12.07.2015 Views

É agora ou nunca - Fonoteca Municipal de Lisboa

É agora ou nunca - Fonoteca Municipal de Lisboa

É agora ou nunca - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Do Alentejo vê-se o AAUGUSTO BRAZIOContada às crianças esta história podiaser assim: era uma vez dois Joões,amigos há muito, muito tempo, queum dia ao telefone <strong>de</strong>cidiram fazermais um disco. E fizeram. Mas contadaaos adultos não há-<strong>de</strong> ser muitodiferente. Ouçamos João Monge, 52anos, autor das letras: “De vez emquando vamos fazendo umas cançõese tínhamos uma moda <strong>ou</strong> duas lá nonosso arquivo do computador. E acoisa foi tão simples quanto isto: euestava em Belém, à espera <strong>de</strong> um amigopara jantar, e ele estava atrasado.Então peguei no telemóvel e disse:‘Gil, olha lá, queres fazer um disco <strong>de</strong>música popular comigo?’ ‘Eh pá, quero!’Pronto, foi isto.” E <strong>agora</strong> João Gil,54 anos, autor das músicas: “Sim, essahistória é engraçada. E foi verda<strong>de</strong>.Mas há uma matriz. Por sermos amigos<strong>de</strong> infância, e crescermos juntos,há um lado cúmplice que é fundamentale que nos ajuda rapidamente achegar àquilo que se quer e até àquiloque não se quer.”“Baile Popular”, o novo projecto<strong>de</strong> João Gil e João Monge nasceu assim.Mas, para lá da infância, há umpassado comum: Trovante, Ala dosNamorados, Rio Gran<strong>de</strong>. “Até ao RioGran<strong>de</strong>”, diz Gil, “eu não sabia queera capaz <strong>de</strong> dominar essa matriz damúsica do Sul. Eu s<strong>ou</strong> beirão, nascidona Covilhã, e sempre que pensava emmúsica tradicional (também por tertocado com o Zeca Afonso e com oAdriano, fomos lançados ao mundopela mão <strong>de</strong>les) era sobretudo na daBeira Baixa, intensa, telúrica, algodramática. Era essa a única que meenchia as medidas. Havia uma triangulaçãoentre essa música, o fado quevinha <strong>de</strong> Coimbra e Moçambique,com o Zeca. E eu partilhava <strong>de</strong>ssedogma.”Portugal, para Gil, começava a Nortea acabava no Tejo. Mas quando oJoão Monge o pôs perante o livro dasletras do Rio Gran<strong>de</strong>, teve <strong>de</strong> atravessara margem e gost<strong>ou</strong> da <strong>de</strong>scoberta.Tanto, que repetiu. E fizeram BailePopular “<strong>de</strong> uma maneira simples”.Mas não tão simples assim. Põe-se odisco a tocar e <strong>ou</strong>ve-se uma espécie<strong>de</strong> “bluegrass” alentejano. Mais adiante,pontes com a pop americana,umas saias <strong>de</strong> toque africano, coresHá um “Baile Popular” a emergir noVerão: oito músicos juntos, Alentejoe América misturados com os olhospostos numa eternida<strong>de</strong> que é “coisapara lá do Sol posto” e um somirresistível. João Gil e João Monge, osculpados, explicam. Nuno PachecoJoão Monge: “Gil, olha lá, queresfazer um disco <strong>de</strong> músicapopular comigo?”João Gil: “‘Eh pá, quero!”Pronto, foi istoMúsicamúltiplas ao sol da planície. Como sedo Alentejo se visse e sentisse o Arizona.Mas a simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que falaGil refere-se ao modo <strong>de</strong> criação.“Chegámos a fazer músicas à mesa”,diz. E na guitarra <strong>de</strong> Monge fez doistemas, à noite: “O mal-passado” e “Amoda da mine”. Claro que, <strong>de</strong>pois,isso requeria os músicos a<strong>de</strong>quados.E vozes. E essa foi <strong>ou</strong>tra busca, frutífera.Do campo do jazz (cruzado com<strong>ou</strong>tras músicas) vieram Mário Delgado(guitarra eléctrica), Alexandre Frazão(bateria) e Miguel Amado (baixoeléctrico e contrabaixo). Já as vozes,para lá da <strong>de</strong> Gil, foram todas alentejanas:Paulo Ribeiro, um cantor <strong>de</strong>Beja hoje com carreira a solo (pertenceuao grupo Anonimato) e três membrosdos Adiafa: Zé Emídio, Luis Espinhoe João Paulo. E vão oito, aotodo, com Gil. Nove, se contarmos (etemos que contar, é obrigatório) comJoão Monge.Uma sonorida<strong>de</strong> imediata“Eu queria que isto fosse assim”, dizGil. “Como quando três brasileiros seencontram em Tóquio <strong>ou</strong> cinco argentinosem Moscovo. Se encontramosquatro alentejanos em Nova Iorque,<strong>de</strong> certeza que farão uma moda.”Ele já tinha as músicas feitas e precisava<strong>de</strong> uma sonorida<strong>de</strong> “que fosseimediata, que fosse tocada pela sabedoria<strong>de</strong> quem toca já muito bem etem uma visão universal do seu instrumento”.Com os músicos, Gil disselhesapenas: “Pessoal, embora tocarmúsica popular. Eu toco assim. Comeceia cantar e eles começaram atocar. Isto é maravilhoso quandoacontece. E só acontece porque estesmúsicos têm um vocabulário muitogran<strong>de</strong>. E <strong>de</strong>pressa perceberam queeste universo podia ter paisagens diferentes.Por isso é que há no disc<strong>ou</strong>m texto on<strong>de</strong> sugiro que se po<strong>de</strong> verum céu estrelado no Arizona <strong>ou</strong> umgalo não sei on<strong>de</strong>. A paisagem alentejanapermite-nos gran<strong>de</strong>s veleida<strong>de</strong>sformais, mas tem um código genéticofortíssimo.”As vozes vieram primeiro e ao escolher,ao lado <strong>de</strong> Paulo Ribeiro (“temuma voz muito bonita”), os três Adiafa,Gil sabia que também “tinha alisolistas”. “Este projecto acaba porser surpreen<strong>de</strong>nte por isso mesmo.Há um encontro entre músicos cosmopolitasmas <strong>de</strong>pois o pessoal doAlentejo também sabe fazer conjuntos<strong>de</strong> vozes que não são típicos. Seique o Luis Espinho and<strong>ou</strong> num grupo<strong>de</strong> baile vários anos. Quando começarama meter as vozes, diziam: ‘Istoparece aquelas cenas tipo Crosby,Stills, Nash & Y<strong>ou</strong>ng’.”14 • Sexta-feira 2 Julho 2010 • Ípsilon

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!