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Revista Beer Brasil - Edição 01 - JAN2016

A Revista Beer Brasil é uma nova publicação da Editora Hophead, focada no mercado de cervejas artesanais, em oportunidades de negócios, e em temas como harmonização, dicas de degustação, novos rótulos, eventos, entrevistas, e todo e qualquer outro assunto relevante ao mundo cervejeiro.

A Revista Beer Brasil é uma nova publicação da Editora Hophead, focada no mercado de cervejas artesanais, em oportunidades de negócios, e em temas como harmonização, dicas de degustação, novos rótulos, eventos, entrevistas, e todo e qualquer outro assunto relevante ao mundo cervejeiro.

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BEER BRASIL<br />

sua revista sobre cervejas artesanais<br />

ESPECIAL<br />

GROWLERS<br />

LEVANDO PARA CASA<br />

MAIS DO QUE APENAS CERVEJA<br />

Velhas Virgens Rockin’ <strong>Beer</strong><br />

Convidados mais<br />

do que especiais para falar<br />

sobre música e cerveja<br />

CERVEJARIAS DO MEU BRASIL<br />

INICIAMOS NA CAPITAL PAULISTA O NOSSO<br />

PASSEIO PELAS CERVEJARIAS BRASILEIRAS<br />

A revolução<br />

no cenário<br />

cervejeiro<br />

da Alemanha<br />

Harmonização<br />

de cervejas<br />

com alimentos<br />

#wanderlust<br />

Como planejar<br />

seu roteiro<br />

cervejeiro<br />

Um breve giro<br />

pela história<br />

da cerveja<br />

Ed. #<strong>01</strong> | JAN2<strong>01</strong>6


BEER BRASIL<br />

EdiToR E diREToR EXECUTiVo<br />

Raul dos Santos<br />

Editorial<br />

ANo NoVo, REViSTA NoVA!<br />

E 100% gratuita e digital, acessível a todos, de qualquer<br />

lugar, a qualquer hora. Em uma época digital, onde<br />

estamos conectados boa parte do nosso tempo,<br />

resolvemos seguir a tendência e estar 100% do tempo<br />

disponíveis online.<br />

Também conseguimos montar um time de colunistas e<br />

colaboradores de dar inveja a qualquer outra publicação.<br />

Sommeliers, professores, jornalistas, todos apaixonados<br />

e profundos conhecedores de cervejas!<br />

CoLABoRAdoRES dESTA <strong>Edição</strong><br />

Adriane Baldini<br />

Amanda Reitenbach<br />

Daiane Colla<br />

Fabiana Arreguy<br />

Fabrício Domingues<br />

Fernanda Meybom<br />

Gil Lebre<br />

Gisele Russano<br />

Rodrigo Sawamura<br />

Simone Pires<br />

Velhas Virgens<br />

Essa é a <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>, uma revista novinha, focada<br />

no mercado cervejeiro e destinada ao público envolvido<br />

com cervejas artesanais.<br />

Não é mais nenhuma novidade, o mercado cervejeiro<br />

no <strong>Brasil</strong> segue em expansão, com cada vez mais<br />

cervejarias artesanais, rótulos, bares e empórios<br />

especializados. Nossas cervejas estão ganhando prêmios<br />

e mais prêmios. Está cada vez mais fácil encontrar<br />

nossas cervejas artesanais preferidas nos mercados,<br />

bares e restaurantes. Em conversas despretenciosas, é<br />

corriqueiro descobrir que um amigo ou familiar agora<br />

está “fazendo cerveja”. Também estamos escrevendo<br />

mais, lendo mais, estudando mais. E formando mais<br />

sommeliers e produtores de cerveja.<br />

Estamos mais exigentes, bebendo melhor, e agora, lendo<br />

melhor!<br />

Leia sem moderação!<br />

Um abraço!<br />

Editor<br />

Raul dos Santos<br />

PRodUção GRÁFiCA<br />

Editora HOPHEAD<br />

CoNTAToS, PARCERiAS E ANÚNCioS<br />

contato@revistabeerbrasil.com.br<br />

WEBSiTE<br />

www.revistabeerbrasil.com.br<br />

FACEBooK<br />

facebook.com/revistabeerbrasil<br />

A REViSTA BEER BRASiL é uma publicação criada, desenhada e<br />

produzida no <strong>Brasil</strong> pela EdiToRA HoPHEAd LTdA, e destinada ao<br />

público envolvido com cervejas artesanais.Copyright © 2<strong>01</strong>6 REViSTA<br />

BEER BRASiL. Todos os direitos reservados. ISSN 2447-3863.<br />

Esta publicação é protegida por direitos autorais, sendo vedada a<br />

reprodução, distribuição ou comercialização de qualquer material<br />

ou conteúdo dela obtido, sem a prévia e expressa autorização da<br />

EdiToRA HoPHEAd LTdA. As visões e opiniões dos anunciantes,<br />

entrevistados e colunistas são particulares e não necessariamente<br />

refletem a opinião da editora ou do staff editorial. A editora<br />

não assume nenhuma responsabilidade por erros, omissões ou<br />

danos resultantes da utilização das informações aqui contidas.<br />

IMPORTANTE: eventualmente, utilizamos material que acreditamos<br />

ter sido disponibilizado sob domínio público, porém algumas vezes<br />

não é possível identificar e/ou contatar o dono dos direitos autorais.<br />

Se desejar alegar propriedade por qualquer conteúdo aqui publicado,<br />

entre em contato e ficaremos mais do que felizes em realizar quaisquer<br />

correções necessárias.<br />

4 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


06<br />

22<br />

<strong>Edição</strong> #<strong>01</strong> | JAN2<strong>01</strong>6<br />

06<br />

10<br />

14<br />

18<br />

22<br />

26<br />

36<br />

40<br />

46<br />

CERVEJARIAS DO MEU BRASIL<br />

Um bate-papo com Marcos Ribas, um dos sócios<br />

da CERVEJARIA NACIONAL.<br />

MOVIMENTO CERVEJEIRO<br />

E o Movimento Cervejeiro, com todas suas<br />

oportunidades, continua crescendo no <strong>Brasil</strong>!<br />

CERVEJAS, SABORES E LUGARES<br />

A cerveja dos bunkers da 2ª Guerra Mundial.<br />

ROTEIROS CERVEJEIROS<br />

#wanderlust: o incontrolável desejo de estar<br />

sempre com malas prontas e pé na estrada.<br />

ESPECIAL GROWLERS<br />

Levando para casa mais do que<br />

apenas cerveja.<br />

ESPECIAL GROWLERS<br />

Muitas ideias dentro de um growler.<br />

CRAFT BEER REVOLUTION<br />

A revolução no cenário cervejeiro da<br />

Alemanha.<br />

ENTREVISTA: MALTERIA<br />

BLUMENAU<br />

Maltes 100% nacionais!<br />

UM BREVE GIRO PELA<br />

HISTÓRIA DA CERVEJA<br />

A história da bebida alcoólica mais<br />

consumida no mundo.<br />

14


CERVEJARIAS DO MEU BRASIL<br />

SÃO PAULO<br />

cervejaRIA<br />

NACIONAL<br />

Em um bate-papo bastante descontraído, conversamos com<br />

o mais que receptivo Marcus Ribas, um dos sócios da<br />

Cervejaria Nacional, de São Paulo, onde falamos um pouco<br />

sobre a história da cervejaria, os desafios destes 4 anos de vida<br />

e os próximos passos rumo ao futuro.<br />

A<br />

história da Cervejaria Nacional<br />

começa em 2006, com<br />

experimentos do economista<br />

e cervejeiro Luis Fabiani, que<br />

após morar um tempo fora do país, nos<br />

Estados Unidos, volta entusiasmado<br />

com o movimento cervejeiro americano,<br />

e com equipamentos debaixo dos braços<br />

para iniciar suas próprias produções<br />

caseiras. Autodidata, inicia suas pequenas<br />

produções de cervejas artesanais,<br />

e juntamente com o amigo de infância<br />

Dudu Toledo, aproveitando o interesse<br />

mútuo em tornar esses experimentos<br />

em um negócio, montam a estrutura da<br />

embrionária nanocervejaria que mais<br />

tarde se tornaria a cervejaria que hoje<br />

produz cerca de 13.000 litros/mês (entre<br />

consumo em chope na casa, e receitas<br />

engarrafadas, produzidas em planta<br />

externa).<br />

O laboratório inicial foi extremamente<br />

importante para entenderem melhor<br />

o negócio das cervejas artesanais, a<br />

legislação e tributação em vigor, além<br />

de todas as possibilidades de desenvolvimento<br />

dentro desse mercado. Após<br />

muito estudo de mercado e muitas<br />

brassagens caseiras, e ainda compartilhando<br />

seus tempos<br />

entre a nanocervejaria e<br />

seus próprios negócios, no<br />

segundo semestre de 2009<br />

tomam a decisão e resolvem<br />

sair à procura de opções para<br />

expandir o negócio. Com um<br />

pequeno plano de negócios em mãos,<br />

entram em contato com uma consultoria<br />

especializada em bares e restaurantes,<br />

sendo atendidos por Marcus Ribas,<br />

então sócio da consultoria e já com<br />

vasta experiência no setor de bares e<br />

restaurantes. A sinergia foi grande, e o<br />

que seria uma proposta de consulto-<br />

6 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


ia, rapidamente transformou-se em<br />

sociedade. Foi assim que Fabiani, Dudu<br />

e Marcus, junto com outros dois sócios<br />

(Alexandre Cymes e Peter Jancso),<br />

inauguram em 2<strong>01</strong>1 o espaço que hoje<br />

acolhe a Cervejaria Nacional.<br />

Cada sócio tem sua responsabilidade<br />

no negócio, mas Marcus é quem toca a<br />

operação diária, hoje dedicando 100%<br />

do seu tempo à fábrica-bar-restaurante.<br />

O diferencial de ter um consultor com<br />

mais de 25 anos de experiência no setor<br />

de bares e restaurantes é sem dúvida<br />

uma vantagem competitiva. “O tempo<br />

de consultoria permite enxergar um<br />

padrão para os problemas mais comuns<br />

enfrentados por bares e restaurantes”,<br />

comenta Marcus, “fazendo com que se<br />

possa antecipar problemas já conhecidos,<br />

aumentando a probabilidade de<br />

sucesso do negócio”.<br />

E de todos os desafios, “o grande problema,<br />

o grande gargalo, é sem dúvida<br />

o material humano, os recursos humanos”,<br />

que demanda uma preocupação<br />

especial com a base, com a qualidade<br />

educacional de seus funcionários e com<br />

um plano de capacitação.<br />

Foto: Antonio Rodrigues


CERVEJARIAS DO MEU BRASIL<br />

SÃO PAULO<br />

Foto: Daniel Teixeira<br />

Sampler da Cervejaria Nacional:<br />

as cinco receitas fixas da casa, dispostas<br />

para degustação em copinhos de 120 ml.<br />

Com cinco receitas fixas (criadas<br />

para cobrir um leque variado<br />

de estilos), e uma média de<br />

duas receitas sazonais todos os<br />

meses (algumas delas colaborativas), a<br />

variedade de opções tornou-se um dos<br />

diferenciais da casa. São 24 sazonais<br />

lançadas anualmente, onde metade<br />

são grandes sucessos já experimentados<br />

e metade são novas receitas, um<br />

número impressionante para qualquer<br />

brewpub. Além dos chopes servidos,<br />

cervejas artesanais em<br />

garrafas, todas nacionais,<br />

completam as<br />

opções para os apreciadores<br />

que preferem<br />

variar.<br />

Indo para seu quinto<br />

ano como fábrica-bar-<br />

-restaurante, a Cervejaria<br />

Nacional conta com três<br />

pisos e três ambientes<br />

bastante distintos. No<br />

térreo temos a fábrica,<br />

onde ficam dispostos os<br />

tanques de fermentação<br />

para os 8.000 litros mensais<br />

de cerveja artesanal produzidos<br />

todos os meses para<br />

consumo na casa. O primeiro<br />

andar acolhe o bar, com uma parede<br />

de tijolos e ambiente mais rústico, palco<br />

para apresentações de música ao vivo<br />

e amplo espaço para sentar, conversar<br />

e degustar as cervejas da casa. E no<br />

último andar o restaurante, com vista<br />

para a rua através de um grande vidro e<br />

também com vista para a cozinha, onde<br />

pode-se ver uma “parrilla” argentina,<br />

um sistema de grelhas utilizado para<br />

preparar e dar sabor especial às carnes<br />

e hambúrgueres da casa. Os pratos da<br />

casa são assinados pelo chef de cozinha<br />

e também sócio Alexandre Cymes,<br />

que caprichou nas receitas para<br />

harmonizar com as cervejas da casa.<br />

As receitas fixas são a Domina Weiss<br />

(uma cerveja de trigo com boa presença<br />

dos característicos aromas de<br />

banana e cravo), a Y-Îara Pilsen (criada<br />

com a ideia de reproduzir a tradição do<br />

estilo, porém com um amargor mais<br />

perceptível e 100% de malte), a Mula<br />

IPA (baseada em uma IPA americana,<br />

com generosas doses de lúpulos americanos<br />

que contribuem para aromas<br />

de frutas tropicais, maracujá e cítrico),<br />

a Kurupira Ale (uma Ale<br />

tradicional baseada na receita<br />

da Drake’s Brown Ale,<br />

o primeiro grande sucesso<br />

da Cervejaria Nacional<br />

antes mesmo de tornar-se<br />

fábrica-bar-restaurante) e<br />

a Sa’si Stout (uma variação<br />

Dry Stout, fiel ao estilo<br />

e que foi equilibrada ao<br />

longo do tempo para dar<br />

mais harmonia aos sabores).<br />

Entre todas, é injusto<br />

dizer quem é a “estrela<br />

da casa”. Em 2<strong>01</strong>4 foram<br />

produzidos aproximadamente<br />

96 mil litros entre<br />

fixas e sazonais, sendo<br />

a Domina, responsável<br />

por cerca de 17 mil litros,<br />

seguida muito de perto pela Y-Îara,<br />

com 16,5 mil litros. Em terceiro lugar, a<br />

Mula IPA com 15 mil litros, a Kurupira,<br />

com 14 mil, e por último a Sa’si, com 9<br />

mil litros. As quatro primeiras receitas<br />

8 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


‘‘<br />

“O cliente que vem sempre<br />

aqui e não está no clima<br />

de tomar um dos nossos<br />

chopes da casa, deve ter<br />

opções. É bastante comum<br />

ver o pessoal pedindo<br />

rótulos de outras<br />

cervejarias nacionais”,<br />

comenta Ribas.<br />

tiveram um volume muito próximo de<br />

produção, mostrando que existe espaço<br />

para apreciadores de variados estilos.<br />

Além dos 8.000 litros mensais para consumo<br />

na própria casa, a Cervejaria Nacional<br />

também vem se aventurando, há<br />

pouco mais de um ano, no lançamento<br />

de suas receitas na versão engarrafada.<br />

Já são 5.000 litros distribuídos em garrafas,<br />

produzidos na planta da Cervejaria<br />

Blondine, em Itupeva, no interior de São<br />

Paulo. A ideia vem crescendo de maneira<br />

sustentável, e iniciou-se com a Mula<br />

IPA, onde inicialmente foram produzidos<br />

pouco mais de mil litros, durante alguns<br />

meses, como um laboratório para<br />

a iniciativa. Com o resultado positivo,<br />

uma a uma as receitas foram gradualmente<br />

engarrafadas, e desde fevereiro<br />

de 2<strong>01</strong>5 todas as receitas já estão disponíveis<br />

para venda fora da cervejaria. “É<br />

um outro mercado, uma outra realidade,<br />

um outro jogo com regras bem<br />

diferentes”, comenta, comparando o<br />

negócio da fábrica-bar-restaurante com<br />

a produção e distribuição de cervejas<br />

em garrafa. A fase atual é de aprendizado,<br />

de experimentações, pouco a pouco<br />

entrando em mais pontos de venda,<br />

bares e empórios, dentro e fora de São<br />

Paulo. “Estamos testando nosso produto<br />

em outra praça, em outro público,<br />

oferecendo outro tipo de experiência<br />

fábrica, bar e restaurante<br />

com uma dinâmica completa diferente”.<br />

E como<br />

inovar e<br />

manter-<br />

-se estável<br />

na atual<br />

conjuntura<br />

econômica<br />

do país,<br />

neste período<br />

de alta<br />

da inflação,<br />

desemprego<br />

e dólar<br />

nas alturas?<br />

Não existe<br />

um segredo,<br />

mas um bom planejamento é essencial.<br />

“Neste ramo, a linha de frente somos<br />

nós, os bares, o comércio”, comenta,<br />

“nós somos muito sensíveis a enchentes,<br />

manifestações, trânsito, greves<br />

– qualquer evento destes faz com que<br />

meu consumidor simplesmente não entre<br />

no bar, derrubando minha previsão<br />

de faturamento, e veja que não necessariamente<br />

tem a ver com a crise”. E<br />

para quem pensa que a matéria-prima,<br />

os insumos cervejeiros, seriam o grande<br />

vilão da história, estão enganados! “O<br />

custo de matéria-prima é importante,<br />

mas não é o meu maior custo”. Estes<br />

insumos, especialmente os importados,<br />

são negociados anualmente e já estão<br />

dentro dos reajustes anuais previstos<br />

pela casa. Agora, a inflação é realmente<br />

um problema: “os preços da carne, do<br />

tomate, de insumos e matéria-prima<br />

de cozinha, são mais importantes e me<br />

afetam mais”. A resposta vem na diversificação:<br />

na produção de chope, na<br />

produção em garrafas, na participação<br />

em eventos, nas brassagens colaborativas,<br />

e em parcerias, por exemplo, com<br />

institutos de educação cervejeira. “Para<br />

nós isso é muito legal, traz público para<br />

dentro da casa, que tem oportunidade<br />

de vivenciar uma outra experiência,<br />

dentro da fábrica. É uma forma inclusive<br />

de fidelização, reforçando o laço com<br />

o público, onde ele passa a ter outra interpretação<br />

sobre qual é a proposta da<br />

casa.<br />

Você estreita<br />

o relacionamento<br />

com o<br />

público. Além<br />

disso, sempre<br />

temos que ficar<br />

de olho nas<br />

tendências.<br />

Nós nunca<br />

deixamos de<br />

escutar uma<br />

proposta, de<br />

quem quer<br />

que seja”.<br />

Foto: Mariana Buck<br />

Sem dúvidas<br />

os desafios são grandes, mas com a<br />

visão empreendedora dos sócios, da<br />

operação experiente de Marcus Ribas<br />

e com o crescimento exponencial do<br />

nosso mercado cervejeiro, seguramente<br />

‘‘<br />

a Cervejaria Nacional cada vez mais se<br />

consolidará com uma das cervejarias e<br />

brewpubs mais importantes do <strong>Brasil</strong>.<br />

“É um outro mercado,<br />

uma outra realidade, um<br />

outro jogo com regras<br />

bem diferentes”, comenta<br />

Ribas, comparando o<br />

negócio da fábrica-bar-<br />

-restaurante com a<br />

produção e distribuição<br />

de cervejas em garrafa.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

9


EMPREENDEDORISMO CERVEJEIRO<br />

MOVIMENTO<br />

CERVEJEIRO<br />

E o movimento cervejeiro, com todas suas oportunidades,<br />

continua crescendo no <strong>Brasil</strong><br />

As grandes cervejarias seguem<br />

investindo pesado não apenas<br />

nas cervejas “mainstream”,<br />

mas também na “premiunização”<br />

de suas cervejas e na aquisição<br />

de cervejarias artesanais já consolidadas<br />

(reconhecendo o crescimento e<br />

importância deste nicho de mercado, e<br />

querendo é claro, aumentar sua participação<br />

no mesmo).<br />

Já as micro e pequenas cervejarias<br />

continuam crescendo, em quantidade<br />

e em qualidade. Continuam inovando,<br />

ganhando prêmios, lançando rótulos e<br />

fortalecendo cada vez mais o mercado<br />

das artesanais.<br />

Mercado este que segue promissor,<br />

hoje representando menos de 1% de<br />

todo o volume de cerveja produzido<br />

no <strong>Brasil</strong>, porém com expectativas de<br />

dobrar este percentual na próxima<br />

década. Hoje temos pouco mais de 300<br />

microcervejarias espalhadas pelo território<br />

nacional (número ainda difícil de<br />

se comprovar, justamente pelo pouco<br />

tempo de maturidade deste mercado,<br />

falta de regulamentação específica ou<br />

de uma associação consolidada que<br />

efetivamente consiga realizar esse<br />

controle), porém ainda é muito pouco<br />

se comparado, por exemplo, às quase<br />

3500 cervejarias americanas, que juntas<br />

representam quase 10% do volume de<br />

cerveja produzido e mais de 14% do<br />

faturamento do setor. Comparativamente,<br />

ainda temos muito espaço para<br />

crescer.<br />

Neste cenário, oportunidades não<br />

param de surgir: produção de cervejas,<br />

distribuição, pontos de venda (lojas<br />

físicas e virtuais), eventos, feiras, design<br />

de rótulos e embalagens, conteúdo<br />

cervejeiro (blogs, sites, revistas), comunicação,<br />

comercialização de insumos,<br />

franquias, etc. Ideias não faltam, assim<br />

10 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


‘‘<br />

É um movimento bonito<br />

de se ver, mas ao mesmo<br />

tempo em que GERA oportunidades<br />

(para empreendedores<br />

e para o mercado<br />

cervejeiro), GERA pontos<br />

de atenção. Paixão não<br />

gere um negócio.<br />

como não faltam empresários apaixonados<br />

investindo em seus sonhos<br />

cervejeiros.<br />

É um movimento bonito de se ver, mas<br />

ao mesmo tempo em que gera oportunidades<br />

(para empreendedores e para<br />

o mercado cervejeiro em geral), gera<br />

pontos de atenção. Paixão não gere um<br />

negócio. Estamos presenciando o crescimento<br />

de empreendimentos muito<br />

bem estruturados, que fortalecem o<br />

mercado e geram oportunidades. Mas<br />

também vemos o oposto, onde apaixonados<br />

sem experiência empreendedora<br />

atuam com dificuldades, se mantém<br />

em operação por pouco tempo e de alguma<br />

forma mancham o mercado com<br />

a baixa qualidade de seus produtos e<br />

serviços. Neste ponto torna-se imprescindível<br />

uma boa capacitação, aquisição<br />

de conhecimento, leitura, troca de<br />

experiências.<br />

Temos hoje boas e conceituadas<br />

escolas ministrando<br />

cursos<br />

de produção de<br />

cervejas, formação<br />

para sommeliers<br />

de cerveja, especializações<br />

em<br />

estilos, em insumos<br />

(maltes, leveduras,<br />

lúpulos), etc.. Porém<br />

ainda faltam publicações<br />

especializadas.<br />

Faltam também escolas<br />

exclusivamente<br />

voltadas a negócios<br />

cervejeiros, e com<br />

uma carga horária<br />

que consiga cobrir,<br />

com qualidade, todos<br />

os assuntos que fazem<br />

a diferença. Sim, temos<br />

algumas dessas escolas, mas ainda são<br />

poucas se comparado ao crescimento<br />

deste mercado, especialmente com todos<br />

os desafios políticos e econômicos<br />

enfrentados pelo <strong>Brasil</strong>. E são muitos os<br />

assuntos a tratar: negócios, economia,<br />

marketing, tributação, comunicação,<br />

recursos humanos, legislação, análise<br />

de mercado, análise dos competidores,<br />

atendimento ao cliente, ufa.. Estamos<br />

falando de um negócio, de um empreendimento,<br />

não “apenas” de cerveja<br />

(como se já não fosse suficiente ter que<br />

conhecer afundo sobre cervejas!). Os<br />

empreendedores muitas vezes pegam<br />

os rendimentos de uma vida e investem<br />

em seus sonhos, em seus novos negócios.<br />

Porém sem preparação, planejamento<br />

e estudo, todo este investimento<br />

pode simplesmente se<br />

esvair, tornando um sonho<br />

em pesadelo.<br />

Nesta coluna sobre “Empreendimentos<br />

Cervejeiros”,<br />

tentaremos abordar<br />

todas as possibilidades<br />

de negócio envolvendo<br />

cervejas, passando por<br />

produção, pontos de<br />

venda e distribuição.<br />

De oportunidades nas<br />

áreas de comunicação,<br />

embalagens, rótulos<br />

e insumos. Das mais<br />

variadas franquias<br />

cervejeiras. Do mundo<br />

dos blogueiros, dos livros,<br />

das publicações<br />

especializadas. Das<br />

ferramentas e softwares de apoio<br />

ao cervejeiro caseiro e profissional. Da<br />

organização de feiras e festivais. Das<br />

oportunidades de carreira em grandes<br />

cervejarias. Das agências e assessorias<br />

de imprensa e seu papel na divulgação<br />

de produtos cervejeiros. Das escolas e<br />

publicações que podem ajudar os empreendedores.<br />

Do escopo do apoio de<br />

entidades como o Sebrae e Endeavor,<br />

assim como das AcervAs e de outras associações.<br />

Fique ligado, teremos muito<br />

o que tratar!


EU, SOMmelier<br />

por RODRIGO SAWAMURA<br />

Rodrigo Sawamura<br />

Engenheiro de Alimentos pela Unesp, Cozinheiro Chef<br />

Internacional pelo Senac, Sommelier de Cervejas pela<br />

ABS-Instituto da Cerveja e Doemens-Academia Barbante,<br />

Mestre em Estilos pelo Instituto da Cerveja, Tecnologia Cervejeira<br />

pelo Instituto da Cerveja / Faculdade de Tecnologia Munique /<br />

Weihenstephan, 3° Lugar no Campeonato <strong>Brasil</strong>eiro de Sommelier<br />

de Cervejas 2<strong>01</strong>5 e 4° Colocado no Campeonato Mundial de<br />

Sommelier de Cervejas 2<strong>01</strong>5.<br />

O PROFISSIONAL<br />

SOMMELIER<br />

DE CERVEJAS<br />

Por um bom tempo, o profissional<br />

sommelier tinha sua<br />

imagem diretamente relacionada<br />

ao universo do vinho. De um<br />

tempo para cá, novas oportunidades<br />

para esse profissional, responsável pelo<br />

serviço de bebidas, estão surgindo. Já é<br />

possível encontrar, com certa facilidade,<br />

cursos para sommelier de café, água<br />

mineral, chás, cachaça, destilados e, é<br />

claro, cervejas. Este último, graças ao<br />

amadurecimento do mercado nacional,<br />

surgimento de centenas de microcervejarias,<br />

lojas para homebrewers,<br />

empórios especializados e brewpubs, é<br />

sem dúvida, o mais expressivo quando<br />

consideramos a quantidade de profissionais<br />

formados a cada ano.<br />

‘‘<br />

12 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Hoje percebo que o sommelier de<br />

cerveja tem tido oportunidades em<br />

diversos setores. Além da figura clássica<br />

daquele profissional que atua em<br />

restaurante e bares, sendo responsável<br />

por todo o serviço de bebida, sugerindo<br />

harmonizações e orientando eventuais<br />

MAS o que é preciso para<br />

tornar-se um sommelier<br />

de cervejas? Para quem<br />

estava esperando que a<br />

resposta fosse apenas<br />

“tomar muita cerveja”,<br />

sinto decepcioná-lo.<br />

dúvidas dos clientes, muitos profissionais<br />

também estão atuando como<br />

empreendedores, em importadoras,<br />

microcervejarias, consultorias, dentre<br />

tantas outras possibilidades.<br />

Mas o que é preciso para tornar-se um<br />

sommelier de cervejas? Para quem<br />

estava esperando que a resposta fosse<br />

apenas “tomar muita cerveja”, sinto<br />

decepcioná-lo.<br />

Acho que o primeiro passo seria a capacitação.<br />

O <strong>Brasil</strong> conta com dezenas<br />

de escolas e institutos de ensino que<br />

oferecem desde cursos introdutórios,<br />

passando por cursos de formação<br />

profissional, até cursos mais específicos<br />

para quem já é sommelier de cerveja.<br />

Assim como em qualquer área de<br />

atuação, o bom profissional deve ser<br />

apaixonado pelo que faz, exercer suas<br />

funções de forma ética, com muita responsabilidade<br />

e respeito aos clientes e<br />

demais colegas - e neste sentido, os excessos,<br />

realmente não combinam com<br />

nossa profissão. Então quer dizer que<br />

o sommelier não deve “tomar cerveja”?<br />

Também não precisamos ser tão quadrados<br />

assim! Na minha opinião uma<br />

das principais marcas do nosso universo<br />

é justamente a informalidade, descontração,<br />

casualidade e irreverência. Em<br />

um curso para formação de sommelier<br />

de cerveja, são degustados pelo menos<br />

100 rótulos de vários estilos. Além disso,<br />

um dos principais atributos de um bom<br />

profissional é a sensibilidade sensorial,<br />

cujo desenvolvimento e aprimoramento<br />

se dá pela prática e repetição.<br />

No meu caso, por exemplo, durante<br />

minha preparação para o Campeonato<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de Sommelier de Cerveja e,<br />

mais recentemente, para o Campeonato<br />

Mundial, além de estudar muito a parte<br />

teórica, fazia degustações quase que<br />

diárias, principalmente nas semanas em<br />

que antecederam os campeonatos. Em<br />

algumas oportunidades, degustava às<br />

cegas (sem saber qual era o rótulo), em<br />

outras de forma consciente (sabendo<br />

qual era o rótulo), mas sempre com o<br />

objetivo de melhorar minha sensibilidade<br />

sensorial para um determinado aroma<br />

ou sabor. Independente do objetivo,<br />

a moderação é o melhor parâmetro.<br />

Mesmo sendo considerada uma profissão<br />

relativamente nova, é cada vez<br />

maior a quantidade de sommeliers de<br />

cerveja em nosso mercado. O melhor<br />

disso tudo: forma-se uma espiral<br />

positiva, um círculo virtuoso – quanto<br />

mais pessoas capacitadas, mais forte<br />

fica nosso segmento, mais oportunidades<br />

de negócios surgem, mais<br />

pessoas começam a se interessar, mais<br />

pessoas buscam capacitação. E apesar<br />

de estarmos em franco crescimento,<br />

ainda temos muito que evoluir. Fazendo<br />

uma rápida comparação com países<br />

onde o mercado de cerveja artesanal<br />

está consolidado e os profissionais<br />

bastante reconhecidos e valorizados, é<br />

fácil perceber que estamos apenas no<br />

início da nossa jornada. Nosso caminho<br />

será longo, pois ainda temos algumas<br />

questões básicas para tratarmos, como<br />

a retomada da economia, adequação<br />

do regime tributário para as micro e<br />

nanocervejarias, regulamentação para<br />

homebrewers, elevadas taxas de impostos<br />

para cervejas importadas, dentre<br />

tantas outras. Contudo, o que podemos<br />

e devemos fazer é estarmos preparados<br />

para quando uma nova oportunidade<br />

surgir, pois ela surgirá!<br />

Ficou interessado? No próximo texto<br />

apresentarei um resumo dos principais<br />

cursos e escolas voltadas para educação<br />

cervejeira. Não percam! Saúde!


Cervejas, sabores e lugares<br />

por FERNANDA MEYBOM<br />

A cerveja dos<br />

bunkers da<br />

2ª Guerra Mundial<br />

“Visitar a Hausbrauerei<br />

Altstadthof é como fazer<br />

uma viagem no tempo“<br />

Ao ouvir o som de estridentes<br />

sirenes, a população da segunda<br />

maior cidade da Baviera e a<br />

principal cidade da Francônia<br />

- Nuremberg, tinha apenas 10 minutos<br />

para correr em direção à praça principal e<br />

descer as escadas em direção a uma rede de<br />

túneis subterrâneos que levam a pequenas<br />

galerias, espaços estes que serviram<br />

de abrigo para os ataques de bombas<br />

realizados pelo exército aliado durante a 2ª<br />

Guerra Mundial.<br />

Mas nem sempre o abrigo foi utilizado para<br />

tal fim. Antes de ser quase completamente<br />

destruída, a cidade, considerada um dos<br />

símbolos do nazismo e palco do julgamento<br />

de seus famosos personagens, utilizava seu<br />

subsolo para guardar não pessoas, mas sim<br />

cervejas.<br />

Alemanha é famosa por suas leis<br />

relacionadas a cerveja. Porém, antes<br />

mesmo da Reinheitsgebot, a Lei<br />

da Pureza de 1516, entrar em<br />

vigor, a cidade de Nuremberg já<br />

tinha regulamentação própria<br />

para a bebida. No caso, a lei<br />

não era exatamente uma<br />

lei sobre bebidas, mas sim<br />

uma legislação referente a<br />

alimentos. Bom, na Alemanha<br />

cerveja é alimento, logo a bebida<br />

aparecia em artigos de legislações<br />

que estabeleciam parâmetros de<br />

produção e consumo de alimentos.


Cervejaria Hausbrauerei Altstadthof,<br />

Nurenberg, Alemanha


E foi a Câmara Municipal da cidade em<br />

1303, que estabeleceu que a cerveja<br />

só poderia ser fabricada utilizando<br />

cevada (como ingrediente principal).<br />

Mais tarde, determinou também que<br />

todos os produtores deveriam fazer<br />

uma adega subterrânea para conservar<br />

o produto. Ao longo dos anos, foi<br />

construído um emaranhado de túneis<br />

sob a terra, que durante a 2ª Guerra<br />

Mundial serviram de bunker para os<br />

moradores da cidade.<br />

Uma das cervejarias que utiliza o<br />

subsolo da cidade para sua produção<br />

de cervejas é a Hausbrauerei<br />

Altstadthof. O curioso é que não é<br />

apenas cerveja, mas também whiskey. A<br />

cervejaria ainda se orgulha em ser uma<br />

cervejaria orgânica.<br />

Visitar a Hausbrauerei Altstadthof é<br />

como fazer uma viagem no tempo.<br />

A cervejaria fica localizada no centro<br />

antigo de Nuremberg, e possui tours<br />

guiados que acontecem em alemão,<br />

mas também têm sistema de áudio em<br />

inglês. O tour começa na praça próxima<br />

à cervejaria.<br />

Ao descer as escadas que dão acesso a<br />

um dos bunkers, nos deparamos com<br />

uma das bombas que atingiu a cidade.<br />

A peça de metal em excelente estado<br />

de conservação, fica pendurada em<br />

frente à uma foto dos bombardeios.<br />

Ao final das escadas atravessamos uma<br />

pesada porta de metal que dá acesso<br />

a uma sala com as fotos de antes e<br />

depois da guerra.<br />

Durante o tour, é explicado como o<br />

solo e a formação rochosa do terreno<br />

da cidade favorecia a construção<br />

desses túneis, além de outros fatos<br />

e curiosidades sobre a produção de<br />

cervejas na época. Passeando pelos<br />

gélidos corredores e galerias, que ao<br />

todo são em torno de 25 mil m 2 (porém<br />

só uma parte é liberada para visitação),<br />

ficamos sabendo que antigamente o<br />

processo de fermentação e maturação<br />

das cervejas acontecia por ali. Ao todo<br />

o passeio leva um pouco mais de uma<br />

hora e termina no pátio da cervejaria.<br />

Ainda visitamos o local de produção de<br />

cervejas e whiskey. O pub e restaurante<br />

Fernanda Meybom<br />

Engenheira Química pela Universidade Federal de Santa Catarina,<br />

Assessora Técnica no Conselho Regional de Engenharia e<br />

Agronomia (CREA-SC), Sommelier de Cervejas pelo Science of <strong>Beer</strong><br />

Institute - escola na qual atua profissionalmente, Mestre em Estilos de<br />

Cervejas pelo Siebel Institute of Technology (Chicago- EUA),<br />

Professora no curso de Pós-graduação Cervejeira da<br />

Uniasselvi Blumenau/SC, jurada em concursos de cervejas e integrante<br />

da equipe organizadora do Concurso <strong>Brasil</strong>eiro de Cervejas 2<strong>01</strong>4/2<strong>01</strong>5.<br />

também são visitas obrigatórias. O<br />

menu é feito com cervejas e também<br />

com os ingredientes da cerveja como o<br />

magnífico filé com crosta de malte.<br />

A tábua de degustação é uma excelente<br />

opção para degustar as deliciosas<br />

cervejas do local. O destaque vai<br />

para a tradicional cerveja de malte<br />

avermelhado da casa, a Red <strong>Beer</strong>.<br />

Na loja onde compramos os tickets do<br />

tour também é possível comprar as<br />

cervejas e demais produtos feitos na<br />

cervejaria, como chocolates, vinagre,<br />

mostarda, entre outros. Todos feitos<br />

com cerveja e seus ingredientes.<br />

De todas as cervejarias que já visitei<br />

pelo mundo, a Hausbrauerei Altstadthof<br />

foi uma das mais impressionantes. Com<br />

certeza, voltarei.<br />

16 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


Fotos: Fernanda Meybom<br />

“<strong>Beer</strong>amisu”, preparado com cerveja de<br />

trigo, licor de malte, “schnaps” de cerveja<br />

escura (um destilado alemão), mascarpone,<br />

canela e cacau.


ROTEIROS CERVEJEIROS<br />

por DAIANE COLLA<br />

Foto: Daiane Colla<br />

#wanderlust<br />

A<br />

vida me presenteou com duas<br />

paixões. Bebidas alcóolicas de<br />

uma forma geral, em especial<br />

os fermentados – dentre eles<br />

a cerveja, claro! – e wanderlust. Para<br />

aqueles que desconhecem o significado<br />

dessa palavra, basta procurar nas<br />

redes sociais ela acompanhada de uma<br />

hashtag (#wanderlust), que irá se deparar<br />

com inúmeras imagens de viagens<br />

pelo mundo. Wanderlust é o incontrolável<br />

desejo de estar sempre com malas<br />

prontas e pé na estrada. Tenho isso<br />

desde pequena, quando uma viagem<br />

de 1 hora já fazia minha alegria.<br />

Foi nutrindo esse desejo incontrolável<br />

de conhecer o mundo que resolvi<br />

transformar minha paixão por cerveja<br />

em profissão. Existe período de tempo<br />

melhor para se iniciar no mundo das<br />

cervejas especiais do que durante uma<br />

viagem? E na Europa? Terra das “ales”,<br />

a Inglaterra é conhecida por produzir<br />

cervejas extremamente equilibradas.<br />

Amargor e dulçor nunca estão em pé<br />

de guerra nas cervejas inglesas. Nada<br />

se sobressai. Por isso, a paixão foi<br />

arrebatadora. Lembro do primeiro pint<br />

bebido no The Swan a duas quadras do<br />

nosso hostel. Já havia bebido cervejas<br />

inglesas no <strong>Brasil</strong>, mas não uma cask<br />

ale. Não uma real cask ale!<br />

Quando voltei ao <strong>Brasil</strong>, fui correndo<br />

pesquisar cursos que me fizessem entender<br />

o que bebi por lá e o que vinha<br />

bebendo de forma esporádica no <strong>Brasil</strong>.<br />

A partir daí, quando o foco da viagem<br />

não é cervejeiro, sempre encontramos<br />

um tempinho para visitar bares e cervejarias<br />

e conhecer ainda mais sobre esse<br />

universo.<br />

Entretanto, estava faltando “A” viagem<br />

cervejeira. Já havia viajado para o berço<br />

de duas escolas cervejeiras, o Reino<br />

Unido e os Estados Unidos. Agora parto<br />

para uma aventura de 40 dias entre<br />

Alemanha, Bélgica e um pedacinho da<br />

Holanda. Serão 40 dias de imersão total<br />

no mundo da cerveja, podendo ver de<br />

perto diferentes processos produtivos<br />

que resultam em cervejas que caracterizam<br />

regiões nos dois países. Sonho de<br />

qualquer cervejeiro.<br />

O roteiro cervejeiro inicia em Munique,<br />

na Alemanha, passando por todo o Sul<br />

do país, indo para o Leste em direção<br />

a Saxônia e Berlim, não esquecendo<br />

da região Oeste, berço das cervejas<br />

do estilo Alt e Kolsch. Depois, vem a<br />

Bélgica, com seus mosteiros trapistas e<br />

suas lambics e flanders, finalizando no<br />

Brussels <strong>Beer</strong> Challenge, uma das maiores<br />

competições de cerveja do mundo.<br />

Por fim, Holanda, mais um mosteiro<br />

trapista e a cosmopolita Amsterdã.<br />

Todos os roteiros dessa quarentena<br />

18 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


‘‘<br />

cervejeira serão retratados aqui nesse espaço. Como se deslocar, onde ficar, o<br />

que comer e principalmente onde e o quê beber nessas diferentes regiões. O<br />

que trazer na mala e como trazer também!<br />

Wanderlust é o incontrolável<br />

desejo de estar sempre com malas<br />

prontas e pé na estrada.<br />

Como montar seu roteiro<br />

Baseie-se nos lugares que pretende conhecer e o tempo que pretende ficar<br />

neles. Como estamos falando da Europa e de países próximos com curtas distâncias,<br />

é possível se hospedar em uma cidade chave e se deslocar por outras<br />

menores de carro, ônibus ou trem. Eu tenho um sério problema em comprar<br />

com antecedência passagens de deslocamento interno. Quando estou em um<br />

lugar, quero aproveitar o máximo dele e sempre temo que os dias reservados<br />

por ali serão poucos para o que pretendo fazer. O oposto também acontece.<br />

Temo reservar muitos dias para um lugar onde dois dias seriam suficientes. Mas<br />

isso é algo bem pessoal. Tem aqueles que não conseguem viajar sem estar com<br />

tudo previamente agendado. Quem tem essa sorte, costuma economizar mais.<br />

Infelizmente não é meu caso.<br />

Cerveja na mala<br />

Nada melhor do que vir com a bagagem recheada. Uma dica para os viajantes é<br />

optar por uma mala no lugar da mochila. Adoro viajar de mochilão, mas se o seu<br />

objetivo é trazer cervejas, opte sempre por uma mala (preferencialmente com<br />

rodinhas, porque ela vai voltar pesada!). Nos voos internacionais o limite é de<br />

32kg por mala, podendo despachar até duas malas por pessoa. Como sempre<br />

busco trazer cervejas nessas viagens, costumo ir com a mala pesando quase<br />

nada (no máximo 15 kg). Outra dica – que aprendi com meu marido e companheiro<br />

nessa aventura – é tentar levar algumas coisas que, caso seja necessário,<br />

você possa deixar pelo caminho. Aquele tênis velho, o casaco ou a calça surrados,<br />

produtos de higiene que não farão falta no retorno pra casa (como costumamos<br />

ficar em hostels, B&B e apartamentos alugados, precisamos sempre<br />

levar produtos de uso pessoal), toalhas de banho e rosto velhas, etc.. Quando<br />

a viagem envolve muito deslocamento - trens, ônibus, avião, carro, carona - é<br />

sempre recomendado andar com apenas uma mala. Imagina você viajando três<br />

países com duas malas de 32 kg!?<br />

Daiane Colla<br />

Daiane Colla é Sommelière de Cerveja pelo Science of <strong>Beer</strong> Institute do<br />

<strong>Brasil</strong> em 2<strong>01</strong>2 e em 2<strong>01</strong>4 Master of <strong>Beer</strong> Styles pelo Siebel Institute of<br />

Technology de Chicago, Estados Unidos. É coordenadora geral do Science<br />

of <strong>Beer</strong> Institute trabalhando na organização dos cursos realizados no<br />

país e diretora de comunicação. Atua como sommelière em consultorias e<br />

eventos de degustação e harmonização. É embaixadora do Brussels <strong>Beer</strong><br />

Challenge para o <strong>Brasil</strong> e membro da comissão organizadora do Concurso<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de Cervejas atuando como coordenadora de serviço.


PÃO E CERVEJA<br />

por FABIANA ARREGUY<br />

Fabiana Arreguy<br />

Jornalista, criadora e editora da Rádio Web Pão e Cerveja. Colunista<br />

na Rádio CDL FM de MG, coluna Pão e Cerveja. Colunista do jornal<br />

Estado de Minas, assinando o espaço Líquido e Certo. Colunista da<br />

<strong>Revista</strong> PQN Notícias, página PQN com Cerveja. Sócia benemérita<br />

da AcervA Mineira. Sommelier de Cerveja pela Doemens Akademie<br />

de Munique e SENAC/SP. Criadora, desenvolvedora e professora do<br />

Curso Introdução ao Estudo da Cerveja - SENAC/MG. Professora do<br />

curso de pós-graduação em Tecnologia Cervejeira - UNI-BH. Juiz de<br />

concursos nacionais e internacionais de cerveja.<br />

A PRIMEIRA<br />

CERVEJA<br />

ESPECIAL<br />

NUNCA<br />

SE ESQUECE<br />

Você seria capaz de dizer qual<br />

foi a primeira cerveja especial,<br />

diferente, que tomou em sua<br />

vida? Essa é uma pergunta que<br />

costumo fazer em palestras e aulas que<br />

dou por aí. Muita gente é capaz de se<br />

lembrar de viagens ao exterior e das<br />

cervejas que tomou lá fora. Outras são<br />

taxativas em dizer que as de trigo Erdinger,<br />

pioneiras a chegar no <strong>Brasil</strong>, foram<br />

sua iniciação no mundo das especiais.<br />

Eu não duvido, desde que sejam pessoas<br />

com menos de 30 anos de idade.<br />

Pois aquelas que, na década de 1980, já<br />

estavam na faixa etária permitida para<br />

beber, acabam se esquecendo de listar<br />

a sua verdadeira primeira experiência<br />

com outras cervejas. Duvida?<br />

Na década de 80 havia no <strong>Brasil</strong> torcidas<br />

organizadas para rótulos de cerveja.<br />

Quem era do time Skol, não tomava<br />

Brahma ou Antartica. “Brahmeiros”<br />

não tocavam em copos habitados por<br />

Antartica. Os bebedores da Antartica<br />

passavam longe da Brahma. Naquela<br />

época, as três marcas eram de fato concorrentes,<br />

não pertenciam ao mesmo<br />

grupo como hoje. E assim o consumidor<br />

brasileiro praticava o democrático<br />

direito de escolha, ainda que fosse pelo<br />

mesmo tipo de cerveja. Acontece que<br />

na briga por espaço, outras marcas tentavam<br />

se impor, lançando rótulos bem<br />

parecidos para entrar na concorrência.<br />

Assim aconteceu com o grupo Schincariol,<br />

e com a própria Coca-Cola, que<br />

também entrou na disputa por uma<br />

fatia do mercado de cerveja brasileiro.<br />

A ideia de uma cerveja da Coca-Cola<br />

veio de um visionário empresário mineiro.<br />

Luiz Pôssas era o representante e<br />

distribuidor do refrigerante em Minas<br />

Gerais. Em determinado momento, ele<br />

percebeu que para conseguir fechar<br />

com os bares desse imenso estado<br />

brasileiro, precisava ter uma cerveja,<br />

pois as demais marcas eram atreladas<br />

a outros refrigerantes. A prática de<br />

dominar os pontos de venda, ainda<br />

hoje utilizada pelos grandes grupos, era<br />

moeda corrente naquele tempo. E não<br />

entrava na concorrência quem não se<br />

adaptasse a ela. Foi assim que surgiu a<br />

cerveja Kaiser.<br />

Na concepção da nova cerveja, o<br />

empresário mineiro foi buscar, de fato,<br />

na Alemanha, um produto que fosse<br />

diferenciado. Só que na voracidade do<br />

mercado a marca foi sendo desmoralizada,<br />

execrada pelo público, totalmente<br />

crente que ela dava dor de barriga.<br />

Antes dessa desmoralização, porém, a<br />

Kaiser conseguiu atingir positivamente<br />

o consumidor. A primeira sacada, e<br />

isso deveria ser exemplo para algumas<br />

agências de publicidade atuais, foi<br />

mudar a lógica das propagandas de<br />

cerveja. Em vez de mulheres louras, de<br />

biquíni (mulheres “maiores” naquele<br />

tempo, é verdade), a agência DPZ criou<br />

um anti-personagem. Um senhor, na<br />

casa dos 50 anos, baixinho, barrigudo,<br />

de bigode e boina para garoto-propaganda<br />

da marca. Era puro nonsense,<br />

mas fazia o contraponto perfeito ao slogan<br />

criado: Kaiser, uma grande cerveja.<br />

E para arrematar o conjunto, um jingle<br />

forte, utilizando-se de melodia conhecida,<br />

repetia: “A Kaiser é uma grande<br />

cerveja, ninguém pode negar!”. Era uma<br />

expectativa saber qual seria a próxima<br />

aventura do “ baixinho da Kaiser” nas<br />

propagandas.<br />

Todo esse preâmbulo tem apenas uma<br />

razão de ser, uma vez que desejo falar<br />

sobre a primeira cerveja diferente e<br />

especial que muitos tomaram e se<br />

esqueceram: Kaiser Bock. Um estilo<br />

autenticamente alemão, centenário,<br />

muito característico e que não existia<br />

no <strong>Brasil</strong> dos anos 80. Foi ela, com<br />

certeza, a primeira cerveja diferente de<br />

muitos que hoje apreciam as artesanais.<br />

A Kaiser Bock foi criada com o intuito de<br />

ser uma sazonal, só vendida nos meses<br />

de inverno no <strong>Brasil</strong>. E essa foi mais uma<br />

bela sacada: criar o desejo no consumidor<br />

por algo que não estava disponível<br />

sempre.<br />

Não estou aqui tecendo juízo de valor<br />

sobre a qualidade dessa cerveja, embora<br />

deva confessar que eu gostava bastante<br />

dela e esperava ansiosa por seu<br />

lançamento nos meses de julho. Há cerca<br />

de 3 anos a Kaiser, hoje pertencente<br />

ao grupo Heineken, produziu uma<br />

leva especial de sua Bock e presenteou<br />

vários jornalistas, blogueiros e formadores<br />

de opinião com um engradado<br />

‘‘<br />

composto por seis garrafinhas. Receber<br />

aquele presente me transportou para<br />

outro tempo e me fez reencontrar a<br />

primeira cerveja especial da minha vida!<br />

Kaiser Bock. Um estilo<br />

autenticamente alemão,<br />

centenário, que não existia<br />

no <strong>Brasil</strong> dos anos<br />

80. Foi ela, com certeza,<br />

a primeira cerveja diferente<br />

de muitos que hoje<br />

apreciam as artesanais.<br />

20 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


AGENDA DE EVENTOS CERVEJEIROS<br />

EVENTOS CERVEJEIROS EM 2<strong>01</strong>6<br />

2<strong>01</strong>6 será repleto de festivais cervejeiros espalhados pelo país.<br />

Mas por enquanto, apenas alguns deles estão 100% confirmados<br />

para o primeiro semestre. Confira:<br />

SOMMERFEST<br />

Blumenau/SC<br />

Parque Vila Germânica<br />

De 7 a 29 de janeiro<br />

(todas as quintas e sextas)<br />

Mais informações:<br />

www.sommerfestblumenau.com.br<br />

FESTIVAL BRASILEIRO DA CERVEJA<br />

Blumenau/SC<br />

Parque Vila Germânica<br />

De 9 a 12 de março<br />

Mais informações:<br />

www.festivaldacerveja.com<br />

DAMA BIER FEST<br />

Piracicaba/SP<br />

Cervejaria Dama Bier<br />

Dia 27 de fevereiro<br />

Mais informações:<br />

www.facebook.com/DamaBierFest<br />

TREMBIER FESTIVAL<br />

Tiradentes/MG<br />

Largo das Forras<br />

De 28 de abril a <strong>01</strong> de maio<br />

Mais informações:<br />

www.facebook.com/TremBierFestival<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

21


ESPECIAL GROWLERS<br />

GROWLERS!?<br />

ENCHA JÁ O SEU!


Não existem evidências claras sobre a<br />

origem do termo “growler”, e são muitas<br />

as histórias sobre seu surgimento,<br />

mas a verdade é que seu aparecimento<br />

nos remete ao final do século 18, onde simplesmente<br />

faziam referência a “baldes de metal”<br />

usados para transportar cerveja da taverna para<br />

sua casa. ótima ideia, não!?<br />

A palavra “growl” em inglês significa “rosnar,<br />

grunhir”. “Growler” seria então algo como um<br />

“rosnado”! Alguns dizem que esse rosnado teria<br />

relação com o “som” de gás carbônico emitido<br />

ao abrir esse “balde de metal” cheio de cerveja.<br />

Outros contam uma história mais divertida: em<br />

um pub, o atendente queria servir um growler<br />

apenas com a medida de um pint. Porém o<br />

cliente queria mais, queria fosse completamente<br />

cheio, e claro, pagando o mesmo valor! Na<br />

discussão, “rosnados e grunhidos” ecoaram pelo<br />

bar, eternizando o termo “growler”.<br />

Histórias a parte, o que importa é que os growlers<br />

são bastante comuns na Europa e Estados<br />

Unidos, e cada vez mais vêm ganhando espaço<br />

na cena cervejeira nacional.<br />

Em linhas gerais, growler é uma jarra, um recipiente,<br />

um vasilhame, usado para transportar<br />

cerveja, geralmente feito de vidro, cerâmica ou<br />

aço inoxidável, e que permite você transportar<br />

cerveja de um lugar para outro sem degradar<br />

sua qualidade ou seus atributos.<br />

Foto: Divulgação Hydro Flask


ESPECiAL GRoWLERS<br />

Os de vidro, os mais populares, podem<br />

ser encontrados na cor transparente<br />

ou marrom, porém a marrom é a mais<br />

recomendada já que garrafas escuras<br />

protegem a cerveja da incidência de luz,<br />

evitando afetar seu aroma e sabor. Em qualquer<br />

uma das cores, outra vantagem dos growlers<br />

de vidro, é poder ver o que está dentro, facilitando<br />

na hora de encher e de ver quanto ainda<br />

tem para beber. A grande desvantagem é que<br />

vidro quebra! Para os mais desajeitados talvez<br />

convenha partir para as outras opções.<br />

Os de aço inoxidável, como o da foto, também<br />

são bastante populares, não quebram, também<br />

protegem da luz e têm o benefício de conservar<br />

a temperatura estável por mais tempo. Imagine<br />

fazer uma longa caminhada carregando seu<br />

growler e ao final abri-lo para degustar uma<br />

cerveja ainda gelada? Não chega a ser um super<br />

problema, mas a principal desvantagem é justamente<br />

o fato de você não conseguir ver o que<br />

tem dentro, quanto ainda tem de cerveja e até<br />

quando encher para não transbordar.<br />

Foto: Divulgação Wine Enthusiast


E<br />

por último, os de cerâmica.<br />

Protegem da luz, não quebram<br />

tão facilmente como os de vidro<br />

(apesar de também poderem<br />

quebrar), conservam a temperatura<br />

(mas não tanto quanto os de aço<br />

inoxidável), e são no mínimo diferentes,<br />

lembram garrafas térmicas, um pouco<br />

mais pesados que os demais e um pouco<br />

mais difíceis de limpar. Oferecem um<br />

mix de vantagens e desvantagens com<br />

relação aos outros dois tipos.<br />

Mas por que ter um growler? Bom,<br />

primeiramente growlers são geralmente<br />

leves, oferecidos em tamanhos<br />

diversos, na maioria das vezes possuem<br />

uma haste lateral para facilitar seu carregamento,<br />

e com isso, estão sempre<br />

por perto para você levar sua cerveja<br />

fresquinha para casa, saída direto das<br />

torneiras da sua cervejaria ou brewpub<br />

preferido.<br />

Também são “ecologicamente corretos”,<br />

pense em quantas garrafas a menos<br />

serão fabricadas (menos poluição).<br />

Além disso são econômicos. Uma vez<br />

que você já tenha seu growler, o valor<br />

do ”refil” é muito mais barato que comprar<br />

um chope ou garrafa.<br />

E por último, mas talvez o mais importante,<br />

a possibilidade de você compartilhar<br />

cerveja de sua cervejaria favorita<br />

com a sua família e amigos. Imagine<br />

você levando um chope fresquinho<br />

para casa, com um novo sabor, oferecendo<br />

uma nova experiência para os<br />

seus convidados e difundindo a cultura<br />

cervejeira no seu ciclo de amizades.<br />

Bacana, não!? Pegue seu growler agora<br />

mesmo e vá até sua cervejaria artesanal<br />

mais próxima!<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

25


ESPECIAL GROWLERS<br />

por ADRIANE BALDINI<br />

Samuel Cavalcanti é o<br />

mestre cervejeiro frente<br />

a Bodebrown, cervejaria<br />

artesanal que surgiu no<br />

cenário curitibano em<br />

2009 e hoje é conhecida<br />

mundialmente por<br />

sempre apresentar<br />

inovações ao consumidor,<br />

indo muito além do<br />

que (apenas) excelentes<br />

receitas de cervejas.<br />

Muitas ideias<br />

dentro de um<br />

growler<br />

26 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

27


ESPECiAL GRoWLERS<br />

por AdRiANE BALdiNi<br />

Quando a cervejaria surgiu, a ideia inicial era a de<br />

expandir a marca com um toque a mais sobre<br />

receitas de cervejas tradicionais. “Começamos a ser<br />

bem conhecidos nos estados de Santa Catarina,<br />

Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio - estados onde também há<br />

microcervejarias como a minha. Porém, percebemos que em<br />

nossa própria cidade, poucos sabiam que Bodebrown é de<br />

Curitiba. Então, nossa meta foi ao de olhar, daquele ponto em<br />

diante, ao nosso entorno”, diz Samuel, que começou a pensar<br />

em novas alternativas para atingir o público local.<br />

Certo dia,<br />

ao visitar a<br />

Das Bier em<br />

Santa Catarina,<br />

Samuel<br />

conheceu<br />

a rotina da<br />

microcervejaria,<br />

que vendia a<br />

maior parte da<br />

produção em<br />

growlers - que<br />

nada mais é do<br />

que um recipiente<br />

com tampa usado<br />

para transportar<br />

cerveja, geralmente<br />

feitos de vidro,<br />

cerâmica ou inox. Ele<br />

ficou encantado com<br />

todo<br />

aquele cenário: a<br />

grande praticidade de vender<br />

cerveja e, principalmente, com as pessoas de lá, que se<br />

entrosavam acompanhados dos filhos pequenos, parecendo<br />

todos ser de uma grande e única família.<br />

Outro fator que influenciou o mestre cervejeiro a investir no<br />

growler foi a grande dificuldade em relação à linha de envase<br />

– algo que, segundo ele, é absolutamente problemático (e<br />

embrionário) em qualquer cervejaria artesanal. A que se<br />

encontra atualmente na fábrica é de origem chinesa, da<br />

década de 1980, e, segundo Samuel, “parece um Frankestein”.<br />

O envase é um dos grandes culpados pelo custo elevado<br />

da garrafa, pois deve-se considerar custos de tampa, rótulo,<br />

garrafa, mão de obra especializada para operá-la, controle de<br />

qualidade, pasteurização e empilhamento. “Isso que a garrafa<br />

pode ficar, dependendo da cerveja, até seis meses em uma<br />

prateleira para ser vendida. Boa parte da qualidade sensorial<br />

do produto, infelizmente, pode se perder”, lamenta Samuel.<br />

A consciência dele dizia que o consumidor poderia encontrar<br />

uma cerveja muito melhor do que é encontrada nas garrafas,<br />

então, porque não entregaria um produto assim? O desafio<br />

era trazer os curitibanos para dentro da fábrica, além de<br />

apenas buscarem as aulas que ensinam a fabricação de<br />

cerveja caseira e a venda de insumos para tal.<br />

Então, há três anos, a Bodebrown iniciou a venda da cerveja<br />

no growler. No começo, se bateram bastante pois a fila<br />

vivia grande devido ao processo mecanizado (e lento) no<br />

enchimento do growler. Ainda, segundo ele, erraram na<br />

questão da substituição dos vasilhames, no qual o cliente<br />

trazia o dele e levava outro. Os problemas logo apareceram:<br />

sempre aparecia alguém que não tinha cuidado com a<br />

limpeza do recipiente, outro deixava um growler impecável e<br />

levava um trincado<br />

ou desgastado pra<br />

casa. Decidiram<br />

segurar um<br />

pouco as vendas<br />

e, por meio de<br />

experiências<br />

que assistiram<br />

nas fábricas da<br />

Stone e Sierra<br />

Nevada, nos<br />

EUA, e outras<br />

na Alemanha,<br />

escolheram<br />

padronizar<br />

a venda dos<br />

vasilhames<br />

escolhendo<br />

o recipiente<br />

de vidro com<br />

a rosca tipo<br />

flip top.<br />

“No começo, foi um dilema para saber se importávamos<br />

ou não os recipientes. Como incentivar o consumo de uma<br />

cerveja não pausterizada por meio de um recipiente em que<br />

o consumidor não está habituado? A quantidade mínima de<br />

importação era de um contâiner, mas, encaramos mesmo<br />

assim”, lembra ele, rindo.<br />

Samuel disse que a fábrica iniciou uma verdadeira<br />

transformação cultural para que a venda dos primeiros<br />

growlers oficiais da Bodebrown fosse um sucesso. O<br />

primeiro passo foi o de abrir a cervejaria aos consumidores<br />

– claro, todos os visitantes vestidos de acordo com as<br />

normas das regras de sanitização – com o objetivo de<br />

mostrar que, para se ter um uma cerveja em sua condição<br />

mais plena, era pelo growler que ele a teria da maneira<br />

mais fresca possível. “Comparo a venda do growler com<br />

a de uma panificadora: em um determinado horário,<br />

o consumidor sabe quando o pão estará fresco. E é<br />

exatamente essa sensação que eu quero passar com<br />

a cerveja saída do tanque: de frescor, dele conhecer a<br />

plenitude da receita”, diz ele.<br />

Com o passar do tempo, as pessoas se habituaram a<br />

buscar um chope fresco com os amigos e a esposa. Uns<br />

trazem os filhos, engatam um breve bate-papo, degustam<br />

pães e queijos e levam a cerveja por meio do growler<br />

28 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


Fotos: Adriane Baldini


ESPECIAL GROWLERS<br />

por ADRIANE BALDINI<br />

Fotos: Adriane Baldini<br />

para acompanhar o almoço em casa e, dependendo do<br />

formato do vasilhame, até na hora do jantar. Atualmente, a<br />

aceitabilidade dos curitibanos é tão grande que é possível<br />

acompanhar a satisfação dos consumidores pelas redes<br />

sociais, que dão feedbacks diretamente ao cervejeiro e a toda<br />

equipe da Bodebrown.<br />

Samuel enfatiza que o growler também tem a função<br />

de sustentabilidade, evitando que o consumidor final<br />

consuma mais garrafas e as descarte no meio ambiente.<br />

“Muitos sequer percebem que ao consumir cerveja por esse<br />

recipiente, estão tornando o futuro melhor”, diz ele.<br />

Pioneira mais uma vez, a cervejaria está vendendo growlers<br />

personalizados, onde o consumidor pode comprar o<br />

recipiente com o próprio nome gravado nele.<br />

“Sempre sonhei com uma fábrica em que o cliente pudesse<br />

ter uma boa experiência dentro de uma cervejaria, onde<br />

ele soubesse como nasce o produto e como colocamos<br />

nossa alma nele. E por que não compartilhar isso com os<br />

nossos consumidores, sendo eles os grandes responsáveis<br />

pelo nosso sucesso? Se eles estão felizes, com certeza, nós<br />

também estamos”, finaliza.<br />

Adriane Baldini<br />

Adriane Baldini é jornalista investigativa<br />

há 10 anos. Atualmente trabalha em uma<br />

agência que pesquisa a história e a influência<br />

cultural da imigração alemã em Curitiba.<br />

Também é sommelière de cerveja (suas<br />

cervejas preferidas são as de estilos ingleses<br />

e, claro, alemães) e cozinheira. É apaixonada<br />

por história da arte e estratégias de guerra.<br />

Instagram @dribal21<br />

30 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


RIO DE CERVEJA<br />

por GIL LEBRE<br />

UMA RUA<br />

CHAMADA CERVEJA<br />

Foto: Eduardo Tayer


O<br />

Rio de Janeiro continua<br />

lindo. E a Praça da Bandeira<br />

continua sendo uma boa<br />

opção em diversão. Esqueçamos<br />

um pouco o trânsito caótico do<br />

bairro e os problemas com alagamento<br />

em dias de chuva, que infelizmente<br />

atrapalham os comerciantes e<br />

moradores da região. E deixemos<br />

um pouco de lado a Rua<br />

Ceará, famoso endereço que<br />

atrai desde o público fã do Rock<br />

underground, até os que visitam<br />

a Vila Mimosa, famosa zona de<br />

meretrício da cidade.<br />

Imaginemos então a Praça da Bandeira<br />

como um grande coração que<br />

bombeia os boêmios que frequentam<br />

a região. E não é feito de sangue o<br />

líquido bombeado, mas de cerveja, e<br />

cerveja do tipo artesanal! Esse nobre<br />

líquido passa pela artéria que é a Rua<br />

Barão de Iguatemi - o polo cervejeiro<br />

da Praça da Bandeira.<br />

O circuito começa no número 205, no<br />

Botto Bar, conhecido como o melhor<br />

chope do Rio. Das 20 torneiras saem<br />

cervejas de várias nacionalidades, sempre<br />

com qualidade ímpar, graças a higienização<br />

que a casa tanto presa. Mas<br />

são as cervejas ciganas que ocupam o<br />

orgulhoso coração de Leonardo Botto,<br />

proprietário da casa. Principalmente se<br />

forem as produzidas por ex-alunos formados<br />

em seus cursos de produção de<br />

cerveja caseira. Noi Avena e Noi Amara,<br />

de Niterói-RJ, são algumas receitas criadas<br />

pelo Botto, sempre plugadas nas<br />

torneiras do bar.<br />

Continuando pela mesma calçada até<br />

o 379, está o Aconchego Carioca, que<br />

dispensa apresentações. Com filiais no<br />

Leblon e até em São Paulo, é de sua<br />

autoria um dos petiscos de boteco<br />

mais copiados do <strong>Brasil</strong>, o bolinho de<br />

feijoada. O “Aconcha”, carinhosamente<br />

apelidado, foi um dos primeiros<br />

a comercializar cerveja artesanal no<br />

Rio e hoje possui até rótulo próprio:<br />

Electra, cerveja do estilo Vienna Lager,<br />

fabricada pela Cervejaria Bamberg, de<br />

Votorantim-SP.<br />

‘‘<br />

Em frente ao “Aconcha”, do outro lado<br />

da rua, fica o Bar da Frente. O número<br />

388 ficou famoso após ganhar a edição<br />

2<strong>01</strong>4 do Comida di Buteco, com o petisco<br />

Porquinho de Quimono. O bar só<br />

comercializa, orgulhosamente, cervejas<br />

artesanais brasileiras. Em 2<strong>01</strong>6 vêm<br />

duas novidades: serviço de entregas à<br />

domicílio e carta de cervejas, que foi<br />

toda reformulada. Procure pelas simpáticas<br />

Valéria e Mariana - as donas e, respectivamente,<br />

mãe e filha - e diga que<br />

o Gil recomendou: sanduíche Malandrinho<br />

harmonizado com Rubine, cerveja<br />

Bock fabricada pela Therezópolis-RJ.<br />

Encerrando a tour, um pouco mais<br />

adiante e na mesma calçada, fica o Dida<br />

Bar, antigo Tempero da Praça. O bar do<br />

número 408 mudou de administração<br />

ano passado, mas continua o trabalho<br />

de bom anfitrião ao receber os membros<br />

da ACervA Carioca - Associação<br />

de Cervejeiros Artesanais. Lá eles se<br />

encontram na “terça-sim”, confraternização<br />

quinzenal dos cervejeiros caseiros<br />

Imaginemos então a Praça<br />

da Bandeira como um<br />

grande coração que bombeia<br />

os boêmios que frequentam<br />

a região. E não é<br />

feito de sangue o líquido<br />

bombeado, mas de cerveja,<br />

e cerveja do tipo artesanal!<br />

Esse nobre líquido<br />

passa pela artéria que é<br />

a Rua Barão de Iguatemi<br />

- o polo cervejeiro da<br />

Praça da Bandeira.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

33


RIO DE CERVEJA<br />

por GIL LEBRE<br />

do Rio, que trocam figurinhas sobre produção e levam suas cervejas<br />

para serem degustadas. Das comerciais a dica é pedir pela Fraga<br />

Weiss, cerveja de trigo fabricada em Vargem Pequena, bairro da Zona<br />

Oeste do Rio.<br />

Portanto, se você é fã de cerveja artesanal e da boa gastronomia,<br />

está esperando o quê para visitar a Rua Barão de Iguatemi?<br />

Gil Lebre<br />

É o autor do blog A Perua da Cerveja, constantemente<br />

atualizado com informações e novidades do meio cervejeiro.<br />

Formou-se Sommelier de Cervejas na ABS-SP, em aulas<br />

ministradas pelo Instituto da Cerveja <strong>Brasil</strong> (ICB) e na sede<br />

do ICB concluiu o curso de Mestre em Estilos. Gil Lebre é o<br />

atual campeão do Campeonato <strong>Brasil</strong>eiro de Sommelier de<br />

Cervejas e recentemente disputou o IV <strong>Beer</strong> Sommelier World<br />

Championship. Também participa constantemente como<br />

degustador e jurado em competições de cerveja.<br />

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Divulgue sua marca em uma publicação de abrangência<br />

nacional, 100% digital, de maneira segmentada, para um<br />

público selecionado e envolvido com cervejas artesanais!<br />

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CIÊNCIA DA CERVEJA<br />

por AMANDA REITENBACH<br />

Amanda Felipe Reitenbach<br />

<strong>Brasil</strong>eira, mora em Berlim / Alemanha, tem formação em<br />

Engenharia Química e de Alimentos, e desde a sua graduação<br />

dedica-se ao estudo da cerveja e seus temas adjacentes. Teve<br />

como objeto de seu mestrado o desenvolvimento de uma cerveja<br />

probiótica, a qual traz inúmeros benefícios à saúde. Doutoranda<br />

na Versuchs- und Lehranstalt für Brauerei (VLB-Berlin), desenvolve<br />

atualmente um estudo para o desenvolvimento de um nariz<br />

eletrônico para cervejas.<br />

HARMONIZAÇÃO<br />

DE CERVEJAS<br />

COM<br />

ALIMENTOS<br />

A harmonização de cervejas com alimentos pode ser algo muito<br />

prazeroso e surpreendente para muitas pessoas.<br />

A<br />

versatilidade da cerveja em sabores, aromas e texturas<br />

faz dela uma combinação perfeita para quase<br />

todos os pratos, desde os queijos até os pratos mais<br />

sofisticados.<br />

Fazer a escolha correta requer atenção nas características<br />

da cerveja e do prato escolhido para que um não apague o<br />

outro.<br />

Na cerveja podemos encontrar os sabores dos maltes, que<br />

vão desde os aromas de cereal, biscoito, até os mais intensos<br />

como os tostados. Temos a contribuição do lúpulo, que<br />

confere aromas distintos e amargor. E um leque gigantesco<br />

quando falamos nos aromas produzidos pelas leveduras.<br />

Todos esses elementos serão protagonistas para a harmonia<br />

com o alimento, onde o mais importante é encontrar o equilíbrio<br />

entre os dois.<br />

A cerveja é, sem dúvida, a melhor de todas as bebidas para<br />

acompanhar os mais variados pratos. Graças à sua grande<br />

diversidade e riqueza de aromas e sabores, o prato sempre<br />

ganha alguma coisa quando se faz a escolha acertada da<br />

cerveja para acompanhá-lo. Na verdade, há uma sinergia<br />

entre ambos, cerveja e alimento, quando bem casados, propiciando<br />

um prazer muito maior do que quando ambos são<br />

degustados separadamente.<br />

Fotos: Eduardo Tayer<br />

O conceito básico para se fazer a harmonização é o bom<br />

senso, que deve guiar sempre a ação, de forma a haver equilíbrio<br />

entre a cerveja e a comida. Dessa forma, cada termo da<br />

equação deve se equilibrar com o outro, de tal forma que a<br />

cerveja não se sobreponha ao prato, e vice-versa.<br />

Etapas da harmonização<br />

Identificação minuciosa (componentes,<br />

aromas, textura, peso do prato e<br />

da cerveja);<br />

Determinar o elemento chave (observar<br />

as incompatibilidades);<br />

Fazer a opção final, testar na prática;<br />

Anotar suas observações;<br />

Não se leve muito a sério: divirta-se!<br />

Algumas regras gerais<br />

Equilíbrio de forças: alimento e<br />

cerveja devem ter intensidades iguais;<br />

Harmonizações por semelhança:<br />

busque aromas semelhantes no<br />

alimento e na cerveja. Por exemplo,<br />

cervejas cítricas e leves com carnes<br />

brancas e saladas, cervejas carameladas<br />

e suavemente tostadas com carnes<br />

assadas e cervejas escuras e tostadas<br />

com sobremesas à base de chocolate;<br />

Harmonizações por contraste:<br />

algumas interações específicas contrastam<br />

muito bem, como alimentos<br />

gordurosos e cervejas mais alcoólicas e<br />

doces com cervejas de maior acidez.<br />

Foto: Eduardo Tayer<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

35


CRAFT BEER REVOLUTION<br />

por GISELE RUSSANO<br />

A REVOLUÇÃO NO<br />

CENÁRIO CERVEJEIRO<br />

DA ALEMANHA<br />

Acerveja faz parte da identidade nacional da Alemanha,<br />

e cumpre um longo e importante significado<br />

histórico no país, sempre marcado por muita tradição.<br />

Mas nos últimos anos o mercado de cervejas<br />

alemão vem sofrendo mudanças significativas. Desde 2007<br />

o consumo de cerveja na Alemanha vem caindo todos os<br />

anos, segundo o Destatis (Instituto Federal de Estatística da<br />

Alemanha). Por outro lado, desde 2<strong>01</strong>2 acontece a chamada<br />

“craft beer revolution”, moldando um novo cenário cervejeiro<br />

no país, onde cervejas importadas vêm conquistando consumidores,<br />

estilos inovadores e criativos ganhando espaço ao<br />

lado dos tradicionais estilos de cerveja alemães, e a produção<br />

e consumo de craft beer na Alemanha aumentado exponencialmente.<br />

Para começar a entender a história da cerveja na Alemanha, é<br />

imprescindível falar sobre a Reinheitsgebot – a Lei da Pureza<br />

Alemã. Lei promulgada em 1516 pelo Duque da Bavária, a<br />

Reinheitsgebot estabelecia uma série de regulamentações<br />

para a produção de cerveja no país, sendo a principal o uso<br />

exclusivo dos ingredientes água, cevada e lúpulo (naquela<br />

época ainda não se conhecia a levedura). A lei foi interpretada<br />

como um selo de qualidade para as cervejas alemãs, já<br />

que proibia o uso de aditivos químicos e ingredientes de má<br />

36 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


qualidade, e foi o guia para os tradicionais estilos de cerveja<br />

alemães que conhecemos hoje. Ela sofreu algumas modificações<br />

com o passar dos anos, mas ainda hoje tem muita<br />

importância para a maioria dos cervejeiros e consumidores<br />

da Alemanha.<br />

E é por isso que a “craft beer revolution” demorou a acontecer<br />

no país. Foi apenas há 3 ou 4 anos que alguns cervejeiros<br />

se inspiraram e começaram a produzir diferentes estilos de<br />

cerveja na Alemanha, trazendo criatividade e inovação para<br />

o mercado cervejeiro do país. A Lei da Pureza ainda existe,<br />

o que faz com que o produto produzido com outros ingredientes,<br />

que não sejam os 4 principais (água, malte, lúpulo e<br />

levedura), não possam ser oficialmente categorizados como<br />

cerveja. Mas isso não é um problema para cervejeiros e consumidores<br />

de craft beer.<br />

Especialmente em Berlim, a capital do país, com tantos<br />

expatriados e turistas (e hipsters!), o cenário cervejeiro vem<br />

mudando com rapidez: a cidade tem cerca de 12 microcervejarias,<br />

diversos bares e alguns eventos anuais especializados<br />

em craft beer. Até em alguns supermercados e Spätis (tipo o<br />

nosso mercadinho de bairro), já é possível encontrar diversidade<br />

de estilos de cerveja nas prateleiras. Não é à toa que a<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

37


CRAFT BEER REVOLUTION<br />

por GISELE RUSSANO<br />

escocesa Brewdog decidiu abrir um bar em Berlim ainda em<br />

2<strong>01</strong>6, e a americana Stone Brewing Co. anunciou recentemente<br />

o investimento de mais de 25 milhões de dólares em<br />

uma planta onde funcionará sua cervejaria e restaurante na<br />

capital alemã.<br />

Hamburgo e Munique também são cidades onde a revolução<br />

é facilmente percebida, e criatividade e inovação podem ser<br />

surpreendentemente encontradas até em algumas cervejarias<br />

da Bavária, como é o caso da Spitalbrauerei - uma<br />

cervejaria da cidade de Regensburg, fundada em 1226, super<br />

consolidada e respeitada no mercado alemão. Recentemente<br />

a cervejaria lançou uma nova linha chamada Spital Manufaktur,<br />

com estilos como Pale Ale, Strong Ale e Chocolate<br />

Stout – estilos não-alemães, mas que ainda respeitam a<br />

Reinheitsgebot. O pessoal da cervejaria diz que a intenção<br />

com a nova linha foi provar que tradição e ideias novas<br />

podem realmente se complementar: “Existe uma frase do<br />

Goethe que diz: é necessário ter raízes e asas (it needs roots<br />

and wings). Nossas raízes estão profundamente ancoradas na<br />

tradição cervejeira da Bavária, desde 1226. E quando falamos<br />

de nossas asas, nos referimos à nossa paixão por cerveja,<br />

muita criatividade e nossa ambição de dar a cada cerveja<br />

nosso toque especial”.<br />

Especialmente em Berlim, a capital do<br />

país, com tantos expatriados e turistas<br />

(e hipsters!), o cenário cervejeiro vem<br />

mudando com rapidez: a cidade tem<br />

cerca de 12 microcervejarias, diversos<br />

bares e alguns eventos anuais<br />

especializados em craft beer.<br />

Ainda há muito para se discutir sobre o futuro do cenário cervejeiro<br />

na Alemanha, mas acredito que há sim espaço para<br />

tradição e inovação coexistirem. Assim, mesmo com tantas<br />

mudanças, a cerveja continuará cumprindo um importante<br />

papel na história e identidade do país.<br />

Gisele Russano<br />

Sommelier de Cerveja e Mestre em Estilos. Vive<br />

na Alemanha, onde vivencia e acompanha<br />

as tradições, tendências e movimentos do<br />

‘‘cenário cervejeiro europeu.<br />

38 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


Velhas Virgens Rockin’ <strong>Beer</strong><br />

Para deixar a revista ainda mais<br />

interessante, saímos à procura<br />

de uma banda de rock para falar<br />

sobre cerveja (afinal, rock e<br />

cerveja tem tudo a ver, não tem?!). Mas<br />

somos exigentes, não podia ser qualquer<br />

banda. Tinha que ser uma banda<br />

paulistana (a revista nasceu na capital<br />

paulista, queríamos uma banda daqui!),<br />

que bebesse (e muita!) cerveja, com<br />

mais de 25 anos de estrada, com pelo<br />

menos 15 discos gravados, que tivesse<br />

seus próprios rótulos, que tivesse seu<br />

próprio bar, e que a boa parte de suas<br />

músicas falassem sobre cerveja! Ufa.. só<br />

nos restou uma opção: Velhas Virgens!<br />

Brincadeiras à parte, as Velhas Virgens<br />

realmente têm esse currículo. Considerada<br />

a maior banda independente<br />

do <strong>Brasil</strong>, tem 29 anos de estrada, mais<br />

de 2 mil shows na bagagem e recém<br />

lançou seu 15º álbum, “Garçons do<br />

Inferno”, sua primeira coletânea oficial<br />

que conta com 20 músicas eleitas pelo<br />

público como “as melhores das Velhas<br />

Virgens”.<br />

Além de toda sua<br />

história roqueira,<br />

as Velhas também<br />

conhecem<br />

muito de cerveja.<br />

Eles têm um<br />

bar, o “Velhas<br />

Virgens Rockin’<br />

<strong>Beer</strong>”, já em<br />

seu terceiro<br />

ano de vida<br />

e localizado<br />

próximo ao<br />

Horto Florestal,<br />

em São Paulo. Têm também<br />

4 rótulos de cervejas artesanais, uma<br />

IPA, uma Witbier, uma Brown Ale, e o<br />

mais recente lançamento, uma Fruit<br />

Bier com adição de amoras negras,<br />

todas receitas do baixista Tuca Paiva e<br />

atualmente produzidas pela cervejaria<br />

Invicta, de Ribeirão Preto-SP.<br />

Mostrando que estão realmente<br />

antenados com o mundo cervejeiro,<br />

lançaram recentemente mais uma<br />

novidade: o “WorkChopp, uma palestra<br />

cantante”, onde Paulão de Carvalho,<br />

Tuca Paiva e Ale Cavalo se reúnem com<br />

a galera para falar de cerveja, música e<br />

negócios, além de tomar umas cervejas<br />

e tocar umas músicas para quem estiver<br />

presente!<br />

Não perca nas próximas edições as histórias<br />

de Paulão de Carvalho, Ale Cavalo,<br />

Tuca Paiva e demais velhas, falando<br />

sobre cerveja e muito rock and roll!<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

39


ENTREVISTA: MALTERIA BLUMENAU<br />

por FABRÍCIO DOMINGUES<br />

MALTES 100%<br />

NACIONAIS<br />

Uma das boas novidades de 2<strong>01</strong>5 foi o lançamento da<br />

Malteria Blumenau, primeira malteria nacional especializada<br />

em maltes especiais.<br />

Em conversa com Rodolfo Rebelo,<br />

um dos proprietários da<br />

malteria, ele contou um pouco<br />

sobre como é ser o precursor<br />

desta área no país, mas antes disso, é<br />

bom explicar o que é esse tal de malte.<br />

O <strong>Brasil</strong> produz a maior parte da sua<br />

cevada para a indústria cervejeira.<br />

Depois da colheita, a cevada segue<br />

para a malteria, onde será classificada<br />

e testada, antes de germinar e ser<br />

malteada. O mesmo processo pode ser<br />

feito com outros cereais como trigo e<br />

sorgo. Os grãos passam pelo processo<br />

de germinação para desprender com<br />

facilidade a casca do cereal e liberar<br />

as enzimas e amido necessários para a<br />

produção da cerveja.<br />

Os grãos ficarão em um ambiente climatizado,<br />

com umidade e temperatura<br />

controladas, e o processo é interrompido<br />

assim que o grão germinar. Está<br />

pronto o malte verde, mas, há a possibilidade<br />

de criar variáveis desse malte, os<br />

chamados maltes especiais. Os maltes<br />

especiais poderão ter características<br />

caramelizadas ou tostadas, devido ao<br />

processo de torrefação que o cereal<br />

passará após ter interrompida sua<br />

germinação. Se o grão estiver úmido<br />

durante o processo de torrefação, ele<br />

terá características caramelizadas, caso<br />

esteja seco, as características do grão<br />

lembrarão ao café, chocolate e notas de<br />

tostado.<br />

Portanto, malte é um processo, onde o<br />

cereal adquire características específicas<br />

e úteis para a produção de cerveja.<br />

Agora que você possui uma noção<br />

do que é a especialidade da Malteria<br />

Blumenau, vamos para a entrevista com<br />

o Rodolfo, que nos contou um pouco<br />

sobre como funciona uma malteria.<br />

40 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


Como surgiu a ideia de montar<br />

uma malteria e qual a novidade<br />

ou diferencial que a Malteria<br />

Blumenau está oferecendo?<br />

Quando iniciei meu mestrado em<br />

Engenharia Química, desde o início quis<br />

fazer algo relacionado a malteação.<br />

Após estudos e aprofundamento no<br />

assunto, pude perceber a oportunidade<br />

no mercado. O meu sócio, Walter Borelli,<br />

também estava querendo montar<br />

algo e acabamos juntando as ideias e<br />

formalizamos a empresa. No cenário<br />

atual brasileiro, a Malteria Blumenau é<br />

a primeira no ramo de maltes especiais,<br />

competindo neste momento somente<br />

com os maltes importados. O grande<br />

diferencial é a produção 100% brasileira,<br />

matéria-prima brasileira, equipamentos<br />

brasileiros e mão de obra local.<br />

Qual a origem da matéria-prima?<br />

Há importação ou exportação<br />

dos produtos comercializados<br />

na malteria?<br />

A matéria-prima usada é 100% brasileira,<br />

provinda dos estados produtores de<br />

cevada e trigo, que são Paraná, Santa<br />

Catarina e Rio Grande do Sul. Estamos<br />

estudando a exportação de produtos,<br />

mas, ainda é um assunto que está somente<br />

no papel.<br />

Hoje, a Malteria Blumenau<br />

atende que tipo de público e<br />

atua em qual região do país?<br />

A Malteria Blumenau atende três grupos<br />

do mercado brasileiro, primeiro são<br />

os cervejeiros caseiros, segundo são as<br />

lojas de insumos cervejeiros e o terceiro<br />

grupo são as microcervejarias. Estamos<br />

em constante expansão em vendas,<br />

quase batemos 100% do <strong>Brasil</strong>, vendendo<br />

nos três grupos já mencionados.<br />

Recentemente atravessamos o <strong>Brasil</strong> e<br />

chegamos a Teresina-PI. Ficamos muito<br />

orgulhosos!<br />

Há a expectativa de um<br />

crescimento considerável<br />

no número de novas microcervejarias<br />

nacionais<br />

para a próxima década.<br />

Qual a meta da Malteria<br />

Blumenau para o mesmo<br />

período?<br />

Sim, o crescimento das cervejarias<br />

e do ramo cervejeiro chega<br />

aos seus 20% anuais, o que é<br />

muito bom para nós. A meta da<br />

Malteria Blumenau nos próximos<br />

anos é aumentar pelo<br />

menos 200% a produção.<br />

Quais produtos e tipos<br />

de maltes estão sendo<br />

comercializados por<br />

vocês?<br />

Hoje nós temos somente 4<br />

produtos em linha, mas com<br />

previsão para aumentar o sortimento<br />

em 10 tipos até final do ano. Trabalhamos<br />

com o Pale Ale (Malte base),<br />

Blumenauer I e Blumenauer II, estes são<br />

maltes desenvolvidos por nós, são dois<br />

tipos de maltes torrados. Ainda temos<br />

mais um desenvolvido por nós que é<br />

o Barley Loaf, da categoria “Biscuit” ou<br />

Biscoito, é um malte super aromático<br />

desenvolvido na Malteria Blumenau.<br />

Os próximos tipos serão, Trigo, Trigo<br />

Orgânico, Trigo Blumenauer I e II, Vienna,<br />

Ponteado, Ponteado Torrado, Pilsen<br />

Premium e Pilsen Orgânico.<br />

Qual a visão da empresa referente<br />

ao crescimento do setor<br />

nos próximos anos?<br />

Acreditamos que a cadeia cervejeira irá<br />

crescer como um todo, existem outras<br />

lacunas também vazias ou pouco exploradas.<br />

No setor de malte é possível ver<br />

este potencial, mas a indústria malteira<br />

exige alto investimento, tecnologia e<br />

mão de obra qualificada.<br />

Fabrício Domingues<br />

Consultor de empresas, editor do site Cerveja<br />

em Foco, formação em Comércio Exterior e<br />

especialização em Planejamento de Marketing.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

41


CERVEJA TRIO<br />

UM TRIO DE MUITO TRÊS<br />

Um trio de muitos três - três meninas, três sommelières,<br />

três cervejeiras, três lotes, três lupulagens - formando um triângulo de<br />

leveza, aroma e amargor, uma tríade de sede, frescor e satisfação!<br />

Desde 2<strong>01</strong>0, quando formaram-se<br />

juntas no curso<br />

de sommelier de cervejas,<br />

Amanda Reitenbach, Bia<br />

Amorim e Carolina Oda encontraram-se<br />

muitas vezes por conta dos compromissos<br />

cervejeiros e as relações foram<br />

sendo estreitadas. Da proposta para<br />

realizarem uma aula de harmonização<br />

no Festival de Cervejas de Blumenau<br />

em 2<strong>01</strong>4, surgiu o batismo do ABC da<br />

Cerveja. Em seguida, veio o convite da<br />

cervejaria Blondine para uma colaborativa.<br />

O objetivo? Diversão, matando<br />

a vontade de trabalhar junto com<br />

pessoas com quem temos afinidades,<br />

e aproveitar o alcance para difundir<br />

sempre mais a cultura cervejeira e suas<br />

experiências!<br />

Conversa vai, conversa vem, e-mails pra<br />

lá e e-mails pra cá, meses se passaram<br />

e, finalmente, Alemanha, São Paulo e<br />

Ribeirão Preto se aproximaram graças<br />

à tecnologia e o projeto se concretizou:<br />

estilo, receita, nome, rótulo e festas<br />

escolhidos.<br />

A ideia foi produzir três lotes com a<br />

mesma receita base, o mesmo estilo<br />

- Session IPA - porém com lúpulos diferentes<br />

no dry-hopping (adição de lúpulo<br />

no final do processo, com a cerveja já<br />

pronta, conferindo muita intensidade<br />

aromática). Com isso tudo, mantém a<br />

graça do número 3 em tudo. Os três<br />

lotes produzem um estilo excelente<br />

para o calor, época dos lançamentos; e<br />

tem conceitos educativos envolvidos,<br />

com as adições de lúpulo demandando<br />

uma explicação sobre a técnica de dry-<br />

-hopping e uma conscientização sobre<br />

a importância do frescor da cerveja,<br />

além de promover uma comparação<br />

que enriquece a experiência sensorial<br />

quando os três lotes estiverem no<br />

mercado, possibilidade bem rara de se<br />

encontrar nas prateleiras. Afinal, seria<br />

impossível para três profissionais cheias<br />

de prazer em compartilhar o conhecimento<br />

não pensar no que a brincadeira<br />

agregaria aos que se envolvessem com<br />

o produto.<br />

A primeira edição, lançada em setembro,<br />

foi feita com os lúpulos Brewers<br />

Gold e Pacific Gem. A segunda, lançada<br />

em dezembro, foi com Bravo e Saphir.<br />

E, a terceira, que será lançada no final<br />

de janeiro ou começo de fevereiro, será<br />

42 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


com Nelson Sauvin e Chelan.<br />

O estilo Session IPA, tendência que explodiu<br />

em meados de 2<strong>01</strong>0 nos Estados<br />

Unidos em resposta aos estilos de cerveja<br />

mais fortes, alcoólicos e potentes,<br />

tem drinkability como a sua palavra-<br />

-chave, ou seja, é fácil de ser bebida por<br />

longos períodos, porém sem perder<br />

o sabor e as características esperadas<br />

do estilo base. As IPAs têm presença<br />

marcante do lúpulo em aroma, sabor<br />

e amargor. Os americanos costumam<br />

dizer “All the IBUs, half the AVB” (“Todos<br />

os IBUs - medida de amargor internacional<br />

- e metade do teor alcoólico), isso<br />

porque a cerveja tem um corpo mais<br />

leve, porcentagem de álcool menor e a<br />

carga de sabor de lúpulo não diminui. A<br />

intensidade de sabor e aroma continua,<br />

mas ainda assim, deixando a bebida fácil,<br />

leve. Ideal para quem adora cerveja<br />

pelo seu sabor e não pelos seus efeitos.<br />

E teremos novidades das três? Quem<br />

sabe? As meninas gostam de projetos<br />

com começo, meio e fim. Um brinde às<br />

efemeridades da vida!<br />

Fotos: Acervo pessoal


BRUSSELS BEER PRoJECT<br />

A moderna proposta<br />

de inovação e<br />

co-criação do<br />

Brussels <strong>Beer</strong> Project<br />

Mais do que apenas uma cervejaria,<br />

os belgas da Brussels <strong>Beer</strong> Project,<br />

que recentemente desembarcaram<br />

no <strong>Brasil</strong> para apresentar e<br />

distribuir suas cervejas através da importadora<br />

Bier&Wein, trazem um projeto colaborativo que<br />

foca no conceito de “co-criação”, visando ousar,<br />

inovar e renovar o cenário cervejeiro belga.<br />

Desde junho de 2<strong>01</strong>3, com a escolha pela comunidade<br />

cervejeira belga do rótulo Delta (entre<br />

as criativas opções Alpha, Beta e Gamma!),<br />

a cervejaria não para de crescer, e hoje com<br />

apenas 2 anos de vida, orgulha-se de já estar<br />

presente em mais de 20 países na Europa. Hoje<br />

já são 4 rótulos fixos (Grosse Bertha, Baby Lone,<br />

Dark Sister e Delta), mais de 20 sazonais e cerca<br />

de 750.00 garrafas produzidas todos os anos.<br />

O lançamento da cervejaria contou não apenas<br />

com aporte de seus co-fundadores, mas também<br />

com financiamento coletivo (crowdfunding).<br />

Já foram duas rodadas de uma proposta<br />

nomeada #<strong>Beer</strong>ForLife, onde basicamente<br />

são garantidas 12 garrafas de cerveja, todos os<br />

anos, para o resto da vida de cada um dos “patrocinadores<br />

e entusiastas” do projeto que toparam<br />

investir 160 euros. Parece muito bom para<br />

ser verdade e já são mais de 1200 crowdfunders<br />

que toparam apoiar o projeto.<br />

Mais do que “clientes e consumidores”, o<br />

Brussels <strong>Beer</strong> Project fala de uma “comunidade<br />

de entusiastas cervejeiros e de um espírito de<br />

co-criação”, onde a comunidade é incentivada<br />

a participar e sugerir novas receitas, e onde o<br />

espírito colaborativo está fortemente presente.<br />

É possível, inclusive, entrar no site da cervejaria<br />

e em cerca de dois minutos sugerir sua própria<br />

receita! Se sua receita for escolhida, poderá ir<br />

até a Bélgica para produzir sua receita junto<br />

com os caras. Legal não!?


Um breve giro pela história da cerveja<br />

por SIMONE PIRES<br />

A história da bebida<br />

alcoólica mais<br />

consumida no mundo<br />

é extremamente<br />

envolvente e tem seu<br />

surgimento datado<br />

de milhares de anos<br />

atrás.<br />

The Ale-House Door, Henry Singleton, 1790<br />

Conheça um pouco<br />

mais sobre seu<br />

contexto histórico,<br />

sua evolução e todos<br />

os desafios até que<br />

pudesse estar hoje<br />

em nossas prateleiras.<br />

Um breve giro pela<br />

história da cerveja<br />

Para inaugurar esse espaço na primeira edição, nada<br />

melhor que contar um breve resumo sobre a história<br />

da bebida alcoólica mais consumida no mundo,<br />

a cerveja. Há cerca de 10 mil anos, na região da Mesopotâmia<br />

– que hoje corresponde a grande parte do território<br />

do Iraque - o homem pré-histórico deixava de ser nômade<br />

para então fixar-se em terras férteis, assim, desenvolveu as<br />

primeiras técnicas de agricultura.<br />

A cerveja surgiu por acaso. Diz a lenda que alguém esqueceu<br />

vasos cheios de grãos ao relento. Entre pancadas de chuva e<br />

raios de sol, os grãos foram fermentando, gerando um líquido<br />

turvo, até que algum corajoso tomou da mistura e voilà, a<br />

cerveja!<br />

Existem registros antigos que comprovam a existência da<br />

cerveja já nesta época. Um dos mais importantes, foi deixado<br />

pelo Império Babilônico, na Mesopotâmia, por volta de<br />

1700 a.C.: o Código de Hamurabi. Esse legado foi o primeiro<br />

a detalhar um conjunto de leis sobre a bebida (entre outras<br />

tantas leis). Você pode encontrá-lo em exposição no Museu<br />

do Louvre, em Paris.<br />

Antigamente, a cerveja era bem diferente. Substâncias como<br />

raízes e frutos eram misturadas aos grãos, e tudo era fermentado<br />

espontaneamente. Para os egípcios, só as mulheres<br />

podiam fabricar a bebida, que era considerada indispensável,<br />

por exemplo, em cerimônias fúnebres. E acreditem, os operários<br />

que construíram as pirâmides recebiam cervejas como<br />

pagamento.<br />

Já na Grécia, o povo não curtia muito. Eles recomendavam a<br />

bebida apenas para tratamento médico. No Império Romano,<br />

por ser a Itália uma região cercada por vinhedos, a cerveja<br />

46 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>


perdeu ainda mais importância. Foi o vinho que virou coisa<br />

de nobre. A fama da cerveja só veio na Idade Média, com a<br />

Igreja. Acredita?<br />

A partir do século IV, a cerveja começou a ser fabricada pelos<br />

monges, que a consumiam como alimento durante as épocas<br />

de jejuns. Antes, a produção era extremamente caseira. Com<br />

as pesquisas da monja beneditina Hildegard Von Bingen,<br />

descobre-se a importância da qualidade do lúpulo. Antes, era<br />

utilizada uma mistura de ervas chamada gruit.<br />

Com o aumento no consumo, algumas pequenas cervejarias<br />

surgiram para ajudar na produção. Em 1040, o Mosteiro de<br />

Weihenstephan, na Alemanha, conseguiu a licença para produzir<br />

a bebida comercialmente, sendo até hoje a cervejaria<br />

mais antiga em atividade no mundo.<br />

Com o decorrer do tempo, os mosteiros foram perdendo a<br />

sua força, mas a bebida continuou se estabelecendo pela<br />

Europa graças ao modelo de produção comercial.<br />

Prova disto é o Duque Guilherme IV, da Baviera, que decretou<br />

a Reinheitsgebot, a Lei da Pureza. A partir de então, na<br />

Alemanha, apenas três ingredientes poderiam ser usados na<br />

fabricação de cervejas: água, malte e lúpulo. A levedura ainda<br />

era uma dádiva de Deus.<br />

Na Era Moderna, a evolução da cerveja aconteceu graças às<br />

descobertas como a refrigeração artificial (Carl von Linde)<br />

e de aprimoramentos no termômetro para a medição de<br />

mínimas temperaturas, o que proporcionou a fabricação<br />

de cervejas de baixa fermentação, permitindo a produção<br />

durante o ano todo.<br />

Louis Pasteur, em 1876, desenvolvia pesquisas para alguns<br />

cervejeiros e detectou seres microbiológicos na cerveja. A<br />

partir disso, criou um método para eliminar esses intrusos: a<br />

pasteurização.<br />

Código de Hamurabi, Museu do Louvre<br />

No <strong>Brasil</strong>, a cerveja chegou somente com a Família Real, em<br />

1808. Antes, a cachaça e o vinho dominavam por aqui. Nos<br />

anos de 1830, 40 e 50, surgem as primeiras cervejarias no<br />

Sul e Sudeste do país, porém a primeira indústria cervejeira<br />

nacional foi fundada por um imigrante alemão, Henrique<br />

Kremer, instalada entre 1853 e 1854.<br />

No início do século 20, o mundo sofre com a 1ª Guerra Mundial,<br />

o consumo de cerveja cai e gera várias fusões e aquisições.<br />

Sem contar a escassez de matéria-prima e mão de obra,<br />

que levou as indústrias a apostarem na mecanização. Mas<br />

como tudo pode piorar, em 1919 a Lei Seca foi implantada<br />

nos EUA, acabando somente 1933 e tendo diminuído drasticamente<br />

a quantidade de cervejarias americanas.<br />

O tempo passa, o consumo e a indústria cervejeira aumentam<br />

a cada dia, e hoje ainda passamos por um período de expansão<br />

no consumo massivo das cervejas do estilo American<br />

Light Lager. Mas a boa notícia é que vivemos um momento<br />

de “vida nova” para as cervejas artesanais, que vem retomando<br />

a tradição das regiões onde são produzidas.<br />

Hoje, a cerveja não sai mais das prateleiras, e muito menos da<br />

geladeira de todos, do mundo inteiro. Oremos e brindemos!<br />

Saúde!<br />

Polícia esvaziando barris durante a Lei Seca americana<br />

Simone Pires<br />

Publicitária com pós-graduação em Branding. <strong>Beer</strong> Sommelier pelo Instituto<br />

da Cerveja, especialista em Administração e Negócios da Cerveja pela FGV<br />

e colunista do blog Mucha Breja. Fã de IPAs e Barley Wine. Acredita em um<br />

mundo mais justo para a produção das cervejas artesanais.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong><br />

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