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Revista Dr Plinio 200

Novembro 2014

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Tony Hisgett (CC 3.0)<br />

Parece-me não haver nada que ocorra ao espírito do<br />

homem sobre o qual não se possa fazer, ao mesmo tempo,<br />

uma abstração e uma simbologia. Inclusive a própria<br />

abstração pode ser objeto de um trabalho simbólico, e o<br />

símbolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo.<br />

A meu ver, isso decorre da dualidade de nossa natureza,<br />

e o unum está numa espécie de domínio, por onde<br />

o espírito humano rege esses dois “olhos”, através dos<br />

quais ele vê para formar a imagem una.<br />

Essa faculdade unitiva do homem, por onde ele coordena,<br />

numa mesma linha, ambas as perspectivas, está no<br />

próprio unum do senso do ser. Ele se sente uno apesar<br />

de ter as naturezas animal e espiritual. E há uma coisa<br />

qualquer por onde um dos prazeres do homem está em<br />

estabelecer essa unidade e viver na degustação dela.<br />

Se uma criança em idade muito tenra fosse habituada<br />

a uma atmosfera embebida de pulchrum, de maneira<br />

que, quando ela soubesse pensar, visse nesse pulchrum o<br />

correlativo da abstração — portanto, um pulchrum muito<br />

alto, de elevada paragem —, e ficasse acostumada a encontrar<br />

nesse pulchrum o deleite de sua vida, tenho a impressão<br />

de que essa criança teria possibilidades de dar<br />

uma íncola do Reino de Maria de primeira ordem. Toda<br />

a prática da virtude, do amor de Deus, todos os élans de<br />

sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igreja<br />

Católica.<br />

Poderíamos nos perguntar como a criança vê isso, como<br />

é o seu espírito e, depois, como manter e desenvolver<br />

isso na criança.<br />

O mar: um universo, uma fábula!<br />

Em minhas recordações de infância junto ao mar, algo<br />

disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina<br />

que estou expondo.<br />

Eu via no mar um universo, uma fábula! O tamanho<br />

dele, seus movimentos, as ondas como se jogam, o ruído<br />

que fazem, o mistério do mar, o por onde ele é ao mesmo<br />

tempo um parceiro muito amigo, mas meio hostil, um<br />

tanto cheio de ciladas. No mar, entra-se noutro universo!<br />

Encantava-me tanto com o mar visto da terra, quanto<br />

com esta contemplada de dentro do mar. A praia por<br />

mim frequentada naquele tempo ficava muito distante<br />

das casas que, vistas de dentro do mar, pareciam pequenas.<br />

Na realidade, eram confortáveis residências de<br />

famílias da aristocracia ou da pequena burguesia de<br />

Santos.<br />

Estando imerso naquela imensa massa líquida, eu via,<br />

em determinado momento, acenderem-se todas as luzes<br />

das ruas e das casinhas. E de dentro de certo perigo que<br />

o mar representa, imaginar, ao mesmo tempo, o conforto<br />

aconchegado e às vezes luxuoso, seco e sem riscos daqueles<br />

lares, tornava a vida cotidiana tão bonita aos meus<br />

olhos, que às vezes eu ficava com uma certa pressa de<br />

voltar para casa a fim de entrar naquele mundo.<br />

Outro elemento, para mim indissociável dos anteriores,<br />

era meu gosto pelos frutos do mar.<br />

Todas essas impressões de criança faziam-me muito<br />

bem e davam-me a ideia do prazer da consciência que<br />

festeja a sua própria retidão, utilizando-se das coisas que<br />

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