40Série SistematizaçãoDan<strong>do</strong>-se conta da gravida<strong>de</strong> da situação, os mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Jorocazinho <strong>de</strong>Baixo iniciaram reuniões para tentar encontrar soluções capazes <strong>de</strong> conter aextinção <strong>do</strong> <strong>pesca</strong><strong>do</strong>. Para isso, procuraram apoio <strong>de</strong> outras comunida<strong>de</strong>s, comoParuru <strong>de</strong> Janua Coeli, que já vinha realizan<strong>do</strong> o Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pesca. Também foisolicitada a ajuda <strong>do</strong> Ibama e da Colônia <strong>de</strong> Pesca<strong>do</strong>res Z-16.Então nós resolvemos, no dia 5 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> mesmo ano, fazer uma reuniãoaqui pra nós fazer a primeira <strong>pesca</strong>. Alguns verea<strong>do</strong>res vieram aqui, a colônia,já com o Juvenal, o Ibama. Foram cria<strong>do</strong>s alguns critérios, como seria dividi<strong>do</strong>o peixe, quem iria <strong>pesca</strong>r... Fizemos esse acor<strong>do</strong> pra fazer a primeira <strong>pesca</strong>.Nós tínhamos um objetivo, quan<strong>do</strong> foi feita a preservação aqui. Não proibimosninguém <strong>de</strong> <strong>pesca</strong>r. O pessoal alega, como um advoga<strong>do</strong> tal chegou a fazerum <strong>do</strong>cumento e me tachou na frente <strong>do</strong> promotor, que nós tava privatizan<strong>do</strong>o rio…, Mas nós não proibimos aqui, jamais, uma pessoa <strong>de</strong> <strong>pesca</strong>r. O que nósfizemos foi organizar e que acontecesse a <strong>pesca</strong>, sim, <strong>de</strong> uma forma correta eorganizada, foi esse o objetivo.(Sr. Gilberto, <strong>pesca</strong><strong>do</strong>r e membro da comunida<strong>de</strong>)O acor<strong>do</strong> tem um forte caráter mobiliza<strong>do</strong>r e organizacional. Foram formadasequipes que realizaram visitas em todas as casas, para informar os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong>Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pesca, sua importância para toda a comunida<strong>de</strong> e o que cada famíliapo<strong>de</strong>ria fazer para garantir seu funcionamento e continuação.João Rola, <strong>pesca</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> rio Jorocazinho <strong>de</strong> Baixo, relata como se <strong>de</strong>u estetrabalho:Nesse processo, nós fizemos o seguinte: coloquemo tu<strong>do</strong> as regras, <strong>de</strong>pois nóssaímos <strong>de</strong> casa em casa colocan<strong>do</strong> pra cada mora<strong>do</strong>r. To<strong>do</strong>s os mora<strong>do</strong>r daquiarreceberam. Se hoje tem algum mora<strong>do</strong>r que não cumpre o que está no papele que foi prega<strong>do</strong> na pare<strong>de</strong>... Porque eu fui nas casas e preguei na pare<strong>de</strong> os<strong>de</strong>talhes que estavam escritos lá sobre a questão das leis <strong>do</strong> lugar.
<strong>Acor<strong>do</strong>s</strong> <strong>de</strong> Pesca no Município <strong>de</strong> <strong>Cametá</strong> 41BenefíciosOs benefícios alcança<strong>do</strong>s pelo acor<strong>do</strong> têm si<strong>do</strong> muitos e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>importância para a comunida<strong>de</strong>. Nos apontamentos da Comissão daAssociação, no ano <strong>de</strong> 1996, pescou-se o equivalente a cerca <strong>de</strong> 10 paneiros (umpaneiro pesa 50kg); em 2001, 200 paneiros; em 2003, chegou-se a 350 .Isso mobilizou os mora<strong>do</strong>res e fortaleceu as parcerias para a empreitada.As parcerias começaram a se intensificar, por exemplo, com a Colônia, como Ibama... Você está conseguin<strong>do</strong> mobilizar os mora<strong>do</strong>res pra esse tipo <strong>de</strong>coisa. Tem a questão da própria alimentação e tem também o la<strong>do</strong> socialque é sempre bom a gente <strong>de</strong>stacar.(João Rola, <strong>pesca</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio Jorocazinho <strong>de</strong> Baixo)Um outro importante benefício alcança<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> rio, foi anormatização <strong>do</strong>s instrumentos <strong>de</strong> <strong>pesca</strong> permiti<strong>do</strong>s. João Rola <strong>de</strong>staca tais vantagensquan<strong>do</strong> diz que:Hoje nós temos um estatuto. Lá é coloca<strong>do</strong> que nós usamos malha<strong>de</strong>iramalha trinta, a fibra trinta também, e com trinta metro <strong>de</strong> comprimento por<strong>do</strong>is <strong>de</strong> altura, isso pra colocar em lugar a<strong>de</strong>quável… Outro é sobre o acarí, praque ninguém pu<strong>de</strong>sse mexer os paus <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>. Também pra colocar tarrafa,que se colocasse no lugar, enquanto o espinhel, o caniço e a ferra<strong>de</strong>ira, estavamextinto…João Figueire<strong>do</strong> cita alguns instrumentos que constam no estatuto dacomunida<strong>de</strong> como proibi<strong>do</strong>s para a <strong>pesca</strong>.A tiração <strong>de</strong> acari, proibi<strong>do</strong>; a malhagem <strong>de</strong> arrasto aqui no rio, proibi<strong>do</strong>;a <strong>pesca</strong> <strong>de</strong> puçá, proibi<strong>do</strong>; a cercada <strong>de</strong> beira, proibi<strong>do</strong>. Certo é que nósconseguimos esses itens, proibimos to<strong>do</strong> esses …Essas proibições trouxeram alguns benefícios, relata<strong>do</strong>s pelos mora<strong>do</strong>res eti<strong>do</strong>s como <strong>de</strong> fundamental importância:Depois da implantação <strong>do</strong> acor<strong>do</strong>, nós já tivemos renda pra nós, pra essacomunida<strong>de</strong>, porque nós já peguemos peixes. Ano passa<strong>do</strong> nós peguemos umabase <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis toneladas nessa região <strong>do</strong> aqui <strong>do</strong> Joroca … (João Rola)Nós temos consegui<strong>do</strong> e graças a Deus tem da<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>, porque agoraesse ano passa<strong>do</strong> <strong>de</strong>u tanto <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> aqui nesse poço da rampa que pessoal<strong>de</strong> outros lugares vinham <strong>pesca</strong>r e puxavam quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixe. Já tevegente <strong>de</strong> <strong>pesca</strong>r esse mandubé, <strong>de</strong> puxar paneiro e meio <strong>de</strong> mandubé,<strong>pesca</strong>da.(João Figueire<strong>do</strong>)