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<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 29 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2013 33AlmanaqueJACINTO SILVA DUROJulio CortázarTiago Baptista artista plásticoAdmiro pessoas que não têmestatuto <strong>de</strong> “personalida<strong>de</strong>s”❚ Se não estivesse ligado ao mundo das artes, oque seria?Não sei, estaria perdido. Acho que <strong>de</strong> algumamaneira, a maior parte das activida<strong>de</strong>s que meinteressam estão associadas às áreas cultural ecriativa.O projecto que mais gosto lhe <strong>de</strong>u fazerA exposição Nada em Comum, que <strong>de</strong>senvolvi emparceria com o a9)))) e que aconteceu duas vezesem <strong>Leiria</strong>, que não pô<strong>de</strong> continuar por falta <strong>de</strong>apoios das entida<strong>de</strong>s municipais responsáveis porfazê-lo. Foi um projecto que me <strong>de</strong>u imensoprazer, mas porque a ajuda à produção e aosartistas não estava assegurada, não pu<strong>de</strong>mosvoltar a realizar. Tenho muita pena. Geralmente,os projectos que <strong>de</strong>senvolvo são-me semprebastante queridos.O espectáculo, concerto ou exposição que maislhe ficou na memóriaO concerto dos Swans na Aula Magna, em 2011, e aexposição Atol, <strong>de</strong> Gonçalo Pena, na ZDB.O livro da sua vidaO Processo, <strong>de</strong> Kafka.Um filme inesquecívelStalker do realizador russo Andrei TarkovskySe tivesse <strong>de</strong> escolher uma banda sonora para si,qual seria?Entre outras, o primeiro álbum da Julia Holter,TragedyUm artista que gostaria <strong>de</strong> ter visto no Teatro JoséLúcio da SilvaO Fausto Bordalo Pinheiro, apesar <strong>de</strong> dar poucosconcertos.Uma viagem inevitávelParisUm vício que gostava <strong>de</strong> não terComer bolachinhas à noite.Uma personalida<strong>de</strong> que admiraAdmiro muitas pessoas, mas que não têm amediatização que lhes dê o estatuto <strong>de</strong>“personalida<strong>de</strong>”.Uma actriz que gostasse <strong>de</strong> levar a jantarBéatrice Romand, uma actriz algerianaque participou em muitos filmesdo Rohmer.Um restaurante da regiãoA A<strong>de</strong>ga do Mouzinho e aTasca da Gracinda, porrazões gastronómicasmas tambémemocionais.Um prato <strong>de</strong> eleiçãoBacalhau frito comcebolada. De umamaneira geral gostomuito <strong>de</strong> saborear.Um refúgio (na região)Freiria, na casa dos meuspais.Um sonho para a <strong>Leiria</strong>Os museus e espaços culturaisabertos, melhor promovidos ecom uma programação coerente eaberta às propostas das artescontemporâneas e menos investimentos em infra--estruturas inúteis.Stalker do realizador russo Andrei TarkovskyThe SwansMesa <strong>de</strong>CabeceiraÁlvaroRomãoBéatriceRomandPassaram, esta semana, 99 anossobre a data <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong>Julio Cortázar, que, a par <strong>de</strong>Jorge Luis Borges, representa oexpoente máximo das letrasargentinas. Escritor argentino, escritorque se po<strong>de</strong> colocar <strong>de</strong>ntro do baú dorealismo mágico sul-americano,embora esteja para além <strong>de</strong>le, criandoestórias sem linearida<strong>de</strong> temporal,nasceu na Bélgica e morreu em Paris.Mas a sua vida, pelo menos a dos anos<strong>de</strong> formação, essa foi vivida a sul doequador – lá, on<strong>de</strong> não há pecado.Depois assumiu uma espécie <strong>de</strong> exílioem Paris: foge à ditadura e recebe umabolsa. Figura sedutora, on<strong>de</strong> emmuitas fotografias aparece a fumarum cigarro, coisa difícil <strong>de</strong> acontecernos dias <strong>de</strong> hoje, teve na tradução daobra completa em prosa <strong>de</strong> EdgarAllan Põe o seu primeiroreconhecimento global, consi<strong>de</strong>rado,por muitos, a melhor tradução doautor norte-americano. Politicamentedifícil <strong>de</strong> ser catalogado, numa alturaem que a i<strong>de</strong>ologia marcava a vidaactiva dos intelectuais,<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado à esquerda e à direita,teve, nas suas lutas contra asditaduras sul-americanas, <strong>de</strong> todos osquadrantes, a sua mais aguerridapostura pública. Solidarizou-se comAllen<strong>de</strong> e foi tornado persona nongrata por Fi<strong>de</strong>l Castro. Tive acesso àsua obra, pela primeira vez, através doexcelente filme <strong>de</strong> MichelangeloAntonioni, A História <strong>de</strong> umFotógrafo, baseado no seu conto LasBabas <strong>de</strong>l Diablo, editado em Portugalpela Europa-América, na sua colecção<strong>de</strong> bolso, com o título <strong>de</strong> Blow Up(aproveitando o sucesso do filme).Mais tar<strong>de</strong> encontrei em ven<strong>de</strong>dores<strong>de</strong> rua os livros Histórias <strong>de</strong> Cronópiose Famas, Todos os Fogos o Fogo eBestiário, <strong>de</strong> editoras já extintas. Eposso dizer que foi uma paixão. Tinhaencontrado ali, o meu escritor <strong>de</strong>eleição (muitos anos passados, jávários autores foram o meu autor <strong>de</strong>eleição, mas <strong>de</strong> vez em quando,quando o sol se escon<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sperto <strong>de</strong>novo para Cortázar e percebo que, narealida<strong>de</strong>, nunca <strong>de</strong>le saí). Só anosmais tar<strong>de</strong> experimentei a beleza dasua obra-prima Rayuela <strong>de</strong> 1963. Como título português <strong>de</strong> O Jogo doMundo, Júlio Cortázar exercita umaescrita estilhaçada que propõe duasleituras ao leitor: ler o livro como foiescrito, com os seus saltos temporais enarrativos, ou seguir,ziguezagueando, pelos diferentescapítulos, uma suposta narrativalinear. Há poucos anos a Cavalo <strong>de</strong>Ferro editou A Volta ao Dia em 80Mundos, uma colectânea <strong>de</strong> contos,textos soltos, ensaios, preocupações,narrativas breves e outros escritos quepossibilitaram ao público umaexperiência nova com a difícil, masfascinante, mente do autor. Paraquem nunca leu Julio Cortázar, aindanão é tar<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>scobrir. E valemuito a pena. É uma escrita maior quea vida.Cineasta

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