32panorama <strong>do</strong> cinema baianoda sintaxe (como tão bem atestam seus escritos),Walter da Silveira possui o <strong>do</strong>m da oratória. Antes decada filme, discorria sobre o cineasta e a importânciada obra fílmica, envolven<strong>do</strong> a plateia com a suaoralidade transparente e vivaz. 1970 surge como umano fatídico, pois vem a falecer em novembro.Walter da Silveira é o introdutor da arte <strong>do</strong> filme naBahia para soteropolitanos estupefatos, entre osquais Glauber Rocha que, confessa, aprende cinemacom o Clube de <strong>Cinema</strong> em artigo publica<strong>do</strong> noJornal da Bahia logo após o falecimento <strong>do</strong> mestreem novembro de 1970. Mas o ensaísta, sobre serum escritor de escol, de estilística admirável, talvezpela luta pela sobrevivência – advoga<strong>do</strong> trabalhistacom mulher e sete filhos para sustentar –, deixaapenas, publica<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>is livros: Fronteiras <strong>do</strong> cinema(1966), pela editora Tempo Brasileiro e Imagem eroteiro de Charles Chaplin (1970), pela editora baianaMensageiro da Fé, que já não mais existe. Em 1979,organiza<strong>do</strong> por José Umberto, a Fundação Cultural<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> resolve publicar A história <strong>do</strong> cinema vistada província, obra póstuma. Os escritos valiosos deWalter da Silveira são reuni<strong>do</strong>s em livro e lança<strong>do</strong>sem quatro grossos volumes em dezembro de 2006sob o título O eterno e o efêmero (que nomeia odiscurso de posse <strong>do</strong> autor na Academia Baiana deLetras em 1968). A organização, primorosa, ficou acargo de José Umberto Dias, escritor, pesquisa<strong>do</strong>r ecineasta, que, apesar de tê-la concluí<strong>do</strong> muito antes,precisa esperar, para ver os volumes publica<strong>do</strong>s,mais de dez anos pelas injunções inerentes àburocracia governamental. Os livros são publica<strong>do</strong>spelo Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Bahia (Editora Oiti), masficam entulha<strong>do</strong>s pela ausência de um mecanismo dedistribuição adequa<strong>do</strong>.Walter da Silveira é um ensaísta – muito mais <strong>do</strong>que um crítico cinematográfico. O que pode serobserva<strong>do</strong> em Fronteiras <strong>do</strong> cinema, síntese desua paixão pelo cinema e uma reunião de ensaiosdefinitivos sobre a chamada sétima arte. Um ensaístaem pé de igualdade, diga-se logo, aos grandes <strong>do</strong> sul<strong>do</strong> país como Paulo Emílio Salles Gomes, AntonioMoniz Vianna, Francisco Luiz de Almeida Salles, entreoutros.Contan<strong>do</strong> dezenove ensaios, Fronteiras <strong>do</strong> <strong>Cinema</strong>contém os escritos publica<strong>do</strong>s em diferentes ocasiõesna imprensa baiana. Walter selecionou-os e resolveureuni-los, em livro, ten<strong>do</strong> em vista que “a críticacinematográfica tem certamente uma efemeridademaior <strong>do</strong> que as outras e a dimensão <strong>do</strong> livro éuma tentativa de permanência”. Destacam-se, emFronteiras <strong>do</strong> <strong>Cinema</strong>, <strong>do</strong>is momentos fundamentaispara a compreensão <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong> autor emrelação ao processo de criação no cinema: Crítica eContracrítica, o primeiro ensaio, que abre o livro –um severo artigo sobre a responsabilidade daqueleque julga a obra-de-arte, “esta responsabilidadehumana e social” – e O instrumento <strong>do</strong> humanismo,o derradeiro, um bra<strong>do</strong> retumbante sobre anecessidade de o veículo cinematográfico ter sempreem vista, como elemento essencial, a figura humana.Tem-se, em Fronteiras <strong>do</strong> <strong>Cinema</strong>, um <strong>do</strong>ssiê analíticoacerca das mais variadas vertentes da estilística
cinematográfica, passan<strong>do</strong> pela entrevisão deIngmar Bergman, ao ressaltar nesta a renovação danatureza unanimista <strong>do</strong> cinema, às discussões entreas fronteiras <strong>do</strong> cinema e da literatura (Dostoievskiou Visconti?), às noites de um Federico Fellini, atéatingir um ensaio que indaga sobre a contribuição <strong>do</strong>cinemascope para a estética <strong>do</strong> cinema e desmistificare dimensionar a real importância de filmes comoFantasia, de Walt Disney, e Orfeu <strong>do</strong> Carnaval, deMarcel Camus. O livro, entretanto, não para por aqui.Contém mais e muito mais.Do “mestre <strong>do</strong> suspense”, Walter não per<strong>do</strong>a suasvertigens, sua aparente exterioridade, no únicoensaio, a nosso ver, infeliz, <strong>do</strong> grande ensaísta, postoque em Hitchcock o argumento é concessão enquantoque a mise-en-scéne, mensagem. Até que pontoa arte cinematográfica é capaz de transportar astorrentes verbais <strong>do</strong> texto shakespeariano? Eis outroartigo fundamental <strong>do</strong> mestre Walter, o qual nãodescuida também <strong>do</strong>s voos poéticos e da irreverência<strong>do</strong> solitário Monsieur Hulot, personagem <strong>do</strong>comediante francês Jacques Tati. Ou da efemeridade<strong>do</strong>s sentimentos <strong>do</strong> cinema de MichelangeloAntonioni. Ou da poética de Jean Cocteau. Ou daoralidade em Alain Resnais.E o cinema brasileiro? Que Walter da Silveirademonstra tanto interesse, durante a sua trajetóriade crítico, poden<strong>do</strong>-se mesmo afirmar que foraum grande anima<strong>do</strong>r de cinematografia nacional?O cinema brasileiro viria em publicação especial,que a fatalidade <strong>do</strong> destino não permitiu. Mas,em 1978, com a mencionada edição póstuma deHistória <strong>do</strong> <strong>Cinema</strong> Visto da Província, resgata-se,para a permanência em livro, um pouco da pesquisafeita através <strong>do</strong> tempo, num trabalho de verdadeiroarqueólogo da arte fílmica, <strong>do</strong>s primórdios <strong>do</strong> cinemana Bahia. E, sob a ótica de um bom provinciano,Walter descobre, aos poucos, o cinema internacional,que vai despontan<strong>do</strong> na cidade <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r. Também,poder-se-ia perguntar: e Charles Chaplin, a quemWalter tanto amara? Carlitos, ainda em tempo devida <strong>do</strong> crítico, é objeto de um estu<strong>do</strong> definitivosobre a sua filmografia em Imagem e Roteiro deCharles Chaplin, que Walter lança, em agosto de1970 – pouco antes de morrer – no Cine Bahia, comuma exibição especial de O Garoto (The Kid) em suahomenagem. A cópia vem especialmente para estaprojeção numa reverência ao ensaísta <strong>do</strong> Museu deArte Moderna <strong>do</strong> Rio de Janeiro.O apogeu criativo <strong>do</strong> cinema moderno, entretanto,Walter presenciara, pois este se dá la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>com a formação cultural <strong>do</strong> grande ensaísta. Aindamenino, Walter conhece a figura de Carlitos, assisteà transformação da estética da arte muda parao cinema fala<strong>do</strong>, acompanha o desenvolvimentonarrativo de um Orson Welles (Cidadão Kane), de umSergei Eisenstein, contempla a nova postura éticada cinematografia com a eclosão <strong>do</strong> neorrealismoitaliano. E as revoluções sintáticas, inaugura<strong>do</strong>rasde uma nova sintaxe, com Michelangelo Antonioni,Alain Resnais e Jean-Luc Godard. Porque, nasci<strong>do</strong>na segunda década <strong>do</strong> século XX (1915/1970),Walter da Silveira tem o privilégio de ser quasecontemporâneo das transformações estilísticas quemarcam a arte <strong>do</strong> filme.33panorama <strong>do</strong> cinema baiano
- Page 3 and 4: POR ANDRÉ SETAROpanoramado cinemab
- Page 11: 11panorama do cinema baiano
- Page 22 and 23: 22panorama do cinema baianoporciona
- Page 24 and 25: 24panorama do cinema baianoBOCCANER
- Page 26 and 27: 26panorama do cinema baianonas cien
- Page 29 and 30: Walter da SilveiraA PRESENÇA DE WA
- Page 31: Com menos de um ano, em abril de 19
- Page 35: fundamental, como bem demonstram as
- Page 38 and 39: 38panorama do cinema baianoapoio da
- Page 41 and 42: Redenção,1959redenção,de Robert
- Page 43 and 44: fotograma, e apresentado em sessão
- Page 45: ciclo baiano de cinemaNesta época,
- Page 49 and 50: Barravento,1959Acervo CinematecaBra
- Page 51 and 52: obra revolucionária, contra o cand
- Page 53 and 54: o esquema de rodízioForma-se uma E
- Page 55 and 56: inexcedível, em Os fuzis, com foto
- Page 57 and 58: O Pagador dePromessas, 1962ciclo ba
- Page 59 and 60: sobradão, onde fixávamos a tela.
- Page 61 and 62: Glauber Rocha, nosso embaixador mai
- Page 65 and 66: as empresas65Eu me Lembro,2005Com e
- Page 67 and 68: de repente tudo parouO grito da ter
- Page 69 and 70: A Grande Feira,1961a grande feiraH
- Page 71 and 72: claro, da mise-en-scéne - que sua
- Page 73 and 74: donada pelo marinheiro, retorna ao
- Page 75 and 76: tocaia no asfalto75Tocaia no Asfalt
- Page 77 and 78: sol sobre a lamaJoão Palma Neto, a
- Page 79 and 80: ancoradouro, a impedir qualquer aba
- Page 81 and 82: o surto undergroundRealizado em 196
- Page 83 and 84:
da Montanha, biografia deste cineas
- Page 85 and 86:
ção narrativa que iria se acentua
- Page 87 and 88:
a redençãode meteorango emo super
- Page 89 and 90:
as jornadas baianasAs sementes das
- Page 91:
absoluta - pela, como já se disse,
- Page 94 and 95:
94panorama do cinema baianoNavarro
- Page 96 and 97:
96panorama do cinema baianoHá tamb
- Page 98 and 99:
98panorama do cinema baiano
- Page 100 and 101:
100panorama do cinema baianotragem;
- Page 102 and 103:
102panorama do cinema baianoCom a e
- Page 104 and 105:
Diamante Bruto,1977pela necessidade
- Page 107 and 108:
O Pai doRock, 2001críticasTRÊS HI
- Page 109 and 110:
Três Históriasda Bahia, 2001nova
- Page 111 and 112:
Esses Moços,2004ESSES MOÇOS, de J
- Page 113 and 114:
EU ME LEMBRO, de Edgard Navarro113E
- Page 116 and 117:
116panorama do cinema baianoestavam
- Page 118 and 119:
118panorama do cinema baianoCASCALH
- Page 120 and 121:
120panorama do cinema baianografia
- Page 122:
122panorama do cinema baianose dá
- Page 125 and 126:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS125BOCC
- Page 127:
panorama docinema baianoPOR ANDRÉ