ESPECiAL GRoWLERS por AdRiANE BALdiNi Quando a cervejaria surgiu, a ideia inicial era a de expandir a marca com um toque a mais sobre receitas de cervejas tradicionais. “Começamos a ser bem conhecidos nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio - estados onde também há microcervejarias como a minha. Porém, percebemos que em nossa própria cidade, poucos sabiam que Bodebrown é de Curitiba. Então, nossa meta foi ao de olhar, daquele ponto em diante, ao nosso entorno”, diz Samuel, que começou a pensar em novas alternativas para atingir o público local. Certo dia, ao visitar a Das Bier em Santa Catarina, Samuel conheceu a rotina da microcervejaria, que vendia a maior parte da produção em growlers - que nada mais é do que um recipiente com tampa usado para transportar cerveja, geralmente feitos de vidro, cerâmica ou inox. Ele ficou encantado com todo aquele cenário: a grande praticidade de vender cerveja e, principalmente, com as pessoas de lá, que se entrosavam acompanhados dos filhos pequenos, parecendo todos ser de uma grande e única família. Outro fator que influenciou o mestre cervejeiro a investir no growler foi a grande dificuldade em relação à linha de envase – algo que, segundo ele, é absolutamente problemático (e embrionário) em qualquer cervejaria artesanal. A que se encontra atualmente na fábrica é de origem chinesa, da década de 1980, e, segundo Samuel, “parece um Frankestein”. O envase é um dos grandes culpados pelo custo elevado da garrafa, pois deve-se considerar custos de tampa, rótulo, garrafa, mão de obra especializada para operá-la, controle de qualidade, pasteurização e empilhamento. “Isso que a garrafa pode ficar, dependendo da cerveja, até seis meses em uma prateleira para ser vendida. Boa parte da qualidade sensorial do produto, infelizmente, pode se perder”, lamenta Samuel. A consciência dele dizia que o consumidor poderia encontrar uma cerveja muito melhor do que é encontrada nas garrafas, então, porque não entregaria um produto assim? O desafio era trazer os curitibanos para dentro da fábrica, além de apenas buscarem as aulas que ensinam a fabricação de cerveja caseira e a venda de insumos para tal. Então, há três anos, a Bodebrown iniciou a venda da cerveja no growler. No começo, se bateram bastante pois a fila vivia grande devido ao processo mecanizado (e lento) no enchimento do growler. Ainda, segundo ele, erraram na questão da substituição dos vasilhames, no qual o cliente trazia o dele e levava outro. Os problemas logo apareceram: sempre aparecia alguém que não tinha cuidado com a limpeza do recipiente, outro deixava um growler impecável e levava um trincado ou desgastado pra casa. Decidiram segurar um pouco as vendas e, por meio de experiências que assistiram nas fábricas da Stone e Sierra Nevada, nos EUA, e outras na Alemanha, escolheram padronizar a venda dos vasilhames escolhendo o recipiente de vidro com a rosca tipo flip top. “No começo, foi um dilema para saber se importávamos ou não os recipientes. Como incentivar o consumo de uma cerveja não pausterizada por meio de um recipiente em que o consumidor não está habituado? A quantidade mínima de importação era de um contâiner, mas, encaramos mesmo assim”, lembra ele, rindo. Samuel disse que a fábrica iniciou uma verdadeira transformação cultural para que a venda dos primeiros growlers oficiais da Bodebrown fosse um sucesso. O primeiro passo foi o de abrir a cervejaria aos consumidores – claro, todos os visitantes vestidos de acordo com as normas das regras de sanitização – com o objetivo de mostrar que, para se ter um uma cerveja em sua condição mais plena, era pelo growler que ele a teria da maneira mais fresca possível. “Comparo a venda do growler com a de uma panificadora: em um determinado horário, o consumidor sabe quando o pão estará fresco. E é exatamente essa sensação que eu quero passar com a cerveja saída do tanque: de frescor, dele conhecer a plenitude da receita”, diz ele. Com o passar do tempo, as pessoas se habituaram a buscar um chope fresco com os amigos e a esposa. Uns trazem os filhos, engatam um breve bate-papo, degustam pães e queijos e levam a cerveja por meio do growler 28 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>
Fotos: Adriane Baldini