14 | 31 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2005 | SOCIEDADE | ENTREVISTA | JORNAL DE LEIRIA |Perguntasdos outrosSérgio Leal, candidato do PS àCâmara Municipal <strong>de</strong> PombalComo explica que o concelho <strong>de</strong>Pombal, que há 12 anos estavana linha da frente no contextodistrital, esteja hoje na cauda<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento?Isso não correspon<strong>de</strong> à verda<strong>de</strong>.Pombal é um concelho com projecçãonacional. No contexto daÁrea Metropolitana <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> é oconcelho com <strong>mais</strong> índice <strong>de</strong> crescimentopopulacional. Apesar dacrise no sector, os projectos <strong>de</strong>construção civil também aumentampor todo o concelho. A nívelindustrial, os parques da Formigae <strong>de</strong> Manuel da Mota têm vindoa crescer. Também foram criadospólos industriais na Guia e<strong>em</strong> Abiúl (Fundação José LourençoJúnior), assim como na Pelariga,por iniciativa privada. Torna-seincompreensível que oengenheiro Sérgio Leal, o técnicoque <strong>mais</strong> projectos t<strong>em</strong> vindoa apresentar na Câmara <strong>de</strong> Pombalpara ser<strong>em</strong> licenciados, use <strong>de</strong>d<strong>em</strong>agogia para instrumentalizara opinião pública tendo <strong>em</strong> vistaa sua candidatura à Câmara Municipal.Manuel Gonçalves, presi<strong>de</strong>nteda Associação Comercial <strong>de</strong>PombalFace ao exce<strong>de</strong>nte da oferta <strong>em</strong>termos imobiliários e ao número<strong>de</strong> estabelecimentos comerciaisexistentes e aten<strong>de</strong>ndo quea indústria <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter o pesoque teve como entida<strong>de</strong> <strong>em</strong>pregadora,como pensa contrariaresta situação, criando novospostos <strong>de</strong> trabalho e aumentandoa população do concelho?A Câmara Municipal, <strong>de</strong> acordocom o estatuto <strong>das</strong> autarquiaslocais, não po<strong>de</strong> impedir que osinteresses imobiliários e que osinvestidores transfiram a construçãopara comércio para construção<strong>de</strong> habitação. T<strong>em</strong>os apoiadoos agentes económicos,procurando ser céleres no licenciamento<strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> construção(comércio, habitação eindústria). Somos talvez na RegiãoCentro o único concelho que nãoaplica <strong>de</strong>rrama. Po<strong>de</strong>ria ir buscartodos os anos <strong>mais</strong> <strong>de</strong> um milhãoe 200 mil euros <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrama e nuncafoi necessário, <strong>de</strong> acordo como nosso orçamento, recorrer a essetipo <strong>de</strong> imposto. Recordo que a<strong>de</strong>rrama é aplicada <strong>em</strong> muitosconcelhos da Região Centro. Nãoposso eliminar um probl<strong>em</strong>a através<strong>de</strong> um simples <strong>de</strong>spacho municipal.O probl<strong>em</strong>a sente-se pelofacto <strong>de</strong> haver muita oferta comercial.Isso verifica-se <strong>em</strong> todo oPaís. Gostaria que não se comercializass<strong>em</strong>lojas a cinco mil euroso metro quadrado nos centroscomerciais. Mas a verda<strong>de</strong> é queas construções faz<strong>em</strong>-se. E quandose ergu<strong>em</strong> esses prédios <strong>de</strong>construção colectiva, cada metroquadrado, para espaços comerciais,custa quatro ou cinco vezes<strong>mais</strong> que o metro quadrado parahabitação. ■Só que ele já foi candidato duasvezes à Câmara do seu concelhoe não conseguiu ganhar. Secalhar não fez <strong>mais</strong> nada na vidaa não ser política baixa. Essesindivíduos, que ligam ao supérfluoe esquec<strong>em</strong> o essencial, <strong>de</strong>scaracterizama activida<strong>de</strong> nobre<strong>de</strong> fazer política. Os boatos, quandoexist<strong>em</strong>, não nos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> afectar.Qu<strong>em</strong> é que não passa por<strong>de</strong>termina<strong>das</strong> crises? O que interessaagora é que o engenheiroSócrates, com os conhecimentosque t<strong>em</strong>, seja um bom primeiro-ministro,que governeb<strong>em</strong> tendo <strong>em</strong> conta o interessenacional e não os boatos n<strong>em</strong>os artigos <strong>de</strong> opinião <strong>de</strong>sse ‘politiqueiro’do distrito <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.JL - Tenciona convidar o primeiro-ministroa visitar o concelho?NM – Claro que sim. O engenheiroJosé Sócrates fez um óptimotrabalho enquanto ministrodo Ambiente – a SIMLIS <strong>de</strong>ve--se um pouco a ele. Vou convidá-locomo fiz com o senhorPresi<strong>de</strong>nte da República que recebeua Medalha <strong>de</strong> Ouro do município,o mesmo acontecendo como engenheiro António Guterrese com o doutor Durão Barroso.Sou um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> convicções.Não sou como os que diz<strong>em</strong> omesmo e são como os camaleões:mudam <strong>de</strong> partido conformeas conveniências d<strong>em</strong>omento e para se perpetuar<strong>em</strong>no po<strong>de</strong>r, quer seja na Ass<strong>em</strong>bleiada República, quer seja nas<strong>em</strong>presas públicas, <strong>em</strong> lugaresb<strong>em</strong> r<strong>em</strong>unerados, revelando,muitas vezes, comodismo, laxismoe mediocrida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> acrescentarvalor ao <strong>de</strong>senvolvimentodo País.JL - Meirinhas e Redinhasão consi<strong>de</strong>rados dois pontosnegros do IC2. O que falta fazerpara que os aci<strong>de</strong>ntes mortaisdiminuam naquelas freguesias?NM – Falta fazer muito. Quandovamos às gran<strong>de</strong>s metrópoles,v<strong>em</strong>os aveni<strong>das</strong> que outroratinham s<strong>em</strong>áforos queacabaram por ser substituídospor passagens <strong>de</strong>snivela<strong>das</strong>. AEN1, no distrito <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, é aestrada <strong>mais</strong> fatídica e mortíferado País. Portanto, urge que oMinistério <strong>das</strong> Obras Públicas,<strong>de</strong> uma vez por to<strong>das</strong>, consi<strong>de</strong>reque as vi<strong>das</strong> humanas nãotêm preço, que os prejuízos materiaissão incalculáveis e queimporta fazer variantes aos centrospopulacionais que são atravessadospela EN1 e tambémconstruir passagens <strong>de</strong>snivela<strong>das</strong>para haver maior mobilida<strong>de</strong>naquela via. A EN1 no distrito<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Porto <strong>de</strong>Mós até Con<strong>de</strong>ixa, é <strong>mais</strong> umaestrada urbana do que uma viacom características nacionais.Parece <strong>mais</strong> uma estrada do terceiromundo.JL - Qu<strong>em</strong> é a personalida<strong>de</strong>do PSD <strong>mais</strong> b<strong>em</strong> colocadapara se candidatar à Presidênciada República?NM – É o professor CavacoSilva. Esteve 11 anos à frenteDAMIÃO LEONELdos <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong>ste País e nuncaprecisou da política para ganharo seu pão. Possui <strong>mais</strong> conhecimentospara projectar Portugalno mundo do que outro candidatoqualquer. Mas se houveroutro candidato, respeitarei a<strong>de</strong>cisão do meu partido.JL - Vai fazer campanhapelo “não” à <strong>de</strong>spenalizaçãodo aborto?NM – O voto <strong>de</strong>ve ser livre,<strong>de</strong> acordo com a consciência <strong>das</strong>pessoas. Acho que não <strong>de</strong>veriahaver referendo sobre essa matéria.Se é preciso alterar a lei,havendo uma maioria absoluta,penso que não é necessário<strong>mais</strong> um referendo. Não sou afavor do aborto. Mas a mulherque o pratica não <strong>de</strong>via ser penalizada.É um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> consciênciaindividual. Também nãohá necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se gastar tantodinheiro num referendo umavez que já fiz<strong>em</strong>os um. Tambémfiz<strong>em</strong>os um referendo sobre aregionalização. A regionalizaçãofoi impedida <strong>de</strong> se concretizar,porque foi projectada <strong>de</strong>acordo com o interesse político-partidário.Até queriam quePombal a<strong>de</strong>risse a uma regiãocom se<strong>de</strong> <strong>em</strong> Santarém, quandoo nosso concelho está próximo<strong>de</strong> Coimbra e <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Setivesse sido projectada com basenos distritos ou nas CCR’s, euseria um <strong>de</strong>fensor acérrimo daregionalização.Existe apenas umafarmácia aberta ànoite <strong>em</strong> cadacida<strong>de</strong>, quando <strong>de</strong>viahaver farmácias <strong>em</strong>cada rua, como oscafés, as drogariasou as mercearias.Porque razão há-<strong>de</strong>haver classesprivilegia<strong>das</strong>?JL – Está <strong>de</strong> acordo com amedida do Governo <strong>em</strong> reduziras férias judiciais?NM- Claro que sim. Também<strong>de</strong>veriam reduzir as férias dos<strong>de</strong>putados, assim como resolvero probl<strong>em</strong>a <strong>das</strong> reformas e melhoraro nível <strong>de</strong> vida dos portugueses.Dev<strong>em</strong>os ser contra oslobbies dos po<strong>de</strong>rosos que influenciama activida<strong>de</strong> politica.É necessário criarsentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>. Hácorrupção, toda a gente diz quesabe, mas ninguém vai à fonte.Qu<strong>em</strong> paga impostos são s<strong>em</strong>preos mesmos. E os que nuncapagaram não são fiscalizados.PercursoFilho <strong>de</strong> um agricultor que teve que <strong>em</strong>igrar para melhorar a condição<strong>de</strong> vida, Narciso Mota nasceu nas Meirinhas, concelho <strong>de</strong>Pombal, há 58 anos. É casado e pai <strong>de</strong> dois filhos. Licenciado <strong>em</strong>Engenharia pelo Instituto Superior Técnico <strong>de</strong> Lisboa, foi oficialmiliciano durante oito anos, tendo sido, também nessa qualida<strong>de</strong>,docente no Colégio Militar. É uma <strong>das</strong> vozes <strong>mais</strong> incómo<strong>das</strong> dodistrito, reconhecendo que, por vezes, fala <strong>mais</strong> com o coração doque com a razão. Mas também realça o facto <strong>de</strong> não ser hipócrita.Conta com três maiorias absolutas no seu currículo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nteda Câmara <strong>de</strong> Pombal. O seu protagonismo político po<strong>de</strong>aumentar quando Pombal receber, <strong>em</strong> Abril, o congresso nacionaldo PSD. T<strong>em</strong> o seu nome ligado a várias instituições. S<strong>em</strong>pre quepo<strong>de</strong>, pratica natação, ciclismo e equitação. ■JL – O Governo tambémanunciou que <strong>de</strong>terminadosmedicamentos po<strong>de</strong>rão ser vendidosfora <strong>das</strong> farmácias. Tambémconcorda com essa medida?NM – É uma medida b<strong>em</strong>tomada. Há farmácias que sãotransacciona<strong>das</strong> por autênticasfortunas e quando há pessoasque perd<strong>em</strong> imenso t<strong>em</strong>po paraser atendi<strong>das</strong>, quando existe apenasuma farmácia aberta à noite<strong>em</strong> cada cida<strong>de</strong>. Devia haverfarmácias <strong>em</strong> cada rua, como oscafés, as drogarias ou as mercearias.Porque razão hão-<strong>de</strong>haver classes privilegia<strong>das</strong>? Porqueé que há pessoas que consegu<strong>em</strong>boas reformas ainda <strong>em</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar, como acontece,por ex<strong>em</strong>plo, na política?Isso <strong>de</strong>scaracteriza as bases <strong>de</strong>um Estado <strong>de</strong> Direito. Tudo istome <strong>de</strong>ixa preocupado. Vejo ocomodismo, o laxismo e a irresponsabilida<strong>de</strong>instalados, vejoa burocracia a aumentar e o meuPaís a ficar na cauda daEuropa quando os portuguesessão tão bons oumelhores do que outrospovos da União Europeia.JL – Se José Miguel Me<strong>de</strong>iros,lí<strong>de</strong>r da Distrital do PS, fornomeado governador civil <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,vai respeitá-lo enquanto tal?NM – Claro que o respeitareicomo governador civil do meudistrito. Mas não pod<strong>em</strong>os esquecerque o distrito <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> t<strong>em</strong> 12Câmaras do PSD e 4 do PS e queo governador civil é um cargo que<strong>de</strong>ve ser exercido <strong>de</strong> forma isenta.O doutor José Miguel Me<strong>de</strong>iross<strong>em</strong>pre fez artigos <strong>de</strong> opiniãoa criticar a minha acção como presi<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> Câmara. Claro que teráque inverter a sua conduta e passara ser uma pessoa abrangentee responsável, respeitando as convicçõespolíticas da maioria dosautarcas do distrito. Caso isso nãosuceda, também terei o direito <strong>de</strong>um dia escrever textos <strong>de</strong> opiniãoa criticar a sua postura. ■Damião Leonel
| JORNAL DE LEIRIA | SOCIEDADE | OPINIÃO |31 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2005 | 15| R e s p u b l i c a |A propósito <strong>das</strong> próximas autárquicas ….Dificilmente o Governo <strong>de</strong> José Sócrates teráêxito no alcance dos objectivos que propôs<strong>em</strong> Programa se não tiver nas Autarquias um<strong>em</strong>penhado parceiro e aliado. A estratégia <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>finida para a próxima décadano que diz respeito quer à incr<strong>em</strong>entaçãodo Plano Tecnológico, quer à promoção da eficiência doinvestimento e <strong>das</strong> <strong>em</strong>presas, terá que passar, <strong>em</strong> parte muitosignificativa, pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, localmente, se favorecer<strong>em</strong>e criar<strong>em</strong> as condições concretas para tal <strong>de</strong>senvolvimento.De pouco valerá qualquer maior agilização noprocesso <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas, por ex<strong>em</strong>plo, se o licenciamento<strong>das</strong> instalações se arrastar por anos ou se a disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> infra estruturas compatíveis com <strong>em</strong>presastecnologicame nte avança<strong>das</strong> for escassa ou inexistente.O próprio esforço a realizar no campo educativo, tendo<strong>em</strong> vista a qualificação dos portugueses ou o vencer do atrasotecnológico, terá que passar por esse <strong>em</strong>penho <strong>de</strong> parceriae aliança.As próximas eleições autárquicas serão, nesta óptica, particularmenterelevantes e <strong>de</strong>terminantes e dificilmente sepo<strong>de</strong>rá “mobilizar Portugal” para o que quer que seja se asautarquias não <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar<strong>em</strong> um significativo impulsonessa mobilização.E isto para além dos seus probl<strong>em</strong>as e competências própriase que se prend<strong>em</strong> com uma urgente melhoria, no prazoe qualida<strong>de</strong> <strong>das</strong> <strong>de</strong>cisões, sobretudo no que concerne àspolíticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento. Tendo-se,praticamente, esgotado o ciclo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> infra estruturasbásicas é para as políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económicoe social que os autarcas têm que apontar as suasmiras, afinando a sua organização e abrindo clareiras estratégicas<strong>de</strong> cooperação com vizinhos <strong>em</strong> ambiente inter municipale regional. A criação <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos só é possível a curtoprazo com a criação <strong>de</strong> novas <strong>em</strong>presas e a manutençãoe crescimento <strong>de</strong>stas exige capacida<strong>de</strong> competitiva, é certo,mas também condições <strong>de</strong> implantação e <strong>de</strong>senvolvimentoque às autarquias compete favorecer.Agora que se começa a sentir a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisãoTendo-se,praticamente,esgotado o ciclo <strong>de</strong>construção <strong>de</strong> infraestruturas básicas épara as políticas <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimentoeconómico e socialque os autarcas têmque apontar as suasmirasJOSÉ MANUEL PEREIRADA SILVAArquitectopereira<strong>das</strong>ilva@netvisao.ptdos instrumentos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento e gestão territorial seriafundamental que na base metodológica se contornass<strong>em</strong> eevitass<strong>em</strong> os erros do passado e que esses novos instrumentosnão só correspon<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> aos reais ou projectadosinteresses <strong>das</strong> populações mas que foss<strong>em</strong> molas efectivasdo necessário <strong>de</strong>senvolvimento global do país. Capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> gestão eficaz e projectiva - com recusa liminar do imediatismo<strong>de</strong>cisional e do favorecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>das</strong>clientelas, <strong>de</strong> compadrio e outros pecados que têm manchadoa figura do autarca – visão estratégica, capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> elenco <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerarinter cooperação e aglutinação sinérgica entre afins e público-privado,eis o que se <strong>de</strong>ve exigir para o futuro na gestãomunicipal.A corrida será lançada muito brev<strong>em</strong>ente. Jorge Coelho,responsável pelo sector autárquico do PS, já anunciou quererver to<strong>das</strong> as candidaturas pelo partido <strong>de</strong>cidi<strong>das</strong> até aofim <strong>de</strong> Abril. O PSD, com a sua li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>cidida entretanto<strong>de</strong>verá respon<strong>de</strong>r até à primeira quinzena <strong>de</strong> Maio.Os primeiros quererão ver confirmada a supr<strong>em</strong>acia conquistadanas legislativas. Os segundos hão-<strong>de</strong> querer fazer<strong>de</strong>stas eleições um momento <strong>de</strong> recuperação eleitoral. É evi<strong>de</strong>nteque nada disso aqui estará <strong>em</strong> causa. Mas uns e outrosforçarão tal leitura se os resultados lho permitir<strong>em</strong>.A preocupação torna-se evi<strong>de</strong>nte pela escolha dos candidatospara as maiores cida<strong>de</strong>s. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ganharleva a apostas imprevisíveis como a da candidatura <strong>de</strong>Francisco Moita Flores (FMF) a Santarém. Não pondo <strong>em</strong>causa a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> FMF – a sua inteligência, a suareconhecida competência como sociólogo e criminologista,a sua integrida<strong>de</strong> moral e outros atributos po<strong>de</strong>rão conce<strong>de</strong>r-nosum autarca competente – penso que a sua escolha<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida advém da sua mediatização e queeste ex<strong>em</strong>plo po<strong>de</strong>rá ilustrar o que se passará na escolhados candidatos dos principais partidos.Nenhum mal daqui adviria se os pressupostos <strong>de</strong> mudançapara acção <strong>das</strong> autarquias, como acima aflorei, foss<strong>em</strong>cont<strong>em</strong>plados.Mas dá para <strong>de</strong>sconfiar que não, não é? ■| O p i n i ã o |O comboio e o atraso económicoAhistória dos comboios t<strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 190 anos.Foi <strong>em</strong> Inglaterra, no ano <strong>de</strong> 1814, que a primeiralocomotiva a vapor vez a sua inauguraçãono transporte <strong>de</strong> hulhas. Em 1825, afamosa locomotiva Rocket vez a sua primeiraviag<strong>em</strong> <strong>de</strong> passageiros. Em 1827 o comboiochegou aos Estados Unidos. Em 1828 <strong>em</strong> França, 1839 <strong>em</strong>Itália e <strong>em</strong> 1848 <strong>em</strong> Espanha. Em Portugal, o comboio chegou<strong>em</strong> 1856. No dia 28 <strong>de</strong> Outubro, o céu tinha uma luzpálida que reverberava sobre o Tejo. Em Lisboa, o rei D.Pedro V inaugurava, com pompa e circunstância, a primeiralinha <strong>de</strong> caminho-<strong>de</strong>-ferro até ao Carregado. Eramduas máquinas a vapor usa<strong>das</strong> e importa<strong>das</strong> <strong>de</strong> Inglaterra.Por alturas <strong>de</strong> Sacavém, as tubagens a vapor partiram-se,e a viag<strong>em</strong> inaugural teve <strong>de</strong> ser interrompida. Já haviaenguiço nos <strong>de</strong>sígnios do comboio <strong>em</strong> Portugal.Todos os gran<strong>de</strong>s investimentos públicos <strong>em</strong> infra-estruturas<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser visionários, porque são projectados paraperíodos <strong>de</strong> muito longo prazo. Nos últimos três anos, ogoverno PSD estudou e <strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong> forma exaustiva o projectodo TGV para o País. No entanto, poucas s<strong>em</strong>anas apósa tomada <strong>de</strong> posse do actual governo, no VI Congresso doTransporte Ferroviário, Jorge Coelho veio dizer que, afinal,está tudo mal. O ministro dos Transportes, Mário Lino, nãodiz n<strong>em</strong> que sim, n<strong>em</strong> que não. O presi<strong>de</strong>nte da RAVE,Braamcamp Sobral, mantém a <strong>de</strong>fesa do projecto gizadopor António Mexia. Mas já o antigo presi<strong>de</strong>nte da instituição,Manuel Moura, que fora nomeado por Jorge Coe-<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> século <strong>em</strong>eio, a história doscomboios repete-se<strong>em</strong> Portugal. Estáinstalada, uma vez<strong>mais</strong>, a polémica;estão instalados, umavez <strong>mais</strong>, osinteresses privadossobre os interessespúblicosMÁRCIO LOPESProfessor na ESTG-<strong>Leiria</strong>lho na anterior legislatura PS, é contra. Ou seja, tudo se encaminhapara que o projecto do TGV assuma duas característicashistoricamente sintomáticas: que obe<strong>de</strong>ça a lógica <strong>das</strong>províncias e dos partidos políticos; e que se arraste no t<strong>em</strong>popor excesso <strong>de</strong> discussão.O que já fora uma suposição é agora uma certeza. Opo<strong>de</strong>r político <strong>em</strong> Alcobaça não quer o TGV, porque lhe vaiestragar um projecto industrial na Benedita. E a históriarepete-se. Não nos factos, mas nas mentalida<strong>de</strong>s. O comboioa vapor é um ícone da Revolução Industrial. Seja doponto <strong>de</strong> vista tecnológico, como da sua funcionalida<strong>de</strong>para o <strong>de</strong>senvolvimento económico. Em Portugal, o comboiolevou 40 anos para cá chegar. E porquê? Pelas mesmasrazões do TGV. Durante 40 anos <strong>de</strong>bateu-se a pertinênciado comboio no País. Almeida Garret era contra (bastaler Viagens na Minha Terra e vê-se que ele era um entusiasta<strong>das</strong> estra<strong>das</strong>). Alexandre Herculano alimentava apolémica nos jornais. Vivia-se o então Liberalismo português,e Portugal atrasava-se no seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong>relação à Europa. E a Revolução Industrial aqui tão perto.Mas o atraso também se <strong>de</strong>veu aos grupos <strong>de</strong> pressão daaltura. To<strong>das</strong> as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> transporte por tracção animalforam contra. Assim como as <strong>em</strong>presas que faziam o transportefluvial. Ou seja, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> século e meio, a históriados comboios repete-se <strong>em</strong> Portugal. Está instalada, umavez <strong>mais</strong>, a polémica; estão instalados, uma vez <strong>mais</strong>, osinteresses privados sobre os interesses públicos. E o Paísatrasa-se. Per<strong>de</strong> o comboio. ■