24 <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 29 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2013DesportoDRSaltos, sustose velocida<strong>de</strong>furiosaPaulo Alberto Entre voos, autógrafose muita alegria, o JORNAL DE LEIRIAfoi acompanhar o dia em competiçãodo piloto <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Nos Parceiros,a jogar em casa, <strong>de</strong>ixou o públicoem êxtaseMiguel Sampaiomiguel.sampaio@jornal<strong>de</strong>leiria.pt❚ “Olá Paulinho!”, “Então Paulo, tudojóia?”, “Estás bom? Já não aguentavascom sauda<strong>de</strong>s, não era?” São 17:40horas da tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sábado. Paulo Albertochega à novíssima pista <strong>de</strong> supercrossdos Parceiros, pronta para recebera última jornada do CampeonatoNacional da modalida<strong>de</strong>. Todosquerem cumprimentar o tetra-campeãonacional que este ano trocou aspistas portuguesas pelas do Brasil,on<strong>de</strong> não pára <strong>de</strong> fazer furor. O JOR-NAL DE LEIRIA foi conhecer um diaem competição do piloto da Azoia.Paulo Alberto não é figura públicaem <strong>Leiria</strong>, mas no meio do motociclismo<strong>de</strong> todo-o-terreno é extremamentepopular. A jogar em casa, respon<strong>de</strong>a todas as solicitações e <strong>de</strong>sfazseem cumprimentos. Mostra-se disponívelpara tirar fotos com todos.Senta os miúdos na sua Honda e sorri.Quer muito, mas mesmo muito ganhara prova disputada na sua cida<strong>de</strong>,mas também sabe que o seu fococompetitivo está do outro lado dooceano.Aos 23 anos, Paulo Alberto é, a par<strong>de</strong> Joaquim Rodrigues, também ele acompetir em terras <strong>de</strong> Vera Cruz, aprincipal referência dos motocross esupercross nacionais. Emigrou embusca <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>safios e melhorescondições <strong>de</strong> trabalho e não podia sermais bem sucedido. A forma como superaos obstáculos na pista faz comque se torne praticamente imbatível.Actualmente domina o campeonatobrasileiro <strong>de</strong> MX2 com a sua 250 cc efaz frente a adversários com motasmais potentes (MX1) na categoria Elite.Nos Parceiros, claro está, suce<strong>de</strong>uo mesmo. Mas já lá vamos.O pai mecânicoÀs 18 horas, Paulo Alberto senta-se noexterior do seu motorhome parapreencher papelada. A sua Hondavai ter <strong>de</strong> fazer o teste para ver se nãoultrapassa o limite <strong>de</strong> <strong>de</strong>cibéis permitidos.“Está tudo ok.” Longe <strong>de</strong> SãoPaulo, on<strong>de</strong> está toda a equipa daHonda Brasil, o piloto <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> vaicompetir com a máquina que <strong>de</strong>ixaem Portugal para po<strong>de</strong>r treinar naspausas do campeonato brasileiro.Será o pai Carlos a tratar <strong>de</strong> pôr a motoo mais afinada possível. O irmão <strong>de</strong>Paulo, também ele Carlos, vai igualmentecompetir. “Já tinha sauda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>sta azáfama”, admite o pai, com umbrilhozinho nos olhos. Também ele foipiloto e ama a adrenalina <strong>de</strong> participarnuma prova <strong>de</strong>stas. Ai se o tempovoltasse para trás...O tempo passa é <strong>de</strong>pressa e às18:45 Paulo Alberto começa a focarsenaquilo que realmente interessa. Éque às 19 horas arrancam os treinos eo piloto <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> começa o ritualcheio <strong>de</strong> superstições <strong>de</strong> vestir o fatoe a calçar as botas, acompanhadopelo irmão Carlos. A concentração éconstantemente interrompida pormais e mais pessoas que querem
<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 29 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2013 25MARCELO BRITESMARCELO BRITESUm eventonocturnopermiteimagensespectaculares e PauloAlberto, comas suasacrobacias,fez vibrar oscinco milespectadoresque lotaram ocircuito dosParceiros. Opiloto <strong>de</strong><strong>Leiria</strong>cumpre umasérie <strong>de</strong>rituais aoequipar-se esempre quepossíveltrocaopiniõescom o irmãoCarlos.Fotos eautógrafos,sempre comum sorriso ,são umaconstantepara otetra--campeãonacionalMIGUEL SAMPAIOMARCELO BRITESMultidãoCinco mil a torcerpor Paulo AlbertoQuem chegava, já noite, aocomplexo <strong>de</strong>sportivo dosParceiros pensava que estar aaterrar numa qualquer pistatexana <strong>de</strong> supercross, tal era aenvolvente. Nesta primeira ediçãodo evento, a última provapontuável para o CampeonatoNacional da modalida<strong>de</strong>,estiveram 5 mil pessoas, umprémio para a Junta <strong>de</strong> Freguesiados Parceiros, que agarrou com asduas mão a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terum evento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> nível nalocalida<strong>de</strong>.“Foram superadas as melhoresexpectativas”, salientou RicardoSebastião, director <strong>de</strong> prova. “Emmédia, uma corrida doCampeonato Nacional é vista por2.500 pessoas e neste eventoestiveram o dobro. Era a primeiraedição, estávamos com algumreceio, mas acabou por tudocorrer bem a nível organizativo.Quanto aos pilotos, estavammotivadíssimos por correremcom casa cheia, o que fez com queestivessem ainda mais perto doslimites.” E problemas, Ricardo? “Ailuminação era <strong>de</strong>ficitária efaltava um pouco <strong>de</strong> consistênciaao piso.” A bancada foiinsuficiente? “A solução éaumentar.” A noite terminou emfesta com a consagração <strong>de</strong> HugoBasaúla como novo CampeãoNacional. A correr em casa, PauloAlberto <strong>de</strong>u show e venceu asegunda final da noite. JoaquimRodrigues, o colega <strong>de</strong> Paulo noBrasil, venceu a primeira manga ea geral da prova. Além <strong>de</strong> PauloAlberto, outro quatro pilotos <strong>de</strong><strong>Leiria</strong> estiveram em evidência eapuraram-se para os 18 lugares dafinal: o irmão Carlos, MarcoMarques, Gerson Crespo e DiogoVenâncio. Para o ano, é quasecerto, haverá mais.cumprimentar o campeão. E o piloto,como sempre, não recusa um sorrisoe uma palmadinha. “Tento sempreconcentrar-me ao máximo, mas hojeé mais difícil”, confirma. Há pilotosem disputa pelo título nacional, maspara Paulo Alberto a prova serve, acima<strong>de</strong> tudo, para divertir-se e espalharmagia. “Mas quando estamos lá <strong>de</strong>ntrosó pensamos em vencer”, admite.Amigos e famíliaAo mesmo tempo que Paulo se preparapara acelerar nos treinos – alcançouo segundo lugar do grupo,atrás <strong>de</strong> Hugo Basaúla – os amigos, familiarese até os tios <strong>de</strong> França ocupamgran<strong>de</strong> parte do avançado do seumotorhome, em confraternização.Entre um chouriço, um percebe, umcopito <strong>de</strong> vinho e uma mini, a conversaestava animada. Sempre, claro,com a carreira <strong>de</strong> Paulo Alberto empano <strong>de</strong> fundo, já que o orgulho <strong>de</strong> terum super-campeão na família é difícil<strong>de</strong> disfarçar.Paulo regressa do treino. Chega aopaddock e diz aos amigos que a motoestá “fixe”, mas pe<strong>de</strong> ao pai para mexerna cremalheira e “baixar as suspensões”.Desloca-se <strong>de</strong> novo para apista, a fim <strong>de</strong> observar o irmão e osadversários. No fim, Carlos e Paulo trocamimpressões. “Conseguiste fazero duplo? Como fizeste as mesas? Fostepela esquerda, mas se fosses pela direita...”Enquanto a rapaziada se <strong>de</strong>liciacom os petiscos, Paulo Alberto comefranguinho e massa. “Tem <strong>de</strong> ser”,sorri. São 21 horas e está na hora da primeirameia-final. Passam à final ossete primeiros e Paulo Alberto estátranquilo. Antes do sinal <strong>de</strong> partidabenze-se, como sempre. Os motoresrugem. Não partiu muito bem e <strong>de</strong>ixa-seultrapassar por Basaúla, queganha logo um enorme avanço, eSandro Peixe. Não per<strong>de</strong>u tempo aver-se livre <strong>de</strong>ste, mas passou os 12 minutosda prova a aproximar-se daquele.Passou a ban<strong>de</strong>ira ao xadrez coladinhoao primeiro, mas o segundolugar era mais do que suficiente.“Gran<strong>de</strong> show, puto”, diz um amigo,impressionado com um enormes saltose a forma felina <strong>de</strong> conduzir.Concentração e sustoA moldura humana na pista dos Parceirosnão parava <strong>de</strong> crescer e asbancadas estavam cheias que nemum ovo. Paulo está satisfeito, mas lamentaa falta <strong>de</strong> potência da suamoto. “Ganhas na parte técnica, masper<strong>de</strong>s na recta”, comenta um colega.Nada <strong>de</strong> preocupante. As <strong>de</strong>cisõesestavam ainda por vir. O piloto resguarda-semais. A partir da agora,tudo conta. A partida para a primeiramão da final irá dar-se já <strong>de</strong>pois dameia-noite e o piloto procura concentrar-se.Braços, ombros, pernas, joelhos,pés. A praticamente todos os ossos docorpo é exigido muito numa prova <strong>de</strong>supercross. Por isso, Paulo Albertotreina todos os dias para estar emgran<strong>de</strong> forma, seja ginásio, piscina,corrida ou claro, andar <strong>de</strong> moto. Équase uma hora da manhã quando sedisputa a primeira manga. QuandoPaulo sai do paddock para tomar o lugarna grelha <strong>de</strong> partida, os amigos puxampor ele. “Vamos lá, Paulinho! Força!”Mas a prova não foi feliz para o leiriense.Uma “pequena queda” fê-loper<strong>de</strong>r as hipóteses <strong>de</strong> vencer. A família,claro está, ficou preocupada,apesar <strong>de</strong> todos estarem habituadosa estas andanças. “São já 12 anos”, dizPaulo Alberto. Aos 23 anos, a lista <strong>de</strong>ossos partidos já é extensa: tíbia e perónioda perna direita duas vezes, perónioda perna esquerda, pulso esquerdo,clavícula esquerda, clavículadireita. O piloto está ciente do quepo<strong>de</strong>rá estar à espreita em qualquercurva. “É evi<strong>de</strong>nte que penso que umdia me po<strong>de</strong> acontecer alguma coisamais grave e sei que mais tar<strong>de</strong> todasestas lesões me vão fazer sofrer, maseu ando no supercross por gosto e nãome imagino a fazer mais nada”Para o irmão Carlos, ver o mano emprova é um suplício. “Custa muito, éum stress enorme. Então nas provasno Brasil nem se fala!” Suspiro <strong>de</strong> alívio.O Jikler levantou-se num instante,acelera a fundo e termina amanga na quarta posição.A Paulo o que é <strong>de</strong> Paulo“Frustrado”, Paulo Alberto quer vencera segunda mão. Apesar <strong>de</strong> ter umamoto menos potente, acredita quepo<strong>de</strong> vencer. E vence! Seguia na segundaposição quando o amigo JoaquimRodrigues teve um ligeiro aci<strong>de</strong>ntee não lhe dá hipótese <strong>de</strong> recuperar.As cinco mil pessoas que encherampor completo o complexo dosParceiros estão em êxtase. A família,os amigos, os conhecidos e até os <strong>de</strong>sconhecidosabraçam-no. “Era o quemais queria. As pessoas <strong>de</strong>ste meioconhecem-me, mas na minha cida<strong>de</strong>sou ainda pouco conhecido. Queromuito orgulhar <strong>Leiria</strong>.” Alguém temdúvidas?