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nf.fr (CC3.0)<br />
vento a fortuna de seus pais. Causava<br />
espanto aos notários e homens da lei<br />
a presença dessa mulher paupérrima,<br />
falando de milhões, de venda de terras<br />
e de compra de imóveis.<br />
Mas conseguindo integralmente o<br />
que desejava, a religiosa chamou para<br />
junto de si as suas Irmãs dispersas.<br />
E o convento carmelita de Paris<br />
reinstalou sua comunidade. Aí ela viveu<br />
mais de 45 anos, não sem problemas.<br />
Por exemplo, em janeiro de 1811,<br />
Fouché foi informado de que uma senhora<br />
carmelita, superiora do Carmelo,<br />
ocupava-se ativamente em copiar<br />
e distribuir a Bula de excomunhão do<br />
próprio Imperador. Foi por isso presa<br />
num lugar bem distante do convento,<br />
o que não a impedia de atender sua<br />
comunidade, fazendo-lhe visitas inteiramente<br />
disfarçadas, e passando, desse<br />
modo, diante dos guardas, com toda<br />
a segurança.<br />
A Restauração tirou-a desse exílio.<br />
Quando suas dificuldades morais pareceram<br />
diminuir, começaram as físicas.<br />
Seu corpo tornara-se quase diáfano,<br />
por causa dos jejuns e penitências.<br />
Aos 85 anos, ainda dormia sobre uma<br />
tábua, apesar da gota dolorosíssima e<br />
de dores de estômago que não lhe permitiam<br />
repousar. Manteve, entretanto,<br />
como sempre em sua vida, inalterável<br />
bom humor e sua proverbial intrepidez.<br />
Repleta de dores, veio a falecer,<br />
em 1849, aos 92 anos de idade.<br />
Vida cheia de<br />
inusitados contrastes<br />
Gostaria que nos colocássemos<br />
diante dessa biografia 2 , não no ponto<br />
de vista de quem simplesmente a<br />
lê, mas de quem a viveu. Então, vermos<br />
tudo quanto foi acontecendo<br />
para ela como próprio a uma vocação,<br />
a um objetivo muito definido,<br />
nos quais ela se adentrou com todo o<br />
empenho de sua alma.<br />
Ela entra no Carmelo, forma-<br />
-se, e poderia esperar ter, por exemplo,<br />
uma vida como a de Santa Teresa<br />
de Jesus ou de Santa Teresinha<br />
do Menino Jesus, ou seja, transcorrida<br />
inteira no Carmelo, com essas ou<br />
aquelas dificuldades, mas dentro da<br />
vida carmelitana. Com certeza, ela<br />
tivera mil apetências sugeridas pela<br />
graça para isso.<br />
Entretanto, o que aconteceu? Ao<br />
invés de levar essa vida, eclode a Revolução<br />
Francesa e a Irmã Camille<br />
vai para o cárcere. Suponhamos<br />
que ela tenha pensado na hipótese<br />
do martírio: “Vou dar a minha vida,<br />
ficarei uma santa. Está bem, aceito<br />
com todo o gosto.” Conformidade...<br />
Ora, ela foi posta em liberdade.<br />
Ela, que esperava viver ao menos<br />
sozinha para Deus, transforma-se<br />
em chefe de família, apesar de solteira,<br />
e fica tutora de um sobrinho.<br />
Tendo sido uma moça rica, perde<br />
a fortuna. Os pais vão para a guilhotina<br />
e ela se torna criada numa<br />
fazenda, isto é, trabalhadora manual.<br />
Ela, que dera sua vida à Igreja,<br />
de nobre passa a religiosa e depois<br />
a trabalhadora manual em fazenda.<br />
A biografia não entra nesses pormenores,<br />
mas nada exclui a hipótese de<br />
que ela tenha tido que limpar estábulos<br />
e realizar outras tarefas prosaicas<br />
desse gênero.<br />
Depois, é posta fora desse emprego<br />
e vira mendiga, tendo que cuidar<br />
ainda do menino. Começa a mendigar<br />
de um lugar para outro e, de repente,<br />
passada a Revolução Francesa,<br />
ela se transforma em mulher de<br />
negócios. Começa, então, a bater os<br />
cartórios para recompor a fortuna à<br />
qual tinha direito.<br />
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