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Revista Dr. Plinio 230

Maio de 2017

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Qualquer obrigação se tornava para<br />

mim mais difícil.<br />

Vinha-me, então, este pensamento<br />

posto pela retidão que havia em mim:<br />

“Esta moleira não lhe mete nojo? Você<br />

não vê que, se tomar este hábito,<br />

acaba mole? Você quer ser assim?<br />

Não percebe aonde isto o levará? Oh,<br />

horror! Por outro lado, ser enérgico e<br />

vencer isto, oh, maravilha!”<br />

Começava, então, a luta interior:<br />

– Que gostoso, hein? Que delícia,<br />

só mais um pouco…<br />

Daí a pouco, a consciência acusava:<br />

– Vamos parar!<br />

– Não, porque agora está mais difícil<br />

do que antes.<br />

– Mas se já está difícil, vai ficar cada<br />

vez mais. O que você quer é tornar<br />

o bom caminho cada vez mais<br />

penoso para você? Então, pelo menos<br />

diga para si mesmo que você escolheu<br />

o mau caminho. É isto que<br />

você está fazendo?<br />

– Não, isto também não!<br />

– Então seja franco. Corte já ou daqui<br />

a pouco vai ser mais difícil ainda.<br />

Grande gemido: “Que dificuldades<br />

nesta vida! Mas no total, é melhor<br />

cortar agora. Vou abrir o livro<br />

da Serra do Catindé…”<br />

Em certa hora do dia, esse combate<br />

interno é lembrado e tem-se<br />

uma alegria, uma satisfação porque<br />

se venceu. O dia está mais leve, ganhou-se<br />

uma batalha.<br />

Entretanto, vem um medo: esta batalha<br />

eu venci, mas foi duro. Ganharei<br />

as outras? Ou levo uma vida insuportável,<br />

tendo uma batalha assim todos<br />

os dias – na qual, cada vez que eu estiver<br />

prestes a querer fugir do estudo,<br />

começo a estudar mais ainda, agredindo<br />

a minha tentação –, ou sucumbo.<br />

Eis, em ponto minúsculo, num episódio<br />

de infância, uma pequena batalha<br />

de muitas outras que tive de vencer<br />

contra a minha preguiça natural.<br />

Sem sombra de dúvida, por mais<br />

que os abismos tenham se sucedido<br />

entre as gerações, todos sentem coisas<br />

desse gênero. É humano!<br />

Bem entendido, essa luta não se<br />

dá apenas entre a preguiça e a fortaleza;<br />

conforme cada alma, cada via,<br />

cada situação, ocorre mais ou menos<br />

com todas as virtudes do homem.<br />

Porque em matéria de tudo o ser humano<br />

é tentado.<br />

A vida espiritual vai emergindo<br />

assim, como uma fortaleza cercada<br />

por todos os lados.<br />

A poterna aberta de<br />

Château-Gaillard<br />

Ruínas do Château-Gaillard, França<br />

Quando mocinho – não posso definir<br />

bem em que época de minha vida,<br />

mas era bem moço ou talvez menino<br />

ainda –, lendo a respeito da batalha<br />

de Bouvines, vencida por Felipe Augusto,<br />

vi um dado sobre o castelo que<br />

se chamava Château-Gaillard. Tratava-se<br />

de uma fortaleza bem guarnecida.<br />

Porém, o inimigo que dirigia o<br />

cerco encontrou aberta uma poterna,<br />

utilizada para o serviço de limpeza do<br />

castelo, a qual ficava num desvio da<br />

muralha, ao alcance do adversário.<br />

Esta portinhola, normalmente protegida<br />

por uma forte grade, fora deixada<br />

aberta por descuido de algum dos<br />

ocupantes da fortaleza. Quando os<br />

defensores da cidadela menos esperavam,<br />

viram o inimigo dentro. A batalha<br />

estava perdida.<br />

Lembro-me de ter feito esta reflexão:<br />

“Se você não prestar atenção, este<br />

castelo é você! Ou você trava uma<br />

batalha mais inclemente do que nunca<br />

contra as poternas abertas de sua própria<br />

alma, e faz a defesa aqui, lá e acolá,<br />

adquirindo bons hábitos, ou então,<br />

num ponto onde você alcançou a virtude,<br />

entra o pecado venial e depois<br />

o mortal, em disparada dentro de sua<br />

própria alma, e você está perdido! ”<br />

Isso é a prudência, que consiste<br />

em ter o castelo bem construído, pôr<br />

grades nas poternas e mantê-las fechadas.<br />

A prudência consiste em estabelecer<br />

um ordo de vida.<br />

Em face da clarinada de um inimigo<br />

que se aproxima, cada um é responsável<br />

por sua própria vida e a dos<br />

outros. Se uma poterna tiver qualquer<br />

falha na sua segurança, todos serão<br />

mortos. Prestem atenção! ❖<br />

(Extraído de conferência de<br />

1/8/1981)<br />

Eric Barbet (CC3.0)<br />

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