CAPAUM CAMINHO PARAOS PNEUS INSERVÍVEISRODOVIAS VOLTAM A SER O DESTINO DOS PNEUSpor Mariana ConradoMesmo após rodar até o limite, pneuspodem retornar para as vias e, o melhor,de uma maneira ambientalmentecorreta: como asfalto. Isso mesmo. No Brasil jáexistem trechos de pavimento produzido como resíduo reciclado dos pneus velhos, o asfaltoborracha. Além de amenizar um problema ecológico,por dar destino aos pneus sem condiçõesde rodagem, o uso da borracha nas misturasasfálticas melhora a qualidade das estradase das ruas.Indiscutivelmente, o pneu é um elemento fundamentale insubstituível, principalmente em paísesonde o transporte rodoviário predomina. No Brasil,mais de 59 milhões de pneus foram produzidosem 2008, segundo levantamento da AssociaçãoNacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). Aindaque o tempo de sua vida útil dure cerca desete anos, em algum momento ele será inservível.O volume oficial dos produtos descartados não éregistrado, mas sabe-se que a questão da destinaçãofinal inadequada é alarmante. Os pneus sãoprodutos de degradação lenta e, quando abandonadosem locais impróprios, oferecem riscosà saúde pública e danos ao meio ambiente, poispodem liberar substâncias tóxicas na atmosfera,transformarem-se em criadouros de mosquitostransmissores de doenças, entre outros fatores. Apreocupação é evidente e a disposição dos pneusinservíveis é questionada em todo o mundo.Entretanto, a parte boa da história é que há váriasmaneiras de reaproveitar os pneus e minimizar ostranstornos gerados. O pesquisador, doutor em engenhariae professor universitário, Luciano Specht,acredita que a solução do problema ambiental estejaligada ao consumo em larga escala da borracha,conjugada às diversas alternativas de uso. Dentreelas, o pesquisador destaca a aplicação de pneumáticoscomo fonte de energia, combustível de cimenteirase, principalmente, como pavimento.16 | <strong>Pneus</strong> & <strong>Cia</strong>.Foto: Mendonça Jr.
Asfalto ecológicoO uso dos pneus na fabricação de asfalto constituina adição do pó de borracha da reciclagem ao materialde pavimentação. Dessa mistura, compõeseo asfalto borracha, também denominado comoasfalto ecológico, devido às contribuições ao meioambiente. Specht, que também é especialista emmisturas asfálticas com borracha, conta que essatécnica foi desenvolvida nos Estados Unidos nadécada de 1950 e que ainda hoje a ideia é bemdisseminada no país.No Brasil, a primeira aplicação ocorreu em 2001,por iniciativa do convênio da concessionária derodovias Univias com a produtora e distribuidoraGreca Asfaltos e com a Universidade Federaldo Rio Grande do Sul (UFRGS). Após pesquisas,testes e estudos de laboratório, o segmento experimentaldo asfalto borracha foi sobreposto emcerca de dois quilômetros da BR 116, no trechoPorto Alegre – Pelotas, no Rio Grande do Sul.Segundo o engenheiro Paulo Ruwer, da Univias,o asfalto ecológico é composto de 20% da borrachade pneu triturada. Normalmente, para cadaquilômetro de pista pavimentada com esse produto,podem ser reaproveitados cerca de 1.000pneus de carro sem condições de rodagem. Mas,na verdade, “a quantidade de pneus para a execuçãode um quilômetro desse tipo de pavimentaçãodepende de certos fatores, como a espessurada camada de asfalto e a sua largura”, explicao engenheiro.A concessionária Rodonorte – que foi a segundaempresa a aplicar o asfalto ecológico em sua malhae a primeira a fazer isso em larga escala no Brasil –,por exemplo, utiliza cerca de 1.200 pneus inservíveispara revestir um quilômetro de rodovia com oasfalto borracha. “As vantagens desse asfalto vãodesde o aspecto ambiental até o técnico. Se nãofosse a reciclagem, boa parte desses pneus poderiaser depositada em lugares inapropriados. Agoraeles ajudam a construir um asfalto ecologicamentecorreto e de qualidade”, enfatiza o gestor de obrasda Rodonorte, Elvio Torres.Mais que benefícios ambientaisAlém de colaborar com o meio ambiente, o uso depneumáticos como agregado na fabricação de pavimentopossui outras virtudes também importantes.Uma afirmação presente em diversas análisesrealizadas pelos profissionais da área é: o asfaltoborracha proporciona avanços para as rodovias.O alto volume de tráfego, o excesso de carga poreixo, as temperaturas elevadas e a falta de manutençãosão ocorrências comuns nas ruas e estradasdo Brasil. Essas características contribuempara que as pistas apresentem defeitos como deformaçãopermanente nas trilhas de roda e trincamentopor fadiga. De acordo com a equipe daGreca Asfalto, em estudo publicado no início de2009, verificou-se que o asfalto convencional nemsempre consegue atingir as expectativas projetadaspara segmentos que exigem revestimentos dealto desempenho. E, para esses trechos, os técnicosapontam como alternativa o uso de misturasasfálticas especiais.Pesquisas comprovaram que o pó da borrachapossui aspectos físico-químicos que aprimoram as17 | <strong>Pneus</strong> & <strong>Cia</strong>.