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Revista Beer Brasil - Edição 01 - JAN2016

A Revista Beer Brasil é uma nova publicação da Editora Hophead, focada no mercado de cervejas artesanais, em oportunidades de negócios, e em temas como harmonização, dicas de degustação, novos rótulos, eventos, entrevistas, e todo e qualquer outro assunto relevante ao mundo cervejeiro.

A Revista Beer Brasil é uma nova publicação da Editora Hophead, focada no mercado de cervejas artesanais, em oportunidades de negócios, e em temas como harmonização, dicas de degustação, novos rótulos, eventos, entrevistas, e todo e qualquer outro assunto relevante ao mundo cervejeiro.

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PÃO E CERVEJA<br />

por FABIANA ARREGUY<br />

Fabiana Arreguy<br />

Jornalista, criadora e editora da Rádio Web Pão e Cerveja. Colunista<br />

na Rádio CDL FM de MG, coluna Pão e Cerveja. Colunista do jornal<br />

Estado de Minas, assinando o espaço Líquido e Certo. Colunista da<br />

<strong>Revista</strong> PQN Notícias, página PQN com Cerveja. Sócia benemérita<br />

da AcervA Mineira. Sommelier de Cerveja pela Doemens Akademie<br />

de Munique e SENAC/SP. Criadora, desenvolvedora e professora do<br />

Curso Introdução ao Estudo da Cerveja - SENAC/MG. Professora do<br />

curso de pós-graduação em Tecnologia Cervejeira - UNI-BH. Juiz de<br />

concursos nacionais e internacionais de cerveja.<br />

A PRIMEIRA<br />

CERVEJA<br />

ESPECIAL<br />

NUNCA<br />

SE ESQUECE<br />

Você seria capaz de dizer qual<br />

foi a primeira cerveja especial,<br />

diferente, que tomou em sua<br />

vida? Essa é uma pergunta que<br />

costumo fazer em palestras e aulas que<br />

dou por aí. Muita gente é capaz de se<br />

lembrar de viagens ao exterior e das<br />

cervejas que tomou lá fora. Outras são<br />

taxativas em dizer que as de trigo Erdinger,<br />

pioneiras a chegar no <strong>Brasil</strong>, foram<br />

sua iniciação no mundo das especiais.<br />

Eu não duvido, desde que sejam pessoas<br />

com menos de 30 anos de idade.<br />

Pois aquelas que, na década de 1980, já<br />

estavam na faixa etária permitida para<br />

beber, acabam se esquecendo de listar<br />

a sua verdadeira primeira experiência<br />

com outras cervejas. Duvida?<br />

Na década de 80 havia no <strong>Brasil</strong> torcidas<br />

organizadas para rótulos de cerveja.<br />

Quem era do time Skol, não tomava<br />

Brahma ou Antartica. “Brahmeiros”<br />

não tocavam em copos habitados por<br />

Antartica. Os bebedores da Antartica<br />

passavam longe da Brahma. Naquela<br />

época, as três marcas eram de fato concorrentes,<br />

não pertenciam ao mesmo<br />

grupo como hoje. E assim o consumidor<br />

brasileiro praticava o democrático<br />

direito de escolha, ainda que fosse pelo<br />

mesmo tipo de cerveja. Acontece que<br />

na briga por espaço, outras marcas tentavam<br />

se impor, lançando rótulos bem<br />

parecidos para entrar na concorrência.<br />

Assim aconteceu com o grupo Schincariol,<br />

e com a própria Coca-Cola, que<br />

também entrou na disputa por uma<br />

fatia do mercado de cerveja brasileiro.<br />

A ideia de uma cerveja da Coca-Cola<br />

veio de um visionário empresário mineiro.<br />

Luiz Pôssas era o representante e<br />

distribuidor do refrigerante em Minas<br />

Gerais. Em determinado momento, ele<br />

percebeu que para conseguir fechar<br />

com os bares desse imenso estado<br />

brasileiro, precisava ter uma cerveja,<br />

pois as demais marcas eram atreladas<br />

a outros refrigerantes. A prática de<br />

dominar os pontos de venda, ainda<br />

hoje utilizada pelos grandes grupos, era<br />

moeda corrente naquele tempo. E não<br />

entrava na concorrência quem não se<br />

adaptasse a ela. Foi assim que surgiu a<br />

cerveja Kaiser.<br />

Na concepção da nova cerveja, o<br />

empresário mineiro foi buscar, de fato,<br />

na Alemanha, um produto que fosse<br />

diferenciado. Só que na voracidade do<br />

mercado a marca foi sendo desmoralizada,<br />

execrada pelo público, totalmente<br />

crente que ela dava dor de barriga.<br />

Antes dessa desmoralização, porém, a<br />

Kaiser conseguiu atingir positivamente<br />

o consumidor. A primeira sacada, e<br />

isso deveria ser exemplo para algumas<br />

agências de publicidade atuais, foi<br />

mudar a lógica das propagandas de<br />

cerveja. Em vez de mulheres louras, de<br />

biquíni (mulheres “maiores” naquele<br />

tempo, é verdade), a agência DPZ criou<br />

um anti-personagem. Um senhor, na<br />

casa dos 50 anos, baixinho, barrigudo,<br />

de bigode e boina para garoto-propaganda<br />

da marca. Era puro nonsense,<br />

mas fazia o contraponto perfeito ao slogan<br />

criado: Kaiser, uma grande cerveja.<br />

E para arrematar o conjunto, um jingle<br />

forte, utilizando-se de melodia conhecida,<br />

repetia: “A Kaiser é uma grande<br />

cerveja, ninguém pode negar!”. Era uma<br />

expectativa saber qual seria a próxima<br />

aventura do “ baixinho da Kaiser” nas<br />

propagandas.<br />

Todo esse preâmbulo tem apenas uma<br />

razão de ser, uma vez que desejo falar<br />

sobre a primeira cerveja diferente e<br />

especial que muitos tomaram e se<br />

esqueceram: Kaiser Bock. Um estilo<br />

autenticamente alemão, centenário,<br />

muito característico e que não existia<br />

no <strong>Brasil</strong> dos anos 80. Foi ela, com<br />

certeza, a primeira cerveja diferente de<br />

muitos que hoje apreciam as artesanais.<br />

A Kaiser Bock foi criada com o intuito de<br />

ser uma sazonal, só vendida nos meses<br />

de inverno no <strong>Brasil</strong>. E essa foi mais uma<br />

bela sacada: criar o desejo no consumidor<br />

por algo que não estava disponível<br />

sempre.<br />

Não estou aqui tecendo juízo de valor<br />

sobre a qualidade dessa cerveja, embora<br />

deva confessar que eu gostava bastante<br />

dela e esperava ansiosa por seu<br />

lançamento nos meses de julho. Há cerca<br />

de 3 anos a Kaiser, hoje pertencente<br />

ao grupo Heineken, produziu uma<br />

leva especial de sua Bock e presenteou<br />

vários jornalistas, blogueiros e formadores<br />

de opinião com um engradado<br />

‘‘<br />

composto por seis garrafinhas. Receber<br />

aquele presente me transportou para<br />

outro tempo e me fez reencontrar a<br />

primeira cerveja especial da minha vida!<br />

Kaiser Bock. Um estilo<br />

autenticamente alemão,<br />

centenário, que não existia<br />

no <strong>Brasil</strong> dos anos<br />

80. Foi ela, com certeza,<br />

a primeira cerveja diferente<br />

de muitos que hoje<br />

apreciam as artesanais.<br />

20 <strong>Revista</strong> <strong>Beer</strong> <strong>Brasil</strong>

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