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Tenho a impressão de que a tintura-mãe do pensamento<br />
de Nosso Senhor era uma síntese harmônica, mas também<br />
frequentemente contrastante, entre o que Ele é, o<br />
que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agindo.<br />
Quer dizer, Jesus conhecia a imensidade de dons prodigalizados<br />
por Ele, via a indiferença com que esses dons<br />
eram recebidos, por vulgaridade de espírito, falta de senso<br />
metafísico, de senso sobrenatural, em uma palavra, falta<br />
de amor das pessoas beneficiadas. Contudo, Ele não se<br />
afastava daquelas almas, continuava a perceber o que tinham<br />
de bom e procurava ainda elevá-las, mas pensava a<br />
fundo sobre essa ingratidão e Se entristecia.<br />
Ele, olhando para cada um de nós, conhece inteiramente<br />
como somos. Com o olhar Ele saberia tratar a cada indivíduo,<br />
de tal maneira que, conforme Ele quisesse, a pessoa se<br />
sentiria vista até o fundo da alma nos lados ruins, ou nos lados<br />
bons. Naqueles, com uma rejeição por onde o indivíduo<br />
teria vontade de fugir do seu próprio pecado; nestes, com<br />
uma atração tal que a pessoa teria vontade de multiplicar<br />
por cem quintilhões a sua virtude, logo de saída!<br />
Mas, por uma bondosa condescendência para com os<br />
homens, Nosso Senhor não olharia inteiramente de um<br />
jeito nem de outro, a não ser nas situações excepcionais,<br />
para as pessoas poderem viver ao lado d’Ele.<br />
Os episódios da vida d’Ele são todos maravilhosos.<br />
Mas não me impressiona tanto este ou aquele fato, quanto<br />
as variedades do modo de ser pessoal d’Ele, enquanto<br />
andava de um lado para outro.<br />
Jesus chora pela morte de Lázaro<br />
e depois o ressuscita<br />
Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de<br />
Lázaro. Primeiro, a bondade com a qual Jesus chora junto<br />
ao sepulcro, porque Lázaro morreu. E depois, como<br />
que não podendo conter a sua própria dor, brada: “Lázaro,<br />
vem para fora!”, com um brado que eu imagino majestoso<br />
e fendendo a sepultura! E a vida volta em Lázaro.<br />
É uma coisa majestosa!<br />
Imaginá-Lo recebendo a censura de Maria Madalena:<br />
“Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria<br />
morrido.” 1 É, portanto, uma censura. Parecia estar insinuando<br />
que, pela relação de amizade existente entre os<br />
dois, Ele tinha obrigação de ter salvado Lázaro da morte.<br />
E, naquele momento, talvez Ele tivesse parecido a Maria<br />
Madalena ligeiramente tisnado de culpa.<br />
E como Jesus se portou nessa ocasião em que Ele não<br />
lhe deu nenhuma justificação? Foi para a sepultura, e<br />
quase pareceu justificar a censura, chorando. Então, por<br />
que deixou morrer? Por que não veio mais cedo? Ela disse<br />
que Ele poderia tê-lo salvo! Ele chora a morte que poderia<br />
ter evitado? Que pranto é este?!<br />
Ressurreição de Lázaro<br />
Colegiada de San Gimignano, Itália<br />
Nosso Senhor deu algo melhor do que salvá-lo da<br />
morte: foi tirá-lo da morte! Ele fez Lázaro ressuscitar!<br />
Não há o que dizer...<br />
Podemos imaginá-Lo vendo Maria Madalena, com<br />
certeza prostrada diante d’Ele, chorando com emoção<br />
dulcíssima, e Ele atendê-la como quem diz: “Minha filha,<br />
Eu te perdoo. Tu deverias ter compreendido que Eu<br />
não tenho falta! Mas dei-te um dom que não esperavas.”<br />
Depois, sabendo que a partir daquele milagre os fariseus<br />
tomariam a deliberação de matá-Lo, passar perto<br />
deles e fitá-los… Que olhar!<br />
Pensemos na sucessão de atitudes de Jesus, por exemplo,<br />
indo a Betânia descansar. Pode-se imaginar alguém<br />
mais adorável do que Ele, repousando no convívio afável<br />
com Marta, Maria, Lázaro e os Apóstolos? Ou com Nossa<br />
Senhora, certamente na vida cotidiana, ou na residência<br />
de Lázaro, recebendo as honras, conversando na intimidade,<br />
etc.?<br />
Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infâmia,<br />
ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que<br />
Ele estava formando na virtude! É uma coisa maravilhosa!<br />
Tudo isso junto, as várias atitudes d’Ele se sucedendo,<br />
sobretudo no momento de passar de uma posição para<br />
outra, me deixam especialmente encantado. v<br />
1) Jo 11, 32.<br />
(Extraído de conferências de 6/9/1984 e 11/7/1991)<br />
Reprodução<br />
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