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<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 29 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2013 29DRROSAS DO LENAInfluências judaicas, mouras gregas e celtasVampiros antes <strong>de</strong> Bram Stoker e TwilightO nosso folclore é um cadinho <strong>de</strong>influências judaicas, mouras,cristãs, romanas, gregas clássica eceltas. Na antiguida<strong>de</strong>, o territórioque hoje é Portugal era habitado anorte do Douro, pelos célticosgalegos, no Douro pelos grouvos,numa pequena parte da Beira peloslusitanos, no Litoral pelos túrdulos,no Alentejo pelos célticos, "irmãos"dos galegos, e, no Algarve, peloscónios <strong>de</strong> má memória, porqueajudaram Roma contra Viriato.À excepção dos lusitanos da Beira,todos eram culturalmente celtas.Os Iberos, que <strong>de</strong>ram o nome àPenínsula, é que nunca existirampor cá, pois esses povos habitaramapenas o Leste, a região que hoje éa Catalunha. Actualmente, muitosportugueses <strong>de</strong>sconhecem a razão<strong>de</strong> cada região ter i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s tãomarcadas e lendas tão diferentes,mas elas po<strong>de</strong>m ser explicadas porestas origens. Muitos conhecem anarrativa <strong>de</strong> D. Fuas Roupinho,primeiro almirante da Armadanacional que, no Sítio da Nazaré, foisalvo pela Virgem da morte, aoperseguir o diabo, sob a forma <strong>de</strong>um veado, mas não sabem que esteanimal estava muito ligado àtradição celta. Ou que oaparecimento <strong>de</strong> Nossa Senhorapo<strong>de</strong> ter raízes nas <strong>de</strong>usas pré--cristãs. “A mãe <strong>de</strong> Cristo, apareceuem Portugal, centenas <strong>de</strong> vezes apastores durante a Ida<strong>de</strong> Média eaté ao século XX, não foi apenas emFátima”, concluiu o sociólogo dasreligiões Moisés Espírito Santo,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estudo sobreeste tema. Infelizmente muitoignoradas pelo Portugal“mo<strong>de</strong>rno”, as lendas históricas,urbanas, etiológicas, sobre aorigem das coisas e topónimos, dosobrenatural, com vampiros –muito antes do Twilight -, o diabo esereias, enriquecem a tradição orale o nosso folclore.JACINTO SILVA DUROescondida numa gruta, mas foi atingida por uma seta.Mais tar<strong>de</strong>, os dois foram encontrados já sem vida. Hoje,em noites <strong>de</strong> luar, aparece junto à gruta uma donzela vestida<strong>de</strong> branco.A cida<strong>de</strong> conta ainda com a lenda da sua conquista porD. Afonso Henriques que terá visto na presença <strong>de</strong> doiscorvos junto às suas tropas, um bom agoiro. Animados,os portugueses venceram a batalha e as aves foram imortalizadasno brasão <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.Há ainda lendas miraculosas que falam <strong>de</strong> pedras <strong>de</strong>on<strong>de</strong> brota água e que estão ligadas ao culto da RainhaSanta Isabel, a tal que transformava pão em rosas. Outrafala <strong>de</strong> tesouros escondidos na Sé-catedral <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>e relaciona as três portas do templo com três túneis queescon<strong>de</strong>riam ouro e prata, mas também a peste e a fome.Há lendas sobre minas <strong>de</strong> água em que ninguém entra,por medo <strong>de</strong> serpentes gigantes <strong>de</strong>voradoras <strong>de</strong> homens,lobisomens, inspirados nas histórias <strong>de</strong> Esopo, eaté a que o pároco do Souto da Carpalhosa, <strong>Leiria</strong>, relatavaem 1721, sobre uma antiga cida<strong>de</strong> romana que seafundou na Lagoa da Erve<strong>de</strong>ira. Eventualmente, <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> ter escutado a narrativa <strong>de</strong> Atlântida.Já o mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça tem, pelo menos, umexemplo <strong>de</strong> lenda hagiográfica. Inscrita nos relevos dotúmulo do rei D. Pedro I, fala <strong>de</strong> S. Bartolomeu que,morto, escalpelizado e <strong>de</strong>capitado, pegou na pele e nacabeça às costas e andou “revivo” diante dos seus carrascos...e o mesmo terá acontecido a D. Pedro. Os cronistascistercienses do século XVII referem que o rei,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morto, voltou à vida por alguns momentos,apenas para se confessar ao aba<strong>de</strong> do mosteiro e assim,pela admissão dos pecados, não se sujeitar ao Purgatório.Se quiser conhecer mais lendas locais, po<strong>de</strong> consultaro Romanceiro popular português ou os Anais domunicípio <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, <strong>de</strong> João Cabral, que referem várias,como a <strong>de</strong> arbustos que andavam sozinhos e mudavam<strong>de</strong> lugar.O RanchoRosas do Lenacostumaencenar alenda do mioto,a história <strong>de</strong>uma ave <strong>de</strong>rapina quecomia asmeninasin<strong>de</strong>fesas. Umdia, estasuniram-se eatacaram a avecom um pau.Esta lendaenraizada nofolclore éilustrativa <strong>de</strong>várias lições eníveisinterpretação,alguns mesmofreudianos. Amais explícitaé que a uniãofaz a forçaHá lendassobre túneisque os fra<strong>de</strong>susavam para irnamorar comas freiras e uma<strong>de</strong>las falamesmo <strong>de</strong> umamor proibido<strong>de</strong> um clérigocom umasenhora, <strong>de</strong><strong>Leiria</strong>, aindaantes <strong>de</strong> opadre Amaroser sequer umai<strong>de</strong>ia na mente<strong>de</strong> Eça. O povocastigou-osexpondo osseus rostos àjanela. Aindalá estão, empedra, perto dovelho edifíciodo OrfeãoAinda antes <strong>de</strong>o Estado Novoter dado a famaaoscomunistas,eram os ju<strong>de</strong>usque comiam ascriancinhas,nos seus rituaiscabalísticos...ou recorriam aum “abafador”como o AlmaGran<strong>de</strong>,<strong>de</strong>scrito porTorga, em OsNovos Contosda Montanha.O <strong>de</strong>sconhecimentodooutro semprefoi um gerador<strong>de</strong> ódiosTempos mo<strong>de</strong>rnosNovos mitos elendas urbanas❚ O imaginário das lendas não é apenaspovoado por imaginário feitiçariase bruxas. Algumas das maiscuriosas narrativas que encontrámosdatam já do século XX e iníciodo século XXI. São as chamadas lendasurbanas. Mesmo estas históriasou historietas são, muitas vezes,pouco mais que a transcrição <strong>de</strong> receiosantigos, xenofobia e actualizações<strong>de</strong> folclore antigo.Em 2002, uma <strong>de</strong>ssas histórias davamcomo certo o tráfico <strong>de</strong> órgãosenvolvendo elementos da etnia chinesae foram tão divulgadas através <strong>de</strong>email – as re<strong>de</strong>s sociais ainda davamos primeiros passos com o Myspace eHi5 – que o comando nacional da PSPteve mesmo <strong>de</strong> emitir um comunicado,esse sim verda<strong>de</strong>iro, com o intuito<strong>de</strong> colocar água na fervura dosódios e dos boatos.E tudo por causa <strong>de</strong> lendas urbanascomo a do “roubo <strong>de</strong> rins”, que o siteLendarium, da Universida<strong>de</strong> do Algarve,transcreve. “Dizem que, naMarinha Gran<strong>de</strong>, havia uma loja <strong>de</strong>chineses e um casal entrou. Só que ohomem já estava farto <strong>de</strong> lá estar e esperouno carro. Esperou, esperou,esperou e a não mulher aparecia.Então a porta foi fechada. Ele bateu,entrou e disse:'a minha mulher estáaqui'. Respon<strong>de</strong>ram-lhe e insistiramque não estava. Foi então que viu umalçapão. Atravessando-o, encontroua mulher já sem rins, numa banheira<strong>de</strong> gelo e os órgãos prontos a seremtraficados.”A origem, nestes casos, é sempre“alguém” que “ouviu” ou “a quemcontaram”. Mas a fonte, por maisimprovável é sempre “segura”, muitasvezes, alguém que ouviu a políciaa falar do assunto.Outra lenda curiosa a que o Lendariumfaz referência é a do fantasmaque apanha boleia à saída da discoteca.Normalmente, é uma raparigaque se instala no banco <strong>de</strong> trás do carroe, a <strong>de</strong>terminado momento, apontae diz: “foi nesta curva que eu morri”,<strong>de</strong>saparecendo no ar, <strong>de</strong> seguida.Há ainda a lenda das agulhas infectadasnos cinemas e teatros, bebidasgaseificadas e águas engarrafadascom ácido.O mais curioso, é que mesmo<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>smentidas, tal comoaconteceu com os supostos maus--tratos no canil <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, as lendasurbanas ten<strong>de</strong>m a regressar, bastandopara isso uma simples partilhanas re<strong>de</strong>s sociais. A históriacostuma ser partilhada até à exaustão,por mais estranha e pouco fiávelque seja, através da “onda noticiosa”um mecanismo sociológicosemelhante ao que <strong>de</strong>u origem ao“arrastão <strong>de</strong> Carcavelos”, que, emboratenha sido notícia durante semanasnos media, nunca existiu, entrandodirectamente para o primeiroposto do ranking <strong>de</strong> lenda urbanamais bem sucedida.

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