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Revista Dr. Plinio 230

Maio de 2017

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nf.fr (CC3.0)<br />

vento a fortuna de seus pais. Causava<br />

espanto aos notários e homens da lei<br />

a presença dessa mulher paupérrima,<br />

falando de milhões, de venda de terras<br />

e de compra de imóveis.<br />

Mas conseguindo integralmente o<br />

que desejava, a religiosa chamou para<br />

junto de si as suas Irmãs dispersas.<br />

E o convento carmelita de Paris<br />

reinstalou sua comunidade. Aí ela viveu<br />

mais de 45 anos, não sem problemas.<br />

Por exemplo, em janeiro de 1811,<br />

Fouché foi informado de que uma senhora<br />

carmelita, superiora do Carmelo,<br />

ocupava-se ativamente em copiar<br />

e distribuir a Bula de excomunhão do<br />

próprio Imperador. Foi por isso presa<br />

num lugar bem distante do convento,<br />

o que não a impedia de atender sua<br />

comunidade, fazendo-lhe visitas inteiramente<br />

disfarçadas, e passando, desse<br />

modo, diante dos guardas, com toda<br />

a segurança.<br />

A Restauração tirou-a desse exílio.<br />

Quando suas dificuldades morais pareceram<br />

diminuir, começaram as físicas.<br />

Seu corpo tornara-se quase diáfano,<br />

por causa dos jejuns e penitências.<br />

Aos 85 anos, ainda dormia sobre uma<br />

tábua, apesar da gota dolorosíssima e<br />

de dores de estômago que não lhe permitiam<br />

repousar. Manteve, entretanto,<br />

como sempre em sua vida, inalterável<br />

bom humor e sua proverbial intrepidez.<br />

Repleta de dores, veio a falecer,<br />

em 1849, aos 92 anos de idade.<br />

Vida cheia de<br />

inusitados contrastes<br />

Gostaria que nos colocássemos<br />

diante dessa biografia 2 , não no ponto<br />

de vista de quem simplesmente a<br />

lê, mas de quem a viveu. Então, vermos<br />

tudo quanto foi acontecendo<br />

para ela como próprio a uma vocação,<br />

a um objetivo muito definido,<br />

nos quais ela se adentrou com todo o<br />

empenho de sua alma.<br />

Ela entra no Carmelo, forma-<br />

-se, e poderia esperar ter, por exemplo,<br />

uma vida como a de Santa Teresa<br />

de Jesus ou de Santa Teresinha<br />

do Menino Jesus, ou seja, transcorrida<br />

inteira no Carmelo, com essas ou<br />

aquelas dificuldades, mas dentro da<br />

vida carmelitana. Com certeza, ela<br />

tivera mil apetências sugeridas pela<br />

graça para isso.<br />

Entretanto, o que aconteceu? Ao<br />

invés de levar essa vida, eclode a Revolução<br />

Francesa e a Irmã Camille<br />

vai para o cárcere. Suponhamos<br />

que ela tenha pensado na hipótese<br />

do martírio: “Vou dar a minha vida,<br />

ficarei uma santa. Está bem, aceito<br />

com todo o gosto.” Conformidade...<br />

Ora, ela foi posta em liberdade.<br />

Ela, que esperava viver ao menos<br />

sozinha para Deus, transforma-se<br />

em chefe de família, apesar de solteira,<br />

e fica tutora de um sobrinho.<br />

Tendo sido uma moça rica, perde<br />

a fortuna. Os pais vão para a guilhotina<br />

e ela se torna criada numa<br />

fazenda, isto é, trabalhadora manual.<br />

Ela, que dera sua vida à Igreja,<br />

de nobre passa a religiosa e depois<br />

a trabalhadora manual em fazenda.<br />

A biografia não entra nesses pormenores,<br />

mas nada exclui a hipótese de<br />

que ela tenha tido que limpar estábulos<br />

e realizar outras tarefas prosaicas<br />

desse gênero.<br />

Depois, é posta fora desse emprego<br />

e vira mendiga, tendo que cuidar<br />

ainda do menino. Começa a mendigar<br />

de um lugar para outro e, de repente,<br />

passada a Revolução Francesa,<br />

ela se transforma em mulher de<br />

negócios. Começa, então, a bater os<br />

cartórios para recompor a fortuna à<br />

qual tinha direito.<br />

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