Do Mestre-Escola ao professor do ensino primário
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profissão <strong>do</strong>cente, o que é naturai ten<strong>do</strong> emconta a instabilidade socioplítica <strong>do</strong> País.Desenha-se, no entanto, de forma nítida atransformação <strong>do</strong> mestre régio em mestreou <strong>professor</strong> das primeiras letras.<strong>Mestre</strong> ou Professor? Eis uma hesitaçãoque atravessa grande parte da literaturapedagógica da primeira metade <strong>do</strong> séculoXIX e que encerra um importantesignifica<strong>do</strong> sociológico. Os mestres, grupoaté aí claramente distinto <strong>do</strong>s <strong>professor</strong>esde gramática latina, de retórica, de gregoe de filosofia (isto é, <strong>do</strong>s <strong>professor</strong>es <strong>do</strong>((secundário))), começam a afirmar-se comofazen<strong>do</strong> parte integrante <strong>do</strong> grupo social((<strong>professor</strong>es)), ainda que das ((primeiras letras)).Um importante <strong>do</strong>cumento de 1818confirma este movimento de aproximaçãono interior da profissão <strong>do</strong>cente. Trata-sede um abaixo-assina<strong>do</strong> colectivo <strong>do</strong>s mestrese <strong>do</strong>s <strong>professor</strong>es régios da cidade <strong>do</strong>Porto, <strong>do</strong>cumento que seria impensável algunsano6 antes:((Representam a V. Majestade com profun<strong>do</strong>respeito e submissão os Professorese <strong>Mestre</strong>s Régios da Cidade <strong>do</strong> Porto:[...I Que ten<strong>do</strong>-se com o andar <strong>do</strong>s temposaumenta<strong>do</strong> e cresci<strong>do</strong> excessivamenteo preço <strong>do</strong>s géneros e o aluguer de Casas,como é de notoriedade pública, são osseus Ordena<strong>do</strong>s actualmente sobremaneiradiminutos, não só para uma subsistênciacómoda e decente, mas aindamesmo para o que é indispensável <strong>ao</strong>sustento da vida. [...I E como é desejode V. Majestade que to<strong>do</strong>s os Emprega<strong>do</strong>sPúblicos tenham com 01 que se possamsustentar decentemente [...I vêm osSuplicantes requerer o aumento <strong>do</strong>s seusOrdena<strong>do</strong>s.)) (31)Entretanto, <strong>do</strong>is <strong>do</strong>cumentos de 1811 e1814 são dignos de menção nesta evocaçãoda história da profissão <strong>do</strong>cente em Portugal:-0 primeiro, estipula um subsídio especialpara o transporte urgente <strong>do</strong>s párocose <strong>do</strong>s <strong>professor</strong>es para as terrasque foram invadidas 'pelo inimigo: logoque as tropas napleónicas foramrechaçadas, estes <strong>do</strong>is personagens(simultaneamente, adversários e cúmpiices!)são considera<strong>do</strong>s os elementos--chave para a reorganização da vidal~cal(~~).- O segun<strong>do</strong>, aplica unia resolução régiade 1790 e nomeia, finalmente, as trêsprimeiras mestras régias de ler, escrevere contar: Margarida Jesus, MariaProcópia e Teresa Rosa de Jesus sãoas três primeiras <strong>professor</strong>as <strong>do</strong> <strong>ensino</strong>primário oficial de que há memóriaem Portugal (33).A nova fase da vida <strong>do</strong>s <strong>professor</strong>es corresponde,como já referimos, <strong>ao</strong> aban<strong>do</strong>noprogressivo das múltiplas ocupaçk e actividadesque, até <strong>ao</strong> século XVIII, eramacumuladas com o <strong>ensino</strong>. Mas, como ossalários <strong>do</strong>s <strong>professor</strong>es das primeiras letrasse mantêm a um nível muito baixo, estesvêem-se compeli<strong>do</strong>s a encontrar, no interior<strong>do</strong> exercício <strong>do</strong>cente, os expedientes necessários<strong>ao</strong> equilíbrio <strong>do</strong>s respectivos orçamentosfamiliares. Datam desta época as((lições particulares)), as ((aulas extra)) e outrasactividades que, entre nós, se prolongaramaté há bem pouco tempo. O retrato,sem dúvida caricatura1 e bastante exagera<strong>do</strong>,que Santos Marrocos (<strong>professor</strong> régbde Filosofia) traça, em 1799, <strong>do</strong>s <strong>professor</strong>esdas primeiras letras não deixa de ter umafun<strong>do</strong> de verdade)):((Pelo que estes <strong>Mestre</strong>s, como bufarinheiroscom ioja de quinquilharia, vendem<strong>ao</strong>s discípulos papel, tintas, penas deescrever e lápis, tabuadas, pautas, regras,e pastas; fazem imposições mensais contribuin<strong>do</strong>cada UM para água de beber,ten<strong>do</strong> mais alto preço sen<strong>do</strong> por um copo,varrer a <strong>Escola</strong>, e o mais que omito: e422