arioval<strong>do</strong> Mattos, VasconcelosMaia; a escultura de Mario Cravo e a pintura de JennerAugusto. Entre os mais jovens, geração de vinteanos, aconteceu o esquecimento inicial da temáticaanterior; aos ficcionistas surgi<strong>do</strong>s em Reunião (1961),Sônia Coutinho, João Ubal<strong>do</strong> Ribeiro, Noênio Spínolae David Salles, revelaram extremo <strong>do</strong>mínio da técnicae da linguagem, mas estavam, quase sempre, nopuro exercício artesanal. O teatro de Paulo Gil Soares,a gravura de Sante e as artes gráficas de Calazans Netto,presos à realidade, lutam também entre o sensualismoe a razão, como no caso <strong>do</strong>s poetas cita<strong>do</strong>s”.Assim Glauber, nesta sua revisão, nos primeiros anos<strong>do</strong>s esfuziantes 60, sente o clima cultural da Bahia.Esta luta permanente entre o sensualismo e a razão,que <strong>do</strong>mina, inclusive, os melhores cineastas <strong>do</strong> Ciclo<strong>Baiano</strong>, principalmente Rex Schindler, homem de milinstrumentos, acumulan<strong>do</strong> as funções de produtor,argumentista, roteirista etc. No panorama cinematográfico,Salva<strong>do</strong>r, além <strong>do</strong> Clube de <strong>Cinema</strong>, contacom alguns comentaristas que pontificam em jornais:José Augusto Berbert de Castro com seus comentáriosimpressionistas em A Tarde; Jerônimo Almeida,pseudônimo de José Gorender no Jornal da Bahia,que sucede, mais ou menos em 65, a Fausto Ferreira,pseudônimo de Orlan<strong>do</strong> Senna, o qual, por suavez, sucede a Glauber Rocha, que pontifica na críticacinematográfica por quatro ou cinco anos: de 1958a 1962; Hamilton Correia é o titular da coluna decinema <strong>do</strong> Diário de Notícias, jornal que conta comum Suplemento Literário aos <strong>do</strong>mingos, cuja páginade cinema editada por Correia, é, no entanto, controladapor Walter da Silveira. Uma página inteira, ondecolaboram com críticas Caetano Veloso, Alberto Silva,entre outros. Outros nomes que exercem, bissextamente,a crítica na Bahia: Geral<strong>do</strong> Portela, LázaroTorres, Jamil Bagded, José Telles de Magalhães.A importância <strong>do</strong>s suplementos literários não somentese configura na Bahia, mas em to<strong>do</strong> Brasil. Famosossão os suplementos de O Esta<strong>do</strong> de São Paulo,com Paulo Emílio Salles Gomes falan<strong>do</strong> de cinema, o<strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Brasil, que Glauber começa a colaborardan<strong>do</strong> o ponto de partida ao <strong>Cinema</strong> Novo, a proclamaruma nova era para a cinematografia nacional.Mas como diz Glauber no seu cita<strong>do</strong> livro, “A Bahia é– na síntese – o barroco português, o misticismo eróticoda África, e a tragédia despojada <strong>do</strong>s sertões: suaexpressão artística, até então inferior às expressõesde Minas e Pernambuco, tende, para muito ce<strong>do</strong>, ainserir uma corrente nova nas artes brasileiras. Osque primeiro compreenderam este clima complexoe rico foram Martim Gonçalves e Lina Bo Bardi, que,em quatro anos, instalaram raízes significativas noambiente cultural da província. O exercício <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>social – que tem em A.L. Macha<strong>do</strong> Neto e CarlosNelson Coutinho os melhores exemplos – será outrofator a contribuir no processo”.39panorama <strong>do</strong> cinema baiano
- Page 3 and 4: POR ANDRÉ SETAROpanoramado cinemab
- Page 11: 11panorama do cinema baiano
- Page 22 and 23: 22panorama do cinema baianoporciona
- Page 24 and 25: 24panorama do cinema baianoBOCCANER
- Page 26 and 27: 26panorama do cinema baianonas cien
- Page 29 and 30: Walter da SilveiraA PRESENÇA DE WA
- Page 31 and 32: Com menos de um ano, em abril de 19
- Page 33 and 34: cinematográfica, passando pela ent
- Page 35: fundamental, como bem demonstram as
- Page 41 and 42: Redenção,1959redenção,de Robert
- Page 43 and 44: fotograma, e apresentado em sessão
- Page 45: ciclo baiano de cinemaNesta época,
- Page 49 and 50: Barravento,1959Acervo CinematecaBra
- Page 51 and 52: obra revolucionária, contra o cand
- Page 53 and 54: o esquema de rodízioForma-se uma E
- Page 55 and 56: inexcedível, em Os fuzis, com foto
- Page 57 and 58: O Pagador dePromessas, 1962ciclo ba
- Page 59 and 60: sobradão, onde fixávamos a tela.
- Page 61 and 62: Glauber Rocha, nosso embaixador mai
- Page 65 and 66: as empresas65Eu me Lembro,2005Com e
- Page 67 and 68: de repente tudo parouO grito da ter
- Page 69 and 70: A Grande Feira,1961a grande feiraH
- Page 71 and 72: claro, da mise-en-scéne - que sua
- Page 73 and 74: donada pelo marinheiro, retorna ao
- Page 75 and 76: tocaia no asfalto75Tocaia no Asfalt
- Page 77 and 78: sol sobre a lamaJoão Palma Neto, a
- Page 79 and 80: ancoradouro, a impedir qualquer aba
- Page 81 and 82: o surto undergroundRealizado em 196
- Page 83 and 84: da Montanha, biografia deste cineas
- Page 85 and 86: ção narrativa que iria se acentua
- Page 87 and 88: a redençãode meteorango emo super
- Page 89 and 90:
as jornadas baianasAs sementes das
- Page 91:
absoluta - pela, como já se disse,
- Page 94 and 95:
94panorama do cinema baianoNavarro
- Page 96 and 97:
96panorama do cinema baianoHá tamb
- Page 98 and 99:
98panorama do cinema baiano
- Page 100 and 101:
100panorama do cinema baianotragem;
- Page 102 and 103:
102panorama do cinema baianoCom a e
- Page 104 and 105:
Diamante Bruto,1977pela necessidade
- Page 107 and 108:
O Pai doRock, 2001críticasTRÊS HI
- Page 109 and 110:
Três Históriasda Bahia, 2001nova
- Page 111 and 112:
Esses Moços,2004ESSES MOÇOS, de J
- Page 113 and 114:
EU ME LEMBRO, de Edgard Navarro113E
- Page 116 and 117:
116panorama do cinema baianoestavam
- Page 118 and 119:
118panorama do cinema baianoCASCALH
- Page 120 and 121:
120panorama do cinema baianografia
- Page 122:
122panorama do cinema baianose dá
- Page 125 and 126:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS125BOCC
- Page 127:
panorama docinema baianoPOR ANDRÉ