<strong>Caldas</strong>,CidadeCulturalReportagem | Carla AmaroFotografia | Guto Ferreira22 |
Depois de um hiato de quase 20 anos sem um espaço digno de eventos culturais de projecçãointernacional, <strong>Caldas</strong> da Rainha figura agora nos roteiros como uma <strong>cidade</strong> que não podedeixar de ser visitada por quem gosta de bons concertos, teatro, ópera, bailado, exposições.Desde a inauguração do Centro Cultural e de Congressos (CCC), em Abril deste ano, a terraque se deu a conhecer ao pais pela cerâmica de Bordalo e pelas «milagrosas» águas termais,está a mudar a imagem e a ganhar outra vida com a chegada de milhares de pessoas paraassistirem a espectáculos de grande qualidade. Até se diz, nas <strong>Caldas</strong>, que o de Lisboa,o CCB, não o supera em matéria de oferta <strong>cultural</strong>. É o caminho certo para, daqui a dezanos – é a expectativa da autarquia e de quem define a programação do CCC – <strong>Caldas</strong> seráuma referência também mundial. Um equipamento megalómano merece ambição à altura.Quem passava pela Rua Dr. Leonel Sotto Mayor,nas <strong>Caldas</strong> da Rainha, e olhava para o local ondefoi construído o mais recente Centro Cultural ede Congressos (CCC) do país, não tinha motivospara aí fixar o olhar; quanto muito, servia-se doespaço para estacionar o carro no então parque de estacionamentoao ar livre, do ponto de vista estético e paisagístico menosagradável de se ver. Os que vivem à volta agradecem a substituiçãode um por outro, porque não deve haver ninguém no seu perfeitojuízo, não obstante o jeito que dá ter ao pé de casa um sítio parao veículo, que prefira, quando abre a janela ou a porta de casa,deparar-se com um cenário como o anterior. O CCC é bonito e ficabem aqui, ou não fosse considerado por quem sabe um exemplode arquitectura.Visto de fora, não se tem a percepção do espaço interior. O CCCtem mais área do que parece.E sem visitantes, como nesta manhãde sábado, ganha metros quadrados. Raquel Adrião não vê outrajustificação para o vazio de gente senão o facto de ser «sábado demanhã», o que significa «a possibilidade de as pessoas ficarem adormir até mais tarde»: «Neste dia, a esta hora, é sempre assim,calmo». Sem visitantes a quem dar informações, esta jovem frentede casa (função que exerce) percorre a ritmo lento o primeiro pisoda galeria de arte, onde ainda está patente [terminou a 15 de Setembro]a exposição Rosto e Identidade, com Retratos da ColecçãoBerardo – nesta sala, as imagens tiradas pela inglesa que se radicouna ilha da Madeira Bridget Jones e pelo americano Robert Willson;no andar de baixo, pinturas e fotografias de vários artistas.Raquel dedica-se ao trabalho de frente de casa apenas em parttime,uma forma, diz esta jovem de 18 anos, de «praticar o queaprendo na escola profissional», a ETEO – Escola Técnica Empresarialdo Oeste, onde frequenta aulas de Comunicação, RelaçõesPúblicas e Marketing. «Estou tentada a seguir Relações Públicasem parte por causa deste trabalho. Mais logo vou ter oportunidadede exercer, quando as pessoas começarem a chegar, um poucodepois do almoço». Um dos visitantes não será certamenteHenrique Santos, que já viu a mostra duas vezes: a primeira «sozinho»,pouco depois da inauguração, a segunda «para fazer companhiaà minha mulher», que também não quis deixar de ver a exposição».Henrique é um frequentador habitual do Centro Culturaldesde que abriu. Para aqui vem muitas vezes à noite, «ver os espectáculosque não posso perder, em especial concertos», e sempre,invariavelmente, aos sábados e domingos de manhã, «para ler osjornais». Um vício adquirido cedo, por influência do pai que nãoadmitia pequenos almoços sem na mesa, «aberto», o Diário deNotícias. O hábito de ler jornais mantém-se, o que mudou foio local de leitura ao fim-de-semana; antes, num café próximo dafamosíssima praça da fruta, onde a mulher habitualmente fazcompras – «é lá que está agora» - e actualmente na esplanada doCCC, «pelo menos nos dias em que não chove».Na mesa ao lado da de Henrique, um casal com a filha. Clienteshabituais deste espaço, ainda têm em cima da mesa os bilhetesque acabaram de comprar para o espectáculo de amanhã à tarde.Margarida tem sete anos e está «ansiosa» para ver Olivia. Não fazideia de que neste preciso momento Olivia já está a ser preparado.Enquanto no Grande Auditório a equipa de técnicos andam«às voltas» com as cortinas, as luzes e o som, nas traseiras do centro<strong>cultural</strong> está a ser descarregado o camião que transportatodos os objectos e adereços necessários ao espectáculo. A agitaçãonos bastidores não passa pela cabeça de Margarida. E é assimque deve ser, para que o espectáculo seja mágico e cause nascrianças o deslumbramento. Mas alguma coisa Margarida sabe,que a peça de teatro «é sobre uma porca muito simpática quegosta de dançar ballet quando não tem sono». Cristina e Álvaro| 23