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O intelecto sabe como procurar e indagar.<br />
Há um antigo conto oriental:<br />
Dois mendigos viviam aos subúrbios <strong>de</strong> um povo. A gente era cego e o outro não tinha<br />
pernas. Um dia ar<strong>de</strong>u o bosque que estava perto do povo on<strong>de</strong> viviam os dois mendigos.<br />
É obvio, competiam entre eles —tinham a mesma profissão, mendigavam da mesma<br />
gente— e estavam constantemente zangados o um com o outro. Não eram amigos, eram<br />
inimigos.<br />
Duas pessoas que têm a mesma profissão não po<strong>de</strong>m ser amigas. É muito complicado<br />
porque é uma questão <strong>de</strong> competência, <strong>de</strong> clientes, po<strong>de</strong> lhe tirar o cliente ao outro. Os<br />
mendigos classificam a seus clientes: «Recorda que este homem é meu; não lhe<br />
incomo<strong>de</strong>.» Você não sabe a que mendigo pertence, quem é o mendigo que te possui,<br />
mas na rua há um mendigo ao que você pertence. Provavelmente, lutou e ganhou a<br />
batalha, e agora você é sua posse...<br />
Perto da universida<strong>de</strong> estava acostumada haver um mendigo; um dia me encontrei isso<br />
na rua. Sempre estava aí, perto da universida<strong>de</strong>, porque os jovens som mais generosos;<br />
as pessoas mais majores se vão voltando miseráveis, medrosas. A morte se aproxima e,<br />
aparentemente, o dinheiro é o único que lhes po<strong>de</strong> ajudar. Se tiverem dinheiro, outros<br />
lhes po<strong>de</strong>rão ajudar; se não terem dinheiro, nem seus filhos nem suas filhas se<br />
preocuparão com eles. Mas os jovens po<strong>de</strong>m esbanjar. São jovens, po<strong>de</strong>m economizar<br />
—, a vida está aí, têm toda a vida por diante.<br />
Era um mendigo rico graças aos universitários... Na Índia, um estudante só chega à<br />
universida<strong>de</strong> se pertencer a uma família rica, se não, é um esforço muito gran<strong>de</strong>. Alguns<br />
pobres também chegam à universida<strong>de</strong>, mas é difícil, é duro. Eu também pertencia a<br />
uma família pobre. Pelas noites trabalhava <strong>de</strong> editor em um periódico, e durante o dia ia<br />
à universida<strong>de</strong>. Durante anos, não pu<strong>de</strong> dormir mais <strong>de</strong> três ou quatro horas; o fazia<br />
quando encontrava um momento com o passar do dia ou <strong>de</strong> noite.<br />
Este mendigo era muito forte. Nenhum outro mendigo podia entrar na rua da<br />
universida<strong>de</strong>, estava proibida inclusive a entrada. Todo mundo sabia a quem pertencia a<br />
universida<strong>de</strong>: a esse mendigo! Um dia, <strong>de</strong> repente, vi um homem jovem; o velho já não<br />
estava ali. —O que ocorreu? On<strong>de</strong> está o velho? —perguntei-lhe.<br />
—É meu sogro —me respon<strong>de</strong>u—. Me <strong>de</strong>u <strong>de</strong> presente a universida<strong>de</strong>.<br />
A universida<strong>de</strong> não sabia que tinha trocado seu dono, que tinha um novo dono. O<br />
homem jovem disse: —Casei-me com sua filha.<br />
Na Índia, quando te casa com a filha <strong>de</strong> alguém recebe uma dote. Não basta te casando<br />
com ela, seu sogro, se for muito rico, tem-te que dar um carro, uma casita. Se não ser<br />
tão rico te terá que dar, pelo menos, uma moto, e se não, uma bicicleta, mas te tem que<br />
dar algo: uma equipe <strong>de</strong> rádio, um transístor, um televisor... e um pouco <strong>de</strong> dinheiro. Se<br />
for realmente rico, então te dará a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viajar ao estrangeiro, estudar e te<br />
converter em uma pessoa mais instruída, um médico, um engenheiro... ele correrá com<br />
os gastos.<br />
A filha <strong>de</strong>ste mendigo se casou, e a dote que tinha recebido o jovem era toda a<br />
universida<strong>de</strong>. —A partir <strong>de</strong> hoje, esta rua e esta universida<strong>de</strong> me pertencem —disse— E<br />
meu sogro me há dito os quais são meus clientes.<br />
Encontrei-me com o velho na rua e lhe disse: —Magnífico! Fez bem em lhe dar uma<br />
dote.<br />
—Sim —disse ele—. Só tinha uma filha e queria fazer algo por meu genro. Dei-lhe o<br />
melhor sítio para mendigar. Agora estou aqui <strong>de</strong> novo, tentando arrumar meu monopólio<br />
na rua. É um trabalho duro porque há muitos mendigos, e são veteranos que já têm seus<br />
clientes. Mas não passa nada, conseguirei-o; jogarei a uns quantos mendigos daqui. —E<br />
o fez.